Calvino entendia o Livro de Salmos como o manual canônico da piedade. No prefácio de seu comentário de Salmos, constituído de quatro volumes - sua maior exposição de um dos livros da Bíblia -, Calvino escreveu: "Não há nenhum outro livro em que somos mais perfeitamente ensinados quanto à maneira correta de louvar a Deus ou em que somos mais poderosamente estimulados à realização desse exercício da piedade". O interesse de Calvino pelo Saltério era motivado por sua crença de que o livro de Salmos ensina e inspira a genuína piedade por (1) ensinar-nos a nossa necessidade de Deus; (2) servir como nosso credo cantado; (3) demonstrar a maravilhosa bondade de Deus; (4) fomentar a oração; (5) prover um meio para a adoração coletiva; (6) mostrar a profundidade da comunhão que podemos gozar com Deus; (7) abranger todo o espectro de experiência espiritual, incluindo a fé e a incredulidade, a alegria de Deus e a tristeza pelo pecado, a presença e a deserção divina. Como disse Calvino, os salmos são "uma anatomia de todas aspartes da alma".
Calvino se imergiu no livro de Salmos por vinte e quatro anos, como comentador, pregador, erudito bíblico e líder de adoração. Bem cedo, ele começou a obra de versões métricas dos salmos para serem usadas no culto público. Posteriormente, ele recrutou os talentos de homens como Clement Marot, Louis Bourgeois e Theodore Beza para produzirem o Saltério de Genebra. Dois anos antes de sua morte, Calvino se deleitou em ver a primeira edição completa desse Saltério.
O Saltério de Genebra, uma coleção notável de 125 melodias, expressa claramente as convicções de Calvino de que a piedade é mais bem promovida quando se dá prioridade ao texto e não à melodia, enquanto se reconhece que os salmos merecem sua própria música. Uma vez que a música deve ajudar na recepção da Palavra de Deus, Calvino disse que ela de ser "séria, dignificada, majestosa e modesta" - qualidades convenientes para o benefício de uma criatura pecaminosa na presença de Deus. Isso protege a soberania de Deus no culto e promove a conformidade apropriada entre a disposição interior do crente e a sua confissão exterior.
Cantar salmos é um dos quatro principais atos de culto na igreja, acreditava Calvino. Ele o entendia como uma extensão da oração. Além disso, Calvino pensava que o cantar coletivo subjugava o coração caído e treinava as afeições íntimas no caminho do piedade. Asim como a pregação e as ordenanças, o cantar salmos disciplina as afeições do coração na escola da fé e eleva o crente até Deus. Também amplifica o efeito da Palavra sobre o coração e aumenta o vigor espiritual da igreja. Com a direção do Espírito, o cantar salmos harmoniza o coração dos crentes para a glória.
Durante séculos, o Saltério de Genebra foi uma parte integral do culto calvinista. Estabeleceu o padrão para os livros posteriores de salmos reformados franceses, bem como para os ingleses, holandeses, alemães e húngaros. Como livro devocional, o saltério acalentava os corações de milhares, mas as pessoas que o cantavam entendiam que seu poder não estava no livro, e sim no Espírito que gravava as palavras no coração delas.
O Saltério de Genebra promovia a piedade por estimular uma espiritualidade da Palavra que era coletiva e litúrgica; e isso anulava a distinção entre a liturgia e a vida. Os reformados cantavam salmos espontaneamente, em suas igrejas, no lar no local de trabalho, nas ruas e nos campos. O cantar salmos se tornou um "meio de auto-identificação dos huguenotes". De fato, esse exercício piedoso se tornou um símbolo cultural. T. Hartley Hall escreveu: "Nas versões métricas ou bíblicas, os Salmos, juntamente com as melodias em que foram colocados, são o coração e a alma da piedade reformada".
por Joel R. Beeke
Fonte: Vivendo Para a Glória de Deus, págs. 200-202
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