sábado, 5 de maio de 2012

Devemos Pregar Sobre o Terror da Lei de Deus? - Jonathan Edwards


Não se pode argumentar que uma obra não é do Espírito de Deus porque, aparentemente, os ministros a promovem, insistindo demais nos terrores da santa lei de Deus, com uma boa dose de sentimento e seriedade. Se realmente existir, como geralmente se supõe, um inferno de tormentos tão pavorosos e incessantes, do qual verdadeiras multidões correm grande perigo - e no qual a maior parte dos homens das nações cristãs efetivamente cai, geração após geração, por não perceber sua terrível natureza e, portanto, por não tomar o devido cuidado para evitá-lo -, então por que não seria correto que aqueles que se preocupam com as almas se dessem ao trabalho de conscientizar as pessoas disso? Por que os homens não deveriam ser informados o máximo possível sobre a verdade? Se corro o risco de ir para o inferno, deveria ficar feliz por saber tudo o que posso sobre sua natureza pavorosa. Se estou muito propenso a negligenciar o devido cuidado para evitá-lo, aquele que me explicar a verdade sobre a situação, mostrando da maneira mais vívida possível minha desgraça e o perigo em que me encontro, essa pessoa me prestará o maior dos favores.

Pergunto a qualquer um: não é este mesmo o caminho que os homens tomariam se corressem perigo de uma grande calamidade natural? Suponhamos que algum de vocês que são chefes de família visse um de seus filhos dentro de uma casa totalmente em chamas; se, na iminência de ser consumida pelo fogo, a criança estivesse completamente inconsciente do perigo e não fizesse nenhuma tentativa para fugir depois de você lhe ter gritado, você passaria a falar com ela de maneira apenas fria e indiferente? Você não gritaria bem alto, chamando-a com seriedade do modo mais vigoroso possível, mostrando-lhe o perigo em que se encontra e sua insensatez em demorar? Será que sua própria natureza não lhe ensinaria isso, obrigado-o a tomar tal atitude? Se você continuasse a falar apenas friamente, como fazemos em conversas comuns sobre assuntos indiferentes, será que aqueles que estão a seu redor não pensariam que você está destituído de suas faculdades mentais? Não é assim que a humanidade se comporta em acontecimentos seculares de grande importância que requerem a máxima atenção e muito urgência, e com os quais os homens estão bastante preocupados. Eles não estão acostumados a falar com os outros sobre o perigo que correm e adverti-los apenas superficialmente ou de maneira fria e indiferente. A natureza os ensina de outro modo. Se nós, que cuidamos das almas, soubéssemos como é o inferno e conhecêssemos a situação dos condenados à perdição, ou se por algum outro meio nos tornássemos conscientes de quão pavorosa é a condição deles; se ao mesmo tempo soubéssemos que a maioria dos homens foi para lá e víssemos que nossos ouvintes não se dão conta do perigo - nessas circunstâncias, seria moralmente impossível que evitássemos mostrar-lhes com muita seriedade a terrível natureza de tal desgraça e como estão extremamente ameaçados por ela. Nós até mesmo lhes chamaríamos em voz alta.

[...] Não que eu acredite que devemos pregar somente a lei; acontece que os ministros talvez preguem insuficientemente outras coisas. O evangelho deve ser proclamado tanto quanto a lei, e esta deve ser pregada apenas para preparar o caminho para o evangelho, a fim de que ele possa ser proclamado de modo mais eficaz. A principal tarefa dos ministros é pregar o evangelho: "Pois Cristo é o fim da lei para justificação de todo aquele que crê" (Rm 10.4). Portanto, um pregador ficaria muito além da verdade se insistisse demais nos terrores da lei, esquecendo seu Senhor e negligenciando a proclamação do evangelho. Mesmo assim, porém, a lei realmente deve ser enfatizada, e sem isso a pregação do evangelho talvez seja em vão.

Certamente, é belo falar com seriedade e emoção, de acordo com a natureza e a importância do assunto. não nego que possa existir um pouco de impetuosidade imprópria, diferente daquilo que, pela lógica, decorreria da natureza do tema, fazendo com que forma e conteúdo não estejam de acordo. Alguns dizem que é ilógico usar o medo a fim de afugentar as pessoas para o céu. Contudo, acho que faz parte da lógica o esforço para afugentar as pessoas do inferno, em cuja margem elas se encontram, prontas para cair dentro dele a qualquer momento, mas sem se dar contra do perigo. Não seria justo afugentar alguém para fora de uma casa em chamas? O medo justificável, para o qual há uma boa razão, certamente não deve ser criticado como se fosse algo ilógico.

Por Jonathan Edwards (1703-1758)
Fonte: A Verdadeira Obra do Espírito, Ed. Vida Nova - págs. 40-43

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