segunda-feira, 23 de julho de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 17 - Homem e Mulher após a Queda - Funções e Atribuições na Igreja (O Papel de cada Sexo) - Sermão pregado dia 22.07.2012



Série: Homem e Mulher os criou - parte 17 -
Homem e Mulher após a Queda - 
Funções e Atribuições na Igreja (O Papel de cada Sexo) -
Sermão pregado dia 22.07.2012

Compreendido os porquês de haver as devidas distinções entre homem e mulher - tanto no que diz respeito ao lar, como à sociedade e também conforme a própria natureza nos ensina, em todas as ocasiões -, é preciso que avancemos e entendamos que esta diferenciação igualmente se estende ao modo de viver e operar da Igreja de Cristo, e, reflete, portanto, diretamente na maneira de quem pregará, ensinará e, também,  na piedade que a congregação tem para si e expõe ao mundo. Isto posto, faz com que todo cristão verdadeiro entenda que precisa estar ciente de que a Igreja do Senhor é governada, estabelecida e tem seu regimento doutrinário e prática pautada tão somente pelas Escrituras. Ou seja, qualquer homem ou mulher que tente alterar os marcos estabelecidos pelo Artífice, incorre em grande pecado e faz do ser humano o detentor e determinador daquilo que deve ou não ser realizado em Sua Igreja - em contraposição com a soberania divina.

Conforme pontuamos anteriormente, os três ministérios base da Igreja de Cristo são a assistência, ensino e pregação (At 6.1-4). A distinção de dons e aplicações na igreja de Cristo é bastante evidenciada quando Paulo escreve: "Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros" (Rm 12.4-5). O apóstolo é bastante explícito em dizer que "nem todos os membros têm a mesma operação", ou seja, isto, por si só, já deveria bastar para que os cristãos compreendessem que nem todas as funções podem ser exercidas por todas as pessoas - não porque algumas sejam melhores do que outras, mas sim porque foi do agrado e ordem do Senhor que houvesse esta distinção.

Também deixamos registrado o cuidado que se deve ter ao se objetar contra esta distinção dizendo que "isto é cultural, era parte do pensamento dominante onde Paulo estava". Ou ainda: "Esta distinção é apenas exemplificativa, tem o intuito de nos guiar no padrão genérico (não específico), tão somente nos mostra o pensamento daquela época em que o escritor estava...". Todavia, se algum espírito espúrio ainda pensa desta forma, sucintamente digo, então, que se leve adiante esta parte da cultura e também não se pregue sobre qualquer livro da Bíblia e nem se faça menção alguma sobre as bênçãos contidas nas Escrituras, afinal, haveria algum versículo que está inserido em nosso contexto literal? É claro que não! Portanto, embora o contexto seja muito importante para a compreensão das doutrinas, ele não pode ser usado como um escudo para rebatermos aquilo que não apraz à nossa carne vil e pecaminosa - o contexto é importante, mas não podemos desprezar a doutrina inserida no mesmo.

Vejamos as três distinções feitas pela palavra de Deus sobre os ministérios na igreja:

1. Assistência - "Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação".

É verdade que muitas vezes as Escrituras nos são difíceis de entender - até mesmo o apóstolo Pedro falou acerca de Paulo escrever algumas coisas não tão simples de serem entendidas: "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2Pe 3.15-16 - grifo meu). Entretanto, no presente versículo de Atos o ensinamento é altamente cristalino e pode ser lido e entendido por qualquer pessoa versada em nossa língua portuguesa. Aqui, o texto é explícito em dizer que a assistência (diakonia, diakoniva, serviço - "eram desprezadas no ministério cotidiano" At 6.1 - grifo meu) da igreja, isto é, muitas funções da prática cristã como ajudar na congregação, visitar e ministrar a Palavra aos enfermos, colaborar de modo mais direto para o andamento da igreja, deve: em primeiro lugar, não ser realizado somente pelos presbíteros/pastores. Isto não significa que os presbíteros/pastores não podem ajudar em coisas práticas da igreja (veja os versículo anteriores e perceba que de fato eles estavam servindo as mesas), mas sim que não cabe a eles fazerem tudo o que a igreja necessita. Em outras palavras, os presbíteros precisam delegar certas funções. E, em segundo lugar, o serviço de assistência deve ser realizado por "homens (sexo masculino) de boa reputação".

Como dito, o serviço de diaconato geralmente compreende o aconselhar pessoas, auxiliar o pastor em determinadas circunstâncias, acompanhar eventualmente o pastor em sua visitação às famílias, colaboração em algumas atividades da igrejas que necessitem de alguém com bom reputação e entendimento das doutrinas... Assim, se delimita um ponto de suma importância para a Igreja de Cristo: o diaconato é função dos homens. Todavia, isto não significa que a mulher não pode ou deve ajudar no serviço da Igreja do Senhor (ao final veremos isto).

2. Ensino - "cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio".

Ainda que a presente sentença seja uma continuação do serviço de assistência, há que fazer também a distinção entre o serviço de assistência e a incumbência de ensinar outros irmãos. De modo simples, mas direto, daqui aprendemos que há um ofício de mestre dentro da igreja (que pode ser ou não aliado ao de pastor; quer dizer, embora todo pastor deva ser um mestre/ensinador, nem todo mestre será pastor) e que ele também deve ser exercido por "homens de boa reputação".

Este nosso entendimento é claramente delineado e sancionado (aprovado) pelo apóstolo Paulo a Timóteo: "A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação" (1Tm 2.11-15). É preciso haver a compreensão correta destes versículos, pois muitos são os que desejam os ultrajar e ainda outros tantos que usam tal versículo para oprimirem as mulheres na igreja (leia também 1Co 14.33-35).

Em primeiro lugar, a Palavra do Senhor ordena que as mulheres estejam em silêncio no que concerne ao ensino na igreja: "aprenda em silêncio, com toda a sujeição". Notemos, contudo, que o apóstolo não fala para que elas estejam somente em silêncio, como que dizendo que a mulher é simplesmente uma espectadora do culto e da vida da congregação, mas sim que deve aprender em silêncio. Isto significa que a mulher possui o mesmo direito do restante da igreja e tem o mesmo dever - aprender. Esta ordem bíblica tem seu exemplo prático com Maria que "assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra" e que, segundo o Mestre, "escolheu a boa parte" (Lc 10.39, 42) - ser como Maria não é ser menosprezada, mas sim saber reconhecer o melhor que o Senhor tem para si.

Em segundo lugar, as Escrituras revelam que devido às mulheres deverem aprender em silêncio, naturalmente que não devem ensinar: "Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio". Aqui, se desdobra o seguinte e evidente entendimento: a mulher não deve ensinar e nem ter autoridade sobre o marido, deve estar "em silêncio". O leitor atencioso se lembrará de que no estudo passado falamos sobre, "Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo" (1Co 11.3 - grifo meu) e isto no ensinou sobre a importância da mulher ser consciente de sua submissão. 

Em terceiro lugar, este aprender em silêncio e não poder ensinar, não é fixado em algo cultural ou histórico, mas sim relacionado à própria criação: "Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva". O motivo pelo qual as mulheres não devem ensinar os homens (note a relação entre marido e esposa - "nem use de autoridade sobre o marido") no culto público ou em outra reunião, não é porque elas não sejam capazes disto, mas sim porque a Bíblia descreve que o homem foi criado antes da mulher - para aqueles que esta distinção não for suficientemente convincente, nada podemos fazer, pois estamos apenar a extrair da Palavra de Deus o ensino.

Em quarto lugar, as Escrituras nos ensinam que há ainda outro motivo pelo qual a mulher não deve ensinar na igreja: "E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão". Neste ponto, Paulo não está denegrindo o sexo feminino e exaltando masculino, como se estivesse a afirmar que nem mesmo Adão caiu - nada disto está dito aqui e o restante da Bíblia coisa alguma fala apoiando este suposto argumento. O apóstolo está afirmando, portanto, que houve alguém que foi enganado primeiramente pela antiga serpente: "a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão". É verdadeiro que o homem também pecou (relembre dos estudos passados), todavia, alguém deu início à causa e esta pessoa foi a mulher.

Em quinto e último lugar, a fim de que as mulheres não tivessem excessiva tristeza e pensassem que todo o mal que ocorre neste mundo é devido a elas e para que não vivessem demasiadamente cabisbaixas por este motivo (e também por poderem não pregar, ensinar...), o apóstolo acrescenta: "Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação". Então, embora o gene feminino tenha sobre si este peso de ter sido enganado, Paulo escreve dizendo que há um modo dela salvar-se desta tristeza que poderia consumir a sua alma: os filhos do Senhor (não entrarei em maiores detalhes sobre isto, pois já analisamos esta bênção nos estudos sobre os filhos).

3. Pregação - "Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra".

Não é necessário fazer grandes rodeios a fim de explicar este dito apostólico, pois uma vez que homens devem ser os assistentes e servir as mesas e também ensinar a congregação (função do mestre/professor), os apóstolos finalizam e dizem que, quanto a eles, perseverariam na oração e no ministério da pregação. Ora, penso que está bem além de qualquer cogitação que só haviam doze apóstolos e todos eram homens e, então, eles é que se engajariam firmemente "no ministério da palavra". Este entendimento é também vital para uma igreja saudável, pois quantas são as vezes em que a congregação "esfola" seus ministros lhes requerendo que façam tudo (cuidem de todas as atividades, organizem todos os eventos, fiscalize a entrada e saída de todo dinheiro, cuide de todos dos pobres, instrua todas as crianças...), enquanto os membros ficam quase que literalmente de braços cruzados esperando o pastor "fazer alguma coisa"? É, portanto, dever do pastor se dedicar (não exclusivamente, mas primordialmente) à oração e pregação da Palavra, a fim de que a igreja seja bem instruída e atuante na vida cristã - o restante da igreja (assistentes/diáconos e mestres/professores) o auxilia em todas as outras atividades (lembrando de que o pastor não é o "chefe" da igreja, pois somos de acordo com o governo presbiteriano, isto é, uma pluralidade de presbíteros - cada qual exercendo sua função para que foi chamado por Deus, como ensinar, pregar, reger a igreja e sua administração...)

Por fim, alguns podem estar pensando: "Mas, então, o que a mulher pode fazer dentro da igreja do Senhor? Deve apenas ir ao culto, voltar para a casa e nunca fazer coisa alguma?"

1. As mulheres podem e devem ensinar seus filhos e outras crianças

A aprovação para este feito (que de modo algum é "pequeno", pois o que poderia ser mais honroso do que ensinar e educar as crianças - futuros grandes homens e mulheres! - nos caminhos do Senhor?) é provido, dentre outros inúmeros exemplos que poderíamos tomar, de Timóteo: "Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti... E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2Tm 1.5; 3.15). As mulheres, por terem esta vocação maternal, são incumbidas de ensinarem os pequenos de acordo com as Escrituras - não que os homens sejam impedidos disto, mas que geralmente esta tarefa é atribuída a elas (já que a eles cabe trazer o sustento para a casa). Elas podem, portanto, sem impedimento algum, serem professoras de crianças.

2. As mulheres podem e devem ensinar-se mutuamente


"As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada" (Tt 2.3-5). Paulo é específico e direto ao dizer que as mulheres devem ser "sérias no seu viver", isto é, não devassas, nem apaixonadas pelas coisas deste mundo passageiro, nem demasiadamente entretidas em coisas que não convém à piedade (assim como os homens) e também que as mulheres mais velhas "ensinem as mulheres novas".

Aqui, Paulo não está dizendo que somente as mulheres mais velhas devem ensinar as mais novas, como se estivesse a proibir as mais novas de ensinarem as mais velhas, pois isto seria contrário ao que ele recomendou com a Timóteo: "Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza" (1Tm 4.12). Assim, o entendimento é pacífico que pode haver ensino entre as mulheres do Senhor, apesar de as mais novas deverem o devido respeito e especial atenção ao que as mais velhas lhes ensinam - devem ser prontas para aprender e tardias para falar (Tg 1.19), como convém a todos os santos.

3. As mulheres podem e devem falar de Deus para as pessoas

Ainda que este seja um dever de todo cristão, alguns poderiam objetar que devido ao fato da mulher não poder ensinar outros homens (isto não exclui, por óbvio, o que as mulheres tem a ensinar aos homens, como afazeres domésticos ou ainda outras situações peculiares, como questões doutrinárias - desde que não seja em público; contudo, o melhor é falar ao marido, pai, irmão mais velho [algum outro homem] para que este vá e admoeste/ensine aquele irmão que está errado), ela não poderia - supostamente - também pregar o evangelho. É preciso observar neste ponto que, embora a mulher não possa ser uma pregadora, professora de teologia (aos homens - vide, porém, a autorização para ensinar outras mulheres) ou missionária, ela pode e deve falar do evangelho aos seus - tanto conjuntamente com seu marido (por exemplo, em um aconselhamento familiar [geralmente com 2 casais], ela pode também conversar e falar da palavra de Deus, desde que com respeito e subordinação aos homens presentes) como em outras ocasiões com amigos, vizinhas, colegas e conhecidos. Para validar o que estamos afirmando, temos a narrativa de um casal ensinando outra pessoa: "Ele [Apolo] começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áqüila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus" (At 18.26 - grifo meu). 

4. As mulheres podem e devem participar das obras sociais da igreja

Escrevendo acerca da mulher virtuosa, o autor de Provérbios diz: "Abre a sua mão ao pobre, e estende as suas mãos ao necessitado" (Pv 31.20). É neste sentido que também temos o aval bíblico para que as mulheres ajudem no cuidado dos necessitados, nas obras de caridade, no auxílio e manutenção física da igreja.

Todavia, mesmo com estas explanações bíblicas, alguns ainda podem se perguntar sobre o caso de Débora e outras mulheres que nas Escrituras exerceram ofícios de homens. Para respondermos esta pergunta e encerrarmos esta questão das diferenças na igreja, citamos o reformador Calvino:

"12. Não permito, porém, que a mulher ensine. Paulo não está tirando das mulheres os seus deveres de instruírem suas famílias, mas sim as retirando do ofício do ensino que Deus deu exclusivamente aos homens... Se alguém apresenta, por meio de objeção, Débora (Juízes 4.4) e outras do mesmo tipo, de quem se lê que por um tempo foram destinadas ao comando do povo de Deus, a resposta é fácil. Atos extraordinários de Deus não anulam as regras ordinárias do governo, pelas quais ele intenta que sejamos obrigados. Portanto, se as mulheres uma vez realizaram o ofício de profetas e mestres e a isto foram levadas sobrenaturalmente pelo Espírito de Deus, Ele é acima de toda a lei [para fazer isto]. Assim, sendo um caso peculiar, isto não se opõe ao constante e ordinário sistema de governo." [1]

Nota:
[1] CALVINO, João, commentaries on the epistles to Timothy, Titus and Philemon, Baker Book House, pág. 67 - tradução livre.

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