*Esta carta é fictícia, embora contenha situações da vida real.
Meu caro e grande Lukinha!
Confesso que esses dias até bateu uma saudade de você: lembrei quando jogávamos Free Fire juntos há pouco tempo atrás. Acho que agora você está em outro jogo, né?
Enfim, hoje te escrevo para falar de uma situação que me deixou intrigado: aquela sua vakinha virtual para pagar os estudos no seminário.
Rapidamente, duas coisas me chamaram a atenção: em primeiro lugar, que o seminário fica nos EUA; e em segundo lugar, que eu não lembro de ter visto você trabalhar e juntar algum dinheiro próprio para isso.
Eu sei, pequeno Nébias (sua avó me contou esse apelido kkkk), que o Brasil não tem tantos seminários, mas realmente precisa ser lá nos EUA, bem na terra da Disney, do combustível mais barato e dos iPhones pra todo lado?
Veja só, eu sei que você gosta de estudar, mas a vakinha vai sustentar também as suas férias, certo? Todo mundo vai contribuir com a sua foto junto ao Pluto e o castelo encantado. O sorvete, os passeios - sim, eu sei, os livros também -, tudo vai ser custeado por quem está de longe, só olhando...
Me lembro muito bem que até pouco tempo atrás, você está indeciso quanto ao que fazer da sua vida profissional. E quero te dizer, meu amigo, que isso é normal. Ao fazer 18 anos, não se abrem certezas na vida - tem gente que vive por anos com essa dúvida - e isso continua sendo normal.
Porém, Lukinha, uma coisa não é normal: não querer trabalhar. E nisso eu vejo que você errou bastante! Você passou a confundir a incerteza profissional com um chamado ministerial - e isso é grave!
Eu não quero discutir contigo se Paulo fez tendas a vida toda, se a tenda era com duas águas ou meia água, se vermelha ou preta... não me importa nada disso.
Mas um fato é bem verdade: você quase não trabalhou e agora quer a ajuda de um monte de pessoas para patrocinar o seu desejo. Naquela incerteza natural da vida, você começou a achar que o ministério era um chamado...
Enquanto escrevo, me lembro novamente da sua avó, quando ela me disse que você a procurou e pediu ajuda pra essa vakinha. Lukinha, meu pequeno Nébias, isso não tem o menor cabimento! Sua família é de origem pobre, ninguém tem sequer passaporte e agora você quer dinheiro para viajar aos EUA - francamente! Olhe o estado da casa da sua avó - o que você fez para a ajudar?
Sim, eu sei que a Bíblia fala sobre a possibilidade de ser ministro enquanto ainda jovem, mas a Escritura não diz que você precisa ser ministro enquanto jovem. E aqui vai meu primeiro conselho: salvo se houver uma indicação muito clara da parte de Deus, adie essa vontade e vá trabalhar primeiro.
Sim, trabalhe onde for necessário, junte algum dinheiro e depois vá em busca desse sonho. É importantíssimo você trabalhar, até mesmo para entender como é o dia a dia da sua possível congregação; para você compreender as dificuldades reais e de como é a vida de um pai de família; para você ter a clara noção do quanto custa colocar 100 reais numa vakinha online...
Não quero me alongar muito mais, mas como um segundo conselho, te recomendo formar uma família antes de ir ao seminário. E aqui novamente: também não me importa se Paulo, Timóteo ou Tito eram solteiros, e sim a sua realidade.
Você gosta de ficar até tarde estudando, o que pode ser ótimo. Mas conseguiria entender uma mãe que não consegue ler a Bíblia, tudo porque está com um filho pequeno no colo e com as emoções bagunçadas? Você já namorou umas duas vezes e estranhamente "não deu certo" - como vai fazer para aconselhar casais em dificuldade?
Veja só que não estou duvidando do poder de Deus na sua vida, mas preciso pontuar que Deus já estabeleceu vários meios para aprendermos a Sua vontade e uma delas se chama casamento, a outra trabalho e assim por diante.
Por fim, gostaria de te animar a viver para a glória de Deus, independentemente de onde está. Seja você peão de obra ou seminarista, ali há um chamado. Ninguém precisa se formar durante anos no exterior - gastando uma grana federal - para que possa falar de Jesus para as pessoas. Recorde dos apóstolos e sua pouca instrução, mas foram chamados e capacitados pelo Senhor...
Essa escolha é sua e estou orando por você.
Forte abraço e que Deus o abençoe!