Dezembro e Janeiro de 2014, férias, praia e eu acima do peso ideal - não muito além, mas o suficiente para que as calças já não entrassem com facilidade e algumas outras peças do vestuário ficassem apertadas. A situação não me agradava, pois o pequeno sobrepeso e "barriga" não eram coisas que eu gostaria de ter comigo. Resolvi, então, voltar a correr (aos 17 anos comecei pelo mesmo motivo, mas não dei sequência).
Uma semana de cada vez - primeiro alguns trotes intercalados com caminhada; depois, adquirindo confiança, algum esforço além do normal; após algumas semanas, o que anteriormente era um sacrifício, se tornou um meio para o fim: mais saúde e melhor condicionamento físico.
Em meados de março, creio, fiquei sabendo de uma corrida que aconteceria em Urubuci/SC, na data de 14 de junho deste ano. O problema é que tal corrida teria a distância de 52km, sendo metade deles, literalmente, subindo morros. Refleti, analisei, e resolvi treinar forte para isso. Resumindo a história, me lesionei devido a tanto esforço, uma vez que meu corpo não estava acostumado a isso.
"Sonho" frustado, quase 1 mês parado, era tempo de recomeçar; se já estava correndo quase 30km (nos treinos longos), agora era tempo de retornar ao primeiro quilômetro e entender o porquê me lesionei. Lendo, conversando e buscando informações, consegui entender: má postura, má pisada, péssima dinâmica durante a corrida... E lá comecei a "aprender a aprender". Tirei os tênis e corri algumas vezes descalço, a fim de aplicar a forma correta de pisada; passei a treinar o descer de morros numa cadência não tão brusca e usando as pernas da maneira como se deveria fazer.
Corridas aqui e acolá, sem nenhum objetivo em mente (o que me prejudicava nos treinamentos), pois havia desistido dos 52km anteriores, de repente ouço falar no
Soloman Bombinhas 2014, uma maratona entre trilhas e praias com paisagens alucinantes (clique no link anterior), as quais muito me apeteceram. Todavia, um problema surgiu: eu não era páreo para correr 42km, ainda mais em trilhas íngremes! "Não importa", pensei, "o importante é estar lá e ver o que acontece".
Chega, finalmente, o grande dia. Eu e minha esposa acordamos às 04:30 e saímos às 05:20 rumo à cidade onde seria a largada. Presenciamos um nascer do sol belíssimo e que muito nos encantou.
Faltando alguns minutos para a largada, me ponho a pensar: "eu deveria estar aqui, tentando correr esta distância toda, sem mesmo ter me preparado adequadamente para ela?" Pouco importou o pensamento, tendo em vista que lá já estava e não era hora de desistir! Minha esposa me beija e que comece a corrida!
Nos primeiros quilômetros a alegria saía pela pele - tudo era novidade. A paisagem belíssima fazia com que qualquer pequeno esforço fosse subjugado a nada e o júbilo era constante. Trilha, costão, praia... tudo era magnífico.
Pouco a pouco chegou o primeiro desafio genuino: um enorme morro (para mim, ao menos) com subida constante durante 1km - não teve jeito, tive que caminhar com outros corredores; um bom momento para conversas. Finalizado o morro, entramos na maior trilha da corrida - creio que algo em torno 7km de muita lama e terreno completamente irregular. Durante o trajeto, alternando entre corridas leves e caminhadas, minha coxa começou a dar fortes sinais de que eu estava no local errado, sem a preparação devida e isso que ainda tinham mais quilômetro pela frente! Mas, não havia o que fazer - precisava continuar, pois retroceder não era uma opção e mesmo que fosse, eram vários quilômetros para voltar!
Finalizo a trilha bendita (magnífica, agora em minha memória - enquanto corria, uma angústia que não acabava mais) e chego à estupenda praia de Zimbros. Pergunto à moça que estava indicando o caminho sobre quantos quilômetros era essa posição; obtive a resposta: estava no quilômetro 21 e ainda faltavam outros 21km!
Sigo em frente, desta vez por um pequeno trecho de praia e novamente uma trilha, desta vez menor. Ali, água direto da fonte natural - sem palavras para o frescor! Porém, a coxa já clamava por sossego e me dizia para parar constantemente; o mental afirmava que deveria seguir adiante, afinal, minha esposa estava na linha de chegada me esperando e eu precisava ir ao encontro dela! As pedras pequenas se tornavam gigantes e cada valo na trilha era um sacrifício a ser vencido.
Volto à praia e me deparo com uma orla "infinita", parecendo não ter fim - e eu precisava ir, no mínimo, até o fim dela. A dor não me permitiria, porém, novamente, desistir, porque minha esposa estava na linha de chegada me esperando! Prossigo, rumo ao proposto.
Andando por toda a orla, com ínfimas corridas, chego ao seu fim e encontro outra pessoa que indicava o caminho seguinte (muitas pessoas ajudaram durante toda a prova - meu muito obrigado a todos!). Pergunto em quantos quilômetros já estava, pois, realmente, cria que não aguentava mais. O rapaz me diz que, possivelmente, estávamos no quilômetro 24. "COMO ASSIM?!" foi o que pensei! Eu andei por toda essa praia e só foram míseros 3km? Não pode ser! Tem que ser mentira! Mas era verdade.
Mais cansado e agora desanimado, com a coxa muito fadigada, sento num banco e fico esperando seja lá o que vier. Se eu tivesse avistado um moto táxi, certamente eu teria solicitado seus serviços. Aguardo sentado, sabendo que alguns corredores vinham atrás de mim - para a grata surpresa, vejo o grande colega (o conheci, primeiramente, pela internet) Rodrigo Ribeiro Rodrigues e sua esposa Bianca, os quais com muita receptividade vieram ter comigo e perguntaram se eu precisava de algo, ao que respondi: companhia para seguir adiante. E assim fizemos - e era hora de encarar outro morro.
Seguimos, eles um pouco à frente, algumas vezes me esperando e eu com a responsabilidade de aproveitar bem a companhia, pois se fosse deixado sozinho, deitaria e esperaria o sono me dominar, a fim de descansar. Do alto do morro, a paisagem era belíssima e tiramos algumas fotos.
Trilha abaixo, finalmente! Chega de subir! É hora de descer! Mas, como? Ela, a indomável coxa, não me obedecia. Dizia, gritava, exclamava e quase me obrigava a parar - mas, quem manda sou eu, não ela, dizia minha mente.
Final da trilha e ledo engano achando que as coisas melhorariam. Agora era tempo de continuar pelo mesmo morro, mas em direção a outro lugar. Recebo um pão de outro corredor amigo (obrigado!) e prossigo. Quebro um pedaço de galho e faço um bastão, na esperança de que me ajude na subida. Frise-se: outro morro "infinito", no qual não consegui acompanhar o nobre casal. Segui, então, nada mais a fazer, sozinho, sol na cabeça, mochila que parecia pesar 10kg nas costas e um passo após o outro, pois minha esposa me esperava!
Chego ao fim do morro, após várias horas de exaustão e encontro outra moça gentil que indicava o caminho. Crendo, piedosamente que estava "quase lá", ouço a notícia bombástica: ainda faltavam 10km. NÃO! NÃO! E NÃO! Não podia ser possível! Eu já estava correndo/caminhando há quase 5:30 horas e ainda faltavam 10km? Algo estava errado! Sentei-me sem saber o que fazer.
Para minha esperança, eis que desce do morro um casal de corredores (Cesar e Priscila Carignano), também fazendo a prova e novamente são solícitos para comigo, perguntando se precisava de algo (infelizmente não tenho foto com vocês!) e me animando para continuar a caminhada.
Era o momento de correr pela praia de Mariscal, outra orla "mais que infinita". Seguimos trotando e a coxa já não existia - era tudo mental (o restante do corpo estava bem - graças!). A perna obedecia os comandos do cérebro, embora eu não saiba como ela se movesse. Trotamos, andamos, apreciamos a paisagem e seguimos caminhando. O casal foi bondoso para comigo e repartiu algumas guloseimas que tinham trazido, a fim de conceder um "novo gás" (qual, ó céus? tudo já se tinha ido!).
Chegamos ao final da praia e adivinhem? Mais morro! Sim! Era tudo o que eu desejava! Mas antes de o subirmos, novas pessoas indicando o caminhando e fornecendo água - tomei um copo, joguei outro sobre mim e levei um terceiro na mão, talvez como uma espécie de esperança. Subimos, subimos e descemos, até finalmente, sim! era o momento, chegamos na última praia (a mesma em que largamos). Algo de estranho, entretanto, acontece: a chegada ficava para a esquerda e nos orientaram a ir para a direita. Não, não era estranho, é que realmente tínhamos que passar por mais uma trilha! Sim! Outra! Mais subida!
Corremos, então, até o final da praia e outra pessoa gentil nos indicou o caminho - ao menos era a última trilha!
Acabamos de a percorrer, eu com a minha coxa invisível, pois não sabia como me movia, e precisávamos percorrer mais alguns minutos até a linha de chegada. Não podia acreditar no que estava acontecendo - estava chegando ao fim! Após todas as incontáveis lutas mentais para não desistir, eis que o caminho finalmente acabava! Tamanha foi a comemoração que sugeri ao casal que chegássemos, evidente, correndo na linha de chegada! Nada de caminhar!
E assim, após 7:19 horas de muita alegria, esforço, vontade de desistir, companheirismo e disposição, finalizei minha primeira maratona em trilhas.
Era hora de voltar pra casa!
E como diz o título deste relato, leia tudo isso com vistas à caminhada cristã de todos os crentes. Uma vida de alegrias, companheirismo, dificuldades, saudades e desafios, mas cujo fim vale muito a pena! Que venha a próxima corrida!