sábado, 27 de outubro de 2012

Incompreensível e Imutável é o Amor de Deus



E, por esta razão, Paulo diz que esse amor com que Deus nos abraçou “antes da criação do mundo” [Ef 1.4] fora estabelecido e fundamentado em Cristo. Estas coisas são evidentes e em estrita concordância com a Escritura e harmonizam excelentemente entre si essas passagens onde se diz que nisto Deus manifestou seu amor para conosco: que o Filho Unigênito foi entregue à morte [Jo 3.16], e todavia fora inimigo antes que, pela morte de Cristo, se nos tornasse favorável [Rm 5.10]. Mas, para que estas coisas sejam mais firmes entre aqueles que requerem o testemunho da Igreja antiga, citarei uma passagem de Agostinho, onde isto mesmo se ensina: “Incompreensível”, diz ele, “e imutável é o amor de Deus. Pois ele começou a amar-nos, não desde que fomos reconciliados com ele pelo sangue de seu Filho; pelo contrário, ele nos amou antes da formação do mundo, para que também nós lhe fôssemos filhos juntamente com seu Unigênito, mesmo antes que viéssemos a ser algo. Que, portanto, fomos reconciliados pela morte de Cristo, não se deve entender como se o Filho nos reconciliasse com o Pai para que este começasse a nos amar, porque antes nos odiava; mas foi reconciliado com quem já antes nos amava, ainda que, pelo pecado, nutria inimizade para conosco. O Apóstolo é testemunha de que afirma a verdade: ‘Deus prova seu amor para conosco em que, enquanto éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós’ [Rm 5.8]. Tinha ele, portanto, amor para conosco ainda quando, exercendo inimizades para com ele, praticávamos a iniqüidade. E assim, de modo maravilhoso e divino, ainda quando nos odiava, ele nos amava. Pois ele nos odiava enquanto éramos como ele nos fizera. E porque nossa iniqüidade não havia consumido de todo sua obra em nós, sabia, a um só tempo, em cada um de nós, não só odiava o que fazíamos, mas também amava o que ele havia feito.” É isso o que diz Agostinho.

- João Calvino, Institutas, Livro II, Cap. XVI, 4.

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