domingo, 3 de julho de 2011

"Não porei coisa má diante dos meus olhos" - Sermão pregado dia 26.06.2011


"Não porei coisa má diante dos meus olhos" -
Sermão pregado dia 26.06.2011

Nosso texto: Salmo 101.

Conforme vimos semana passada (clique aqui para ler), é dever de todo cristão observar atentamente sua conduta, para que viva de acordo com o chamado que lhe foi proposto - não devendo de maneira alguma professar em vão sua fé, para que não caia em reprovação diante de Deus.

O salmo de hoje nos é por demais valioso, haja vista termos belíssimas sentenças teológicas que preceituam de maneira rica e eficaz a preciosidade que é vivermos para a glória de Deus.

"Cantarei a misericórdia e o juízo; a ti, SENHOR, cantarei" (v.1). Quando o salmista inicia sua canção, ele já o faz de forma a declarar que somente expressará coisas benditas ao Senhor. O próprio Davi - também autor deste salmo - já havia expressado de forma semelhante ao escrever: "Louvarei ao SENHOR em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca" (Sl 34.1). É maravilhoso observarmos a noção que o salmista tinha da totalidade do seu Senhor. Observemos que ele não diz que cantará apenas as misericórdias do Senhor ou as coisas boas que ele tem feito sobre o seu povo, mas que também cantará o justo juízo do e ao Senhor, levando o povo a deleitar-se Nele por aquilo que ele é em si mesmo e pelos seu retos e perfeitos caminhos.

É também notório observarmos que o próprio Davi somente conseguiria cantar tais feitos do Senhor se seu coração estivesse transbordante do mesmo, conforme ele mesmo disse: "A boca do justo fala a sabedoria; a sua língua fala do juízo" (Sl 37.30). Também lemos em Lc 6.45: "Porque da abundância do seu coração fala a boca". Devemos também atentar para o fato de que o salmista cantaria apenas ao Senhor, não elevando sua voz para qualquer outro ídolo - por maior beleza que pudesse ter.

"Portar-me-ei com inteligência no caminho reto. Quando virás a mim? Andarei em minha casa com um coração sincero" (v.2). Vemos que o salmista além de cantar e expressar sua adoração ao Senhor, é desejoso de perseverar no reto caminho estabelecido por Deus - não duvidando da veracidade e superioridade dos caminhos do Senhor, mas sendo prudente no seu andar e no seu falar.

Davi então pergunta: "Quando virás a mim?". De acordo com o próprio desenrolar do salmo, podemos entender que essa pergunta é retórica, transmitindo ao próprio Davi a incerteza de quando Deus viria a Ele - talvez por alguma adversidade que estava passando - mas que durante esse tempo ele iria portar-se "com inteligência no caminho reto". Não obstante a isso, ele propõe-se a andar com um coração sincero diante de Deus - mesmo diante da incerteza do livramento.

Certamente essa é uma das grandes marcas do verdadeiro cristão, pois como podemos professar a fé cristã, esperar pelo Senhor e não andarmos com um coração sincero? Há algo de muito errado em nós quando não esperamos e não nos portamos "com inteligência no caminho reto" e nem andamos "com um coração sincero" como Davi o fez. É mister atentarmos para o erro em que podemos incorrer quando esperamos por um Jesus falsificado.

Muitas vezes nos deparamos com professos da fé cristã, mas que no lugar de andarem e esperarem com um coração sincero a vinda do Senhor, andam da mesma maneira que os filhos das trevas - não buscando a face do Senhor em contínua oração e leitura da palavra. Quão terrível engano que o diabo tem semeado nos corações a ponto de levar as pessoas a relaxarem, não dando ouvidos ao que Paulo disse: "Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite" (1Ts 5.2).

"Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim" (v.3). Após ter explicitado a si mesmo que iria cantar e permanecer nos retos caminhos do Senhor, Davi passa a expressar de que maneira levará sua vida para que possa cumprir o propósito para o qual foi chamado.

"Não porei coisa má diante dos meus olhos". Não devemos olhar tal versículo com olhos de fariseus e legalistas da lei, como que se devêssemos apenas ler a bíblia e orar o dia inteiro - pois somente essas coisas seriam aceitáveis diante de Deus. Em contrapartida, não devemos nos achegar ao texto com uma visão libertina, como se quase tudo fosse bom e agradável diante do Senhor. Davi quis ensinar que somente estaria e olharia para locais onde pudesse ser edificado e pudesse testemunhar das maravilhas que o Senhor havia feito. Isso então nos leva a questionar sobre quais são as coisas "más" para Deus.

Creio ser correto afirmar que tudo e todo o lugar que não nos acrescentar algum bem espiritual deve ser rejeitado. Certamente que tal concepção não deve ser totalmente subjetiva, pois incorreríamos no erro de acharmos que o certo e o errado convém ao homem decidir. Contudo, penso ser apropriado que analisemos cada passo e cada movimento de nossos olhos, para que não coloquemos coisa má diante deles.

Um simples programa de televisão pode minar nossa mente com ideia subversivas e contrárias à vontade de Deus. Uma ida ao estádio de futebol pode levar-nos a quebrar o nono mandamento (xingando e maldizendo algum jogador, juíz ou torcedor) que diz: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo" (Êx 20.16). Um passeio pelo shopping center pode levar-nos a quebrar o décimo mandamento que diz: "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo" (Êx 20.17 - grifo meu). É necessário, portanto, que tenhamos grande prudência ao fazermos qualquer coisa, pois tudo que fazemos deve ser feito para a glória de Deus (1Co 10.31).

Certamente que tais diretrizes podem nos soar estranhas, pois parecem determinar regras para todos o momentos de nossas vidas. Porém, penso ser necessário que tais regras fluam de maneira "natural" em nosso coração - fruto de um coração regenerado, sincero e devoto à Deus - para que possamos experimentar "a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2).

"Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim". Além de Davi dizer que não colocará coisa má diante de seus olhos, também deixa claro que tais coisas não se apegarão a ele! Ora, não basta uma resolução ou oração após o culto para mudarmos nossa conduta, é necessário que trilhemos diligentemente o caminho da piedade, negando e reprovando toda conduta contrária àquilo que o Senhor prescreveu. As palavras de Davi não são "odeio parte das obras daqueles que se desviam" ou ainda "parte delas não se pegará a mim", mas são palavras de extrema dureza, condenando e considerando como lixo tudo aquilo que fere os basilares da fé cristã!

"Um coração perverso se apartará de mim; não conhecerei o homem mau" (v.4). Novamente o salmista Davi expressa seu reprovação quanto às más obras dos homens maus. Não deveria espantar-nos tais palavras, pois o próprio Paulo já escrevera à igreja de Tessalônica dizendo: "Abstende-vos de toda a aparência do mal" (1Ts 5.22).

Queridos, é necessário que entendamos que há um separatismo saudável na vida cristã. Muitas e muitas vezes teremos de dizer não para deleites oferecidos pelo mundo e suas vãs concupiscências. Teremos de resistir ao mais doce mel feito pelo homem, sabendo que a única graciosidade que podemos encontrar está revelada na palavra imutável de Deus. Não devemos ultrajar os preceitos bíblicos como se pouca coisa fossem! Não devemos achar que pessoas não cristãs podem ser "quase-cristãs"! Fazemos bem se atentarmos para as palavras de Davi e buscarmos não conhecer o homem mau - aquele que pratica a iniquidade e está sob a ira de Deus.

Creio que muitos de nós tem como firme resolução manter o homem perverso afastado de seu coração, assim como pleiteia por segurança física para sua moradia. Mas é estranho notarmos como muitos cristãos buscam proteger suas casas do ladrão e dos infortúnios da vida, mas sequer percebem o perigo que incorrem ao comprarem uma nova televisão, ao alugarem um novo filme, ao desejarem um novo computador ou coisa semelhante! Vemos novamente que em tais casos se faz verdadeira a passagem que diz: "O boi reconhece o seu dono, e o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende" (Is 1.3).

"Aquele que murmura do seu próximo às escondidas, eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração soberbo, não suportarei" (v.5). Davi expressa seu repúdio também contra os murmuradores e caluniadores do próximo que constantemente fazem isso às escondidas. Não há nenhuma palavra aqui que seja-nos permitida flexionar para achar alguma brecha para termos aliança com não-cristãos. Davi era desejoso que sua conduta fosse de acordo com aquilo que Deus havia prescrito para ele. Davi sequer cogita a possibilidade de andar com aquele que tem "olhar altivo e coração soberbo", pelo contrário, diz que não pode suportá-lo - justamente por se propor a viver "com inteligência no caminho reto". Paulo muito bem salientou essa questão quando escreveu: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (2Co 6.14,15).

Quantas vezes vemos homens e mulheres professos da fé cristã e que continuamente se juntam e festejam com pessoas murmuradoras, de olhar altivo e de coração soberbo. Certamente que Davi não está condenando o andar junto visando a transformação da vida do próximo, mas condena veemente o andar junto sem sequer demonstrar que sua consciência reprova tal comportamento alheio.

"Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá" (v.6). Davi se policia para que dentro da sua área de atuação - como chefe de Israel - o mal não reine, tampouco os infiéis prosperem na terra. Novamente temos outro vislumbre da necessidade de combatermos o mal - tanto em nós mesmo quanto nas atitudes do próximo para conosco ou para com nossos irmãos.

É salutar que compreendamos o nosso dever quanto às amizades que escolhemos e aqueles com quem nos achegaremos. O rei Davi diz que seus "olhos estarão sobre os fiéis da terra", levando o povo a compreender a necessidade de andar de maneira digna para o qual haviam sido chamados - a semelhança do que Paulo escreve em Ef 4.1. Assim como os olhos do rei terreno de Israel estavam sobre os fiéis da terra, de maneira muitíssima mais intensa está os olhos do verdadeiro Rei celestial, que não faz pouco caso do homem impenitente, mas julga-lhe por suas condutas contrárias à Sua fiel palavra.

"O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que fala mentiras não estará firme perante os meus olhos" (v.7). De maneira semelhante ao que escrevera no versículo anterior, Davi expõe que não aliviará seu julgamento dentro de sua casa. O profeta Josué também expressou pensamento semelhante quando repreendeu o povo dizendo: "Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor" (Js 24.15 - já escrevi sobre isso, clique aqui para ler).

"Pela manhã destruirei todos os ímpios da terra, para desarraigar da cidade do SENHOR todos os que praticam a iniqüidade" (v.8). Por fim, o salmista nos diz que lutará para combater o mau em sua terra. As palavras do salmista certamente não são suaves, mas isso deve-se ao fato do zelo que ele tinha pelo Senhor.

Constantemente lemos no Antigo Testamento - e também no Novo Testamento - as exigências que Deus prescrevia ao reis e líderes do povo, para que não tolerassem o mau dentro de suas terras. De maneira totalmente inversa ao que Deus ordenou, vemos que hoje o mau se prolifera de maneira assustadoramente rápida! Não bastasse a igreja tolerar desvios doutrinários leves - se é que isso existe - agora está passando a admitir coisas que antes jamais haveriam de ser toleradas dentro de uma igreja que se diz seguidora de Cristo!

Tal versículo também nos faz lembrar da importância de termos um magistrado competente para julgar e eliminar os malfeitores da terra. Paulo ao tratar desse assunto com os romanos, lhes escreve dizendo: "Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência" (Rm 13.3-5 - grifo meu). Observamos, portanto, que a luta do cristão também deve ser em prol de uma sociedade mais justa e correta ao olhos de Deus. Jamais devemos ter nosso senso de justiça regulado por filosofias humanas, mas devemos buscar na palavra a santa e correta diretriz para a sociedade.

Que possamos exaltar ao Senhor pelos seus grandes feitos, jamais nos esquecendo de que ele só será engrandecido em nossas vidas quando apartarmos o mau de nossos corações. Que nos ponhamos a caminhar e lutar contra os desejos vis e carnais de nossos dias, não desejando de modo algum colocar "coisa má diante dos nossos olhos".

Amém.

5 comentários:

  1. Gostei muito desta pregação...e os títulos das outras parecem-me bem convidativos à verdade - Fil. 5:21! Porém...vou ter este blog nos meus favoritos, para passar a lê-lo... Aconselharia a trazer nas pregações traduções de certas palavras do Hebraico e/ou Grego para o português...também ajuda na interpretação do texto. Em suma - Foi edificante para mim!
    O Senhor lhe abençoe, e lhe guarde nos Seus soberanos e rectos caminhos, tu e a tua família!
    Paz e Graça em Cristo Jesus - Amém!

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  2. Benção, é necessário mesmo aprendermos isso "não colocar coisas más diante de nossos olhos" em respeito a Deus.

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  3. Deus te abençoe!!!! E continue usando os seus servos. Amém.

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