sexta-feira, 19 de junho de 2015

Uma casa limpa e uma vida desperdiçada


Você provavelmente já ouviu o ditado: uma casa limpa é sinal de um vida desperdiçada. O que quer que essa frase signifique, ela expressa um pouco da frustração e do senso de futilidade da vida nesse mundo. Pensei nesse ditado quando me deparei com o provérbio “Não havendo bois, o celeiro fica limpo, mas pela força do boi há abundância de colheitas“ (Provérbios 14.4). Um pouco de pesquisa nos mostra que comentaristas se dividem quanto ao real sentido dessa frase, mas creio que há uma explicação que se sobrepõe às demais.

De acordo com essa explicação, o provérbio fala sobre a bagunça de uma vida bem vivida. Tremper Longman diz que a moral da história é que “uma vida produtiva é uma vida bagunçada”.

Eu amo produtividade. Quero dizer, eu amo produtividade quando bem definida – a administração eficaz de talentos, dons, tempo, energia e entusiasmo para o bem dos outros e para a glória de Deus. Por essa definição, cada um de nós, não importa a vocação, deve buscar a produtividade com todo o vigor que possuir. E quando o fazemos, é inevitável que acumulemos alguma bagunça. Somos incapazes de usar nosso tempo, atenção, dons, energia e entusiasmo em busca de objetivos nobres enquanto mantemos cada canto de nossa vida arrumadinho.

A mesa do pastor estará ocasionalmente amontoada de livros e papéis. A bancada do padeiro algumas vezes estará repleta de potes, pães, farinha e açúcar. As mãos do mecânico estarão sujas de graxa e sua loja precisará mais uma vez ser limpa. E o lar – o lar as vezes será bagunçado, desordenado e descaradamente embaraçoso.

Longman diz: “Desejamos uma vida pura e limpa, como o celeiro ideal seria. Entretanto, um celeiro limpo, por natureza, significa um celeiro vazio, já que a presença dos bois não faz do celeiro um lugar arrumado. Entretanto, sem bois não há produtividade”.

Podemos facilmente dizer que desejamos uma casa limpa e organizada, assim como o perfeito celeiro deveria ser. Entretanto, uma casa limpa, por natureza, pode significar uma casa vazia, já que as crianças, maridos, convidados e aqueles filhos do vizinho não podem estar na casa para que ela fique livre de bagunça. Entretanto, sem todas essas pessoas, não há produtividade – não a verdadeira, bíblica, produtividade: sem crianças para cuidar, sem amigos para aconselhar, sem hospitalidade para oferecer.

Como muito nessa vida, você não pode ter tudo. Você não pode ter perfeita ordem e produtividade. Não pode ter uma casa cheia, acolhedora e convidativa, não pode ter todas as crianças alimentadas e arrumadas e ter todas as louças limpas e meias lavadas ao mesmo tempo. Você simplesmente não pode. É claro que isso não é uma desculpa para a preguiça e a negligência. Mas você precisa entender o que Derek Kinder diz: “a organização pode chegar ao ponto da esterilidade. Esse provérbio é o fundamento para a prontidão em aceitar a agitação e para ter a arrumação da bagunça como o preço do crescimento”. Crescimento ou produtividade, conforme for o caso. Uma casa arrumada é a prova de uma vida desperdiçada? De forma alguma. Mas uma casa em plena ordem não é necessariamente evidência de uma vida bem vivida.

Se você faz o que Deus te ordena, confusões certamente aparecerão. Mas tenha bom ânimo: de acordo com o homem mais sábio que já viveu, essa bagunça não é sinal de uma vida desperdiçada, mas de uma vida produtiva.

- por Tim Challies
Fonte: Reforma 21

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