Em 2014 tive a oportunidade de relatar a excelente e primeira corrida de 42km que fiz por montanhas, cruzando praias deslumbrantes e tendo o apoio de grandes parceiros de esporte - link. Este ano, também descrevi a graciosa experiência em correr os 23km na Ultra Trail Rota das Águas. E agora conto, de maneira resumida, a experiência que tive ao tentar correr os 50km da Ultra Trail Ribeirão das Pedras!
Na última ocasião dos 23km, fiquei imaginando o que seria correr 50km por montanhas. No gráfico abaixo falta um último morro ao final, mas dá para se ter uma ideia do sofrimento que me aguardava. Seriam mais de 2.300 metros de desnível positivo, ou seja, literalmente, subiríamos em altitude (não distância), um total de 2.3km! O ponto de "corte" seria no km 37,5 e com 07:30 de prova - quem não chegasse lá neste tempo, seria cortado da prova.
Ainda não tenho mais fotos da prova, mas as abaixo (tiradas no local da prova, porém num treino duas semanas antes), retratam o que seria o dia da prova - e que estava muito pior, pois choveu uma semana inteira.
Voltando ao que dizia, após imaginar o que seria correr 50km por trilhas e montanhas, resolvi me inscrever. Olhando agora para o tempo que passou deste os treinos até a prova, reconheço que treinei pouco e não para o que a prova exigiria. Achei que estava razoavelmente preparado, mas falhei. Ao menos aprendi. Faz parte da vida.
Prova no sábado e sexta-feira, então, fui dormir mais cedo e coloquei o relógio para despertar às 04:45, pois haveria de tomar café, me arrumar e perto das 06:00 tinha de sair de casa e ir até o local da prova (uns 30min de carro de minha casa). Cheguei em tempo, peguei o kit do atleta, afixei o número no shorts, fui para o pórtico de largada, comecei a conversar com outros atletas e largamos! Emoções mil estavam para começar!
Primeiro morro subido (o mais longo da prova, aliás), chegamos ao PA-1 (posto de atendimento), tomamos uma água e fomos mata à dentro. Era uma single-track (só cabia uma pessoa na largura, praticamente) bem agradável - muito molhada e cheia de lama, mas excelente para quem gosta! Ao final dela, pegamos uma estrada de terra e emparelhei com outro atleta que também estava tentando correr seus primeiros 50km. Descíamos bem o morro e estávamos no ritmo planejado (mais ou menos 01:30h para cada 10km). Porém, ali, já logo de cara, um erro foi cometido.
Estando muito perto do PA-2, vimos uma placa para seguir reto no caminho dos 50km, porém eu olhei ligeiramente para trás e vi outra placa de 50km, indicando que se devesse subir um morro. Conversei com o colega e achamos que o correto era subir este morro - mas estávamos errados! Aqui, porque somente nós dois pegamos este trajeto errado, isento a organização de qualquer culpa; nós que erramos! [Atualização: fiquei sabendo que ali deveria haver alguém informando e tirando essa dúvida, mas a pessoa descumpriu sua palavra e acabou não aparecendo no dia da prova]
Como sabíamos que o PA-2 estava muito próximo de nós, imaginamos que logo o encontraríamos acima, todavia, ledo engano. Posteriormente ficamos sabendo que este caminho era, de fato, dos 50km, porém num trajeto de volta (por isso que tive de olhar para trás para ver a placa) e isso nos custou mais de 1 hora andando/trotando/correndo errado. Perdemos muito tempo nesta subida e nos caminhos que saiam dela, pois a marcação ainda estava sendo feita naquele local, o que nos levou a ficar sem direção umas duas ou três vezes. Nos dividíamos pelas bifurcações e gritávamos ao alto, a fim de saber se havia encontrado alguma marcação da prova. Voltávamos, seguíamos por alguma estrada; procurávamos algum caminho marcado, mas estando no caminho errado, seria difícil encontrar a marcação correta. Somente quando chegamos bem próximo do topo do morro é que encontramos um dos organizadores da prova (Maicon Cellarius) que olhou com aquela cara de "what?!" para nós e informou que tínhamos pego o caminho errado e indicou o certo. Paciência e obrigado, Cellarius!
Tivemos de retornar do erro e já com 02:40h de prova mais ou menos, finalmente chegamos ao PA-2. O que era para ser 01:30h no PA-2, estava, agora, bem fora da realidade, mas mesmo assim seguimos adiante. Neste momento já estava chovendo a mais de uma hora na prova e o frio começava a aparecer. Seguimos pela estrada da chão, cruzamos o que sempre foi um pequeno córrego (mas que virou um pequeno riacho), se segurando na corda e encaramos outro morro (o mesmo das fotos acima).
O problema é que ao chegar no topo do morro, estava, apenas, no km 15 e já tinham se passado mais de 3 horas de prova. Parei para conversar com o pessoal do ponto de apoio, comi alguma coisa e um estranho frio começou a bater. Chovia, ventava, era alto e eu estava completamente molhado. Avaliei com cuidado e percebi que não queria e muito provavelmente não teria condições de completar os 50km e talvez nem de chegar a tempo no tempo de corte. Some-se a isso que havia combinado com minha família que a expectativa era chegar entre 14:30 e 15:30 de volta, fechando entre 07:30h e 08:30h de prova, o que não aconteceria e os faria esperar muito mais do que o previsto. Resolvi abortar.
Mas como não existe um carro para levar atletas desistentes de um lado para o outro, ainda precisei seguir mais uns 5km até a linha de chegada (segui o caminho do pessoal que estava fazendo a percurso com 26km, abondando, assim, a prova; estava no km 15 pros 50km, mas no 21 para o percurso de 26km - acho que foi isso, não lembro ao certo). Se estes 5km já foram difíceis (tive de correr e ficar mexendo os braços e mãos para não passar frio, porque estava complicado), ficava me perguntando o que seria se tivesse tentado os 50km. Nestes 5 km tive de andar sob a chuva e ficava fazendo reflexões sobre os motivos de ter desistido. Aqui escrevendo, me recordo das Olimpíadas e relembro que até para os mais excelentes atletas, as vezes, desistir é a melhor opção. Desistir para aprender e voltar mais forte.
Assim sendo, mesmo com uma desistência, foram mais de 04:00h molhado, cheio de lama, com frio, vários desconfortos e aproximadamente 30km percorridos no total. Não deu pra fechar os 50km, mas vou treinar para voltar mais forte na próxima e tentar alcançar este feito pessoal.
Mais uma vez ficam os agradecimentos ao pessoal da Ultra Trail Eventos pela excelente prova projetada e que certamente exigiu muito da logística, especialmente pelo mau tempo e todas as circunstâncias adversas que devem ter surgido.
Que venham mais corridas!