quinta-feira, 28 de março de 2013

Maternidade é um Chamado


Alguns anos atrás, quando eu tinha apenas quatro filhos (N.T.: Rachel tem cinco filhos atualmente) e o mais velho tinha apenas três anos, eu os arrumei para uma caminhada. Quando a última fralda foi finalmente guardada e estávamos prontos pra sair, a minha filha de dois anos virou pra mim e disse: “uau, você está bem ocupada!”.

Ela poderia muito bem ter dito algo como “Você sabia que existe preservativo?” ou “Eles são todos seus?!”.
Aonde quer que você vá, as pessoas querem falar sobre seus filhos. Por que você não deveria tê-los, como você poderia ter se prevenido, e por que elas nunca fariam o que você fez. Elas querem se certificar que você sabe que não estará mais sorrindo quando eles forem adolescentes. E tudo isso na fila do mercado, enquanto seus filhos estão escutando.

Um trabalho ingrato?

A verdade é que, anos atrás, antes mesmo que essa geração de mães houvesse nascido, nossa sociedade decidiu onde as crianças se encontram na lista de coisas importantes. Quando o aborto foi legalizado (N.T.: nos EUA), nós escrevemos essa decisão na constituição.

As crianças estão muito abaixo da faculdade nessa lista. Certamente, abaixo das viagens ao exterior para conhecer o mundo. Abaixo das noites de sair para se divertir. Abaixo de esculpir seu corpo na academia. Abaixo que qualquer emprego que você tenha ou espere ter. Na verdade, as crianças estão abaixo de simplesmente sentar e cortar as unhas, se é isso que você quer fazer. Abaixo de qualquer coisa. Filhos são a última coisa que você jamais deveria gastar seu tempo.

Se você cresceu nessa cultura, é muito difícil ter uma perspectiva bíblica da maternidade e pensar como uma mulher cristã livre sobre sua vida e seus filhos. Quando vezes não demos ouvido à verdades parciais e meias mentiras? Será que acreditamos que querermos filhos porque há algum tipo de inclinação biológica, ou o “instinto materno”? Será que realmente desejamos isso tudo só por causa das roupinhas minúsculas e as fotos fofinhas? Será a maternidade um trabalho ingrato feito para aquelas que não são capazes de ir além, ou aquelas satisfeitas com qualquer atribuição? Se sim, onde é que estávamos com a nossa cabeça?

Não é um hobby

Maternidade não é um hobby, é um chamado. Você não coleciona crianças porque você acha que são mais bonitinhas que figurinhas. Não é algo para fazer se você conseguir encaixar na agenda e achar tempo. Foi para isso que Deus te deu seu tempo.

Mães cristãs carregam seus filhos em um território hostil. Quando você está em público com eles, você está acompanhando e defendendo objetos de desdém cultural. Você está afirmando publicamente que valoriza o que Deus valoriza e que você se recusa a valorizar o que o mundo valoriza. Você se coloca à frente dos indefensáveis e dos necessitados. Você representa tudo o que a sua cultura odeia, porque você representa o entregar de sua vida por outra – e entregar sua vida por outra representa o evangelho.

Nossa cultura simplesmente tem medo da morte. Entregar sua vida, de qualquer forma, é aterrorizante. Curiosamente, é esse medo que impulsiona a indústria do aborto: o medo de que seus sonhos vão morrer, seu futuro morrerá, sua liberdade morrerá – e a tentativa de escapar essas mortes é correr para os braços da morte.

Corra para a cruz

Um cristão deve ter um paradigma diferente. Nós devemos correr para a cruz. Para a morte. Então entregue suas esperanças. Entregue seu futuro. Entregue suas coisas pequenas da vida. Entregue seu desejo de ser reconhecida. Entregue sua impaciência com suas crianças. Entregue sua casa perfeitamente limpa. Entregue seus arrependimentos quanto à vida que você está vivendo. Entregue a vida imaginária que você poderia estar vivendo sozinha. Entregue.

Morrer para si mesmo não é o final da história. Nós, de todas as pessoas, deveríamos saber o que vem após a morte. A vida cristã é uma vida de ressurreição, uma vida que não pode ser contida pela morte, o tipo de vida que só é possível quando você foi à cruz e voltou.

A bíblia é clara quanto ao valor das crianças. Jesus as amou, e somos ordenados a amá-las e a trazê-las aos cuidados do Senhor. Devemos imitar Deus e nos deleitar em nossos filhos.

A questão é “como”

A questão aqui não é se você está representando o evangelho ou não, é como você está representando. Você tem entregado sua vida aos seus filhos com rancor? Você contabiliza cada coisa que faz por eles como um agiota que contabiliza débitos? Ou você proporciona vida a eles da forma que Deus nos deu a nossa – gratuitamente?

Não basta fingir. Você pode até enganar algumas pessoas. Aquela pessoa na fila da loja talvez acredite quando você esboça um sorriso falso, mas suas crianças não. Eles sabem exatamente onde eles estão perante você. Eles sabem quais coisas você valoriza mais que eles. Eles sabem cada coisa que você guarda contra eles. Eles sabem que você fingiu uma resposta simpática àquela mulher apenas para ameaçar ou gritar com eles no carro.

Filhos sabem a diferença entre uma mãe que está fingindo para um estranho e uma mãe que defende suas vidas e o seu valor com sorrisos, amor e completa lealdade.

Ocupada com coisas boas

Quando minha pequenina me disse “você está bem ocupada!”, eu já estava grata por saber que ela já sabia qual seria a minha resposta. Era a mesma que eu sempre dava” “Sim, estou – ocupada com coisas muito boas!”.

Viva o evangelho nas coisas que ninguém vê. Sacrifique-se por seus filhos em situações que apenas eles saberão. Valorize-os acima de si mesma. Eduque-os no ambiente do evangelho. Seu testemunho do evangelho nos pequenos detalhes de sua vida tem mais valor do que você imagina. Se você ensiná-los sobre o evangelho, mas viver para si mesma, eles nunca acreditarão nele. Entregue sua vida por eles diariamente, com alegria. Entregue os aborrecimentos. Entregue a impaciência. Entregue sua raiva pela louça suja, pela máquina de lavar roupa, por como ninguém sabe o quão duro você trabalha.

Pare de agarrar-se a si mesma e agarre-se à cruz. Há mais alegria e mais vida e mais felicidade do ouro lado da morte do que você é capaz de carregar sozinha.

- por Rachel Jankovic
Fonte: iPródigo

terça-feira, 26 de março de 2013

Meninos Brincam com Meninos e Meninas Brincam com Meninas!


Sou do tempo em que meninos jogavam futebol, brincavam de "espadinhas" e de "polícia e ladrão". As meninas, por sua vez, se divertiam de "fazer comidinha", "mamãe e filhinha" e também de "casinha".

Interessantemente, nunca alguém precisou ensinar os meninos a chutarem uma bola. Não conheço um pai sequer que, quando o filho completou 10 passos sem tropeçar, colocou-o diante de um objeto redondo e pronunciou a sentença: "você tem que chutar - isso é coisa de homem". De igual modo, desconheço qualquer mãe que, quando a filha dava os primeiros pulos para enxergar o que estava cozinhando na panela, a colocou diante da mesma e disse: "você sempre deve brincar de fazer comida - isso é coisa de mulher".

Trago estes fatos à baila para demonstrar que é natural do homem e da mulher o brincar com coisas distintas - logo, com pessoas que façam a mesma "brincadeira". Não, não estou dizendo que um menino não possa brincar com sua irmã e com ela se divertir de "casinha" - eu mesmo, quando menor, eventualmente brincava com minha irmã. Todavia, o fato é que meninos não exercerão as mesmas funções que as meninas. De acordo com a Escritura, cada um dos sexos tem funções diferentes - o que não implica em inferioridade.

Vejamos:

a) homens devem sustentar a casa: "Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne" (Gn 2.24). Este texto não ensina que a mulher não pode trabalhar, pois em Provérbios 31, o texto áureo sobre a mulher virtuosa, é retratado uma dama que trabalha - todavia, pode assim fazer desde que não interfira em suas obrigações primordiais (o que certamente será um grande desafio). Entretanto, este versículo de Gênesis nos mostra que o homem toma a posição de deixar de ser sustentado, para ser o sustentador. A obrigação de sustentar é do homem.

b) mulheres devem ser donas de casa e mãe de filhos: "As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada" (Tt 2.3-5). Como dito acima, é lícito à mulher o trabalho fora do lar. Todavia, sua primeira tarefa é ser boa dona de casa, amante de seu marido e filhos, "a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada".

Como já disse certo pregador, homem e mulher são como Rei e a Rainha de um império. Nenhum dos dois é "mais" do que outro. Para o bom funcionamento do "reino familiar", é preciso que pai e mãe tenham funções distintas - do contrário, reinará a anarquia.

Acontece, porém, como disse o apóstolo Paulo, "os dias são maus" (Ef 5.16). 

Vivemos em tempos onde meninos brincam com meninas. Novamente: não, não estou dizendo que o menino nunca possa brincar com sua irmã - não é este o ponto (assim como não estou afirmando que a irmãzinha não possa brincar de futebol com o irmão). A questão a ser levantada é sobre quais são os frutos destas brincadeiras a longo tempo. Quais as consequências dos meninos que são criados por suas tias e meninas que vivem sempre na companhia de meninos? Ilustro com um exemplo real.

Conheço uma jovem, hoje na faixa dos 23 anos, que cresceu brincando com meninos. Na época da escola estudávamos juntos. Era perceptível que ela tinha algo de "diferente". Andava diferente, falava diferente, comia diferente, seus passatempos eram diferentes. O tiro foi certo: virou lésbica. Por quê? A Bíblia é explícita em dizer que foi devido ao pecado, mas há que se pontuar a responsabilidade humana. Por onde andavam os pais da moça, impedindo-a de sempre andar com meninos? Por que a deixavam usar "calça larga", ter tênis de "skatista" e cada vez mais encurtar seu cabelo? Hoje, até onde sei, ela trabalha em um sinuca/bar.

É triste olharmos para muitos meninos - agora trazendo o outro ponto - e visualizar seus jeitos efeminados. Não quero dizer que o homem genuíno é aquele ser ogro, estúpido e "sem coração" - absolutamente. Todavia, andar feito uma bailarina não é algo digno de um moço que, se for alistado, servirá ao Exército Brasileiro. Em meu próprio Facebook há certo sujeito, crente, diga-se de passagem, que em todas as fotos que põe, está somente rodeado de meninas. 

Algo está errado.

Tendo estes breves pensamentos expostos, conclamo os pais, maridos, filhos, mães, esposas e filhas, para que lutem por uma sociedade segundo os princípios cristãos. Se seu filho está passando muito tempo com as amigas, converse com ele sobre isso e arranje meninos para que ele brinque não mais de "comidinha", mas sim de "guerrinha de água" ou saia correndo atrás de uma bola. Se sua filha tem pedido para brincar mais "pega ladrão" do que, "vamos brincar de casinha", ensine-a, com toda doçura que vocês, pais, possuem, a brincar de outras coisas. Não façam nada disso, porém, movidos por ódio. Façam, sim, movidos pela ordem da Palavra de Deus.

Vale lembrar, ademais, que nossa sociedade se perverte a cada dia. Caso os pais não pratiquem o ensino domiciliar, a escola ensinará aos filhos que meninos se beijarem é algo normal; que meninas usarem anticoncepcionais e se recusarem a ser boas donas de casa e mãe de filhos, é certamente aceitável.

Se isso acontecer, a "guerra pela educação" estará perdida e toda a sociedade, bem como a Igreja, sairá prejudicada.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Não Educar Tem Consequências


Está na moda tentar fugir das consequências: para quem quer comer demais, inventou-se os produtos dietéticos; para quem quer beber sem ficar bêbado, a cerveja sem álcool; para quem quer tomar sol sem se queimar, os protetores solares. E por aí vai. Mas é impossível fugir eternamente de toda consequência. O que se faz, então, é fingir que elas não existem.

Por exemplo, a coisa mais comum hoje em dia é ver crianças que simplesmente não são educadas. Não estou falando de crianças mal-educadas, mas de crianças que os pais nem tentam educar. Quando a criança chora fazem-lhe a vontade, ensinando-lhe que para conseguir algo basta fazer escândalo. Os pais mentem para ela o tempo todo, mostrando que mentir é algo normal. Há até mesmo pais que ficam andando atrás das crianças, transformadas em pequenos tiranos, fazendo-lhes as vontades!

Ora, as crianças não tentam fingir que consequências não existem. Ao contrário: como elas estão aprendendo como o mundo funciona, não há nada mais importante para uma criança que entender de quais causas vêm quais consequências. Do choro, da manha, da birra, elas aprendem assim que vêm prêmios. Da mentira, elas aprendem que não vem nada. Da preguiça, elas aprendem que vem o descanso. Da bagunça, a arrumação feita pelos escravos, quer dizer, pelos pais.

Os pais, ocupados demais em fingir que negar uma educação aos filhos não terá consequências, têm muito mais trabalho que se quisessem educá-los. E isso enquanto são pequenos; quando crescerem, depois de uma infância dedicada a aprender que são pequenos reis a quem é proibido dizer “não”, o trabalho será muito maior. Uma hora há de chegar em que os pais não poderão dar ao tiraninho aquilo que ele deseja. Neste momento, ele ficará indignado; afinal, ele aprendeu que querer e merecer são a mesma coisa, no caso dele! É aí que ele vai roubar, mentir ou arrancar o que quer de alguém à força.

E aos pais restará ir à delegacia soltar o filho que não educaram. Desta consequência vai ser difícil fugir, mas, acreditem, eles vão continuar tentando: “são as más companhias”, “meu filho é tão carinhoso, não entendo como isso foi acontecer”, “a polícia deveria correr atrás de criminosos de verdade”…

Poucas coisas são mais simples que educar uma criança. Basta incentivar os bons hábitos e cortar pela raiz os maus. Na prática, isso significa que os maus hábitos – a manha, a birra, a preguiça, a falta de respeito com os mais velhos… – devem ser sempre castigados imediatamente. O castigo pode muitas vezes ser um simples olhar; se a criança sempre foi educada, ver que o que ela fez desagrada aos pais em geral já basta. Do mesmo modo, os bons hábitos devem ser incentivados. A criança deve considerar um fato da vida que ela deva largar o que está fazendo imediatamente para ir buscar o que o pai ou a mãe estão pedindo, deve achar natural fazer a própria cama assim que se torna capaz disso, deve saber que pessoas normais sempre pedem “por favor” e agradecem.

A única coisa que não pode nunca faltar é a coerência. A criança, repito, está tentando entender como o mundo funciona. Ela precisa, tem necessidade psicológica, de coerência e de repetição. O que foi punido ontem deve ser punido hoje, o que é obrigatório hoje deve continuar a ser obrigatório amanhã. Cada ato deve ter sempre a mesma consequência.

Só assim se pode dar aos filhos o que é um direito deles: a educação.

- por Carlos Ramalhete

sábado, 23 de março de 2013

A Abominação da Missa Romana


Se nos tempos de Paulo um abuso vulgar da Ceia pôde provocar a ira de Deus contra os coríntios, de maneira a os ter punido tão severamente, que devemos nós pensar quanto ao estado das coisas hoje em dia? Nós vemos, em toda a extensão do papado, não apenas desagradáveis profanações da Ceia, mas até uma abominação sacrílega colocada no seu lugar.

Em primeiro lugar, está prostituída ao lucro imundo (1 Timóteo 3:8) e comércio.

Em segundo lugar, está coxa, ao tirarem o uso da taça.

Em terceiro lugar, é alterada para outro aspecto, ao se ter tornado costume de alguém participar da sua própria celebração separadamente, participação sendo feita longe.

Em quarto lugar, não há lá nenhuma explicação do significado do sacramento, mas um balbuciar que combina melhor com um encantamento mágico ou os sacrifícios detestáveis dos gentios, do que com a instituição do nosso Senhor.

Em quinto lugar, há um infindável número de cerimônias, abundando umas partes com insignificâncias, outras com superstições e consequentemente poluições manifestas.

Em sexto lugar, há a invenção diabólica do sacrifício, que contém uma ímpia blasfêmia contra a morte de Cristo.

Em sétimo lugar, está feita para intoxicar o homem miserável com confiança carnal, enquanto apresentam-no a Deus como se fosse uma expiação, e pensam que por este charme eles desviam todas as coisas danosas, e isso sem fé nem arrependimento. E ainda, enquanto confiam que estão armados contra o diabo e a morte, e estão fortificados contra Deus por uma sólida defesa, eles se entregam ao pecado com maior liberdade e tornam-se obstinados.

Em oitavo lugar, um ídolo é ali adorado no lugar de Cristo.

- por João Calvino (1507-1564)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Crônica do Comodismo



“Tudo deve mudar para que tudo fique como está” é a frase do Príncipe Falconeri, de Lampedusa, que ilustra melhor o espírito do comodismo. Um segundo de vida é passível de render-se ao espírito da renúncia da mudança.

Descolo sem piedade a frase do Príncipe do seu contexto para que ela me sirva. A vida vai mal, contam-se as moedas para o café, a dobradiça da porta precisa de óleo, a tábua rangente da escada reclama uma ou duas marteladas, a conversa atravessada com a esposa precisava de dois dedinhos mais de prosa para aplainar-se, mas nada se muda. Avistado o mínimo de esforço para mudar, arrumamos um motivo maior para não fazê-lo.

O comodismo tem das mais várias armas para fazer o sujeito acomodar-se cotidianamente, sem arrastar um rochedo de remorso. Há os sujeitos que carregam verdadeiros cartórios nos bolsos, anotam tudo e resolvem nada. Para os mais tecnológicos há os famigerados alarmes no celular, tablets e afins; com um simples toque limpa-se a carga de negligência e sente-se que a coisa foi feita – para os mais aflitos e preocupados há o botão de “soneca” que dá o leve sabor de preocupação futura.

Tão difícil falar do comodismo sem tropeçar nas próprias pernas.

Há anos o sujeito procura uma maneira de ficar rico e comprar uma ilha, mas jamais soube sequer como é que se compra uma ilha. À mocinha desde nova é prometido um bom marido, um sujeito que vá fazê-la feliz, dar boa vida, mas o pai, bonacheirão, jamais a levou a outro círculo que não o das festas de família ou dos amigos beberrões. Trabalha anos a fio na empresa e sabe que para subir dentro da mesma precisa de um curso de inglês, mas coloca-o atrás da desejada televisão de plasma. Rapaz frequentador assíduo de prostíbulos pensa em casamento e em arrumar boa moça, mas insiste em visitar as damas da noite sem sequer ter auspícios de um dia poder cantar pra moça da vida “eu vou tirar você desse lugar.” São tantas as possiblidades que enfadonho seria persistir nesse índex de comodismos.

Para não cair no nível de best seller de autoajuda, a questão é simples: aferir os riscos, aceitá-los e meter o pé na porta.

O que foi dito até aqui diz respeito ao comodismo em uma esfera pessoal, mas ainda há um mais pernicioso, ao qual a frase tão cara do Príncipe já não me serve mais.

Já aviso, se és uma carpideira do relativismo, pare a leitura aqui, o que vem adiante é um atentado à sua despudorada e sem-vergonha relativização: o povo brasileiro é hábil e costumeiro acomodado. Enquanto argentinos pululam nas praças contra os desmandos de Cristina Kirchner, a Maga Patológica, os brasileiros, diante das taxas, greves, salário mínimo inferior ao do tempo do Império e 40 % de impostos – o dobro da época da Derrama e Inconfidência Mineira – acocoram-se e deixam pra fazer algo pra depois do Carnaval – interminável, diga-se de passagem. É a síndrome de Macunaíma. A culpa é da novela, do jornal que não anuncia as corruptelas, dos filhos que não dão tempo, do dinheiro que anda curto, do futebol, etc. Acocorar-se e esperar alguém fazer algo é mais fácil.

Já existe no Brasil, há algum tempo, uma série de cala-bocas sendo dados a representantes do pensamento majoritário da nação. O pessoal da dita “direita conservadora” ira-se, reclama, mas não faz nada de substancial. E não os culpo. Há um medo generalizado entre eles: o de perder o emprego, de sofrer algum tipo de repressão ou perseguição, de morrer na rua atacado por algum militante hidrófobo; e tal sentimento os empurra para o mais triste dos comodismos: o impulsionado pelo terror. O dinheiro move o mundo, por mais que os comunistas queiram extingui-lo e viver o conto de fadas macabro deles. A turma dos que caçam estão amparados por ONGs, doações governamentais e pelas vovós que emprestam dinheiro, pois são convencidas pelos netinhos com cara de anjo barroco e camisetas do Stálin. Os que são atacados ficam à mingua. Não aparece um sujeito endinheirado que queira bancar uma contrapartida de peso.

O grande homem de negócios parece querer esperar a ocasião de vender areia no deserto; olha de esguelha, acha estranho que quem defende o direito dele negociar e os valores que mantém a família dele podendo frequentar a missa ou o culto, serem atacados, mas não move uma palha. É o mal do brasileiro. Acocora-se e espera até a cobra chegar bem perto para desferir o bote. Se pegar, bem; se não pegar, morre. Mas mais absurdo que isso há o empresário, acuado por um pequeno grupo que faz voz de multidão, além de aquietar-se, incentiva-os, por medo de ser atacado. Uma lógica um tanto macabra, é como o sujeito que viu um ladrão pulando dentro do seu quintal, só que ao invés de correr e descer o tacape, vai lá abraça-o e entrega o dinheiro.

Por falar em ladrão, outra situação diante da qual o brasileiro acocorou-se: a segurança pública. Mata, estupra, assassina, sequestra, mas há os direitos humanos e tudo se resolve – para os criminosos, evidentemente. O povo o que faz? Bate palma, aceita desarmamento, esconde-se, compra placa de “cuidado cão feroz”, mete caco de vidro no topo do muro. Mas uma atitude veemente, de verdade mesmo, ninguém toma. Aceitam-se as leis que protegem os bandidos prontamente e ainda reclama-se da agressividade das polícias, mas nada se faz para que as leis passem a punir de fato os criminosos e a permitir que o cidadão possa defender-se sem o medo de tomar um processo nas costas.

Algumas pessoas, a quem pouco interessa o sentimento de ordem e a realidade de segurança, construíram para as Forças Armadas uma pecha infame de ditadores e torturadores, um ódio muitas vezes voltado contra todos os seus membros. O resultado é que hoje as Forças Armadas estão sucateadas e pobres, apesar de serem formadas por homens muito honrados. O recente exemplo de honestidade e eficiência das FFAA, ao reformar o aeroporto de Congonhas e devolver milhões aos cofres públicos é mais que suficiente para tomar vergonha na cara e parar de alimentar o conveniente subterfúgio de culpar o Exército Brasileiro por todos os problemas gerados após a redemocratização, uma desculpa diversas vezes utilizada para livrar os reais responsáveis pela bagunça. O caso também prova que é possível sair do comodismo e fazer um bom trabalho público de forma ética e eficiente.

Aqui em Minas Gerais diz-se que quando se mata um burro e se enterra a cabeça dele sob um terreno, a coisa vai para o brejo. Bom, como não consigo vislumbrar uma explicação palpável para todo o problema, peço, encarecidamente, que os amigos defensores dos animais esqueçam, por um momento, os jumentos vendidos para a China e me ajudem a descobrir quem matou e enterrou as milhares de cabeças de burro debaixo do Brasil. E, claro, é bom que se providencie um espelho, para que todos os que tenham meios de incentivar a saída do comodismo político e não o fazem, vejam como até o momento carregam no lugar da face uma cara com um focinho comprido e duas orelhas bem grandes.

- por Flávio Penha

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sou eu. Não sou eu.



Há alguns anos, uma revista me pediu para escrever um artigo. Ele deveria responder a uma questão simples: Qual o maior obstáculo para o Evangelho hoje? Eu tropecei nesse artigo hoje e pensei que deveria dividir com vocês.

Você conhece a história contada repetidamente, tenho certeza. G.K. Chesterton, junto com outros autores proeminentes de seu tempo, foram convidados pelo The Times para responder à essa questão: “O que há de errado com o Mundo?”. Sua resposta foi bela em sua simplicidade e brilhante em sua profundidade.

"Caros senhores,
Sou eu.
Sinceramente,
G.K. Chesterton"

Enquanto pondero sobre os grandes obstáculos para o Evangelho, não posso deixar de sentir que as palavras de Chesterton são aplicáveis a essa questão também. Ao mesmo tempo, sinto como se elas estivessem erradas, muito erradas.

Sou eu

Eu, como cristão, sou um obstáculo para o avanço do Evangelho e para seu poder no mundo.

Eu sou um obstáculo ao Evangelho quando perco a confiança no Evangelho – na poderosa simplicidade das boas novas de que Jesus Cristo morreu para salvar pecadores. Nossa era tem visto mais inovações no Evangelho que qualquer outra. Temos um acesso sem precedentes a programas, técnicas e tecnologias que afirmam ser capazes de melhorar o avanço do Evangelho. Porém, como é fácil perceber que minha confiança está nos programas ou nos instrutores ou nas tecnologias, ao invés de estar na mensagem do Evangelho. Quão rápido sou em preferir mais minha própria mensagem e meus próprios métodos àqueles que Deus me deu.

Eu sou um obstáculo ao Evangelho quando falho em fazer aquilo que confesso. Quando afirmo seguir a Cristo, mas permito que minhas ações traiam minhas palavras, um mundo espectador zomba do Evangelho, e o faz justificadamente. Quando afirmo que fui transformado pela graça de Deus, mas vivo como se Deus não tivesse realizado qualquer mudança, faço outros desprezarem o Evangelho. Robert Robinson disse isso eloquentemente em seu grande hino “Come, Thou Fount of Every Blessing” [Fonte és Tu de Toda Bênção]: “Inclinado a desgarrar-me, Senhor, inclinado a deixar o Deus que amo”. Vivendo em constante tensão de ser santo e pecador, sou inclinado a desgarrar-me de Quem eu amo; inclinado a viver como se Ele nada fosse para mim. E nisto, sou um obstáculo ao Evangelho.

Não sou eu.

Da minha perspectiva humana, sou o maior obstáculo ao Evangelho. Mas a Bíblia me diz para olhar mais alto. Ela me diz com clareza gloriosa que nada, ninguém, é capaz de obstruir o Evangelho. Ela me ensina a pôr minha confiança no Deus cujos planos não podem ser frustrados. Minha falta de confiança no Evangelho, minha indiferença a isso e minha infidelidade em anunciá-lo não podem verdadeiramente ser obstáculos para a obra de Deus. Deus reina supremo sobre tudo.

"Seu domínio é sempiterno, e seu reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra;
não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?" (Daniel 4.34b-35).

Nenhuma pessoa que verdadeiramente busca a Deus será impedida de abraçar a Cristo como Senhor e Salvador. Cristo, o Bom Pastor, enviou Seu Espírito para reunir um povo para si. Cristo conhece suas ovelhas e suas ovelhas o conhecem. Ele as atrairá para si e nenhuma será perdida; nenhuma pode ser perdida. Longe de mim pensar que posso ficar no caminho de Deus, o Criador e Sustentador de tudo o que era, o que é e o que há de ser.

Qual é o maior obstáculo para o Evangelho hoje? Eu sou, mas nada é. Deus reina supremo.

- por Tim Challies
Fonte: iPródigo

quarta-feira, 20 de março de 2013

O Sermão Puritano


Os puritanos insistiam que o sermão deveria estar cheio de demonstrações de outras partes da Escritura, de forma que fosse bíblico. A estrutura do sermão era de tal forma que o fazia lógico e fácil de memorizar. O intenso desejo destes pregadores puritanos era fazer um sermão aplicativo com o propósito de que fosse transformador. Outra preocupação dos puritanos era que o sermão fosse direto, claro e concreto na sua apresentação.

O estilo de pregação anglicano, na época, era muito “florido” e poético, mas não comunicava aos ouvintes, em contraste com o estilo de pregação simples e direta que os puritanos desenvolveram. O propósito deste estilo de sermão puritano não era ser simples como um propósito em si mesmo, mas por amor à comunicação do Evangelho. Era na realidade uma filosofia de comunicação. Era um método que os capacitava a transmitir a mensagem na língua inglesa (numa língua conhecida) atingindo o povo em geral.

Alguém disse: “O sermão puritano não era uma espada de brinquedo, era um instrumento agudo, penetrante e capaz de ferir a alma”. Se o propósito era atingir as pessoas com o sermão, então elas deveriam ser capazes de entendê-lo e lembrá-lo. Foi através do estilo simples e direto de pregar que os puritanos conseguiram isso. Era o propósito do pregador encontrar-se com o povo nivelando-se com ele. Uma vez que os ouvintes entendessem o sentido do texto, os puritanos desejavam que eles sentissem a verdade expressa no texto. É verdade que eles usaram o método de retórica, mas nunca como um propósito em si mesmo para deixar as pessoas admiradas, mas como um veículo para comunicar a verdade ao coração. Quando falamos de um estilo simples e direto não devemos pensar que era um sermão sem qualquer adorno. O que contribuísse para a edificação do povo, os puritanos achavam que era útil, desde que não ultrapassasse as normas bíblicas. O que não contribuísse para edificação era considerado como vaidade e, por isso, deixado de lado.

A rejeição do estilo elaborado e florido da pregação anglicana advinha do fato da congregação não entendê-lo. O pregador puritano estava disposto a usar qualquer instrumento lícito que servisse como um meio para alcançar o fim que tinha em vista. E este fim era que a pessoa sentisse o poder e a realidade daquilo que o pregador falava. Por isso os pregadores puritanos usavam ilustrações da vida cotidiana, da natureza, da vida na fazenda, no lar, na loja e contavam até estórias populares, provérbios e ditos do povo do campo.

William Perkins, que foi o principal arquiteto deste método chamado de “novo método reformado de pregação”, foi também responsável e usado por Deus para que este estilo fosse adaptado e usado pelos demais pregadores puritanos. O seu livro “A Arte de Profetizar” tinha duas seções principais: (a) a preparação do sermão e (b) a proclamação do sermão. Na seção de proclamação ele coloca os princípios de uma pregação simples e direta.

Vejamos de forma breve o que Perkins diz: “Nós mantemos que na proclamação do sermão o pregador deve deixar de lado a sabedoria humana e pregar em demonstração do Espírito”. Diz ainda que a sabedoria humana deve estar oculta dentro do conteúdo do sermão e na sua entrega. Dizia isto porque “a pregação da Palavra é o testemunho de Deus e a confissão do conhecimento de Cristo e não da habilidade humana”. Dizia ainda: “Os ouvintes não deveriam ter uma fé dependente da habilidade humana, e, sim, do poder da Palavra de Deus”. Com a expressão “demonstração do Espírito” Perkins se refere à congregação que está julgando a manifestação do Espírito através das palavras do pregador. Então, a pregação tem de ser espiritual e cheia da graça.

A exposição espiritual é marcada por palavras que são simples e claras de tal forma que elas expressam a majestade do Espírito Santo. Para ser entendida pelo povo a pregação deve ser simples. Perkins se opunha a citações longas do latim e grego no sermão. William Perkins era contra o contar estórias ridículas e pueris. A pregação que é cheia da graça se manifesta quando a graça do coração se torna evidente no sermão. O sermão cheio da graça de Deus inclui: (1) a graça que vem de uma vida santa e (2) a graça do ministério. A graça de uma pessoa é a santidade do seu coração e uma vida que não pode ser questionada. Mesmo que isso não seja o que faz um pastor, na realidade é algo muito necessário.

A graça do ministério inclui três coisas:

(1) capacidade de ensinar;
(2) autoridade para ensinar e
(3) zelo no ensinar.

Perkins diz que na entrega do sermão a demonstração do Espírito se manifesta no uso da voz e do corpo. A voz tem de ser alta o suficiente para ser ouvida por todos; moderada quando se está entregando a doutrina; mais fervente e veemente quando no momento da exortação. Deve haver sempre seriedade nos gestos corporais.

O pregador não deve se fazer de palhaço ou de tolo no púlpito. A melhor maneira de se aprender a pregar desta forma, diz Perkins, é observar modelos de pregação.

Podemos ver estas coisas de forma simples para que os pregadores apliquem em seus sermões:
1) Estilo simples.
2) Entrega espiritual.

- por Joseph Pipa

terça-feira, 19 de março de 2013

Precisamos de Mais Adolescentes Grávidas


"De fato, no tempo em que as pessoas se casavam mais jovens o divórcio era muito mais raro. Durante a última metade do século vinte, enquanto a idade das noivas se elevava de 20 para 25 anos, a taxa de divórcio duplicou. A tendência para casais mais velhos, e presumivelmente mais maduros, não resultou em casamentos mais fortes. A durabilidade marital tem mais a ver com as expectativas e o apoio da sociedade em volta do que com a idade dos cônjuges."


“O verdadeiro amor espera”. “Espere sua formação”. “Esperar vale a pena”. Os chavões dos programas de abstinência juvenil revelam um fato básico da natureza humana: adolescentes, sexo, e espera não se combinam naturalmente.

Nos últimos cinqüenta anos a espera se tornou ainda maior. Em 1950 a idade média das noivas de primeira viagem era de uns 20 anos; em 1998 elas tinham cinco anos a mais, e seus maridos beiravam os 27. Se esse noivo tivesse entrado na puberdade aos doze anos, teria estado esperando mais da metade da sua vida.

Isto é, se de fato tivesse esperado. O sexo é o banho de açúcar no impulso para a reprodução, e esse impulso é quase irresistível. É de se supor que as coisas sejam assim; ele é o motor da sobrevivência da raça humana. Lutar contra ele significa lutar contra um instinto corporal básico, é como lutar contra a sede.

Apesar do conflito entre liberais e conservadores em quase todos os tópicos disponíveis, este é um ponto, contudo, no qual concordam firmemente: os jovens, absolutamente, não devem ter filhos. Embora discordem dos meios — os conservadores advogam a abstinência, os liberais favorecem a contracepção — eles dão as mãos nesse objetivo comum. A geração mais jovem não deve produzir uma geração mais jovem.

Mas a gravidez na adolescência, em si, não é algo assim tão ruim. Aos 18 anos o corpo da mulher se encontra bem preparado para a gravidez. Os homens estão igualmente qualificados para fazer sua parte. Ambos podem obter maior êxito nessa empreitada do que teriam em anos posteriores, por conta de alguns riscos para a saúde — a operação cesárea ou a síndrome de Down, por exemplo — que aumentam com o passar dos anos. (Os perigos que associamos com a gravidez na adolescência, por outro lado, são comportamentais, não biológicos: uso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, aborto involuntário, imaturidade e falta de acompanhamento pré-natal). A fertilidade da mulher começa a declinar aos 25 anos — uma razão pela qual os controles de população incentivam a gravidez tardia. Gravidez precoce também recompensa a saúde da mulher com uma proteção adicional contra o câncer do colo do útero.

Além disso, as mamães e os papais mais jovens provavelmente são mais hábeis na criação dos filhos, menos propensos ao cansaço com o movimento permanente das crianças que começam a caminhar. Suas articulações devem doer menos depois de empurrá-los no balanço do parque. Suspeito que pais mais jovens também sejam mais pacientes do que aqueles com quarenta e tantos anos que pedem ao pediatra algum remédio para dar a seu filho supostamente hiperativo. Os seres humanos foram feitos para se reproduzirem em seus anos de adolescência, e nisso são potencialmente muito bons durante esse período. Essa é a razão pela qual desejam tanto isto.

Gravidez na adolescência não é o problema. O problema é a gravidez de adolescentes não casados. A reprodução fora do casamento é o que causa todos os problemas. Restaure uma base na qual o matrimônio começa mais cedo e você não terá de lutar contra a biologia durante uma década ou mais.

A maioria de nós empalidece ao pensar em nossos filhos casando-se antes dos 25, muito menos antes dos 20. A reação imediata é: “São muito imaturos”. Esperamos que os adolescentes estejam centrados em si e em seus impulsos, sendo incapazes de arcar com as responsabilidades da vida adulta. Mas as coisas nem sempre foram assim; durante muito tempo na história a norma era casar e ter filhos na adolescência. Não poucos de nós encontraríamos nossas árvores genealógicas salpicadas com muitos casamentos na adolescência.

Lógico, aqueles eram os dias nos quais se presumia que os adolescentes já crescidos eram verdadeiramente “jovens adultos”. É difícil imaginarmos tal coisa hoje. Não é que os jovens sejam inerentemente incapazes de assumir responsabilidades — a história refuta isso — mas é que já não esperamos que eles ajam assim. Apenas algumas décadas atrás concluir o ensino médio era tomado como uma prova de que se era adulto, ou ao menos como uma promessa de que aquele desajeitado garoto com um diploma estava pronto para começar a agir como um adulto. Muitos garotos saíam da escola para o mundo do trabalho diário ao qual não deixariam até estarem cheios de cabelos brancos; muitas garotas começavam a converter seu pequeno apartamento num berçário. Talvez as expectativas fossem tímidas, mas eram alcançadas, e muitas boas famílias se formaram desse modo.

Oculta nesse cenário se encontra a pressuposição não declarada de que um jovem adulto pode ganhar o suficiente para sustentar uma família. Ao longo do curso da história, a idade de matrimônio geralmente esteve limitada pela puberdade por um lado, e pela habilidade de sustentar uma família por outro. Na fartura, o povo se casa jovem; quando as possibilidades são parcas, os casais batalham e economizam para o dia do casamento. Uma cultura onde os homens não se casam antes dos 27 normalmente apresentaria elementos como repetidos fracassos na agricultura ou depressão econômica.

Esse não é o caso dos Estados Unidos hoje. Ao invés disso, temos uma situação “artificial” que faz com que o casamento seja postergado. A idade na qual um homem, ou uma mulher, podem ganhar razoável credibilidade foi aumentando regularmente na medida em que a educação foi rebaixando seu conteúdo. A condição básica para ser capaz de obter um emprego, que usualmente era o diploma de ensino médio, agora requer um título de bacharelado, e as carreiras profissionais que geralmente eram acessíveis com um bacharelado agora requerem um título de mestre ou mais. Os anos seguem passando enquanto os jovens seguem tentando conseguir as credenciais que a ganância dos adultos exige.

Contudo, a habilidade financeira não é nosso único interesse; estamos convencidos de que os jovens são simplesmente incapazes de assumir responsabilidades de adultos. Esperamos que eles tenham um pobre controle de seus impulsos, sejam centrados em si e em suas emoções, e incapazes de visualizar conseqüências. (Ora, é estranho esperar que os jovens, de quem se pensa serem muito irresponsáveis para o matrimônio, pratiquem uma abstinência heróica ou a contracepção diligente). A pressuposição de irresponsabilidade juvenil tem raízes que estão para além da nossa conjectura sobre a natureza da adolescência; ela envolve nossa idéia mesma sobre o propósito da infância.

Há mais ou menos um século se presumia que as crianças eram seres em treinamento para a vida adulta. Desde os primeiros anos as crianças ajudavam em casa, no negócio, ou na fazenda da família, assumindo mais responsabilidades a cada dia. Nos últimos anos da adolescência, os filhos estavam prontos para graduação na vida adulta plena, um status que recebiam como uma honra. Sabe-se que essa transição começava cedo pelo número de tradições religiosas e sociais pelas quais passavam os jovens ao completar 12 ou 13 anos.

Porém já não pensamos nas crianças como adultos em progresso. A infância não é mais um período para treinamento, mas um parque de diversões, e devido ao fato de amarmos nossos filhos e sentirmos nostalgia da nossa própria infância, queremos que eles sejam capazes de permanecer nesse estado o maior tempo possível. Cultivamos a idéia de uma infância idílica e despreocupada, e à medida que os anos escolares aumentam o que aumenta é o limite para o parque de diversões, de maneira que esperamos que mesmo “garotos” de vinte e não sei quantos anos evitem deixar o lar. Outra vez, não é que as pessoas dessa idade não possam ser responsáveis; seus ancestrais o eram. É que qualquer pessoa que receber a oportunidade de relaxar e seguir brincando, geralmente aproveitará a oportunidade. Se nossa cultura assumisse que as pessoas de cinqüenta anos tirariam um ano de descanso sem cumprir qualquer responsabilidade, tendo todos os seus gastos pagos por outros, passando seu tempo divertindo-se e cometendo erros perdoáveis, nossos centros comerciais estariam invadidos por delinqüentes da terceira idade.

Mas os casamentos precoces não tendem a terminar em divórcio? Se dizemos aos jovens que os consideramos inerentemente incompetentes isso se converterá em uma sentença profética, porém nem sempre foi assim. De fato, no tempo em que as pessoas se casavam mais jovens o divórcio era muito mais raro. Durante a última metade do século vinte, enquanto a idade das noivas se elevava de 20 para 25 anos, a taxa de divórcio duplicou. A tendência para casais mais velhos, e presumivelmente mais maduros, não resultou em casamentos mais fortes. A durabilidade marital tem mais a ver com as expectativas e o apoio da sociedade em volta do que com a idade dos cônjuges.

Um padrão de casamento tardio pode realmente “incrementar” a taxa de divórcio. Durante a década inicial da vida adulta os jovens podem não estar casados, mas estarão namorando. Apaixonam-se e rompem, e passam por um sofrimento terrível, mas descobrem que o tempo resolve tudo. Podem fazer isso muitas vezes. Gradualmente se acostumam; aprendem que podem entregar seus próprios corações e logo tomá-los novamente; aprendem a escutar, em primeiro lugar, seus corações. Aprendem a manter uma relação com o objetivo de obter o que querem, sempre com as malas prontas caso precisem partir. Ao se casar já tiveram muitas oportunidades de aprender a se esquivar de uma promessa. Treinaram para o divórcio.

Como bem sabemos, um padrão social de matrimônio tardios não significa sexo tardio. Em 1950 tínhamos uma taxa de 14 nascimentos por mulheres não casadas; em 1998 esse número disparou para 44. Mesmo esse assombroso aumento não conta toda a história. Em 1950 o número de nascimentos geralmente correspondia ao número de gravidezes, mas em 1998 devemos acrescentar muitas outras fora do casamento que não chegaram ao nascimento, mas terminaram em aborto, aproximadamente uma em cada quatro gravidezes terminaram assim. A cidade de Baltimore, onde vivo, foi recordista em filhos nascidos fora do casamento: 77% de todas as crianças, em 2001, haviam nascido entre mães não casadas.

Há uma série de razões que se entrelaçam para este aumento de nascimentos entre pessoas não casadas, porém um fator seguramente deve ser que quando os requisitos supostamente necessários para o matrimônio se elevam demais, algumas pessoas simplesmente pulam essa parte. Uma coisa é pedir aos jovens nervosos que se abstenham até que terminem o ensino médio aos 18 anos. Quando a expectativa ao invés disso é esperar até os 25 ou 27, muitos se recusam a esperar de verdade. Ficamos tristes, porém já não nos surpreendemos, quando vemos meninas tendo bebês aos 12 ou 13 anos. Entre 1940 e 1998, a taxa de meninas entre 10 e 14 que já tiveram filhos quase dobrou. As experiências sexuais destas jovens mães geralmente são classificadas como “involuntárias” ou “indesejadas”. Pedir aos garotos que esperem até o casamento é uma maneira saudável de proteger as garotas.

A idéia de retornar a uma era de casamentos precoces, contudo, parece desalentadora, por boas razões. Não é só uma questão de celebrar as bodas de garotos de 18 anos com olhos sonhadores e logo lançá-los ao mundo. Nossos antepassados foram capazes de se casar jovens porque estavam rodeados por uma rede de apoio que os tornava aptos para esse passo. As pessoas jovens não são intrinsecamente incompetentes, mas ainda têm muito que aprender, assim como os recém-casados de qualquer idade. Nas gerações passadas um casal jovem estaria rodeado por familiares e amigos que poderiam guiá-los e apoiá-los não só a trafegar pelas estradas no novo matrimônio, mas também nas habilidades práticas de fazer as tarefas de uma família, administrar um orçamento, consertar uma telha com goteira ou trocar uma fralda.

Não é bom que o homem esteja só; e tampouco é bom para um jovem casal estar isolado. Nesta era de educação prolongada, quem casa jovem provavelmente faz isso antes de terminar a universidade, o que requer alguns sacrifícios. Não podem esperar “ter tudo”. Dos três fatores — se manterem, terem filhos e ambos freqüentarem a escola em tempo integral — algo irá sobrar. Porém o casamento precoce pode ter êxito, como sempre teve, com o apoio da família e dos amigos.

Eu me casei uma semana depois da graduação na universidade, e tanto meu esposo quanto eu imediatamente deixamos a academia. Vivemos dentro das nossas possibilidades trabalhando como porteiros durante a noite, limpando pisos e lavando banheiros. Estivemos longe de casa, porém nossa igreja era nosso lar, e por meio da amabilidade de famílias mais experientes tivemos muitas formas de apoio — na verdade, tivemos todo o apoio necessário. Quando nosso primeiro filho nasceu estávamos tão entupidos de fraldas, roupas e presentes que nosso único gasto foi com a conta do hospital.

Nossa filha e nosso filho mais velho também se casaram e começaram famílias ainda jovens. As coisas não são fáceis para aqueles que seguem esse caminho, mas com a ajuda da família, da igreja e de programas criativos de estudo e trabalho, as duas jovens famílias estão seguindo seu caminho. Casamento precoce não pode acontecer no vácuo; ele requer apoio em muitas direções, e seria ingênuo pensar que os custos não são altos.

As recompensas também são altas. É maravilhoso ver nosso filho e nossa filha florescerem num casamento forte e feliz, e é uma alegria inesperada contar com um novo filho e uma nova filha em nosso círculo familiar. Nosso cálice também transborda de netos: temos quatro netinhos, e o mais velho deles tem apenas dois anos. Eu tenho 49.

É interessante pensar no futuro. E se meu neto mais velho também se casar jovem, e tiver seu primeiro filho aos 20 anos de idade? Eu teria meu bisneto aos 67. E poderia ter logo um tataraneto aos 87. Eu estaria longe de entrar na velhice solitária. Meus netos e os filhos deles cresceriam também, e estariam prontos para cercar as novas gerações com muitas mentes cheias de recursos e com corações afetuosos. Mesmo algo mais extravagante é possível: venho de uma família com muita longevidade, alguns de seus membros passam dos cem anos. Quanto eu poderia viver para ver uma família tão grande?

Essa especulação cria um redemoinho de pensamentos — embora estes sonhos não sejam impossíveis, e com certeza não sem precedentes. Gerações próximas e que se ajudam mutuamente devem ter sido um espetáculo comum na época em que se afirmava o casamento precoce, e permitia-se que os jovens fizessem aquilo que era natural.

- por Frederica Mathewes-Green

segunda-feira, 18 de março de 2013

O Ateísmo Prático - por Stephen Charnock (1628–1680)


Um homem pode ser um ateísta de coração sem que o seja de cabeça. Ele pode não questionar a existência de Deus, e até mesmo defendê-Lo, enquanto o seu coração se encontra vazio de emoções para com Ele

Isso se chama ateísmo prático, ou seja, ateísmo em prática. O próprio diabo é um ateísta prático, pois ele sabe que existe um Deus, mas age como se não houvesse. No mundo, são poucas as pessoas que negam a existência de Deus, mas nenhum homem naturalmente o reverencia em seu coração. Todos os homens são ateístas práticos. Eles são descritos em Tito 1: 16 que diz: Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras. Desde que ações falam mais alto do que palavras, aqueles que dizem conhecer a Deus, mas vivem como se Ele não existisse, são mais dignos de receberem o título de ateísta, do que aqueles que negam a Deus e vivem como se Ele existisse.

Esse ateísmo secreto é o espírito de todo pecado. Toda ação pecaminosa despreza a lei e a soberania de Deus, declarando-O indigno de ser o que é. Se nos fosse permitido chegar a sua conclusão lógica, cada pecado da humanidade iria impugnar, destronar, e aniquilar a Deus, enquanto promovesse o pecador ao status de a mais sábia das autoridades.

Quando pecamos, no fundo desejamos que Deus não existisse, ou que Ele não possuísse Suas qualidades e perfeições, o que seria o mesmo que dizer que Deus não existe. Além disso, aqueles que somente o adoram exteriormente, por causa de um temor escravizador, murmurando o tempo todo, manifestam o mesmo desejo.

Qualquer desejo que houver para que Deus mude, ou para que Ele mude a maneira de tratar conosco, é a própria essência do ateísmo prático.

- por Stephen Charnock (1628–1680)

sexta-feira, 15 de março de 2013

A "Família Real" do Pastor


Em sua casa, o pastor é semelhante ao Marechal do Exército, ao Coronel da Polícia Militar ou ao Rei de algum país cujo governo é regido pela monarquia. Sempre de terno, gravata, abotoaduras, sapato social brilhoso, cabelo perfeitamente arrumado e bom hálito, ostenta a insígnia do pátrio poder.

Varonil que é, desconhece chinelos, pantufas e camisetas rasgadas.

Na vida e casa do pastor há algumas coisas que nunca deixam de existir: 

Pela manhã:

Logo após a família despertar unida sob o canto dos colibris, eis o que se segue:

1. Oração individual de 30 minutos antes de a família começar seus afazeres - todos os dias, sem falta;
2. Oração coletiva de 45 minutos após a oração privada;
3. Um café da manhã com Salmos cantados e leitura bíblica, tanto do Antigo como do Novo Testamento;
4. Sermão do pastor/pai aos membros da família e depois mais uma oração;
5. Senta-se à mesa e comem alfajores argentinos, juntamente com vinho do Porto e queijo importado.

Após este cerimonialismo, os filhos vão com a mãe para o quarto de estudos e lá aprendem:

1. Latim, francês, grego, hebraico, aramaico, inglês, mandarim e outra língua que desejarem;
2. Piano, trompete, flauta (todos os tipos), percussão e violão clássico;
3. Artes em geral;
4. Princípios bíblicos de obediência aos pais e honra aos mais velhos; 
5. Teologia com base nas Institutas de Calvino, Turretin e Brakel.

Enquanto os filhos estão estudando, o pastor/pai vai até o bosque atrás da casa da família e assim procede:

1. Uma hora de oração incessante pelo avanço do Reino de Deus;
2. Algum tempo considerável em admiração à natureza do Criador;
3. Leitura exaustiva da Palavra de Deus e memorização;
4. Chora por seus pecados;
5. Entoa Salmos e canta com os passarinhos.

De meio-dia:

A mãe, esposa do pastor, prepara um delicioso banquete regado a molhos e fartos acompanhamentos, bem como acontece:

1. Oração coletiva de 20 minutos pelos alimentos;
2. A começar pelo filho mais novo, todos pedem perdão aos pais por suas desobediências;
3. Pai e mãe retratam-se com seus filhos e juntos se abraçam longamente;
4. Ninguém na mesa reclama de coisa alguma e todos louvam ao Senhor pelas dádivas;
5. Encerra-se com canto de Salmos e uma leitura piedosa.

De tarde:

Não estaria satisfeita a agenda da "família real" do pastor se não houvesse:

1. O pastor/pai da família vai para a praça da cidade e proclama em alta voz o evangelho;
2. A mãe reúne as demais irmãs da igreja em sua casa e juntas intercedem por seus maridos;
3. Os filhos, puritanos que são, brincam de colorir figuras de Owen, Watson e da abadia de Westminster;
4. Os vizinhos ouvem o louvor da família que sempre esta a cantar e recebem um estudo bíblico sobre;
5. Todos praticam um jejum, a fim de mortificarem a carne e exaltarem o Espírito.

De noite:

Retornando cada qual de seus deveres, prossegue a excelsa família em sua peregrinação:

1. O pastor/pai retorna alegre, jubiloso e com grande sorriso no rosto por ter exposto o evangelho;
2. A mãe e nobre esposa, fala sobre como as irmãs da igreja têm crescido em graça e conhecimento;
3. Os filhos falam sobre o que aprenderam sobre a Reforma Protestante e exaltam o amor de Cristo;
4. Os vizinhos esboçam boas reações e vão sendo ensinados no evangelho a cada noite;
5. A comida é novamente farta, desta vez com rosquinhas de queijo holandês com manteiga e cappuccino.

Após este maravilhoso dia, cada qual se recolhe para seu quarto, porém, isso ainda fazem:

1. O pai/pastor, trajando o santo pijama bordado com versículos, ora durante 2 horas por sua família;
2. A mãe deleita-se na Escritura e, vendo o marido orar, se junta a ele em fervorosa devoção;
3. Os filhos não jogam vídeo game, mas, sim, rogam e pedem mais amor e contentamento em Deus;
4. Cada qual em seu quarto entoa Salmos e recita 5 perguntas de algum catecismo reformado;
5. Todos se deitam em suas camas e adormecem ao som da chuva.

Nos outros dias, o mesmo acontece.

______________
Este não é, evidentemente, o retrato exato da família do pastor, mas, infelizmente, é assim que muitos pensam ser. Imaginam que o pastor possua uma "família real", imaculada, sem culpa, santa e irrepreensível.

A verdade é que a família pastor é como as demais: possui algumas discussões, há falta de dinheiro, desânimo, falta de motivação e por vezes, também, cansaço do ministério.

Lembre-se, meu irmão e irmã: a família do pastor também é humana e por isso falha - e muito.

Cristo seja convosco.

quinta-feira, 14 de março de 2013

É Irracional se Fazer Qualquer Imagem ou Retrato de Deus




A idolatria tenta fazer o impossível. A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis? (Isaías 40: 18). Nada que seja corpóreo poderia representar de forma adequada uma substância espiritual. Somente Deus conhece perfeita e completamente a Si mesmo. Somente Ele é que pode revelar-se a si mesmo, mas não fez isso utilizando qualquer forma física. Nenhuma imagem esculpida ou pintada pode fazer justiça ao seu glorioso caráter. Qualquer tipo de representação é finita e incompleta. Por isso qualquer representação se torna uma má representação. Isso seria indigno dEle, e um verdadeiro insulto contra Ele.
Entretanto, o pecador caído é propenso a fazer uma representação de Deus. Desde o dilúvio os homens têm insistido em criar algumas imagens associadas à sua adoração religiosa. Isso é idolatria, sendo expressa e repetidamente condenada nas Santas Escrituras. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens (Atos 17: 29).

Quando utilizamos uma imagem para adoração, acabamos adorando a própria imagem ou aquilo que ela representa. O primeiro é idolatria manifesta. O último é tolice, pois faz da imagem algo totalmente desnecessário.

A Doutrina da Espiritualidade de Deus Deveria Governar Todos os Nossos Conceitos a Respeito Dele

Deveríamos ficar felizes por não termos qualquer imagem ou retrato de Deus. Ele está muito acima de nós. Mas ainda assim Ele se inclina até nós a fim de nos revelar algumas coisas sobre si mesmo.

Deveríamos entender o quão vil é a idolatria. Nós negamos a espiritualidade de Deus quando atribuímos a Ele uma forma corpórea. Nós o rebaixamos ao tentar fazê-Lo à nossa própria imagem e semelhança. Em nossa mente nós limitamos aquilo que é infinito. Até mesmo o quadro mais bonito acaba depreciando a Sua glória. Não demora muito para os espectadores começarem a atribuir a Deus uma natureza corrupta. Mas o fato de Deus humilhar-se a si mesmo para atingir a nossa compreensão, usando figuras de linguagem, não nos dá o direito de rebaixá-Lo, pensando que Ele realmente existe daquela forma. As qualidades humanas atribuídas a Deus são mais adequadas a nossa fraqueza do que à Sua perfeição.

A idolatria corrompe a verdadeira adoração. Nós não nos dirigimos seriamente a um Deus que estimamos em pouco aos nossos olhos. Quanto mais alto pensamos sobre Deus, mais nos abominamos e humilhamos diante dEle.

Devemos ter noções elevadas sobre Deus. Devido às nossas enfermidades, não podemos ter uma visão completa sobre Ele, mas devemos nos esforçar para atingirmos a visão mais alta possível. Devemos lembrar que não importa o quão alto possamos chegar em nosso conhecimento de Deus, pois Ele sempre estará muito acima de nós!

Considere Algumas Inferências Sobre Esta Doutrina

Se Deus é Espírito, nenhum objeto corpóreo pode defini-Lo. Nenhuma impureza da carne pode entrar em contato com Ele.

Se Deus é Espírito, então Ele não se encontra atolado numa massa de tamanho e peso, mas é livre para agir, mesmo em nossas almas. Ele não se cansa por trabalhar demais. Quanto mais nos tornamos semelhantes a Deus, mais diligentes seremos em glorificá-Lo.

Se Deus é Espírito, Ele é imortal. Morte é separação. Desde que Deus é essencialmente um Espírito não composto, então não pode haver nenhuma separação nEle. Esta verdade serve de grande conforto para os filhos de Deus.

Se Deus é Espírito, então nós podemos ter comunhão com Ele em espírito. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Salmo 51: 17). Portanto, precisamos ser renovados no espírito da nossa mente (Efésios 4: 23).

Se Deus é Espírito, somente Deus pode satisfazer o nosso espírito. Nada que seja de natureza física, pode realmente satisfazer um espírito faminto. Nós deveríamos ter um desejo ardente de Deus. Somente nEle é que encontramos descanso, contentamento, e plenitude.

Se Deus é Espírito, nós deveríamos cuidar melhor do nosso corpo e do nosso espírito. Muitas vezes nós vivemos como se a nossa constituição física fosse tudo para nós. O cristianismo faz com que o homem fique principalmente interessado em seu espírito.

Se Deus é Espírito, devemos ficar em alerta, especialmente contra os pecados do espírito. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus (II Coríntios 7: 1). Os pecados da carne são malignos, e dignos da ira eterna de Deus, mas os pecados do espírito são especialmente malignos, pois contaminam aquilo que é mais próximo entre Deus e nós. Os pecados da carne nos tornam semelhantes a bestas brutas, enquanto os pecados do espírito ao maligno. Assim como a espiritualidade é a raiz de outras perfeições em Deus (como listamos anteriormente), assim também a santidade de espírito, em nós, é a raiz de outras formas de obediência em nossa carne.

- por Stephen Charnock (1628–1680)
Fonte da imagem: Flickr

quarta-feira, 13 de março de 2013

Orgulho Espiritual Oculto - por Jonathan Edwards (1703–1758)


A primeira e a pior causa de erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal porta que o diabo usa para entrar nos corações daqueles que têm zelo pelo avanço da causa de Cristo. É a principal via de entrada de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente e desviar o juízo. É o meio que Satanás usa para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Até que essa doença seja curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras enfermidades.

O orgulho é muito mais difícil de ser discernido do que qualquer outra fonte de corrupção porque, por sua própria natureza, leva a pessoa a ter um conceito alto demais de si própria. É alguma surpresa, então, verificar que a pessoa que pensa de si acima do que deve está totalmente inconsciente desse fato? Ela pensa, pelo contrário, que a opinião que tem de si está bem fundamentada e que, portanto, não é um conceito elevado demais. Como resultado, não existe outro assunto no qual o coração esteja mais enganado e mais difícil de ser sondado. A própria natureza do orgulho é criar autoconfiança e expulsar qualquer suspeita de mal em relação a si próprio.

O orgulho toma muitas formas e manifestações e envolve o coração como as camadas de uma cebola – ao se arrancar uma camada, existe outra por baixo dela. Por isto, precisamos ter a maior vigilância imaginável sobre nossos corações com respeito a essa questão e clamar àquele que sonda as profundezas do coração para que nos auxilie. Quem confia em seu próprio coração é insensato.

Como o orgulho espiritual é mascarado por natureza, geralmente não pode ser detectado por intuição imediata como aquilo que é mesmo. É mais fácil ser identificado por seus frutos e efeitos, alguns dos quais quero mencionar junto com os frutos opostos da humildade cristã.

A pessoa espiritualmente orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução. Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que facilmente recebe instrução. É cautelosa no seu conceito de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em examinar a questão e ouvir as advertências.

As pessoas orgulhosas tendem a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão. A pessoa espiritualmente orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça, enquanto o crente humilde vê tanta maldade em seu próprio coração, e se preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar aos corações dos outros. Queixa-se mais de si próprio e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.

As pessoas espiritualmente orgulhosas falam freqüentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno. Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus superiores. Os humildes, entretanto, mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se esmagados pela sua própria indignidade e impureza. Suas exortações a outros cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus irmãos e companheiros, eles procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão com que Cristo, que está infinitamente superior a eles, os trata.

O orgulho espiritual comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir. Por outro lado, o cristão humilde – mesmo sendo firme no seu dever, permanecendo sozinho no caminho do céu ainda que o mundo inteiro o abandone – não sente prazer em ser diferente só para ser diferente. Não procura se colocar numa posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial; muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no pecado.

Pessoas orgulhosas dão muita atenção a oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente com um ar de amargura ou desprezo. A humildade cristã, em contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante ao seu bendito Senhor, o qual, quando foi maltratado não abriu sua boca, mas se entregou em silêncio àquele que julga retamente. Para o cristão humilde, quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver no seu quarto de oração: lá ele não ficará calado.

Um outro padrão de pessoas espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o respeito que lhe é oferecido. Se outros demonstram disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, esta pessoa receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a esperar tal tratamento e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo que pensa merecer.

Uma pessoa sob a influência de orgulho espiritual tende mais a instruir aos outros do que a fazer perguntas. Tal pessoa naturalmente assume ar de mestre. O cristão eminentemente humilde pensa que precisa de ajuda de todo o mundo, enquanto a pessoa espiritualmente orgulhosa acha que todos precisam do que ela tem para oferecer. A humildade cristã, sentindo o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em contraste, ordena e adverte com autoridade.

Assim como o orgulho espiritual leva as pessoas a assumirem muita coisa para si mesmas, de forma semelhante as induz a tratar os outros com negligência. Por outro lado, a pura humildade cristã traz a disposição de honrar a todas as pessoas. Entrar em contendas a respeito do cristianismo por vezes é desaconselhável; no entanto, devemos tomar muito cuidado para não nos recusarmos a discutir com pessoas carnais por as acharmos indignas de nossa consideração. Pelo contrário, devemos condescender a pessoas carnais da mesma forma como Cristo condescendeu a nós – a fim de estar presente conosco na nossa indocilidade e estupidez.

- por Jonathan Edwards (1703–1758)
Fonte: Monergismo

terça-feira, 12 de março de 2013

Como o Inferno Glorifica a Deus?


Para chegar à forma que o inferno glorifica a Deus, precisamos ver o inferno à luz da grande história da Bíblia, seu ponto de vista, e sua caracterização de Deus e do homem.

A grande história da Bíblia

O enredo da Bíblia, como todos os enredos, tem um começo, meio e fim.

Início

Deus cria um lugar perfeito e coloca um homem e uma mulher inocentes nele. Deus estabelece os termos e afirma claramente a conseqüência de transgredir seus termos. Um inimigo está com a mulher inocente. Ela acredita na mentira, quebra os termos de Deus, e os pecados do homem com ela. Deus amaldiçoa o inimigo e inicia as conseqüências da transgressão, amaldiçoando a terra também. Na maldição sobre o inimigo, Deus afirma que a semente da mulher pisaria a cabeça do inimigo, enquanto o inimigo feriria calcanhar da semente. O homem e a mulher são, então, afastados do local perfeito.

Meio

A humanidade foi dividida em dois grupos: a semente da mulher e a semente da serpente, o justo e o ímpio. A semente da mulher é inicialmente um subconjunto da nação de Israel, uma linha de descendência que Deus escolheu para abençoar. Eles experimentam um refazimento do início do enredo. Deus coloca-os na terra prometida e determina as leis. Eles transgridem os termos e são banidos dessa terra, mas Deus continua a promessa de que o inimigo será derrotado, mesmo que através da dolorosa expiação da semente da mulher.

Então Jesus vem como a semente prometida da mulher. Ele esmaga a cabeça do inimigo e o inimigo golpeia seu calcanhar – Morre na cruz. Porque ele é inocente e tem resistido a todas as tentações, a morte não pode segurá-lo. Ele triunfante vence a morte, satisfaz a ira de Deus contra o pecado e abre o caminho da salvação para todos os que confiam nele.

Fim

Criação será como uma mulher em sofrimento de trabalho de parto – os ímpios atacam ferozmente os justos, que confiam em Deus e testemunham a verdade de Deus até serem mortos. Isso continuará até que Jesus volte. Quando Jesus voltar, Ele julgará os ímpios e destiná-los-á ao castigo eterno, e ele vai ter aqueles que acreditam na palavra de Deus e no testemunho de Jesus em um lugar melhor, novo e perfeito.

A Bíblia nos dá o ponto de vista de Deus

Essa trama não é apenas uma história: ela apresenta o ponto de vista de Deus sobre o mundo. Pense comigo sobre na Bíblia sobre o ponto de vista e a perspectiva dos autores bíblicos.

Seu ponto de vista é que Deus estabeleceu os termos e Deus está com a razão. Aqueles que rejeitam os termos de Deus estão errados e enfrentarão as conseqüências que Deus declarou quando ele definiu a lei. Além disso, a Bíblia não só representa o ponto de vista dos autores bíblicos, que afirmam falar em nome de Deus. Ou seja, a Bíblia afirma apresentar o ponto de vista de Deus sobre o assunto.

Sobre Deus, o homem e nosso estado perante Deus

Como os personagens da Bíblia são apresentados? Eles são principalmente apresentados por meio de suas palavras e ações, mas a Bíblia também avalia seu caráter. Vamos pensar de forma breve como a Bíblia caracteriza Deus, os seres humanos e Jesus.

A Bíblia ensina que Deus sempre faz e diz o que é certo. Ele sempre cumpre sua palavra. Nada pode contrariar a sua finalidade. Ele é livre e bom. A Bíblia sempre diz quão justo Deus é. Ou seja, a Bíblia sempre mostra que Deus é justo. Paradoxalmente, a Bíblia também mostra que Deus é misericordioso.

Por outro lado, todos os seres humanos fazem e falam o que é errado, o que denuncia uma falta de fé em Deus. Por palavras e atos humanos transgridem os mandamentos de Deus. Os seres humanos contaminaram a boa criação de Deus, perverteram seus bons dons, e em todos os sentidos atacaram ao Deus que lhes deu vida e tudo que é bom. Por isso, todos os seres humanos merecem condenação.

Como dito acima, existem dois grupos de seres humanos. Um grupo caracteriza-se por confiar em Deus, concordando com seus termos, confessando terem quebrado os mandamentos, se afastando de suas transgressões, e procurando acreditar nas promessas de Deus para que possam viver de acordo com seus termos. O outro grupo rejeita a Deus e seus termos, se recusa a admitir sua culpa, se recusa a se afastar do mal, e junta-se ao lado do inimigo.

Jesus mostra por suas palavras e atos que ele é plenamente humano e Deus. Jesus nunca transgrediu os mandamentos de Deus. Ele é o herói. Ele salva. Ele deu a si mesmo em favor dos outros. Qualquer um que se oponha ou rejeite-o é oposição e rejeição à bondade e amor. Qualquer pessoa que se opõe e rejeita merece condenação. Aqueles que recebem e se juntam a ele, no entanto, fazem-no em seus termos, que são termos de Deus, e que implica confissão de pecado, arrependimento e confiança em Jesus.

Como o inferno glorifica a Deus?

Como é que tudo isso ajuda-nos a ver como o inferno glorifica a Deus?

Este mundo é a história de Deus. Ele sustentou por sua palavra, e ele continua sustentando porque ele continua falando. O universo é sustentado pela palavra do seu poder. É o seu enredo. Ele é o autor cujo ponto de vista é comunicada na Bíblia e cujas caracterizações definem os participantes do drama.

O inferno é sobre o cumprimento da palavra de Deus. Que Deus envia os ímpios para o inferno mostra que Deus é fiel e justo. Se Deus não impõe os termos que ele criou, ele não mantém sua palavra e ele é infiel. Se ele não envia os ímpios para o inferno, ele não confirma seu próprio padrão justo, e ele não é justo. Se ele não punir os rebeldes no inferno, os justos não estão vingados. Na verdade, se não há inferno, podemos concluir que os justos estavam errados por terem confiado em Deus.

Mas há inferno, e os justos são sábios por confiarem em Deus. O inferno mostra a glória da justiça de Deus. O inferno vindica aqueles que obedecem os termos de Deus, mesmo que eles sofram terrivelmente para o fazê-lo. O inferno vindica os justos que foram perseguidos pelos ímpios. Inferno glorifica a Deus.

Você tem alguma objeção a isso? Você pode muito bem estar com Shere Khan contra Rudyard Kipling. Ou ainda, você tem tanta chance de alterar o enredo, o ponto de vista, ou a caracterização quanto Sauron tem chance de mudar a mente de Tolkien. Isso não vai acontecer. Você é uma criatura na obra do Criador. Aceite isso. Ele é o Criador, não você. Como podemos levar a sério aqueles que se opõem ao inferno ou tentam reescrever a história até que o inferno não faz parte dela? Tão a sério como nós tomamos Hamlet criticando o trabalho de Shakespeare. Hamlet não tem existência independente. Ele só pode criticar Shakespeare se o autor decide escrever essa cena.

Deus criou um universo no qual a sua misericórdia tem sentido justamente porque não anula a sua justiça. Para que Deus seja justo e estender misericórdia, ele deve manter sua promessa de punir a transgressão. Na apresentação da Bíblia sobre a verdadeira história do mundo, Deus defende a justiça na cruz e no inferno. Jesus morreu na cruz para estabelecer a justiça de Deus e garantir que aqueles que se arrependem dos pecados e confiam em Cristo recebam misericórdia que também é justo. Deus castiga os ímpios no inferno para defender a justiça contra todos os que se recusam a se arrepender dos pecados, o glorificá-lo como Deus, e dar graças a ele.

Em suma, o inferno glorifica a Deus, porque

* Mostra que Ele mantém a sua palavra;
* Mostra o seu valor infinito, que dura para sempre;
* Demonstra o seu poder de subjugar todos as que se rebelam contra ele;
* Mostra como indizivelmente misericordioso Ele é para aqueles que confiam nele;
* Defende a realidade do amor, dando justiça contra aqueles que rejeitam a Deus, que é o amor;
* Reivindica todos os que sofreram para ouvir ou proclamar a verdade da palavra de Deus;
* E mostra a enormidade do que Jesus realizou quando ele morreu para salvar todos que confiam nEle para o inferno que merecia. Se não houvesse inferno, não haveria necessidade de uma cruz.

- por James M. Hamilton Jr.
Fonte: iPródigo

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