quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cristãos e a Revolução de 1964 (parte 2)


2. Do contexto histórico motivador do exercício desse compromisso

As revoluções, movimentos tendentes a mudar permanentemente o "status quo" de determinado grupo social, nunca foram novidade na História da humanidade. Passando pelas revoluções europeias de 1789 e 1848, tem-se em 1917, na Rússia, um dos emblemas mais fortes do termo "revolução". A ordem foi radicalmente subvertida pelo operariado russo, liderado por Lênin e seus partidários, que eliminaram fisicamente os opositores, fossem eles da corte czarista, da própria sociedade russa, ou até mesmo de seu próprio partido.

O processo revolucionário russo, entretanto, não foi apenas social, e sim político-ideológico, que visava à expansão. Pelo argumento da "libertação opressora" das chamadas "elites" ou "burguesia", que age violentamente contra o proletariado indefeso, fundamentado em ideias como as de Karl Marx, a União Soviética foi adquirindo confiança de países, tanto vizinhos quanto remotos, num processo lento e gradual de ruptura de "antigas ordens", numa clara substituição de poder por poder. E, para isso acontecer, os meios podem ser bastante violentos: a História mostra que os principais genocídios foram empreendidos por ditadores comunistas, como Josef Stálin e Mao Tsé-Tung. Os mortos se contam às centenas de milhões, números que impressionariam até mesmo aos monstros das ditaduras nazista de Hitler e fascista de Mussolini.

Esse mesmo viés ideológico não foi novidade em terras brasileiras. Em episódios não tanto pontuais de nossa História, a agitação comunista, tendente a converter o País num apêndice do Império Soviético, empreendeu tentativas de tomada do poder central. O historiador e general da reserva Agnaldo Dal Nero Augusto cita três episódios como as grandes tentativas de tomada do poder pelos comunistas, ocorridos em 1935, 1961 e 1964. A primeira tentativa advém da própria influência do movimento operário que, se não fosse a ditadura varguista, teria tido divulgação e suficiente financiamento por parte de Moscou, assim como obteve Luís Carlos Prestes: trata-se do lamentável episódio da Intentona Comunista, em que duas guarnições do Exército, uma em Natal e a outra no Rio de Janeiro, se sublevaram para conduzir o País a uma agitação, supostamente sem precedentes. Terminaram rapidamente calados, tanto pelas forças federais, quanto pela própria população, a quem pensaram ter cooptado para aderir a essa nova "ideologia".

O segundo episódio culminou com a renúncia de Jânio Quadros e a ascensão de João Goulart ao poder. Foi a época da chamada "Via Pacífica", nada ostensiva, de modo a não "assustar" o meio social. A tática adotada foi a de aproximação com os países de ideologia socialista e comunista, algo feito até mesmo por Jânio ao condecorar o líder cubano Ernesto "Che" Guevara. Note-se, de passagem, que o contexto mundial de Guerra Fria, o qual colocou o mundo numa bipolarização entre o capitalismo ocidental e o comunismo oriental, cobrava uma postura internacional que nada lembrasse a de um pêndulo, ora lá, ora cá. Em nome de uma "política externa independente", João Goulart, ao mesmo tempo em que o País conversava com o bloco capitalista, com o qual historicamente fora alinhado, empreende viagem à China Comunista. Essa aproximação foi apenas o estopim de uma crise institucional, já iniciada com as diretrizes do Partido Comunista Soviético, com a experiência exitosa da Revolução Cubana em 1959 - que abriu as portas da América Latina para o comunismo e demais manifestações esquerdistas posteriores - dentre outros exemplos mundiais de implantação da ideologia soviética. Nesse meio termo, as pressões de grupos sindicais, das Ligas Camponesas de Julião, dos movimentos ditos "progressistas" de alguns setores da sociedade, aliados com a mesma pretensão: sublevar as instituições pela sua base. As "Reformas de Base", então, eram muito mais do que programas sociais defendidos por João Goulart: elas apregoavam a reforma de uma constituição, nos dizeres dele, "arcaica", e que procuraria legitimar todo um processo de mudança das bases institucionais brasileiras. O movimento reformista procurava mexer nas estruturas, e tinha Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, como grande articulador.

O ápice da sublevação institucional foi tentar mover as bases das próprias Forças Armadas. Já que o funcionalismo público estava "garantido", as escolas e universidades também, além de muitos setores do comércio e indústria, só faltavam as instituições de segurança pública. Elementos apoiadores da verdadeira "revolução" perpetrada por João Goulart e seus pares resolvem agir, cooptando seguidores, como o cabo Anselmo, da Marinha. Tudo parecia acertado, até que na madrugada de 31 de março de 1964 o presidente, legalmente conduzido ao poder, terminava ferindo a própria lei e ordem públicas. Num movimento de unidade entre sociedade civil e Forças Armadas, a resposta foi "não". Estava deflagrado o Movimento Democrático Cívico-Militar de 1964, uma autêntica "contrarrevolução", de base estritamente popular.

Só que a resistência da subversão ao governo democrático não parou de empreender os seus ataques. Em 1966 um atentado terrorista a bomba quase matou o futuro presidente Arthur da Costa e Silva, no aeroporto de Guararapes em Recife (PE); outros se sucederam, marcados igualmente pela violência. Estava deflagrada uma "guerra irregular" contra o estado de Direito. As organizações criminosas, que faziam a chamada "Luta Armada", não tinham rosto, mas agiam contra o próprio povo. Não há como se esquecer do atentado à bomba feito contra o Quartel-General do II Exército - atual Comando Militar do Sudeste, em São Paulo - que estraçalhou o soldado Mário Kozel Filho, que lá estava de serviço na guarda. Vidas interrompidas de modo brutal, injustificável, por organizações criminosas que hoje posam de "paladinos da democracia e da liberdade", cujo objetivo não era trazer uma suposta "liberdade" - até mesmo porque nosso povo, após 1822, sempre foi livre. Seu real objetivo era conduzir o País a uma ditadura comunista, muito mais mortal e prejudicial em todos os sentidos. 

Não dá para imaginar, com absoluta exatidão, o que teria ocorrido no Brasil, caso ele abraçasse o comunismo que essas organizações quiseram impor ao nosso povo. Efeitos práticos se obtêm de outras "experiências comunistas", ao redor do mundo: milhões de mortos, outros deportados a "desertos gelados", fome, miséria, derrocada econômica, execuções sumárias - praticadas inclusive pelos "tribunais revolucionários" através dos denominados "justiçamentos". Durante mais de vinte anos de regime militar, os mortos e feridos se contam às poucas centenas, ao passo que a líderes comunistas, como já mencionamos, foram responsáveis por centenas de milhões de baixas, inclusive entre seus próprios aliados. Ademais, não houve, em toda História recente da humanidade, regime que mais perseguiu, torturou e matou seguidores de Jesus Cristo como os comunistas. Não se fala, na reportagem da Istoé, que não houve fechamento de igrejas cristãs ou mesmo católicas, durante o período contrarrevolucionário; não houve perseguições a protestantes, tampouco queima de Bíblias e material evangelístico, tampouco de sumiço de evangélicos. Havia liberdade de expressão da fé cristã, mesmo em época de exceção. Havia respeito. E em sociedades comunistas, que religião existe se não for o culto à personalidade e à "Mãe Rússia"? No comunismo só há lugar para o ateísmo, uma vez que, segundo frase célebre de Marx, a "religião é o ópio do povo".

A reação ao terrorismo, deflagrado pela já dita guerra irregular, teve de ser comedido, porém enérgico, para que o processo contrarrevolucionário não fosse fracassado. Mesmo em situações-limite, entretanto, a ação foi controlada, pois os agentes do Estado precisam atuar com responsabilidade e senso crítico. O que os derrotados apontam, entretanto, é diferente: alegam um "banho de sangue", torturas, assassinatos, sequestros, superdimensionando a ação precisa da legítima repressão ao comunismo, criando um "ente teratológico", um monstro que vestia farda. Taxaram governantes de "ditadores", sendo que todos eles foram escolhidos e empossados conforme a Constituição, ainda que de modo indireto, bem como seus vices. Falam de "aparelhos estatais de tortura", mas esquecem-se dos seus próprios aparelhos, destinados a imprimir cartilhas de terrorismo, ao trabalho com armas e ao sequestro de natureza puramente ideológica. Isso nada mais constitui do que a mais pura manipulação ideológica, a mesma que hoje produz uma visão equivocada da História, a começar do que se leciona na maior parte dos bancos escolares. Chamam de "ditadura" a um governo legitimamente apoiado e exercido popularmente, com o suporte das segurança nacional. Pior do que isso é a vitimização de agentes públicos que, no passado, cumpriram com honradez o seu dever e o seu compromisso com a Nação: são caluniados mesmo após a morte, injuriados com a pecha de "gorilas", de "torturadores", num autêntico processo de revanchismo que, lamentavelmente, encontra-se em pleno curso e produz, de modo indevido, indenizações concedidas a quem, de maneira deliberada, se envolveu em práticas contra o Estado de Direito. Querem ferir a memória do povo e eliminar a verdade histórica dos fatos. Querem tratar a lembrança do 31 de março como o "começo de um período negro", quando, na verdade, uma data como essa deve motivar a declaração: "quiseram tirar de nosso povo Deus, Pátria, família e liberdade, mas o civil e o militar não deixaram". 

Mesmo sob fogo cerrado - com armamento, inclusive - por parte dos terroristas, os mandatários fizeram valer a lei e a ordem, e trouxeram soluções para problemas em diversas áreas, especialmente na questão da infraestrutura, economia e educação. Evidentemente, considerando o contexto global e as crises do petróleo em 1973 e 1979, não havia como a política e economia brasileiras estarem alheias às intempéries estrangeiras, mas realizações notáveis foram registradas, e não podem ser negadas por uma análise histórica honesta e imparcial. Por fim, antevendo o retorno à democracia plena e a possíveis represálias trazidas pelos subversivos que regressavam dos seus exílios - voluntários -, o governo sancionou a Lei da Anistia. Mesmo assim, tentaram romper com esse compromisso histórico e derrubar uma ordem presidencial, na ânsia de punirem seus supostos "algozes", os mesmos que frustraram seus planos de tornarem o Brasil uma nação comunista.

- por Cleber Olympio

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