sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Armas e Liberdade



A Bíblia volta e meia nos faz ter mais abertura a um ponto de vista diferente. Isso acontece mais uma vez no debate requentado sobre desarmamento.

Do ponto de vista religioso, há muito o que se dizer contra a cultura de ódio e violência estimulada pelos nossos filmes e livros.

Porém, filmes e livros não puxam o gatilho de uma arma – quem puxa é um ser humano que deve ser preso, adequadamente acusado, defendido e julgado.

E então? Será que quando a posse e o uso de armas é facilitado, a sociedade fica mais perigosa para as pessoas de bem? O assunto volta à tona por causa dos tiroteios que acontecem com frequência nos Estados Unidos.

O argumento mais óbvio contra a posse de armas é o seu mau uso, ilustrado por esses casos de exceção. Ampliados pela mídia, esses tiroteios em escolas, cinemas e a céu aberto são constantes exemplos de que as armas podem ser abusadas, iniciando ao invés de combater a violência.

Em defesa das armas, a questão da propriedade privada é colocada. Se minha compra, posse e venda de um artigo não é fraudulenta ou agressiva, estou no meu direito de fazer a transação. Há leis mais detalhadas no caso das armas (e do álcool e outros produtos), mas no geral o princípio permanece.

A bíblia tanto apoia a propriedade privada como contraria moralmente o seu mau uso (“Não furtarás”). E mais: a bíblia não necessariamente estipula que o mau uso da propriedade privada é uma desculpa para o governo se intrometer.

Porém, o caso da arma que é usada para iniciar violência contra uma outra pessoa vai além da falta de sabedoria ao gerenciar os bens: trata-se de agressão, que deve ser combatida na promoção da justiça pública pelo governo.

Assim, a resposta bíblica aos dois argumentos, o favorável e o contrário ao desarmamento, é que é moralmente legítima (e deveria ser legalmente permissível) a posse de armas, como de qualquer outra propriedade, desde que não seja usada para fins de agressão.

Contudo, existe ainda um outro ângulo bíblico nessa história. De fato, a bíblia menciona diretamente uma política de desarmamento adotada na época em que o rei Saul e seu filho Jônatas conduziam o povo de Israel:

“E em toda a terra de Israel nem um ferreiro se achava, porque os filisteus tinham dito: Para que os hebreus não façam espada nem lança (…). E sucedeu que, no dia da peleja, não se achou nem espada nem lança na mão de todo o povo que estava com Saul e com Jônatas” (1Samuel 13:19; 22).

O objetivo dos filisteus, que tinham derrotado Israel e agora impunham essa política de desarmamento, era justamente facilitar uma repressão violenta ao povo de Deus no futuro, quando “não se achou espada” para resistir à tirania.

Ter ou não ter armas para exercer o direito à propriedade, ou até mesmo para se defender de um bandido comum, não é o motivo principal que leva governos autoritários em todo o mundo a desarmar suas populações.

O direito às armas é direito de se preparar melhor para resistir a possíveis tentativas ilegítimas do governo de espoliar a vida, propriedade e liberdade dos cidadãos.

Do ponto de vista bíblico, a resistência deveria ser organizada debaixo de líderes públicos, legítimos, que representassem o povo diante do governo tirânico. Do ponto de vista pagão e revolucionista, as armas servem igualmente para a resistência, embora o princípio político e organizacional seja distinto. Em ambos os casos, a posse de armas pelo cidadão comum faz tremer qualquer ditador. Diz a Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos:

“Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido.”

Os Estados Unidos se preparam, mais uma vez guiados pela mídia alarmista, a rever a legislação de porte de armas (e provavelmente a ignorar a Constituição). Enquanto isso, os dois lados do debate se esquecem do principal motivo para a adoção dessa emenda constitucional: preservar a liberdade.

O caso brasileiro é ainda mais complexo, dado o nível de corrupção daqueles que ficariam com armas após um possível desarmamento, sejam eles governo ou bandido. Porém, nossa Constituição Federal é menos “libertária” e mais “estatista”. Se é para debater a posse de armas, seria o caso de discutir como ela deve ser facilitada e, obviamente, como combater os que utilizam armas para agressão (a começar pelo próprio governo).

Os nossos cristãos, bem como os dos Estados Unidos, oscilam entre o desarmamento e a posse de armas, usando os argumentos já discutidos. Porém, a relação entre desarmamento e liberdade é raramente destacada.

Os lobos “filisteus” – sejam eles norteamericanos ou sulamericanos, querem desarmar as ovelhas para fazer a festa com sua vida, liberdade e propriedade. Lobos vorazes devem ser contidos com bons limites abstratos ou práticos. Eis aqui um limite bem prático!

E um limite mais abstrato seria a restrição do magistrado civil à esfera da justiça pública, combatendo os crimes de agressão, crimes de vítima, muitas vezes feitos com uso de armas, muitas vezes sem.

Um governo ocupado em fazer seu papel deixa de ter tempo e recursos para ser grande parte do problema. Um governo justo deixa de ser ameaça contra a qual é preciso manter o direito de portar armas.

- por Lucas G. Freire

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"O Culto Começa no Banheiro" - Educando as Crianças Para o Culto



Ter nossos filhos cultuando conosco a cada domingo pode ser tanto maravilhoso quanto terrível! Maravilhoso, porque Deus promete abençoar até mesmo os nossos bebês quando os trazemos à Sua presença enquanto adoramos com a igreja visível. Terrível, porque o comportamento deles muitas vezes atrapalha a capacidade de concentração da congregação e porque, às vezes, isso pode revelar nossas falhas na disciplina dos filhos.
Se acreditamos que as promessas de Deus são para nós e para os nossos filhos (Atos 2:39), e que o Senhor nos chama a deixar os pequeninos irem a Ele (Mc 10:14), precisamos ser pacientes com nossos filhos e uns com os outros. Precisamos ajudar uns aos outros para que isso funcione.
Uma forma de facilitar isso é ter algumas orientações para seguir durante o culto, para garantir tanto o amor por nosso próximo quanto por nossos filhos.
Uma distração que pode ser facilmente evitada é o contínuo vai-e-volta ao banheiro. Um pastor chamou uma família de sua congregação para uma reunião, afim de discutir com eles os “problemas renais” dos filhos deles. As crianças tinham, uma após a outra, atrapalhado o culto, por causa de repetidas idas ao banheiro. O “problema renal” foi logo resolvido, com a garantia de que cada criança iria ao banheiro antes que o culto começasse. Nós devemos fazer o mesmo. Uma ida ao banheiro durante o culto deve levar todos nós a pensarmos que a criança está doente, não entediada.
Se você tem filhos muito pequenos (bebês) e você já espera ter de sair para dar de mamar, niná-los ou andar com eles, sente-se atrás, e perto do fim de uma fileira, para que você possa sair com facilidade e sem fazer barulho, com o mínimo de transtorno para os outros. Outros adoradores não devem ser capazes de ouvir você saindo, mesmo que te vejam pelo canto de seus olhos. Se isso significa tirar rapidamente os seus sapatos para que eles não façam barulho no chão, faça isso!
Certifique-se de que todos em sua família que sabem ler ou contar tenham uma Bíblia e um hinário. Os pequenos não devem sentar-se folheando estes livros de brincadeira, mas devem ser gradualmente ensinados sobre como procurar os hinos e passagens das Escrituras. A maioria das crianças com mais de quatro ou cinco anos já conseguem encontrar os números dos hinos e, aos seis ou sete, devem estar tentando encontrar o texto bíblico. A prática em casa pode ajudar na preparação para o culto.
Quando a congregação se levanta, todos devem se levantar. As crianças nunca devem ser autorizadas a permanecerem sentadas ou em pé quando a congregação não está. Este comportamento aparentemente insignificante é, frequentemente, a evidência de um espírito rebelde, senão, simplesmente de preguiça! Garantir a obediência aqui enfatiza a natureza corporativa da nossa adoração.
Saiba quando é hora de sair. Até mesmo alguns poucos minutos de choro sem controle, tosse, ou briga são muito longos, e vão incomodar os outros. Também é muito tempo para permitir que a desobediência passe sem repreensão. É claro que um bebê cansado que chora não está precisando de disciplina – ele só precisa que a mamãe ou o papai, discreta e silenciosamente se dirijam para o berçário. No entanto, a criança de dois ou três anos que conversa ou se recusa a obedecer seus pais deve ser imediatamente levada a uma  área “à prova de som” e ser corrigida. Então, quando a criança estiver calma e obediente, deve retornar ao local de culto. A ação deve ser rápida e memorável. Nós devemos ter tolerância zero para desobediência.
Lembre-se também que fazer o som “Shhhh!” para silenciar uma criança é muitas vezes tão perturbador quanto o barulho que ela estava fazendo. Se seus filhos precisam ser lembrados de parar de falar, gentilmente coloque o dedo sobre seus lábios ou sobre os lábios da criança. Um alto, “Shhh!” apenas chama a atenção para o problema e muitas vezes é uma forma irada dos pais demonstrarem a sua própria frustração.
Devemos usar a discrição sobre quando retornar ao local do culto. Não importa por que tivemos que sair, nunca devemos marchar de volta durante a leitura da Bíblia, ou enquanto o pastor está orando. Se for possível, entre e saia durante um hino. Mesmo assim, pense em como fazer isso da forma mais silenciosa e menos visível possível. Nós não estamos assistindo a um jogo de futebol. Estamos adorando o Todo-Poderoso!
Uma sala de treinamento é para o treinamento. Ela fornece um local para que os pais sentem-se com seus filhos e ensinem, expliquem e corrijam, sem perturbar toda a congregação. Isso não é a mesma coisa que um berçário. Mesmo na sala de treinamento, uma criança desobediente, chorona, ou relutante, não deve ser autorizada a incomodar os outros. Ela deve ser levada para outra área à prova de som da igreja, ensinada, e quando estiver calma, trazida de volta para o culto.
As crianças devem ser ensinadas a sentar-se, voltadas para frente, sem inquietação, sem sapatear ou chamar atenção, sem colorir, e sem brinquedos. Crianças que sabem escrever podem fazer anotações simples do sermão e crianças mais jovens podem desenhar algo acerca do tema do sermão. O objetivo é que, quando vocês se sentarem para o almoço de domingo, todos eles sejam capazes de dizer sobre o que foi o sermão. Se eles não conseguem, você sabe que eles estavam “desligados” durante o culto, e ajustes devem ser feitos. Não ter nenhuma resposta quando eles são perguntados sobre o que o pastor ensinou da Palavra de Deus hoje, deve constranger nossos filhos.
Eles devem ser ensinados a manter os olhos fechados durante uma oração, como passar o prato da oferta e como levantar para a bênção. Eles devem ser ensinados sobre o que está acontecendo no Batismo e na Ceia do Senhor, e eles devem saber como se comportar durante os Sacramentos. Eles devem saber que em todas estas coisas nós estamos lidando com o Deus que deu o Seu Filho, Jesus Cristo, para nos salvar do pecado. Nós não queremos criar pequenos fariseus bem-comportados. Nosso desejo é que nós, estejamos juntos com nossos filhos aprendendo a glorificar a Deus e gozá-lo para sempre!

- por Rev. Jeff e Joan Kingswood
Fonte: Mulher Piedosas

domingo, 23 de dezembro de 2012

A Tentação de Cristo - Uma exposição confortadora de Mateus 4



A Tentação de Cristo - Uma exposição confortadora de Mateus 4, concernente a tentação de Cristo no deserto.

A causa que me moveu a tratar desta passagem das Escrituras, foi para que aqueles que, pela inescrutável providência de Deus, caem em diversas tentações, não se julguem, por causa disso, menos aceitáveis na presença de Deus; mas, pelo contrário, tendo o caminho preparado para vitória através de Cristo Jesus, não temam, acima da medida, as astutas investidas da ardilosa serpente, Satanás; mas, com alegria e coragem, tendo tal Guia, tal Campeão e tais armas, como as encontradas nesta passagem (se com obediência ouvirmos e crermos verdadeiramente), possam assegurar-se do presente favor de Deus e da vitória final, por meio de Cristo, que, para nossa segurança e livramento, entrou na batalha e triunfou sobre seu adversário e sobre toda sua fúria, e também, para que as subsequências, sendo ouvidas e entendidas, possam ser melhor guardadas na memória.

Pela graça de Deus, nos proporemos a observar, no trato deste assunto:

1) Primeiro, o significado da palavra tentação e como ela é usada nas Escrituras;

2) Em segundo lugar, quem é tentado aqui e quando esta tentação aconteceu;

3) Em terceiro lugar, como e por quais meios Ele foi tentado;

4) E por último, porque Ele deveria experimentar aquela tentação e qual o proveito decorrente deste episódio, para nós (a parte aqui traduzida).

"Se és Filho de Deus manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt.4:3-4)

 O propósito pelo qual o Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto para que Jesus fosse tentado, é nos fazer entender, através deste fato, que Satanás nunca cessa de se opor aos filhos de Deus, mas continuamente, por um meio ou outro, os conduz e os provoca a algum juízo pecaminoso sobre o Deus deles.

Desejar que pedras se transformem em pães ou que a fome seja satisfeita, nunca foi pecado, nem tão pouco uma opinião pecaminosa sobre Deus, mas, creio que esta tentação foi mais espiritual, mais sutil e mais perigosa. Satanás estava se referindo a voz de Deus que disse ser Cristo Seu Filho Amado.

Contra esta declaração ele luta, como lhe e intrínseco fazer, contra a indubitável e imutável palavra de Deus; pois sua malícia contra Deus e seus filhos escolhidos é tal, que para quem Deus declara amor e misericórdia, a estes ele ameaça com desprazeres e maldições; e onde Deus ameaça morte, lá ele é audacioso em declarar vida. Por causa disto Satanás é chamado de mentiroso desde o princípio (Jo. 8:44).

Assim sendo, o objetivo de Satanás é levar Cristo a desesperança, para que Ele não creia na voz de Deus seu Pai; e este parece ser o significado desta tentação: "Tu ouviste", Satanás diria, "uma voz dos céus dizer que Tu eras o amado Filho de Deus, no qual Ele se compraz (Mt.3:17), mas não te julgarão louco ou um tolo sem juízo, se creres em tal promessa? Onde estão os sinais deste amor? Tu não estás sem o conforto de todas as criaturas? Tu estás pior do que as brutas feras, pois todo dia elas caçam para se alimentar e a terra produz grama e ervas para seu sustento, de forma que nenhuma delas definha ou é consumida pela fome. Mas tu jejuas há quarenta dias e quarenta noites, esperando sempre algum alívio e conforto dos céus, mas tua melhor provisão são pedras duras! Se Te glorias em teu Deus, e crês verdadeiramente na promessa que foi feita, ordena que estas pedras se transformem em pães. Mas, é evidente que Tu não o podes fazer, pois se pudesses, ou se teu Deus tivesse Te concedido tal privilégio, há muito terias matado tua fome e não necessitarias suportar este abatimento por falta de comida. Mas vendo que ainda continuas assim e que nenhum mantimento foi preparado para Ti, é presunção acreditar em tal promessa, e por isso, perca a esperança de qualquer socorro das mãos de Deus e proveja para Ti, por qualquer outro meio!"

Eu usei muitas palavras, mas eu não posso expressar o grande despeito que se esconde nesta tentação de Satanás. Foi uma zombaria de Cristo e de sua obediência. Foi uma clara rejeição da promessa de Deus. Foi a voz triunfante dele que aparentava ter conseguido a vitória. Oh! quão amargo este tipo de tentação é, nenhuma criatura pode entender, a não ser os que sentem a dor de tais dardos lançados por Satanás na consciência sensível dos que alegremente descansam e repousam em Deus e nas suas promessas de misericórdia.

Mas aqui devemos notar a base e o fundamento desta tentação. A conclusão de Satanás é esta: "Tu não és um eleito de Deus, muito menos seu Filho amado". Sua razão é esta: "Tu estás em dificuldades e não achas alívio". Logo, o fundamento da tentação era a pobreza de Cristo e a falta de comida, sem esperança de receber, da parte de Deus, o remédio. É a mesma tentação com a qual o diabo objetou a Cristo por meio dos principais sacerdotes, quando em seu tormento atroz na cruz; eles gritavam: "Se Ele é Filho de Deus, deixe que desça da cruz e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lO agora, se de fato Lhe quer bem" (Mt. 27:40,43). Como se dissessem: "Deus liberta os seus servos dos problemas. Ele nunca permite que os que O temem sejam envergonhados. Mas vemos este homem em angústia extrema. Se Ele é o Filho de Deus, ou ainda um verdadeiro adorador do Seu nome, Deus o livrará desta calamidade. Se não livrá-lO, mas permitir que pereça nesta angústia, então é um sinal seguro de que Deus O rejeitou, como hipócrita, que não terá porção de sua glória". Assim, Satanás tem oportunidade para tentar e também para mover outros a julgar e condenar os eleitos de Deus e seus filhos escolhidos, em função de que lhes sobrevêm muitas angústias.

Aprenderemos, agora, com quais armas devemos lutar contra tais inimigos e assaltos, na resposta de Jesus: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus".

A resposta de Cristo prova aquilo que estivemos mencionando antes, pois a menos que o propósito de Satanás tenha sido demover Cristo de toda esperança na providência misericordiosa de Deus concernente a Ele, naquela sua necessidade, Cristo não respondeu diretamente às palavras de Satanás: "ordene que estas pedras se transformem em pães" (Mt.4:3). Mas Jesus Cristo, percebendo sua astúcia e malícia sutis, respondeu diretamente ao significado delas, desconsiderando suas palavras. Nesta resposta Satanás foi tão frustrado, que teve vergonha de replicar além, sobre este assunto.

Mas para que você entenda melhor o significado da resposta de Cristo, a expressaremos em outras palavras: "Você labora", Cristo diria, "em trazer ao meu coração dúvida e suspeita com relação a promessa de meu Pai, que foi publicamente proclamada no meu batismo, por causa da minha fome e da carência de toda provisão carnal. Você é audacioso em afirmar que Deus não cuida de mim. Mas você é enganador e sofista corrupto, e seu argumento é vão e repleto de blasfêmias; pois você vincula o amor, misericórdia e providência de Deus, a ter ou carecer da provisão carnal, o que não nos é ensinado em nenhuma parte das Escrituras de Deus, mas antes, elas expressam o contrário. Como está escrito "Nem só de pão...", ou seja, a vida e a felicidade do homem não consistem na abundância de coisas corpóreas, pois a possessão delas não abençoa ou torna feliz o homem, nem a falta delas é a causa da sua miséria final; mas a vida do homem consiste em Deus e nas suas promessas, e os que nelas se apegam sinceramente, viverão a vida eterna. E embora todas as criaturas na terra o desamparem, sua vida corpórea não perecerá até que o tempo apontado por Deus chegue. Pois Deus tem meios para alimentar, preservar e manter, ignorados pela razão humana e contrários ao curso comum da natureza. Ele alimentou seu povo Israel no deserto quarenta anos sem provisão humana. Ele preservou Jonas na barriga do grande peixe e manteve e guardou os corpos dos seus três filhos (Sadraque , Mesaque e Abede-Nego) no fogo da fornalha. A razão e o homem natural não viam saída nestes casos, a não ser destruição e morte, e julgariam que Deus havia retirado o Seu cuidado destas suas criaturas; e todavia, sua providência foi mais zelosa em relação a eles no limite dos perigos que enfrentaram, dos quais Ele os libertou de tal forma (e durante os assistiu), que sua glória, que é sua misericórdia e bondade, apareceu e sobressaiu-se mais, depois de seus problemas, do que se eles tivessem sucumbindo neles. E por esta razão, eu não meço a verdade e favor de Deus pelo fato de ter ou não necessidades físicas, mas pela promessa que Ele fez para mim. Assim como Ele é imutável, também são a sua palavra e promessa, as quais, Eu creio, me apego e sou fiel, independentemente do que possa vir externamente ao corpo".

Nesta resposta de Cristo podemos discernir quais armas devem ser usadas contra nosso adversário, o diabo, e como devemos refutar seus argumentos, que, com astúcia e malícia, ele faz contra os eleitos de Deus. Cristo poderia ter repelido Satanás com uma palavra ou pensamento, ordenando-o calar, como Aquele a quem todo poder foi dado no céu e na terra. Mas foi agradável à sua misericórdia, nos ensinar como usar a espada do Espírito Santo, que é a palavra de Deus, na batalha contra nosso inimigo espiritual. O texto da Escritura mencionado por Cristo, encontra-se no oitavo capítulo de Deuteronômio. Foi dito por Moisés, um pouco antes de sua morte, para firmar o povo na misericordiosa providência de Deus; pois no mesmo capítulo, e em outros depois deste, ele avalia a grande luta, os diversos perigos e as necessidades extremas que eles tiveram que suportar no deserto, no período de quarenta anos; e quão constante Deus tinha sido em mantê-los e em cumprir sua promessa, conduzindo-os através de todos os perigos até a terra prometida. E assim, este texto da Escritura responde, mais diretamente, às tentações de Satanás, pois Satanás raciocina deste modo (como mencionei antes): "Tu estás em pobreza e não tens provisão para sustentar tua vida. Isto prova que Deus não considera e nem toma conta de Ti, como Ele faz com os seus filhos escolhidos", Jesus Cristo responde: "Teu argumento é falso e vão, pois pobreza ou necessidade não excluem a providência ou cuidado de Deus, os quais são facilmente provados pelo exemplo do povo de Israel, que no deserto, muitas vezes, necessitou de coisas necessárias ao sustento da vida e, por carecerem delas, invejaram e murmuraram. Apesar disto, o Senhor nunca retirou deles seu cuidado e providência, mas, em conformidade ao que uma vez falou, a saber, que eles eram seu povo peculiar, e em conformidade a promessa feita a Abraão e àqueles que saíram do Egito, Ele continuou sendo seu guia e condutor, até que os colocou na tranqüila possessão da terra de Canaã, não obstante a grande debilidade e as diversas transgressões do seu povo".

Assim, nós somos ensinados, por Jesus Cristo, a repulsar Satanás e seus assaltos pela palavra de Deus e a aplicar os exemplos de sua misericórdia, mostrada a outros antes de nós, para nossa alma nas horas de tentação e nos tempos de nossas tribulações; pois aquilo que Deus faz a alguém em determinada época, cabe a todos que confiam e dependem Dele e nas suas promessas. Por esta razão, por mais que sejamos assaltados pelo nosso adversário Satanás, encontramos, na Palavra de Deus, armadura e armas suficientes.

A principal astúcia de Satanás é atormentar aqueles que começaram a abandonar seu domínio e a declarar inimizade contra a iniquidade, com diversos ataques, tendo como objetivo colocar em suas consciências, divergências entre eles e Deus, para que eles não descansem e repousem nas seguras promessas de Deus. E para conseguir isto, ele usa e inventa vários argumentos. Algumas vezes ele chama à lembrança deles, os pecados de sua juventude ou aqueles que cometeram no tempo de cegueira. Freqüentemente ele objeta a ingratidão deles em relação a Deus e suas presentes imperfeições. Através de doença, pobreza, tribulações nos seus lares, ou pela perseguição, ele pode alegar que Deus está zangado e não liga para eles. Ou pela cruz espiritual, que poucos sentem e menos ainda entendem sua utilidade e proveito, ele poderia levar os filhos de Deus ao desespero e, através de infinitos meios mais, ele anda ao redor como um leão que ruge, para minar e destruir nossa fé.

Mas é impossível para ele prevalecer contra nós, a menos que nós, obstinadamente, nos recusemos a usar a proteção e a arma que Deus tem oferecido.

Os eleitos de Deus não podem recusá-la, mas buscar pelo seu Defensor quando a batalha estiver mais acirrada, pois os soluços, gemidos e lamentações de tal luta (vencer o medo, as súplicas por persistência), são a busca incontestável e certa de Cristo nosso campeão. Não recusamos a arma, embora algumas vezes, por debilidade, não a usemos como devêssemos. É suficiente que seus corações sinceramente clamem por força maior, por persistência e pelo livramento final de Cristo Jesus.

Aquilo que carecemos, Sua suficiência supre; pois é Ele que luta e triunfa por nós.

- por John Knox (1514 - 1572)
Fonte: Trovian

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Dia do Senhor e o Culto Reformado



Até algum tempo atrás, uma das marcas distintivas do culto reformado era o seu compromisso com a santificação do Dia do Senhor como o tempo divinamente prescrito para que o povo da aliança de Deus adorasse esse Deus da aliança.

Esta perspectiva puritana possivelmente está melhor demonstrada na Confissão de Fé de Westminster:

“Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de Deus, assim  também, em sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (= descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo, foi mudada para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado dia do Senhor (= domingo), e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão”.
           
Dizendo isso, os puritanos estavam em consonância com os reformadores ao dizer que o shabbat (sábado) não era o único dia em que o povo de Deus se reunia para o culto e também não estavam dizendo que a adoração é um tipo de atividade exclusivamente corporativa e que apenas acontece quando a igreja se une para adorar.

Foram os reformadores e puritanos que resgataram para nós a idéia de que adoração é a resposta do crente momento após momento à Palavra de Deus. Ao mesmo tempo eles tinham uma convicção apaixonada quanto a este ponto. Diziam que o culto cristão tem que ser ancorado e baseado no Dia do Senhor. Existe um debate que sempre está presente entre os próprios reformados com relação ao Dia do Senhor e o shabbat (sábado). Devemos considerar o Dia do Senhor como o shabbat? Isso ficará claro à medida que formos expondo o assunto.

Os que creem na perpetuidade do sábado cristão como sendo uma ordenança da graça que é obrigatória para todo povo de Deus, precisam lembrar que não estamos simplesmente engajados num conflito para persuadir nossos irmãos em Cristo e que passagens como Colossenses 2:16-17 não estão abolindo o sábado cristão que foi instituído na criação. Nossa batalha é muito mais séria que isto, pois estamos batalhando para resgatar os irmãos cristãos dos efeitos corrosivos da cultura contemporânea. O que estamos dizendo é, que o assunto tratado aqui, dentro da tradição reformada, não é somente de persuadir nossos irmãos em Cristo do caráter divino, mandatório do sábado cristão (shabbat) como sendo uma ordenança vinda da criação e do Evangelho, mas na verdade estamos diante de um trabalho ainda mais exigente. Ou seja, de persuadir nossos irmãos em Cristo da sabedoria daquele que nos deu o shabbat, do regozijo que é o sábado cristão e dos efeitos corrosivos e fatais de permitirmos que nossa cultura contemporânea venha formatar nossa vida espiritual e dos nossos filhos.

Fiquei extremamente espantado quando, há alguns anos, passei um período nos Estados Unidos e vi que o dia da final do campeonato de futebol, o evento esportivo mais enfatizado do ano, era praticado no Dia do Senhor e que muitas igrejas evangélicas, cristãs, naquele dia, até mesmo que professavam a fé reformada, cancelavam até os seus cultos dominicais para permitir que as pessoas fossem assistir este jogo. Quase não acreditei que isso estivesse acontecendo. Porém, disseram-me que mais igrejas mudariam até o horário de culto para permitir aos crentes irem a esta final de campeonato.

Eu tenho um filho que gosta muito de futebol e gosta muito de jogar. Outro dia ele me perguntou por que se marcavam tantos jogos exatamente no Dia do Senhor. Meu filho gosta muito de futebol e por isso fica frustrado quando não pode jogar e sente falta do jogo, mas mesmo assim não deixa de ir à igreja para participar dos jogos de futebol e nem ao menos pensa nisso. Mas percebo que esta situação vem continuamente se projetando para tomar controle sobre a igreja. 

Levanto esta questão porque o problema não é realmente a guarda do sábado cristão, mas é algo mais profundo que isso. O assunto com o qual nos deparamos é o caráter de Deus, a Sua autoridade, a verdade de Sua Palavra e a sua suficiência. Se estamos convencidos que Deus é bom, somente bom, e que todos Seus caminhos para Seus filhos são sábios e agradáveis, isso nos deveria persuadir a abraçar com alegria a santificação do Dia do Senhor. Não deveríamos ser levados a pensar que as leis do Dia do Senhor não são mais para nós hoje e que por isso têm sido abandonadas por muitos cristãos que professam a fé reformada e que têm se esquecido de santificar este dia. A razão para isso é que eles não têm compreendido o sentido do Dia do Senhor.

O problema é mais profundo. A verdade é que as pessoas perderam o contato de quem Deus é. Creio que dificilmente poderíamos duvidar que, quando o Dia do Senhor não é uma ordenança graciosa, o culto na igreja deteriora e em seguida a sociedade deteriora. O Dia do Senhor é um testemunho da grande benignidade de Deus para com Seu povo e nos dá um tempo divinamente apontado por Deus para que nós O adoremos e Deus mesmo nos dá o foco apropriado em relação à Sua adoração.

Quero apresentar dois aspectos com respeito à guarda do Dia do Senhor.

1) Explicar o caráter obrigatório do Dia do Senhor para o cristão; essa era a convicção dos reformados e puritanos e que surgiu de uma compreensão correta das Escrituras.
2) Destacar o significado e os benefícios de se observar o Dia do Senhor reservando-o para um culto que honra a Deus.

Caráter Obrigatório

I) Inicialmente gostaria de dizer que o Dia do Senhor foi instituído por Deus na criação. Lemos em Gênesis 2 que Deus terminou sua obra no sexto dia e no sétimo descansou do que havia feito. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou porque nele descansara de todas as obras que havia feito. Antes que o pecado entrasse no mundo Deus já havia providenciado um sábado (descanso) para Adão e Eva e seus filhos. Nas palavras do grande presbiteriano John Murray, o sábado é uma ordenança da criação dada por Deus para o benefício de todas as Suas criaturas. Geralmente se diz que Calvino ensinava que o sábado, como dia de descanso, havia sido ab-rogado na dispensação do Novo Testamento. Para apoiar isso, são citados seus comentários sobre o quarto mandamento e sua exposição em Colossenses 2:16-17. Sem dúvida existe alguma diferença entre a perspectiva de Calvino e os puritanos, mas na minha opinião são circunstanciais e pequenas. Quando lemos o que Calvino escreveu no seu comentário de Gênesis 2:3, escrito em 1561, dois anos depois da edição final das Institutas, o que é bastante significativo, encontramos uma exposição que o reformador faz de forma sucinta, da sua perspectiva do sábado cristão. Calvino disse:

“Quando ouvimos que o sábado foi ab-rogado pela vinda de Cristo, devemos distinguir o que pertence ao governo perpétuo da vida humana e o que pertence propriamente às figuras antigas. O uso destas foi abolida quando a verdade foi cumprida. Descanso espiritual é a mortificação da carne ao ponto de que os filhos de Deus não devem viver para si mesmos ou permitir livremente as ações de suas inclinações. Assim, na medida que o sábado era uma figura desse descanso espiritual, eu digo que isso foi somente por um tempo (obs: com isso os puritanos concordariam). Mas, na medida em que foi ordenado aos homens, desde o início, de que eles deveriam se engajar no culto a Deus, é legítimo que o sábado cristão deva continuar até o fim do mundo. O sábado é uma ordenação da criação que é perpétua”.

II) A segunda coisa que tenho para afirmar é que o sábado cristão está baseado no exemplo divino. Esse é o ponto de Moisés em Êxodo 20:11. O ritmo do homem alternado entre trabalho e descanso é o sério padrão do ritmo criador. John Murray faz a seguinte afirmativa: “Podemos pensar no exemplo que Deus nos deu de trabalho e descanso como sendo um padrão de conduta eterno para a raça humana nas ordenanças de trabalho e descanso”.

III) A ordem de Deus para que guardemos o Dia do Senhor está embutida nos dez mandamentos. O quarto mandamento garante e valida a permanência do mandamento para guardarmos o Dia do Senhor e estabelece a guarda do sábado cristão no coração da vida de adoração do povo de Deus. Acho absurdo quando ouço irmãos que, dizendo-se reformados, tentam me convencer que o “shabbat”, o sábado, foi abolido, deixando um dos dez mandamentos fora de validade para a vida do povo de Deus. Na verdade, Deus deu validade à guarda do sábado por colocá-lo dentro do decálogo.

IV) Nosso Senhor Jesus Cristo destacou a importância da permanência do shabbat. Jesus nos diz em Marcos 2.27: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado”. O que mais poderíamos dizer com relação a isso? A minha preocupação é simplesmente mostrar a importância do fundamento da guarda permanente do shabbat. Deus tem gravado esta verdade em Sua Palavra e nós nos desviamos dessa ordenança apenas para sermos prejudicados espiritualmente. Pertence nossa obediência à verdade revelada de Deus e nossa submissão ao nosso Pai amorável. Tendo estabelecido o fundamento bíblico para o dia do Senhor e considerando a transição do sábado para o domingo, quero considerar quais os benefícios e o significado de guardar o dia do Senhor.

Significado e Benefícios

I) O shabbat nos dá uma oportunidade de buscar o Senhor e adorá-lo sem distração. No ano passado passei um tempo no Marrocos visitando famílias cristãs. Viver num país muçulmano como aquele significa não ter liberdade para guardar o Dia do Senhor como os cristãos gostariam. Mas em países como Brasil e Escócia ainda temos o privilégio precioso dado por Deus de preservar e guardar o Dia do Senhor como um dia santo. Irmãos, valorizem o Dia do Senhor; lutem por ele; os assuntos relacionados com a guarda do dia de descanso são profundos. Essa provisão que Deus nos faz que o adoremos sem distração alguma é uma visão que vem do próprio Deus.

II) O shabbat nos dá oportunidade de adorar coletivamente a Deus e buscá-lO juntos. O shabbat enfatiza o caráter bíblico e corporativo do culto que se deve prestar a Deus. O nosso Deus fez uma provisão graciosa por seu povo. Ou seja, que O adoremos juntos. Esta verdade perece dia após dia em nossa época. Desde o iluminismo, na cultura ocidental e particular, o indivíduo tornou-se o centro de todas as coisas e essa preocupação absorvente com o indivíduo desfechou um golpe mortal no pensamento bíblico com respeito à aliança. Os cristãos não têm mais qualquer doutrina, não têm mais esta compreensão do caráter coletivo da Igreja, e mesmo cristãos que se professam reformados não têm mais qualquer sentido do caráter corporativo do culto da aliança. Estou cada vez mais convencido que o sábado cristão é talvez o meio principal usado por Deus de educar o seu povo na vida e no culto do pacto. Guardar o Dia do Senhor, o sábado cristão, é o antídoto poderoso para aquele individualismo absorvente que marca tanto o mundo que nós vivemos como a igreja de Cristo.

III) O shabbat coloca diante de nós os grandes feitos de Deus na criação e na redenção. No sábado cristão somos graciosamente capacitados por Deus em nos centralizarmos na criação e na redenção e despertar nossos corações e mentes ao seu louvor. Calvino coloca o seu dedo exatamente nesse ponto. No livro II das Institutas, capítulo 8, ele diz:

“Durante o repouso do sétimo dia, na verdade, quando Deus determinou que se descansasse no sétimo dia, o legislador divino queria falar ao povo de Israel do descanso espiritual quando os cristãos devem deixar de lado o seu trabalho para permitir que Deus trabalhe neles”.

Em outras palavras, o shabbat nos dá oportunidade de repousar de nossas próprias obras e nos concentrar nas obras de Deus. Nesse sentido, o shabbat é um símbolo evangélico, um glorioso símbolo semanal da justificação gratuita. Nós vivemos em uma época em que os cristãos andam em busca de sinais e símbolos. Demos a eles o grande símbolo do Evangelho: um dos grandes símbolos e sinais do Evangelho é o shabbat que nos foi dado por Deus.

IV) O shabbat destaca a importância dos cultos matinais e vespertinos. Parece muito simplório. Mas mesmo assim é importante falar deles. Honrem o sábado cristão, não somente uma parte dele, mas como um todo. Se havia uma coisa que caracterizava a religião puritana, a prática puritana, era a maneira cuidadosa que brotava de seus corações e pela qual eles se entregavam alegremente, de forma não legalista, à guarda do Dia do Senhor.

V) O Dia do Senhor é uma preparação para o céu. Ouçamos as palavras de Richard Baxter: “Qual o dia mais apropriado para subir ao céu do que aquele em que Ele ressurgiu da terra e triunfou completamente sobre a morte e o inferno? Use o seu shabbat como passos para a glorificação até que tenha passado por todos eles e chegue à glória”. A religião puritana floresceu no solo regozijante da guarda do sábado cristão. É por causa destas coisas que somos chamados em Isaías 58, pelo próprio Senhor, para considerarmos o sábado como um deleite e a isso ele adiciona uma promessa. Se guardarmos seus sábados como sendo um deleite, encontraremos nossa alegria no Senhor.

Esse capítulo 58 de Isaías é mais uma confirmação de que a guarda do sábado cristão deveria ser considerada como parte da Lei Moral e não simplesmente mais uma observância pertinentes às leis cerimoniais. Esta passagem de Isaías onde o mero cerimonialismo é denunciado pelo profeta, há um apelo para a guarda do sábado como sendo importante para o culto espiritual.

Sei que existe o perigo de dar ao sábado cristão um lugar central no culto, fazendo com que ele torne-se um exercício de justiça própria. Sabemos da condenação tremenda feita pelo Senhor em Isaías 1. Mas os crentes reformados deveriam guardar o Dia do Senhor de forma santa. Devemos chamá-lo de um deleitoso. Por quê? Por causa de nossa obediência ao nosso Deus e amor ao nosso Salvador. Jesus disse: “Se vocês me amam, guardem meus mandamentos”.

Neste sentido a guarda do Dia do Senhor, o sábado cristão, ou é o resultado da obediência legalista, ou da obediência evangélica. Se for o produto de uma obediência legalista, a guarda do dia do Senhor será sem alegria, monótona, formal e alguma coisa que simplesmente traz auto-justiça e vaidade pessoal. Mas se a guarda do Dia do Senhor é o resultado de uma obediência evangélica, será profundamente regozijante. Diremos como o salmista: “Alegrei-me quando me disseram, vamos à casa do Senhor”. Se for uma guarda por causa de uma obediência evangélica, será algo refrescante que nos revigora e nos humilha.

John Murray, cujos escritos trouxeram uma impressão inapagável na minha vida quando moço (Por exemplo: Redenção, Conquistada e Aplicada (Cultura Cristã ― Obra que considerei como a melhor peça sobre justificação jamais escrita por alguém), disse: “O shabbat semanal é uma promessa, um sinal, e um antegozo daquele descanso consumado. A filosofia bíblica do shabbat é de tal maneira, que negar sua perpetuidade é privar o movimento da redenção de uma das suas mais preciosas características”.

Vivemos numa época em que mais do que nunca precisamos resgatar o shabbat para o povo de Deus, porque amamos o povo de Deus e desejamos seu bem diante de Deus. Sabemos que Deus quer abençoar Seu povo com isso. Mas sabemos também que a bênção que Ele deseja dar nunca virá sem a honra que o povo deve ao Dia do Senhor. Pelo bem espiritual dos nossos filhos devemos educá-los ensinando a honrar o Dia do Senhor, mas não como uma coisa rotineira e sem alegria. Como poderia o cultuar a Deus e esperar nEle ser algo monótono ou cansativo? Na verdade, o Dia do Senhor foi algo criado por Deus para o bem de Seus filhos. Estou quase convencido que o sucesso dos puritanos pode ser traçado por seu compromisso de guardar o Dia do Senhor para honra de Deus. Deus abençoou grandemente seus labores, seus escritos, porque foram homens e mulheres que honraram o dia do Senhor.

Finalmente cito Baxter porque creio que suas palavras expressam o coração da compreensão puritana com respeito ao shabbat: “Que dia é mais apropriado para subir ao céu do que aquele em que ele ressurgiu da terra e triunfou plenamente sobre a morte e o inferno? Use seus shabbats como passos para a glória até que tenha passado por todos eles e lá tenha chegado”.

O Dia do Senhor é para o povo do Senhor como um antegozo ou penhor do céu que nós tanto almejamos. Nós desejamos e sonhamos com aquele dia em que estaremos com o Senhor para sempre. Até que aquele dia venha, façamos do Dia do Senhor tudo aquilo que Deus gostaria que fizéssemos. Que seja o pulso palpitante da vida espiritual da Igreja e que partindo de nossa obediência evangélica nos reunamos para o encontro com nosso Deus e para receber as promessas que Ele decidiu nos dar, para aqueles que honram o Seu dia, porque assim honram aquEle que instituiu esse dia.

Amém.

- por Ian Hamilton

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Irmãos, Nós Não Somos Irmãs - A Presença Masculina no Púlpito da Igreja de Cristo



Dizer que uma coisa não é outra coisa não é reclamar contra qualquer um dos dois.

Dizer que o Sol não é a Lua não é criticar a Lua, e dizer que a terra não é o mar não significa registrar uma reclamação contra o mar. Deus estabelece diferenças no mundo com a intenção de que haja complementação entre as coisas, não que seu mundo cheio de variedade tente se misturar em uma grande e indistinguível massa. Uma pinha não é um bolo de fubá, que não é uma ponte suspensa. Um homem não é uma mulher, mas Deus abençoa ambos.

Assim, exortar meus irmãos de ministério a lembrarem que não são irmãs não é, de forma alguma, algum tipo de desdém, quer aberto ou subentendido, às irmãs. Como irmãos no ministério, há muitas coisas que podemos aprender com as irmãs, e devemos ter o cuidado de aprender essas coisas cuidadosa e apropriadamente. Dando apenas um exemplo, o apóstolo Paulo diz que havia sido carinhoso entre os tessalonicenses assim como uma ama que acaricia seus próprios filhos (1 Tessalonicenses 2.7). A Bíblia diz que as mulheres não devem se levantar para ensinarem os homens autoritativamente (1 Timóteo 2.12), mas isso é algo muito diferente de homens aprendendo com mulheres (Atos 18.26). Como seria possível para um homem viver com sua esposa com discernimento (1 Pedro 3.7) sem aprender qualquer coisa com ela?

Presença masculina no púlpito

Dito isso, nesses tempos igualitários, devemos insistir na presença masculina no púlpito porque a igreja é a noiva de Cristo, e deve obedecer seu marido em tudo (Efésios 5.24). O Senhor requer isso de nós (1 Timóteo 2.12), e assim é assim que devemos agir. O indivíduo no púlpito deve ser masculino porque a noiva de Cristo deve ser feminina. A resposta feminina apropriada da Igreja é a de ser submissa, e não há como ser submissa desobedecendo.

Mas quando aceitamos essa responsabilidade como sabedoria de Deus, e a abraçamos com base nisso, não devemos nos surpreender quando um número de incentivos e razões adicionais nos ocorrem.

Pelo bem dos homens mais jovens

Devemos ser masculinos em nossos ministérios pelo bem de muitos rapazes que estão entrando no ministério – homens que cresceram em uma masculinidade sem um modelo masculino apropriado em seus pais. Somos seus pais na igreja agora, e assim devemos ser exemplo sobre o que significa a masculinidade – como é a coragem de abrir o livro. A Bíblia ensina que as melhores formas de aprender são as de imitação, e se queremos que a próxima geração de pregadores desenvolva verdadeira masculinidade, então deve haver alguma masculinidade que eles possam ver para imitarem. Mas antes de podermos dar exemplo, precisamos nós mesmos aprender.

Pelo bem das mulheres

Precisamos ser masculinos em nosso ministério pelo bem das mulheres em nossas congregações. Como os homens são naturalmente competitivos, estão mais propensos a enxergarem as diferenças entre os sexos em termos de competição. As mulheres são mais realistas nesse ponto, e não cometem esse erro com tanta frequência. A melhor coisa para as mulheres na igreja é que os homens sejam homens. Um homem ensinar a palavra de Deus com autoridade (e não como os escribas) não é limitar nada às mulheres – é uma bênção para elas. Mulheres piedosas são magoadas por mulheres usurpadoras e chateadas por homens afeminados. Elas são alimentadas por homens que ensinam a Bíblia com coragem. Elas precisam desse tipo de provisão e proteção, e elas sabem que precisam disso. Nós também deveríamos saber.

Apagando uma antiga percepção

Devemos ser masculinos em nosso ministério para podermos apagar a percepção de centenas de anos dos ministros como sendo o “terceiro sexo”. Nós temos a palavra do Senhor para as nações ao nosso redor, mas elas não poderão nos ouvir se tudo que vem de nós é um grunhido infantil. O Senhor escolheu os filhos de Zebedeu para serem seus “filhos do trovão”, e quando pensamos no estado das nações ao nosso redor, deveríamos desejar que ele escolhesse mais desses. Os níveis da nossa estupidez espiritual são opressivos, e nossos pecados e iniquidades criaram uma atmosfera que parece a de Júpiter em uma tarde calorenta. O que nós precisamos é de algumas boas tempestades para clarear o tempo e levar tudo isso embora. Nada é mais aparente do que a nossa necessidade de alguns pregadores masculinos pregando sem reservas.

O púlpito: o lugar público da coragem

Isso nos leva ao último ponto, que nós precisamos ser masculinos em nosso ministério porque o púlpito deve ser o tipo de posição pública onde é necessário ter coragem para estar. E esse é o tipo de afirmação que revela o quão sensibilizados pela propaganda descrente nós nos tornamos. Se dizemos que os homens deveriam subir ao púlpito porque é necessário coragem para fazê-lo, a reação virá imediatamente, dizendo que não devemos dizer que as mulheres não podem ser corajosas. A resposta é simples – dizer que o púlpito é um lugar que requer uma coragem que peculiar é peculiar aos homens não é dizer que a coragem não existe ou não é necessária em qualquer outro lugar. Mas isso é apenas uma amostra do que um ministro do evangelho deve estar disposto – ele deve estar disposto a ser mal entendido e mal interpretado de formas como essa.

Nossas batalhas contra a ordenação feminina muitas vezes erram na ênfase. Devemos gastar menos tempo tentando impedir as mulheres de se tornarem homens no púlpito, e mais tempo ensinando homens a serem homens no púlpito. Irmãos, nós não somos irmãs.

- por Douglas Wilson

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma Visão Cristã Sobre o Controle de Armas



Muitas denominações e grupos religiosos têm sido abordados por pessoas não-crentes na Bíblia, que são pacifistas, e querem desarmar os cidadãos cumpridores da lei. Porém, o Novo Testamento diz aos Cristãos que muitos dos nossos grandes “Heróis da Fé” eram homens de armas.

E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas, Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos. (Hebreus 11.32-34)

O que a Bíblia diz sobre os Cristãos e as Armas?

1. Os Cristãos deveriam estar no controle de suas próprias armas – em Lucas 22.36 Jesus ordenou aos seus discípulos: o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma. Os discípulos não eram homens ricos e a capa era muito importante para eles. Então, vemos a urgência e a necessidade na mente de Cristo de seu povo ser armado com armas. Jesus está dizendo: “sua capa é valiosa e útil para você, mas você DEVE ter uma arma”. Jesus também ensinou: “Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem” (Lucas 11:21). Porque Jesus ordenou-nos a comprar armas, a posse da arma legal deveria ser vista como um direito dado por Deus. O direito de autodefesa é inalienável, e não pode ser retirado por qualquer governante.

2. Os Cristãos deveriam disciplinar-se para realmente portar suas armas quando necessário defender a vida e a integridade física. Um bom exemplo do povo de Deus portando armas para autodefesa é Neemias 4.11-18.

Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disto, nem verão, até que entremos no meio deles, e os matemos; assim faremos cessar a obra. E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram: De todos os lugares, tornarão contra nós. Então pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus ao povo pelas suas famílias com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, aos magistrados, e ao restante do povo: Não os temais; lembrai-vos do grande e terrível Senhor, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas. E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos, e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra. E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus servos trabalhava na obra, e metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os líderes estavam por detrás de toda a casa de Judá. Os que edificavam o muro, os que traziam as cargas e os que carregavam, cada um com uma das mãos fazia a obra e na outra tinha as armas. E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo.

Está claro dessa passagem, e do restante do livro de Neemias, que um dos benefícios de estar armado era que eles nunca precisaram realmente USAR suas armas. O inimigo sabia que eles estavam armados e prontos, então o inimigo ficou de longe. A paz civil vem da força e prontidão [da população de bem], não do diálogo e pensamento positivo.

O Livro de Ester prova um exemplo do povo de Deus não apenas em portar armas, mas em usá-las para autodefesa (Et 8.17 – 9.1-6):

Também em toda a província, e em toda a cidade, aonde chegava a palavra do rei e a sua ordem, havia entre os judeus alegria e gozo, banquetes e dias de folguedo; e muitos, dos povos da terra, se fizeram judeus, porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles. E, NO duodécimo mês, que é o mês de Adar, no dia treze do mesmo mês em que chegou a palavra do rei e a sua ordem para se executar, no dia em que os inimigos dos judeus esperavam assenhorear-se deles, sucedeu o contrário, porque os judeus foram os que se assenhorearam dos que os odiavam. Porque os judeus nas suas cidades, em todas as províncias do rei Assuero, se ajuntaram para pôr as mãos naqueles que procuravam o seu mal; e ninguém podia resistir-lhes, porque o medo deles caíra sobre todos aqueles povos. E todos os líderes das províncias, e os sátrapas, e os governadores, e os que faziam a obra do rei, auxiliavam os judeus porque tinha caído sobre eles o temor de Mardoqueu. Porque Mardoqueu era grande na casa do rei, e a sua fama crescia por todas as províncias, porque o homem Mardoqueu ia sendo engrandecido. Feriram, pois, os judeus a todos os seus inimigos, a golpes de espada, com matança e com destruição; e fizeram dos seus inimigos o que quiseram. E na fortaleza de Susã os judeus mataram e destruíram quinhentos homens;

O perverso Hamã tinha arquitetado o assassinato de todos os judeus do reino da Pérsia, mas em vez disso, ele e seus comparsas foram mortos pelos judeus que eles atacaram. Este ato de autodefesa foi aprovado por Deus e comemorado Festa de Purim dos Judeus até os dias de hoje.

3. Os Cristãos deveriam, pessoalmente, regulamentar o acesso e uso de suas próprias armas. Armas são como ferramentas. Não se deveria permitir crianças pequenas brincarem com uma lâmina afiada de barbear, com uma faca, uma furadeira ou serrotes. Fazer isso é um convite a ferimentos ou, pior, morte. Assim, você deve manter essas ferramentas em um lugar e condições seguras, para que suas crianças não as alcancem e brinquem com elas. Os Cristãos têm o mesmo dever de usar o mesmo cuidado com as armas de fogo tal como fariam com as ferramentas caseiras. Quando não são usadas, são trancafiadas e mantidas longe de alcance. Qualquer Cristão que deixe uma arma onde uma criança possa alcançar e brincar com ela está agindo com grande irresponsabilidade, sem contar com a grande pecaminosidade. Suas armas devem ou estar trancadas ou sob seu controle pessoal. Não existe outra opção. Do mesmo modo, é dever do Cristão controlar suas armas de tal modo que ladrões ou bandidos as roubem.

4. Os Cristãos deveriam restringir-se e disciplinar-se sobre o uso de suas armas. O Cristão deveria ter aulas de segurança de armas e memorizar todas as regras de segurança. Deveria ler todo o manual, de capa a capa, que vier com as armas. Deveria usar a arma com conhecimento. Disciplinar sua mentes e espírito para garantir que nunca iria usar uma arma para brincar, ou com descuido, negligencia, criminalmente ou com ira. Se o Estado oferece autorização para o porte, o Cristão deve seguir as leis do Estado, seguir as regras e obter uma licença. Deus quer que os Cristãos sejam cidadãos cumpridores da lei.

5. Os Cristãos deveriam manter e portar armas em prol da criação de uma sociedade de paz e liberdade. Cristo ordenou a seu povo a amar seu próximo com a si mesmo. É dever do Cristão não apenas defender a própria vida e a vida de seus familiares, mas defender a vida do próximo também. Devemos não apenas evitar que os criminosos roubem nossas coisas, mas devemos também evitar que eles roubem coisas do nosso próximo. Em outras palavras, é nossa responsabilidade criar uma sociedade na qual os direitos individuais das pessoas sejam honrados, e na qual os criminosos sejam presos e punidos. Tomamos um passo nessa direção quando mantemos e portamos armas. É um fato bem documentado que as cidades que tiveram armas longe das mãos de cidadãos comuns cumpridores da lei têm a maior taxa de crimes e homicídios nos Estados Unidos. Cidades e Estados que defendem os direitos dos cidadãos contidos na Segunda Emenda desfrutam da mais baixas taxas de crimes e homicídios. Os Cristãos deveriam portar armas legais por causa dos seus vizinhos, assim como de si mesmo.

Então, qual é a visão cristã do controle de armas? Em uma frase: os Cristãos devem permanecer no controle de seu direito de manter e portar armas. Esse tipo de controle de armas será bom para eles, seus vizinhos e sociedade em geral.

- por Dr. Marshall C. St. John

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sai desse Porco e entra no Corpo!


O homem é um ser imundo - tanto por causa do pecado, como pelo que faz por conta do pecado.

Há tempos atrás circulava um vídeo onde em uma "igreja", o "pastor" literalmente levou um porco para o culto e fez um momento de "expulsão de demônios" e ordenava ao espírito: "Sai deste corpo e entra no porco!" - uma clara alusão ao feito de Jesus em Mateus 8.30-32.

Todavia, não dispendendo meu tempo em refutar esta aberração, me parece que ao ser humano foi feito o contrário do que o dito pastor realizou. Parece-nos que foi: trouxeram o porco, colocaram o homem ao lado e ordenaram: "Sai desse porco e entra no corpo!"

Ora, amados irmãos, vejam a imagem que postei - isto deveria trazer a mais profunda e terrível vergonha sobre a raça humana! Ter de pedir para não urinar no chão? Suplicar para jogar o papel higiênico no lixo? Dar a descarga após o uso? Isto tudo só pode ser brincadeira de mau gosto, pois é difícil acreditar que existam pessoas que façam isso.

Em minha cidade, não muito tempo depois de uma das principais ruas ter sido revitalizada com novas luminárias e calçadas bem feitas, já era possível notar um número absurdamente grande de chicletes colados e pisoteados! Bancos novos são depredados, pessoas colocam fogo em lixeiras. Ademais, isso sem contar os "porcos urbanos"que transitam com seus carros e que descaradamente jogam lixo para fora da janela; a mãe que incentiva e não pune severamente o filho que joga o papel de bala no chão; os malfeitores da sociedade que fumam e pensam que os bueiros ("bocas de lobo", "valetas"...) são locais feitos no chão para se jogar especificamente o que restou do cigarro - além de servir para excelente "buraco" para jogar a lama que a enchente colocou até no teto da casa...

Que diremos do lixo jogado literalmente na rua? Dos sofás, geladeiras, pneus, móveis e toda sorte de utensílios domésticos que são vistos nos rios? De onde surgem os plásticos que tampam os bueiros e fazem inundar as cidades? Acaso precisamos dissertar sobre os rabiscos em portas de banheiros, bancos de ônibus e tudo quanto é lugar acessível às "maléficas" canetas?

É culpa do governo! - grita o povo. É culpa do prefeito que não arruma as tubulações! - escancara o jornal. Quem manda não o Brasil ser um pais pobre - ponderam alguns aqui e acolá...

Façam-me o favor! Que país é este? Que humanos são esses? Onde estão os pais destas pessoas, para que os chamemos e nos deem explicações? Tragam a vara! Estes humanos precisam de disciplina!

O porco? Coitado - pobremente injustiçado.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

10 Maneiras de se Colher Acerola Para a Glória de Deus


"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31)

1. Colha reconhecendo que é Deus quem faz nascer os preciosos frutos (Lv 25.19);

2. Colha tentando não desperdiçar os frutos que caem, pois o desperdício é um grande pecado (Jo 6.13);

3. Colha sem reclamar da quantidade existente, porque foi o Senhor que assim determinou (Gn 41.27);

4. Colha exercitando a paciência - o homem precisa cultivar e aprender a tê-la (Pv 14.29);

5. Colha o que precisar, mas deixe alguma quantidade para os pássaros (Mt 6.26);

6. Colha de forma lícita - não se deve furtar da propriedade alheia (Êx 22.4);

7. Colha e entenda que, embora o homem tenha plantado, Deus é quem deu o crescimento (1Co 3.6);

8. Colha visando o bem do próximo - faça suco e distribua ao próximo (Mt 22.39);

9. Colha com júbilo pela força e destreza de suas pernas e braços (Gn 1.27-31);

10. Colha pensando na graça, misericórdia e bondade de Deus (Sl 40.5).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Vontade de Deus e a Vontade do Homem - parte 3 (final)



Admita que o homem é totalmente indigno e desamparado; então, onde está a complexidade de entendimento dessa doutrina? É difícil entendermos que um Deus bendito e santo adianta-se à nossa vontade miserável e corrupta, para conduzi-la no caminho do bem? É difícil compreendermos que pessoas destituídas de tudo são devedoras a Deus por todas as coisas? Visto que todos os movimentos de nossa vontade dirigem-se para baixo, é difícil entendermos que a poderosa vontade de Deus deve intervir e erguer, de maneira onipotente, nossa vontade em direção às coisas elevadas e celestiais?

Se admitimos que a vontade de Deus regula os grandes movimentos do universo, temos de aceitar o fato de que ela também regula os pequenos movimentos. O mais insignificante movimento de minha vontade é regulado pela vontade de Deus. Nisto eu me regozijo. Se assim não fosse, quão miserável eu seria! Se me esquivo de tão ilimitado controle e orientação, é evidente que desprezo a idéia de estar completamente à disposição de Deus. Em parte, desejo estar à minha própria disposição. Tenho a ambição de regular os menores movimentos de minha vontade, enquanto entrego os maiores ao controle de Deus. Isto resulta em que desejo ser um deus para mim mesmo. Não gosto do pensamento de entregar a Deus toda a disposição de meu destino. Se Ele faz a sua própria vontade, tenho receio de que não terei oportunidade de fazer a minha própria. Além disso, concluímos que o Deus a cujo amor eu costumava me referir é um Deus a quem eu não posso implicitamente confiar a mim mesmo para a eternidade. Sim, esta é a verdade. A insatisfação do homem em referência à vontade de Deus surge do fato de que o homem suspeita do amor de Deus. No entanto, os homens de nossos dias, que negam a absoluta soberania de Deus, são os mesmos que professam regozijar-se no amor de Deus e falam sobre este amor como se em Deus não houvesse mais nada além de amor. Quanto mais eu compreendo o caráter de Deus, conforme revelado nas Escrituras, tanto mais percebo que Ele tem de ser soberano e tanto mais me regozijarei, em meu íntimo, com o fato de que Ele é soberano.

A soberana vontade determinou a época de meu nascimento, bem como o dia de minha morte. Não foi também essa vontade que certamente determinou o dia de minha conversão? Ou não serão apenas os tolos que afirmarão que Deus determinou o dia de nosso nascimento, bem como o de nossa conversão, mas deixou à nossa mercê determinar se nos converteríamos ou não? Se o dia de nossa conversão foi estabelecido, ele não pode ser determinado por nossa própria vontade. Deus determinou onde, quando e como nasceríamos; de modo semelhante, Ele determinou onde, quando e como seríamos nascidos de novo. Se isto é verdade, a vontade dEle tem de vir antes da nossa, em referência ao nosso crer. A vontade dEle vem antes da nossa, para que nos tornemos dispostos a crer. Se não fosse assim, jamais teríamos crido. Se a vontade do homem precede a de Deus em todas as coisas que se referem ao próprio homem, não posso compreender como qualquer dos planos de Deus pode ser levado a efeito. O homem teria sido deixado a administrar o mundo conforme ele quisesse. Deus não teria de fixar o tempo da conversão do homem, pois isto seria uma interferência na responsabilidade dele. Na realidade, Ele não teria de determinar que o homem seria convertido de maneira alguma, visto que isto transformaria seu próprio convite em uma simples zombaria e tornaria a responsabilidade do homem uma pretensão! Por meio de uma simples manifestação de poder, Deus pode trazer de volta ao seu curso uma estrela perdida e permanecer inalterado diante da interferência das leis da natureza. Mas, como afirmam eles, estender Deus a sua mão e resgatar a vontade humana de seu caminho errado, para trazê-la de volta ao caminho de santidade, é um exercício injustificável de seu poder e uma usurpação da liberdade do homem! Que mundo! Neste mundo o homem segue todo o seu próprio caminho, e Deus não tem a permissão de interferir, exceto naquilo que o homem chama de legítimo! Que mundo! Neste mundo tudo se volta à vontade do homem, todos os acontecimentos no mundo ou na igreja são regulados, moldados, impulsionados somente pela vontade do homem. A vontade de Deus é algo secundário; seu papel é apenas contemplar os acontecimentos e seguir os passos da vontade humana. Neste mundo o homem deseja, e Deus tem de dizer: Amém!

Em toda esta absoluta oposição à vontade de Deus, vemos a vontade própria dos últimos dias manifestando-se a si mesma. No princípio, o homem quis ser um deus e continua a lutar por isso nos últimos dias. Ele está decidido a fazer que sua vontade tome a precedência que pertence à vontade de Deus. No último anticristo esta vontade própria será sumariada e revelada. Ele é o rei que fará “de acordo com sua vontade”. E na atual controvérsia do “livre-arbítrio”, vemos demonstrado esse mesmo espírito. O Anticristo está nos falando, exortando-nos à independência orgulhosa. A vontade própria é a essência da religião anticristã. É a raiz de amargura que hoje brota em muitas igrejas. Ela não procede do alto, e sim de baixo; é terrena, animal e diabólica.

Assim diz o Senhor:

- “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33.19 – cf. Rm 9.8-24);
- “Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão” (Dt 32.39);
- “O que ele deitar abaixo não se reedificará; lança na prisão, e ninguém a pode abrir” (Jó 12.14);
- “Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35);
- “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Tm 1.9).



- por Horatius Bonar (1808 - 1889)
Fonte: Editora FIEL

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Vontade de Deus e a Vontade do Homem - parte 2



Talvez alguém argumente que Deus age através dos meios na transformação da vontade do homem. Pode ser dito: “Não há necessidade de que ocorra uma especial e direta intervenção da vontade e do poder de Deus. Ele estabeleceu os meios, deu-nos sua Palavra, proclamou seu evangelho; através desses meios, Ele realiza a mudança. A vontade de Deus não entra em direto contato com a nossa vontade. Ele permite que esses instrumentos realizem a mudança”. Bem, vejamos quanta verdade existe nessa afirmação. Creio que ninguém dirá que o evangelho é capaz de produzir a alteração na vontade do homem, enquanto este rejeita o evangelho. Nenhum remédio, ainda que seja o melhor, pode ser eficaz, se não for tomado. A vontade do homem rejeita o evangelho; opõe-se à verdade de Deus. Então, como a vontade torna-se capaz de recebê-la? Admitindo que, ao recebê-la, ocorre uma mudança, ainda surge uma pergunta: de que maneira a vontade do homem foi transformada, a ponto de se tornar disposta a receber a verdade de Deus? A pior característica de uma enfermidade é a determinação de não querer tomar o remédio. E como ela pode ser sobrepujada? Ora, alguém dirá, esta resistência será vencida com argumentos. Argumentos! O evangelho em si mesmo não é o grande argumento? No entanto, ele é rejeitado. Que argumentos você espera prevaleçam com um homem que rejeita o evangelho? Admitimos que existem outros argumentos, mas o homem se coloca em oposição a todos eles. Não existe qualquer argumento utilizado que o homem não odeie. Sua vontade resiste e rejeita qualquer argumento e motivo persuasivos. Como pode ser vencida esta resistência e expulsa esta oposição? De que maneira a propensão da vontade humana pode ser alterada, para aceitar aquilo que rejeitava? É evidente que isto ocorre somente quando a vontade humana entra em contato com uma vontade superior — uma vontade capaz de remover a resistência, uma vontade semelhante àquela que disse: “Haja luz; e houve luz”. A própria vontade tem de sofrer uma mudança, antes que possa escolher aquilo que rejeitava. E o que pode mudá-la, senão o dedo de Deus?

Se o homem rejeitasse o evangelho apenas porque não o entende corretamente, eu poderia deduzir que, se o evangelho lhe fosse plenamente esclarecido, cessaria a resistência. Mas não acredito que esta seja a situação do homem, pois isto nos levaria a concluir que o homem rejeita não a verdade, e sim apenas aquilo que não entende; se o que ele não entende for esclarecido, ele aceitará a verdade! O homem não regenerado, ao invés de ser inimigo da verdade, seria exatamente o oposto! Haveria tão pouca depravação no coração do homem, tão pouca perversidade em sua vontade e um tão instintivo amor à verdade e repúdio ao erro, que, se a verdade lhe fosse esclarecida, ele imediatamente a aceitaria! Todas as suas hesitações anteriores resultavam de erros que estavam mesclados à verdade apresentada! Poderíamos imaginar que a causa de tal hesitação era qualquer coisa, exceto a depravação. Talvez era a ignorância, mas não poderíamos chamá-la de inimizade à verdade, e sim inimizade ao erro. Pareceria que a principal característica do coração e da vontade do pecador não é a inimizade à verdade, e sim o ódio ao erro e o amor à verdade!

O coração do homem é inimigo de Deus — o Deus revelado no evangelho, o Deus da graça. Que verdade pode haver na afirmação de que toda a falta de confiança do pecador para com Deus e de que todas as suas trevas espirituais resultam do fato de que o homem não pode ver Deus como o Deus da graça? Asseguro que, com freqüência, esta é a situação do homem. Sei que, constantemente, um mau entendimento do misericordioso caráter de Deus, demonstrado e vindicado na cruz do Calvário, é a causa de trevas para uma alma ansiosa por Cristo; também reconheço que uma simples contemplação da abundante riqueza da graça de Deus repeliria tais nuvens de trevas. Mas isto é muito diferente de afirmar que tal contemplação, sem o poder regenerador do Espírito Santo sobre a alma do homem, transformaria a inimizade em amor e confiança. Pois sabemos que a vontade não-regenerada opõe-se ao evangelho; é inimiga de Deus e de sua verdade. Se a verdade for apresentada com muita clareza à vontade do homem e insistida sobre ela, logo despertará e suscitará o seu ódio. A proclamação da verdade, embora seja feita de maneira vigorosa e compreensível e seja a verdade sobre a graça de Deus, apenas deixará exasperado o homem não-convertido. Ele odeia o evangelho; quanto mais claramente o evangelho lhe for apresentado, tanto mais ele o odiará. O homem não-convertido odeia a Deus; quanto mais Deus se aproxima dele, quanto mais vividamente Deus é apresentado ao homem, tanto mais surge e cresce sua inimizade para com Ele. Com certeza, aquilo que estimula a inimizade não pode removê-la por si mesmo. Então, qual a utilidade dos instrumentos mais eficazes? A vontade humana precisa sofrer uma operação direta do Espírito de Deus: Aquele que fez a vontade do homem precisa refazê-la. Fazê-la foi uma obra de Deus; o refazê-la também é uma obra dEle. Fazer a vontade humana foi uma obra da onipotência divina; o refazê-la também precisa ser uma obra da Onipotência. De nenhuma outra maneira as propensões da vontade humana podem ser mudadas. A vontade de Deus precisa entrar em contato com a vontade do homem; então, a mudança se realiza. A vontade de Deus não tem de ser a primeira nessa mudança? A vontade do homem apenas seguirá; ela não pode guiar.

Esta é uma afirmativa muito difícil de ser compreendida? Em nossos dias, alguns querem que assim pensemos. Perguntemos em que consiste a sua dificuldade. Em afirmar que a vontade de Deus precede a vontade de homem? Em dizer que Deus deve ser o líder e o homem, o seguidor, em todas as coisas pequenas e grandes? Em afirmar que somos obrigados a encontrar na vontade de um soberano Jeová a origem de cada movimento do homem em direção ao bem?

Se esta doutrina é difícil de ser compreendida, isto deve ocorrer porque ela retira do homem qualquer fragmento de bondade ou qualquer inclinação para com Deus. Cremos que esta é a fonte secreta das queixas contra essa doutrina. Ela diminui e esvazia completamente o homem, tornando-o não apenas nada, e sim pior do que nada — um pecador perdido —, nada além de um pecador, que possui um coração repleto de inimizade contra Deus, um coração que se opõe a Ele como o Deus da justiça e, mais ainda, como o Deus da graça; um coração que possui uma inclinação tão distante da vontade de Deus e tão rebelde contra ela, que não tem a mínima propensão para aquilo que é bom, santo e espiritual. Isto o homem não pode tolerar.

- por Horatius Bonar (1808 - 1889)
Fonte: Editora FIEL

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Vontade de Deus e a Vontade do Homem - parte 1



No presente, existe grande controvérsia a respeito da vontade de Deus. Sobre este assunto surgem muitas perguntas. A principal delas refere-se à conexão entre a vontade de Deus e a vontade do homem. Qual a relação entre elas? Qual a ordem que uma ocupa em relação a outra? Qual delas está em primeiro lugar? Não existe qualquer debate sobre a existência dessas duas vontades. Deus possui uma vontade, e, igualmente, o homem. Elas se encontram em constante exercício — Deus quer, e o homem quer. Nada ocorre no universo sem a vontade de Deus. Todos admitem isso; mas surge a pergunta: a vontade de Deus é o primeiro fator em todas as coisas?

Eu respondo “sim”. Não pode haver qualquer coisa boa que Deus não desejou que existisse; não pode haver qualquer coisa má que Deus não desejou permitir. A vontade de Deus vem antes de todas as outras vontades. Aquela não depende destas, mas estas dependem daquela. O exercício da vontade de Deus regula as outras vontades. O “Eu quero” de Jeová é aquilo que põe em atividade todas as coisas no céu e na terra; é a fonte e a origem de tudo que, grande ou pequeno, ocorre no universo, entre as coisas animadas ou inanimadas. Este “Eu quero” trouxe os anjos à existência e os sustem até agora. Este “Eu quero” originou a salvação para um mundo perdido, providenciou um Redentor e realizou a redenção. Este “Eu quero” começa, desenvolve e conclui a salvação de cada alma redimida; abre os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos; desperta aquele que dorme e ressuscita os mortos. Não estou dizendo que Deus simplesmente declarou a sua vontade a respeito dessas coisas; estou afirmando que cada conversão e cada atitude que a constitui originou-se neste supremo “Eu quero”. Quando Jesus curou o leproso, Ele disse: “Quero, fica limpo”; assim também, quando uma alma é convertida, ocorre a mesma, distinta e especial manifestação da vontade divina: “Quero, seja convertido”. Tudo que pode ser chamado bom no homem, ou no universo, tem sua origem no “Eu quero” de Jeová.

Não estou negando o fato de que na conversão o homem também exerce a sua vontade. Em tudo que o homem sente, pensa e faz, ele necessariamente exercita seu querer. Tudo isso é verdade. O contrário é absurdo e irreal. No entanto, enquanto o admitimos, surge outra pergunta de grande interesse e implicação. Os movimentos da vontade humana em direção ao bem são efeitos da operação da vontade divina? O homem deseja a salvação porque ele mesmo se tornou propenso a isto ou porque Deus o dispôs? O homem se torna completamente desejoso pela salvação por uma atitude de sua própria vontade, ou por causa do acaso, ou por persuasão moral, ou por que agiu motivado por causas e influências exteriores à sua pessoa?

Respondo sem hesitação: o homem se torna desejoso porque uma vontade distinta e superior — ou seja, a vontade de Deus — entrou em contato com a vontade dele, alterando sua natureza e sua propensão. Esta nova propensão resulta de uma mudança produzida sobre a vontade do homem por Aquele que, entre todos os seres, tem o direito irrestrito de afirmar, em referência a todos os acontecimentos e mudanças: “Eu quero”. A vontade do homem seguiu os movimentos da vontade divina. Deus o tornou desejoso. A vontade de Deus é a primeira a agir, não a segunda. Mesmo uma vontade santificada e aperfeiçoada depende da vontade de Deus, para receber orientação; e, depois de regenerada, a vontade do homem ainda é uma seguidora, e não um guia. E, no que se refere à vontade de uma pessoa não-regenerada, muito mais necessário é que sua propensão tenha de ser primeiramente mudada. Como isto pode acontecer, se Deus não interpuser sua mão e seu poder?

Isto não significa tornar Deus o autor do pecado? Não. O fato de que a vontade de Deus originou tudo que é bom no homem não implica em que essa mesma vontade dá origem ao que é mau. A existência de um mundo santo e feliz prova que Deus o criou com suas próprias mãos. A existência de um mundo impuro e infeliz comprova que Deus permitiu que esse mundo caísse nesse estado; porém não comprova mais nada. As Escrituras nos dizem que Jesus foi “entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). A vontade de Deus estava ali. Ele permitiu que as obras das trevas se realizassem; porém, mais do que isso, a morte de Jesus foi o resultado do “determinado desígnio” de Deus. Isto demonstra que Deus foi o autor do pecado de Judas ou de Herodes? Se não fosse a eterna vontade de Deus, Jesus não teria sido entregue; mas isto prova que Deus compeliu Judas a trair, Herodes a desprezar e Pilatos a condenar o Senhor da Glória? Ainda, outra passagem bíblica afirma: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram” (At 4.27-28). É possível perverter esta passagem, a ponto de provar que ela não possui qualquer referência à predestinação? Ela significa que Deus foi o autor dos atos aos quais ela se refere? Deus é o autor do pecado, porque este relato afirma que judeus e gentios se ajuntaram “para fazerem tudo o que” a mão e o propósito divinos predeterminaram? Permitamos que os nossos oponentes expliquem esta passagem bíblica e digam-nos como ela pode se harmonizar com a teoria deles.

- por Horatius Bonar (1808 - 1889)
Fonte: Editora FIEL

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...