sábado, 24 de março de 2012

Havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão - Jonathan Edwards


Todos estes outros frutos do Espírito são apenas para uma época,e, ou já cessaram, ou, em algum tempo, cessarão. Quanto aos dons mi­raculosos de profecia e de línguas, etc, eles são apenas de uso temporário, e não podem ser con­tinuados no céu. Eles foram dados unicamente como meios extraordinários de graça que Deus outrora agradou-se em conceder à sua igreja no mundo. Porém, quando os santos que outrora go­zaram do uso destes meios foram para o céu, tais meios de graça cessaram, pois eles não mais eram necessários. Não há ocasião para quaisquer meios de graça no céu, quer ordinários, tais como os comuns e estabelecidos meios da casa de Deus, quer extraordinários, tais como os dons de línguas, de conhecimento e de profecia. Ele afirma que não há lugar para quaisquer destes meios de graça serem continuados no céu, porque lá o fim de todos os meios de graça é completamente obtido na per­feita santificação e felicidade do povo de Deus. O apóstolo falando no capítulo 4 de Efésios, dos vários meios de graça, diz que eles são dados para "o aperfeiçoamento dos santos, para o desempe­nho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade''. Porém, quando isto tiver acontecido, e os santos estiverem aperfeiçoados, e já chegado à medida da estatura da plenitude de Cristo, então não haverá posterior ocasião para quaisquer destes meios, quer ordinários, quer ex­traordinários. Neste sentido isto é muitíssimo semelhante aos frutos da lavoura, que necessitam de cultivo, chuva e luz solar, até que estão ma­duros e são colhidos, e então não necessitam mais destas coisas.

E como estes dons miraculosos do Espírito foram apenas temporários com relação àquelas pessoas em particular, que os gozaram, assim eles são apenas para uma época com relação à igreja de Deus considerada como um corpo coletivo. Estes dons não são frutos do Espírito, que foram dados para serem continuados na igreja durante todas as épocas. Eles foram continuados ou pelo menos concedidos de vez em quando, ainda que não sem algumas consideráveis interrupções, desde o co­meço do mundo até que o cânon das Escrituras fosse completado. Eles foram outorgados à igreja antes do começo do cânon sagrado, isto é, antes que o livro de Jó e os cinco livros de Moisés fos­sem escritos. Naquele tempo as pessoas tinham a palavra de Deus de outra maneira, a saber, por revelação imediata de vez em quando dada à emi­nentes pessoas, que foram como que pais na igreja de Deus, e esta revelação foi transmitida deles para outros por tradição oral. Era uma coisa muito comum naquele tempo, o Espírito de Deus co­municar a si mesmo em sonhos e visões, como aparece em várias passagens no livro de Jó. Eles tiveram extraordinários dons do Espírito antes do dilúvio. Deus revelou a si mesmo de uma maneira imediata e miraculosa a Adão e Eva, e da mesma forma a Abel, e a Enoque, que, como somos in­formados (Judas 14), tinha o dom de profecia. E do mesmo modo Noé teve revelações imediatas que lhe foram feitas, e da parte de Deus avisou o mundo antigo; e Cristo, pelo Espírito de Deus falando através dEle, foi e pregou aos espíritos agora em prisão, que em algum tempo foram desobedientes, quando então a longanimidade de Deus esperava enquanto a arca estava sendo preparada (1 Pedro 3.19,20). E da mesma forma Abraão, Isaque e Jacó foram favorecidos com revelações imediatas, e José tinha extraordinários dons do Espírito, e assim também Jó e seus amigos. Desde este tempo até o tempo de Moisés, parece ter ha­vido uma interrupção dos dons extraordinários do Espírito; e do tempo de Moisés até o tempo de Malaquias eles foram continuados numa sucessão de profetas, ainda que com algumas interrupções. Depois deste, parece ter havido uma longa inter­rupção de uns quatrocentos anos, até a aurora do dia do evangelho, quando o Espírito começou no­vamente a ser dado em seus dons extraordinários, como para Ana, Simeão, Zacarias, Isabel, Maria, José e João Batista.

Estas comunicações do Espírito de Deus fo­ram dadas para preparar o caminho para Aquele que tinha o Espírito sem medida, o grande profeta de Deus, por meio de quem o Espírito é comu­nicado a todos os outros profetas. E nos dias da sua carne, os seus discípulos tiveram uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo assim capacitados a ensinar e operar milagres. Mas de­pois da ressurreição e ascenção, houve a mais completa e notável efusão do Espírito em seus dons miraculosos que jamais aconteceu, começando com o dia de Pentecostes, depois que Cristo res­suscitara e ascendera ao céu. E como conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraor­dinária era dotada com estes dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim conti­nuaram durante a existência dos apóstolos, ou até à morte do último deles, até mesmo à do apóstolo João, que aconteceu cerca de 100 anos depois do nascimento de Cristo; de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres. Todavia, logo depois daquilo, tendo sido completado o cânon das Escrituras quando o apóstolo João escreveu o livro de Apo­calipse, pouco antes da sua morte, estes dons miraculosos não mais foram continuados na igreja. Pois agora havia sido completada uma firme re­velação escrita da mente e da vontade de Deus, na qual Deus tinha plenamente gravado uma per­manente e suficiente regra para sua igreja em todas as épocas. E sendo desfeita a nação e igreja judia, e sendo estabelecida a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus, os dons miraculosos do Espírito não eram mais necessários, e, portanto, cessaram, pois, ainda que haviam continuado na igreja por tantas épocas, eles cessaram.

Deus os fez cessar porque não havia ocasião posterior para eles. E assim foram cumpridas as palavras do texto: "havendo profecias, desapare­cerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará". E agora parece haver um término para todos os frutos do Espírito tais como estes, e nós não temos razão para esperá-los mais. E quanto àqueles frutos do Espírito que são comuns, tais como a convicção, a iluminação, o crer, etc., que são comuns tanto para o crente como para o in­crédulo, estes são dados em todas as épocas da igreja no mundo; e ainda com respeito às pessoas que têm estes dons comuns, eles cessarão quando elas morrerem; e com respeito à igreja considerada coletivamente, eles cessarão, e não haverá mais deles depois do dia do julgamento. Eu passo, então, a mostrar como foi proposto. 

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Nota do autor do blog: Quando o autor fala sobre o fechamento do cânon, creio não estar falando do fechamento literal (que foi bem posterior à morte do último apostolo), mas sim do encerramento daqueles que receberam a revelação de Deus.

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