quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma Fonte Espiritual, Sobrenatural e Divina - Jonathan Edwards


As verdadeiras afeições não podem ser produzidas por qualquer esforço humano. Em primeiro lugar, elas procedem de uma fonte espiritual, argumenta Edwards. Como se deve entender esse conceito? A palavra "espiritual" não é usada em referência à parte imaterial e incorpórea do ser humano, mas para expressar o relacionamento com o Espírito de Deus. E através dessa relação "que pessoas ou coisas são denominadas espirituais no Novo Testamento". Uma evidência bíblica desse fato está em 1 Coríntios 2.13-15: "Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém".

Paulo estabelece uma antítese entre o homem natural e o homem espiritual. Aquele não tem o Espírito. Por outro lado, este tem o Espírito Santo habitando em si, concedendo-lhe uma nova natureza, uma "fonte divina e sobrenatural de vida e ação".

Em segundo lugar, a partir dessa habitação sobrenatural e divina do Espírito um novo princípio e uma nova natureza são comunicados ao homem. Aqueles que têm essa experiência tornam-se participantes da natureza divina. O testemunho de Pedro em sua segunda epístola é o seguinte: "... pelas quais [a glória e a virtude de Deus] nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo" (2Pe 1.4). Não é possível escapar da corrupção do mundo através dos esforços humanos. Somente aqueles que participam da natureza divina são capazes de enfrentar e vencer esse difícil desafio. Participar da natureza de Deus não deve ser entendido no sentido de tomar parte da essência de Deus, mas de ser feitos participantes da plenitude de Deus (Ef 3.17-19). Desfrutar a natureza do Espírito é partilhar do amor de Deus (ljo 4.12,15,16), da comunhão íntima com Deus (Jo 17.21) e da santidade de Deus (Hb 12.10), entre outros privilégios. Esses novos princípios de natureza concedidos pelo Espírito à mente das pessoas, diz Edwards, são "inteiramente diferentes... de tudo o que as suas mentes experimentaram antes que elas fossem santificadas". Consideremos um exemplo simples, o amor de alguém por sua família. Antes de ter uma nova natureza, a pessoa ama a sua família por razões pessoais e meramente terrenas. Mas quando o Espírito concede uma nova natureza, são acrescentadas novas razões para amar a família. Por exemplo, manifestar amor por Deus e o desejo de dar testemunho da glória de Deus.

Deve-se observar que o Espírito pode atuar sobre a mente de homens naturais. Mas quando o faz, a fim de cumprir os propósitos de Deus, ele somente "move, imprime, auxilia, aperfeiçoa ou de algum modo atua sobre princípios naturais, mas não concede nenhum novo princípio espiritual". Conforme vimos, Balaão é um claro exemplo desse fato. O Espírito atuou sobre a sua mente, movendo, impressionando e assistindo sem conceder qualquer princípio espiritual novo. Semelhantemente, quando o Espírito aperfeiçoou as habilidades naturais de Bezalel e Aoliabe como artesãos (Êxodo 31), ele não estava lhes concedendo um princípio espiritual.

Uma vez mais, Edwards lembra que essa nova fonte espiritual, sobrenatural e divina que opera no coração do homem não deve ser confundida com meras impressões sobre a imaginação. Ouvir alguma voz, ter alguma visão, ter passagens bíblicas trazidas à mente e ter alguma revelação de fatos secretos são experiências que não garantem a regeneração. Elas não podem ser identificadas com a nova percepção que descrevemos anteriormente. Edwards demonstra a sua preocupação de que algumas experiências externas possam ser consideradas evidências de verdadeira conversão e novamente as discute. Ele torna a enfatizar que ideias externas ou aparências exteriores imaginadas podem ser facilmente suscitadas pelo diabo, não consistindo em uma evidência confiável de regeneração. Portanto, não se deve confiar nessas impressões da mente. Elas não são um fundamento estável para a fé.

A verdadeira experiência espiritual vem da atuação interna do Espírito sobre a alma, ao deixar nesta a sua marca divina estampada. Conforme Edwards declara:

E este santo selo ou imagem impressa... estampada pelo Espírito nos filhos de Deus, é a sua própria imagem. Essa é a evidência pela qual se conhece que eles são filhos de Deus, o fato de que eles têm a imagem de seu Pai estampada sobre seus corações pelo Espírito de adoção.

Essas comunicações vitais e essa habitação interior do Espírito não diferem essencialmente daquelas que os santos desfrutam no céu. A diferença não está na qualidade, mas na quantidade. Afinal, estamos sob a influência do mesmo Espírito. Edwards registra esse argumento, declarando:

É através das comunicações vitais e da habitação interna do Espírito que os santos têm toda a sua luz, vida, santidade, beleza e alegria no céu; e é através das comunicações vitais e da habitação do mesmo Espírito que os santos têm toda a luz, vida, santidade, beleza e conforto sobre a terra, somente que comunicadas em menor medida.

Esse conceito é um precioso indício em nosso esforço de discernir as características de um genuíno avivamento. Se não existe nenhuma diferença essencial entre as comunicações terrenas e celestiais do Espírito às almas dos santos, é de se esperar que tais comunicações do Espírito Santo como luz, beleza, santidade e alegria afetem positivamente a vida diária.

Por Luiz R. F. de Mattos 

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