domingo, 5 de agosto de 2012

Como Saber se Você é um Cristão de Verdade (parte 3/3)


Uma Verdadeira Experiência Espiritual Transforma o Coração

Agora nós chegamos a questão: Se todas essas várias experiências e sentimentos provêm de nada além do que aos demônios é possível, quais os tipos de experiências que são verdadeiramente espirituais e santas? O que eu devo encontrar no meu coração como uma prova segura de que a graça de Deus está lá? Quais as diferenças que as mostram como sendo do Espírito Santo? Esta é a resposta: Os sentimentos e experiências que se mostram como um bom sinal da graça de Deus no coração, diferem das experiências dos demônios em sua origem e em seus resultados. Sua fonte é o senso da irresistível santidade, beleza e amabilidade das coisas de Deus. Quando uma pessoa agarra em sua mente, ou, melhor ainda, quando ela sente seu próprio coração mantido em cativeiro pela atratividade do Divino, este é um sinal inconfundível de que Deus está trabalhando. Os demônios e os condenados no inferno não experimentam agora, nem jamais experimentarão um pouquinho sequer disso. Antes de sua queda, os demônios possuíam esse sentimento sobre Deus, mas em sua queda, eles o perderam, a única coisa que eles poderiam perder de seu conhecimento sobre Deus. Temos visto como os demônios têm idéias muito claras acerca de quão poderoso Deus é, Sua justiça, santidade e assim por diante. Eles conhecem um monte de fatos sobre Deus. Mas agora eles não têm um vestígio sobre como Deus é. Eles não podem saber como Deus é mais do que um homem cego pode saber sobre cores! Demônios podem ter um forte senso sobre a impressionante majestade de Deus, mas eles não vêem Seu encanto. Eles têm observado Sua obra entre a raça humana por estes milhares de anos, certamente com máxima atenção, mas eles nunca enxergam um vislumbre de Sua beleza. Não importa o quanto eles conheçam sobre Deus (e temos visto que eles realmente sabem muito), o conhecimento que eles possuem nunca os levará ao elevado conhecimento espiritual de como Deus é. Pelo contrário, quanto mais eles sabem sobre Deus, mais eles O odeiam. A beleza de Deus consiste primariamente em sua santidade, ou excelência moral, e isto é o que eles mais odeiam. É pelo fato de Deus ser santo que os demônios O odeiam. Alguém poderia supor que se Deus fosse menos santo, os demônios O odiariam menos. Não duvido que os demônios odiassem qualquer Ser santo, não importando o quão diferente Ele fosse. Mas, eles certamente odeiam este Ser, mais do que tudo, por sua infinita santidade, infinita sabedoria e infinito poder!

Pessoas perversas, incluindo as que estão vivas hoje, verão no dia do julgamento tudo o que se há para ver em Jesus Cristo, exceto Sua beleza e encanto. Não há nenhuma coisa sobre Cristo que nós possamos pensar que não será estabelecida diante deles na mais forte luz daquele dia brilhante. Os ímpios verão Jesus “vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Marcos 13:26). Eles verão sua glória externa, a qual é muito, muito maior do que nós possamos imaginar agora. Você sabe que os ímpios serão totalmente convencidos de tudo o que Cristo é. Eles serão convencidos sobre Sua onisciência, quando virem seus pecados recapitulados e avaliados. Eles conhecerão em primeira-mão a justiça de Cristo, quando suas sentenças forem anunciadas. Sua autoridade se fará inteiramente convincente quando todo joelho se dobrar e toda língua confessar Jesus como Senhor (Filipenses 2:10,11). A divina majestade será impressa sobre eles de maneira completa e eficaz, quando os ímpios forem despejados no próprio inferno e entrarem em seu estado final de sofrimento e morte (Ap 20:14,14). Quando isto acontecer, todo seu conhecimento sobre Deus, tão verdadeiro e poderoso quanto possa ser, não valerá nada, e menos que nada, porque eles não verão a beleza de Cristo.

Portanto, é essa visão da beleza de Cristo que faz a diferença entre a graça salvadora e a experiência dos demônios. Esta visão ou percepção é o que torna a verdadeira experiência cristã diferente de tudo o mais. A fé do povo eleito de Deus é baseada nisto. Quando uma pessoa vê a excelência do Evangelho, ela percebe a beleza e o encanto do plano divino da salvação. Sua mente está convencida de que isto é de Deus, e ele crê nisto de todo o seu coração. Como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 4:34: “mesmo se nosso evangelho estiver encoberto, está encoberto para aqueles que estão perecendo. O deus desta era tem cegado o entendimento dos incrédulos, para que eles não possam ver a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”. Ou seja, como foi explicado anteriormente, descrentes podem ver que há um evangelho, e compreender os fatos sobre ele, mas eles não verão a sua luz. A luz do evangelho é a glória de Cristo, Sua santidade e beleza. Logo após isto, lemos 2 Cor 4:6: “Pois Deus, que disse: ‘Deixe das trevas brilhar a luz’, fez Sua luz brilhar em nossos corações para nos dar a luz do conhecimento da gloria de Deus na face de Cristo”. Claramente, é esta luz divina, brilhando em nossos corações, que nos capacita a ver a beleza do evangelho e ter uma fé salvadora em Cristo. Esta luz sobrenatural nos mostra a superlativa beleza e amabilidade de Jesus, e nos convence de Sua suficiência como nosso Salvador. Somente um glorioso, majestoso Salvador pode ser nosso Mediador, permanecendo entre culpado, pecadores merecedores do inferno como nós, e um Deus infinitamente santo. Esta luz sobrenatural nos dá um senso de Cristo que nos
convence de uma maneira que nada jamais poderia.

Genuínas Experiências Espirituais Têm Resultados Diferentes

Quando os mais vis pecadores são levados a ver a divina beleza de Cristo, já não especulam o porquê de Deus dever estar interessado neles, para salvá-los. Antes, eles não podiam entender como o sangue de Cristo podia pagar a penalidade por seus pecados. Mas agora eles podem ver a preciosidade do sangue de Cristo, e como ele é digno de ser aceito como resgate para o pior dos pecadores. Agora, a alma pode reconhecer que é aceita por Deus, não por causa de quem ela é, mas por causa do valor que Deus coloca no sangue, obediência e intercessão de Cristo. Vendo este valor e a importância dada a pobre alma culpada, o qual jamais poderá ser encontrado em qualquer sermão ou livreto. Quando uma pessoa vem ver com seus próprios olhos o apropriado fundamento da fé e da confiança, isto é a fé salvadora. “Pois a vontade do meu Pai é que todo aquele que vê o Filho e crê nEle tenha a vida eterna” (João 6:40). “Eu o revelei aos homens que do mundo me deste. Eles eram teus, e tu os deste a mim, e eles têm obedecido a tua palavra. Agora eles sabem que tudo que tu tens me dado vem de ti. Pois Eu lhes dei as palavras que tu me deste e eles as aceitaram. Eles têm verdadeiramente conhecido que eu vim de ti, e creram que tu me enviaste” (João 17:6-8).

Esta é a visão da divina beleza de cristo que cativa a vontade e atrai os corações dos homens. Uma visão da aparente grandeza de Deus em Sua glória pode subjugar homens, e ser mais do que eles possam resistir. Isto será visto no dia do julgamento, quando os ímpios serão trazidos diante de Deus. Eles serão esmagados, sim, mas a hostilidade do coração permanecerá em plena força e a oposição da vontade continuará. Mas por outro lado, quando um único raio da moral e espiritual glória de Deus e da suprema beleza de Cristo brilha no coração, supera toda hostilidade. A alma é inclinada a amar a Deus como se por um poder onipotente, de modo que agora não apenas o entendimento, mas todo o ser recebe e abraça o amável Salvador.

Este senso da beleza de Cristo é o começo da verdadeira fé salvadora na vida do verdadeiro convertido. Isto é completamente diferente de qualquer sentimento vago de que Cristo o ama ou morreu por ele. Estes tipos de sentimentos indistintos podem causar uma espécie de amor e alegria, pois a pessoas sente uma gratidão por escapar da punição de seus pecados. Na realidade, estes sentimentos são baseados no amor próprio e não no amor a Cristo sobre todas as coisas. É triste que tantas pessoas estejam iludidas por esta falsa fé. Por outro lado, um vislumbre da glória de Deus na face de Jesus Cristo causa no coração um supremo e genuíno amor por Deus. Isso ocorre porque a luz divina mostra a excelência da beleza da natureza de Deus. Um amor baseado nisto está longe, muito acima de qualquer coisa que venha do amor-próprio, que os demônios podem ter tão bem quanto os homens. O verdadeiro amor de Deus, o qual vem desta visão de Sua beleza, causa uma espiritual e santa alegria na alma; a alegria em Deus e exultação nEle. Não há alegria em nós mesmo, mas somente em Deus. 

A Visão da Beleza de Cristo – O Maior Dom de Deus!

A visão da beleza das coisas divinas causará verdadeiros desejos pelas coisas de Deus. Estes desejos são diferentes das aspirações dos demônios, as quais acontecem devido ao conhecimento que eles possuem acerca do destino que os aguarda, e que gostariam que de algum modo pudesse ser diferente. Os desejos que vêm desta visão da beleza de Cristo são desejos livres e naturais, como um bebê desejando por leite. Por esses desejos serem tão diferentes de suas imitações, eles ajudam a distinguir entre as genuínas experiências da graça de Deus e as falsas. Falsas experiências espirituais têm a tendência de causar orgulho, o qual é o pecado especial do Diabo. “Ele não deve ser um novo convertido, ou poderá se tornar soberbo e cair sob a mesma condenação do Diabo” (1 Tm 3:6). O orgulho é o resultado inevitável da falsa experiência espiritual, ainda que esteja freqüentemente encoberto por um disfarce de grande humildade. A falsa experiência é apaixonada por si mesma e cresce em si mesma. Ela vive para se auto-promover de uma forma ou de outra. Uma pessoa pode ter grande amor por Deus e se orgulhar da grandiosidade de seu amor. Ela pode ser muito humilde e, entretanto, muito orgulhosa de sua humildade. Mas as emoções e experiências que vêm da graça de Deus são exatamente o oposto. A verdadeira obra de Deus no coração produz humildade. Ela não produz qualquer tipo de exibicionismo ou alto-exaltação. Esse senso da impressionante, santa e gloriosa beleza de Cristo mata o orgulho e humilha a alma. A visão da beleza de Deus, e isto somente, revela a alma sua própria feiúra. Quando uma pessoa realmente compreende isso, ela inevitavelmente começa um processo de fazer Deus maior e maior, e a si mesma menor e menor.

Outro resultado da obra da graça de Deus no coração é que a pessoa odiará o mal e responderá a Deus com coração e vida santificados. Falsas experiências podem gerar uma certa quantidade de zelo, e até mesmo uma grade porção do que comumente é chamado de religião. No entanto, não é um zelo pelas boas obras. Sua religião não é um serviço de Deus, mas sim um serviço de si mesmo. Este é o modo como o apóstolo Tiago o coloca no contexto: “Você crê que há um só Deus. Bom! Até os demônios crêem que estremecem. Você homem insensato, quer provas de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19,20). Em outras palavras, as boas obras são a evidência da genuína experiência da graça de Deus no coração. “Sabemos que temos vindo a conhecê-lo se obedecemos os seus mandamentos. Aquele que diz: ‘Eu o conheço’, mas não faz o que ele manda é um mentiroso, e a verdade não está nele” (1 João 2:34). Quando o coração tem sido arrebatado pela beleza de Cristo, de que outra forma pode ele responder?

Parte Final

Quão excelente é esta bondade interna e verdadeira religião que vem desta visão da beleza de Cristo! Aqui você tem as mais maravilhosas experiências dos santos e anjos do céu. Aqui você tem a melhor experiência do próprio Jesus Cristo. Mesmo que sejamos meras criaturas, isto é um tipo de participação na própria beleza de Deus. “Pelas quais ele nos tem dado suas grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina” (2 Pe 1:4). “Deus nos disciplina para o nosso bem, para que possamos participar de sua santidade” (Hb 12:10). Devido ao poder desta obra divina, há uma habitação mutua de Deus e Seu povo. “Deus é amor. Quem vive em amor vive em Deus, e Deus nele” (1 Jo 4.16).

Esse relacionamento especial tem de fazer da pessoa envolvida tão feliz e abençoada quanto qualquer criatura na existência. Isto é uma dádiva especial de Deus, a qual Ele dá apenas, e especialmente, aos seus favoritos. Ouro, prata, diamantes, terras e reinos são dados por Deus a pessoas que a Bíblia chama de cães e porcos. Mas esta grande dádiva de contemplar a beleza de Cristo é a benção especial de Deus para seus mais queridos filhos. Carne e sangue não podem doá-la, somente Deus a pode conceder. Este foi o dom especial pelo qual Cristo morreu para obter em favor de Seus eleitos. Este é o mais alto símbolo do seu amor eterno, o melhor fruto de seus labores e a mais preciosa aquisição de seu sangue.

Por esta dádiva, mais do que por qualquer outra coisa, os santos brilham como luzes no mundo. Esta dádiva, mais do que qualquer outra coisa, é o conforto deles. É impossível que a alma que possua este dom, possa sequer perecer. Este é o dom da vida eterna. É o começo da vida eterna; aquele que o possui jamais poderá morrer. É a manifestação da luz da glória. Este dom vem do céu, ele tem uma qualidade celestial, e levará seu portador ao paraíso. Aqueles que possuem este dom podem vagar pelo deserto ou ser lançados nas ondas do oceano, mas alcançarão o paraíso no final. Lá a centelha celeste será aperfeiçoada e aumentada. No céu, as almas dos santos serão transformadas em uma chama brilhante e pura, e eles resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. Amém.


por Jonathan Edwards (1703-1758)
Tradução: Nelson Ávila

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comente este texto. Suas críticas e sugestões serão úteis para o crescimento e amadurecimendo dos assuntos aqui propostos.

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...