sexta-feira, 31 de maio de 2013

Como identificar falsos profetas?


"...O maior dom do Espírito Santo no Antigo Testamento era o de profecia. Contudo, quantos falsos profetas havia! Alguns deles serviam a outros deuses (1Rs 18.26-29). A mente deles era na verdade possuída pelo diabo, que os capacitava a declarar aquilo que outros homens desconheciam (1Co 10.20;2Co 4.4).

Outros professavam falar em nome e pela inspiração do Espírito do Senhor, o único verdadeiro e santo Deus, mas eram falsos profetas (Jr 28.1-4Ez 1314).

Em tempos de perigo e de ameaça de calamidades sempre há os que afirmam ter revelações extraordinárias. O diabo os instiga a encher os homens de falsas esperanças para conservá-los no pecado e em segurança enganosa. Quando então vem o juízo do Senhor, são apanhados de surpresa. Portanto, todo aquele que diz ter revelações extraordinárias, encorajando os homens a se sentirem seguros vivendo pecaminosamente, faz a obra do diabo, pois tudo aquilo que encoraja os homens a se sentir seguros em seus pecados procede do diabo (Jr 5.30, 3123.9-33).

No Novo Testamento o evangelho também foi revelado aos apóstolos pelo Espírito. Foi pregado com o seu auxílio e tornado eficaz para a salvação de almas pela sua obra e poder. Na igreja primitiva a pregação do evangelho era acompanhada dos milagres realizados pelos apóstolos. Contudo, Pedro adverte a igreja de que assim como na igreja do Antigo Testamento havia falsos profetas, do mesmo modo existiriam falsos mestres no Novo (2Pe 2.1).

João nos diz como devemos testar esses falsos mestres (1Jo 4.1-3). Primeiramente ele nos adverte a não dar crédito a todo espírito, e em segundo lugar, a prová-los por sua doutrina. Não devemos ser persuadidos pelos extraordinários milagres que possam fazer, mas pela doutrina que ensinam (Ap 2.2). Esta é uma regra apostólica (Gl 1.8).
Deus deu à igreja primitiva dois recursos para se protegerem dos falsos profetas e mestres: a sua Palavra, e a capacidade de discernir os espíritos. Contudo, ao cessarem os dons extraordinários do Espírito Santo, o dom de discernir espíritos também cessou. Agora, nos restou apenas a Palavra para testarmos as falsas doutrinas."...

- por John Owen (1616-1683)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O que se entende por "quase cristão"?



Um "quase cristão", se o consideramos em relação aos seus deveres para com Deus, é uma pessoa que divaga entre dois pensamentos, que oscila entre Cristo e o mundo; que, se pudesse, conciliaria Deus e Mamon, luz e trevas, Cristo e Belial. É verdade, ele tem uma inclinação para religião, mas, então, é extremamente cauteloso a fim de não ir muito longe nela; seu coração enganoso está sempre clamando "Poupe-se, não faça nenhum mal a si mesmo". Ele ora para que a vontade de Deus seja feita na terra assim como no céu. Mas apesar disso, é muito parcial em sua obediência e ingenuamente espera que Deus não seja extremista para contabilizar tudo que ele deliberadamente faz de errado; embora o inspirado apóstolo o tenha alertado que "todo aquele que pecar em um ponto será culpado de todos". 

Mas, principalmente, ele é alguém que depende muito de rituais externos e, firmado nisso, enxerga-se como justo e menospreza os outros; contudo, ao mesmo tempo ele é tão estranho à vida divina quanto qualquer outra pessoa. Em suma, ele aprecia a forma, mas nunca experimenta o poder divinal em seu coração. Ele segue ano após ano, participando das ordenanças, mas, assim como as vacas magras do sonho de faraó, ele nunca melhora, pelo contrário, piora cada vez mais.

- por George Whitefield-(1714–1770)
Fonte: O Quase Cristão, págs. 4-5


terça-feira, 28 de maio de 2013

Como Estudar Teologia? (parte 3 - Alerta Sobre Perigos)


Clique para ler: parte 1parte 2parte 3parte 4, parte 5, parte 6

Nas duas primeiras partes de nosso estudo, vimos alguns apontamentos acerca do estudo teológico e o que vem a ser teologia propriamente dita. Refletimos sobre os motivos necessários para todo cristão estudar teologia e o que ele deve compreender acerca deste tão imperioso assunto. Precisamos, entretanto, antes de avançar ao modus operandi, isto é, sobre como executar, levantar alguns luminosos alertas quanto ao estudo, de modo que todo cristão esteja certo dos perigos que irá encontrar. Ainda que o estudo seja algo necessário e absolutamente benéfico, se a dosimetria não for correta, poderá acarretar alguns efeitos colaterais.

Queira o leitor atentar para os seguintes perigos:

1. Orgulho

Corretamente já pontuamos: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16.18), mas o frisamos novamente, pois o orgulho foi um dos primeiros atos realizados após a queda de Adão e Eva. O orgulho fez os primeiros pais colocar a culpa no próximo (Gn 3.11-13) e crer que não eram tão dignos de reprovação. O orgulho os cegou de sua nudez e os fez desejar compartilhar do erro, a fim de os eximir da culpa.

Jamais se esqueça da imperiosa necessidade de ser humilde, "Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém" (Rm 12.3). Igualmente: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3). A falta de humildade revela um caráter não regenerado.

Não se esqueça de Maria, o qual o Senhor elegeu para dar a luz ao Unigênito e nos diz a Palavra que Deus "atentou na baixeza de sua serva" (Lc 1.38); Paulo serviu "ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações" (At 20.19); o apóstolo recomendou aos irmãos da igreja em Éfeso, para "que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4.1-3); também nos é dito que um dos frutos da eleição, as boas obras para o qual todos os Seus foram eleitos (Ef 2.10), é a humildade - "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade" (Cl 3.12); Tiago recomendou um viver humilde: "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria" (Tg 3.13); não menos importante é a sentença de Pedro: "Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (1Pe 5.5).

Ademais, a falta de humildade é rebeldia contra o Senhor. Ela é completa insanidade, pois em seu cerne está o se achar superior a Deus; é a semente maligna sussurrando palavras como fez à Eva: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" (Gn 3.1). O pecado intenta nos levar a duvidar de que Deus é soberano e de Sua Palavra. Assim exclamou Davi: "Quem sou eu, Senhor DEUS, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?... grandioso és, ó SENHOR Deus, porque não há semelhante a ti, e não há outro Deus senão tu só" (2Sm 7.18, 22).

Relembre-se, portanto, quantas vezes a Escritura nos exorta à humildade e passe a buscar, pelo poder do Espírito Santo, um viver digno. Esteja ciente de que o pecado, sempre, o forçará ao orgulho - vença-o, porém, com a palavra de Deus (Mt 4.1-11; Ef 6.17).

2. Irritação

É fato conhecido que a superlotação de tarefas e pensamentos tende a esmorecer o homem e o deixar, muitas vezes, doente e irritado - isto também pode acontecer com o estudo bíblico e teológico.

Engana-se o leitor que imagina o estudo teológico sempre com as situações e condições favoráveis ao estudo, como se o cristão pudesse, invariavelmente, estudar teologia às margens de um pequeno rio e meditar ao canto dos colibris, tendo toda calma e sossego deste mundo.

Muitas vezes o estudante terá pouco tempo para se dedicar; noutros momentos a situação requererá urgência e não haverá tempo suficiente para se perscrutar boa quantidade de livros; ainda em outras ocasiões terá de se debruçar sobre assuntos que não lhe são do mais completo interesse no momento ou que possui severas dificuldades para entender; pessoas lhe pressionarão por uma resposta; novos livros serão lançados e a falta de dinheiro será um empecilho... Uma centena de coisas acontecerá, todavia, longe de imaginarmos que a irritação é algo natural e deva ser vista como normal. O autor de provérbios assim adverte: "A pedra é pesada, e a areia é espessa; porém a ira do insensato é mais pesada que ambas" (Pv 27.3).

Mas nem todo tipo de ira é pecaminoso. Nosso Senhor é descrito como sendo "juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Sl 7.11). O próprio salmista conclama o povo de Deus a se irar, mas não pecar - "Perturbai-vos e não pequeis" (Sl 4.4). Desta forma, é necessário que o estudante de teologia seja consciente das inúmeras vicissitudes que ocorrerão durante o estudo e procure, sob a graça do Soberano, manter o padrão: "sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério" (2Tm 4.5). Irritações virão, "mas vence o mal com o bem" (Rm 12.21).

3. Preguiça 

Não devemos ser demasiadamente pesados quando tecemos comentários e indagações sobre nuances da vida cristã. Assim como Cristo não esmaga a cana quebrada e nem apaga o caniço que fumega (Mt 12.20), também não devemos colocar um fardo além do que a Escritura nos prescreve. Isto significa dizer que devemos ser cautelosos quando exortamos a outrem e isto inclui o perigo da preguiça.

Ocorrerá a todo estudante, cedo ou tarde, altas doses de preguiça e pouquíssima vontade de estudar. Não creia o leitor que conseguirá, sempre, por mais puritano que seja, ter santa disposição para estudar as Escrituras, afinal, "o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1Pe 5.8). Inúmeras vezes os homens que aspirarem o ministério da Palavra, por exemplo, fraquejarão e terão imensa dificuldade em preparar estudos e sermões para a igreja. Desânimo, preguiça e toda sorte de sentimentos e fraquezas lhe acometerão. Após anos preparando sermões semanalmente, uma hora você irá cansar.

Entretanto, não se esqueça, jamais, que se quiser combater o bom combate e finalizar a carreira da fé (2Tm 4.7), precisará perseverar. Quando a preguiça acometer sua alma, tenha em mente: "No dia da minha angústia clamo a ti, porquanto me respondes" (Sl 86.7). Reflita sobre a mulher virtuosa e em como ela é descrita, estando "atenta ao andamento da casa, e não come o pão da preguiça" (Pv 31.27). Como Paulo escreveu à igreja em Tessalônica, que erroneamente acreditava estar em iminência a segunda vinda de Cristo, bom será recordar que a preguiça leva a um viver de maneira desordeira: "Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs" (2Ts 3.10-11 - grifo meu autor).

4. Ostracismo

Conforme avança no estudo teológico saudável, bíblico e histórico (adiante falaremos sobre isso), inúmeras vezes o cristão começará a se sentir "um peixe fora d'água", isto é, o estudo o fará deduzir que todas as outras pessoas estão em erro e isto o tenderá a levar, num primeiro momento, a desejar combater desenfreadamente (e este é o pecado) toda heresia e posteriormente, vendo que é impossível endireitar o mundo pelas próprias mãos, desejará se isolar e não mais comungar em qualquer igreja.

No entanto, devemos alertar sobre este perigo: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia" (Hb 10.24-25 - grifo do autor). É bem verdade ser possível não existir, após o Senhor abrir os olhos do entendimento (Ef 1.18), uma igreja biblicamente saudável por perto¹. A resposta para qual atitude tomar neste caso, nunca será fácil, pois se de um lado o permanecer em uma falsa igreja é algo pernicioso e contrário à Bíblia, por outro, subsiste a esperança de que tal igreja possa ser reformada e ganhar verdadeira vida através do poder de Deus mediante Seus agentes.

De qualquer forma e seja o que Deus lhe orientar, seja sábio e aprenda uma sentença importantíssima: "Esforça-te, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o SENHOR o que bem parecer aos seus olhos" (2Sm 10.12). Nosso dever não é conhecer a mente do Senhor - "Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?" (1Co 2.16) -, mas tal fato não nos autoriza a esquiva da batalha. Lute por melhorar sua igreja e somente a deixe se tiver plenamente convicto de que esta é a ordem do Senhor.

Quando se ver sozinho e sem irmãos que partilhem da mesma doutrina, se esforce para ser como o apóstolo: "eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos" (1Co 10.33). Certamente que Paulo não está sugerindo que devamos omitir a Verdade para acariciar o ego do pecador, jamais (veja Levítico 5.1)! O que ele instrui é sobre o dever de buscar fazer todos as coisas para a glória de Deus (1Co 10.31), "de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus" (1Co 10.32).

Assim, cuide para não fantasiar com uma falsa redoma espiritual em sua volta e crer que você é demasiadamente santo para congregar com os outros cristãos. Caso não seja realmente possivelmente frequentar alguma igreja com sã doutrina, busque auxílio do Senhor sobre o que fazer; faça bom uso das novas tecnologias e converse com pessoas maduras acerca do problema. O Espírito Santo, no tempo oportuno, lhe trará a resposta. Jamais, porém, fique sozinho, "Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?" (Ec 4.11).

5. Tentar mudar o mundo

Se temos o pecado do isolamento, do viver semelhante à uma ostra que dedica sua vida à formar a bela pérola e só com ela parece se importar, temos, igualmente, o pecado de desejar, pelas próprias forças, mudar o mundo em que vivemos. Ainda que os discípulos fossem pessoas que efetuaram profundas mudanças em seu meio social - "E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui" (At 17.6) -, eles não criam que seriam capazes de realizar tal grande ato.

Os discípulos de Cristo devem rogar, "pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara" (Mt 9.38). Após iniciar seus estudos, você perceberá que há muito mais trabalho para se fazer do que preteritamente era cogitado. Verás, como disse o Senhor, que "A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros" (Mt 9.37). Nestes momentos, então, entenda que sozinho e por suas próprias forças, coisa alguma você poderá realizar, "porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).

Esforce-se para ser um bom cristão nas pequenas áreas da vida. Não deseje viajar à África ou realizar missões no Senegal, sem antes se certificar de que tem sido um diligente crente nas mais singelas áreas do cotidiano. Lembre-se da primeira comissão dada por Jesus aos seus discípulos: "ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10.6).

Mas, convém sublinhar o fato de não devermos crer que não temos um chamado neste mundo para o conformar à Bíblia. O Salmo 2 é clarividente: "Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor" (Sl 2.10-11). O cristão tem o dever de lutar pela Lei do Senhor - "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles" (Is 8.20). A todo estudante de teologia (como vimos no primeiro capítulo, deve se estender a todo cristão) é imposto a necessidade de lutar pelo Evangelho. Inquestionável o fato de nossas armas não serem carnais (2Co 10.4), mas isso não nos exime da obrigação de orar e agir em prol do avanço do evangelho, da transformação das culturas malignas e o estabelecimento de leis que se pautem pela Escritura.

Seja, porém, sempre prudente e busque executar o mandato que Deus lhe deu. Não deseje causar mudanças globais, enquanto sua casa não está em ordem e seus vizinhos não ouviram do Evangelho.

6. Falsos mestres

Falsos mestres são pessoas legais - mantenha esta afirmativa viva durante seus estudos. Tais pessoas, geralmente são seres humanos divertidos e que demonstram amor pelo próximo. Apague a noção de que os tais são carrascos, escrevem livros flagrantemente heréticos e buscam evidentemente destruir a Igreja de Cristo, como se pusessem anúncios de suas tramas malignas. Um bom falso mestre sempre se parecerá um cordeiro (Mt 7.15). Tamanha é a astúcia dos falsos mestres, que até mesmo Davi julgava ter como conselheiro, um crente no Senhor - descobrindo, porém, que era um falso profeta.

A Bíblia nos diz que "Aitofel era do conselho do rei" (1Cr 27.33). Davi tomava direções para seu reino a partir da amizade com tal homem, pois julgava ser ele um homem fiel a Deus: "E era o conselho de Aitofel, que aconselhava naqueles dias, como se a palavra de Deus se consultara; tal era todo o conselho de Aitofel, assim para com Davi como para com Absalão" (2Sm 16.23 - grifo do autor). Todavia, Aitofel se juntou a Absalão, filho de Davi (2Sm 13.1) e com ele conspirou matar o rei (2Sm 17.1). Ademais, Aitofel era um homem tão ímpio, que junto com Saul (1Cr 10.4) e Judas (Mt 27.5), é contado no rol dos que se suicidaram (2Sm 17.23). Não pudera ser diferente que Davi muito se amargurou quando soube da traição (Sl 55.12-14).

Por isso, certifique-se, dentro do que é possível, verificar com quem você trilha seu caminho nos estudos. Jesus Cristo salientou: "Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas" (Lc 6.26). Um falso profeta mui dificilmente repreenderá a outrem. Um dos lemas favoritos de tais bestas anticristãs é que o amor deve prevalecer sobre a doutrina - como se a sã doutrina não fosse o próprio amor! Em outras palavras, os falsos mestres insistem que é melhor amar o erro do que o expor à luz do Evangelho. Aqui, de muita valia é o conselho proverbial: "O que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia com a língua" (Pv 28.23).

Melhor lhe será ter um Natã por perto, do que um Aitofel.

7. Criar a própria teologia

Alguns homens, no intento de promover uma suposta unidade entre os cristãos e mais particularmente com os que se debruçam no estudo teológico, afirmam que cada indivíduo deve "criar sua própria teologia", procurando transmitir o ideal de "liberdade de pensamento" e desapego ao passado e dogmas respectivos. Tais pessoas procuram, em vez de colocar limites ao estudo e promover um sadio crescimento na fé, abrir as portas para toda e qualquer forma de pensamento, deixando ao arbítrio particular sobre quais doutrinas acatará e quais rejeitará. Nada poderia ser mais maligno do que isso.

Nos diz a inerrante palavra de Deus:  "Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria?" (Jó 40.2). O  estudante precisa ter por certo que existe somente uma verdade nas Escrituras e isto implica em dizer que é falsa a afirmativa de poder ser construída uma teologia própria, como se ao homem fosse dado o poder de acatar ou não determinada doutrina.

Nos próximos capítulos falaremos sobre como entender qual doutrina é genuinamente bíblica, mas por ora, queira atentar para o fato de não ser possível, ao homem mortal, escolher sua teologia - isto é, não cabe ao homem pecador desejar seguir a teologia reformada, luterana, anglicana ou pentecostal, por exemplo. Não é a afeição por determinadas práticas que confere o juízo de veracidade. É necessário que o cristão estude todas as doutrinas à luz da Bíblia e não sob seus desejos e paixões.

Convém lembrar, porém, que devido ao pecado, jamais os homens serão uníssonos em todas as doutrinas. Se por um lado temos de cuidar para não criarmos um conjunto teológico próprio, é também verdadeiro que devemos ser sinceros e admitirmos que a perfeita e completa união somente se evidenciarão no céu, onde todos os Seus santos, cada qual com suas falhas e pecados - mas lavados pelo sangue regenerador de Cristo Jesus (1Co 6.11) - terá o completo gozo e união sob Cristo, "No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor" (Ef 2.21).

8. Desejar pregar e escrever artigos

Conforme o tempo passará, o estudante começará a se sentir capaz de proferir algumas palavras para os amigos e familiares, bem como imaginará ser útil escrever alguns artigos e, assim, passará a cogitar ter um site para divulgação de seus materiais. Acautele-se, todavia.

Jesus alerta: "Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem... E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi" (Mt 23.1-3; 6-7). Tais palavras de nosso Senhor devem levar todo cristão a refrear sua mente antes de iniciar uma nova empreitada pública, a fim de poder se certificar sobre quais os motivos que o instam a desejar compartilhar do evangelho.

Muitos têm feito sites, "blogs" e toda sorte de boas ferramentas atuais, mas movidos por um falso zelo pelo evangelho. Se pudéssemos perscrutar corações, certamente encontraríamos uma miríade de pessoas que, sob a máscara de pregar "o evangelho á toda criatura" (Mc 16.15), se utiliza da publicidade para catapultar seu ego e se sobressair entre os demais.

Procure entender que "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Note a vida de Jesus Cristo e reflita sobre seu ministério público, o qual veio a ser registrada, para nosso saber, somente após os Seus trinta anos de idade (Lc 3.23); o apóstolo Paulo passou vários anos aos pés do mestre Gamaliel (At 22.3), antes de sair pregando a Palavra.

Desta forma, mister é grifar as palavras de Tiago: "Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo" (Tg 3.1). Embora o desejo de pregar, escrever artigos e publicar a sã doutrina seja louvável e necessário, muito cuidado deve haver com o árduo desejo de intentar fazer obras ao Senhor. Lembre-se de Davi e seus homens, quando desejaram buscar a arca da aliança em posse dos filisteus e não atentaram para o modo correto de a trazer, imitando os filisteus (1Sm 6.7; 2Sm 6.3) e atraindo juízo de Deus (2Sm 6.7). Não se esqueça de Saul, que mesmo avisado sobre não trazer os despojos da guerra, creu que uma boa intenção do coração seria mais valiosa ao Senhor do que Sua palavra (leia 1Sm 15).

Seja prudente. Ore, medite e não deseje ovações públicas, afinal, "teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente" (Mt 6.4)

9. Debates e contendas

Escrevendo à igreja em Corinto, Paulo revela um dos motivos pelo qual lhes escrevia: "Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo" (1Co 1.11-12; 1Co 3.3). Paulo era consciente do dever do cristão de evitar contendas, pois isto é fruto de um coração ímpio - "O orgulhoso de coração levanta contendas" (Pv 28.25).

O cristão deve ser alguém que sabe defender a sã doutrina: "estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (1Pe 3.15). Todavia, há um tempo para se defender a fé cristã. Não creia que após ter lido alguns livros e frequentado algumas aulas, estará apto a participar de inúmeros debates. Ademais, assim diz a Escritura sobre "debates": "rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas" (2Tm 2.23); "não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs" (Tt 3.9).

Embora determinadas conversas e com tom de confronto pela Escritura possam ser saudáveis (quando regidas pelos ditames bíblicos), é crível que cogitemos que a maioria dos debates serve, tão somente, para elevar o orgulho humano, fazendo com que  homens e mulheres, semelhantemente à conhecida "torre de Babel", sejam ansiosos por construir uma "torre cujo cume toque nos céus" (Gn 11.4). Assim como o Senhor os dispersou e "cessaram de edificar a cidade" (Gn 11.8), não creia que Ele não pode fazer o mesmo com você e se assim fizer, tenha a certeza de que será "grande a sua queda" (Mt 7.27).

A Escritura é transparente em mostrar que o desejo por debates e contendas é fruto de uma vida ainda servidora do pecado: "Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros" (Tt 3.3).

Sigamos o perfeito ideal bíblico, busquemos viver "com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade" e "não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6.6).

10. Subjetivismo

"O Senhor me confirmou esta palavra", "eis que o Senhor me disse", "o Espírito Santo testificou em meu coração" - alguma destas frases lhe soa familiar? Já se deparou com alguma delas? Caso positivo, cuidado para não cair em igual erro. Infelizmente, para justificar suas condutas, erros e supostos acertos, o homem passa a crer que seu coração é bom e justo, de modo que consegue discernir os próprios erros.

Diz a Escritura sobre o coração do homem: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9). Sobre o verificar dos próprios erros, nos diz o salmista: "Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos" (Sl 19.12). Não creia na falsa noção que muitos têm advogado, a saber, que pelo fato do Espírito Santo testificar na vida dos crentes que estes são filhos de Deus, signifique liberdade para se valer de supostas "revelações interiores" ou afirmações subjetivas.

Em determinado dia, este escritor e mais um irmão em Cristo, se pôs a ir à casa de uma irmã no Senhor, cujo marido desta professava a fé cristã mais vivia e incorria em graves pecados. Passado, literalmente, uma madrugada inteira de conversas, uma das coisas que mais ouvimos do homem, mesmo após ser reiteradas vezes lhe apresentado versículos que iam de encontro ao que ele estava vivendo, era: "eu sou filho de Deus; creio que minha fé irá mover montanhas; sei que Deus é comigo". Sabemos que em Cristo nenhum trabalho é vão (1Co 15.58), mas aquela madrugada nos deixou desesperançosos - o subjetivismo, a falsa luz do evangelho havia achado guarida naquele coração.

Tal qual no exemplo acima, queira todo estudante cuidar para não crer que pode justificar seus erros apelando para uma suposta pureza de coração e alegando que o Espírito Santo lhe confirma determinada coisa. É algo muito temeroso confiar no próprio coração e não se dobrar diante das Escrituras. Não pense alguém que pode enganar a Deus, porque "Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7).

Quando for confrontado por alguém, devido aos seus pecados cometidos (ore para que isso aconteça), reconheça sua pecaminosidade e não pense que pode adequar a teoria da relatividade com o cristianismo.

Nota: O reformador escocês John Knox (1514-1572) escreveu uma série de recomendações quando isto ocorrer - clique aqui para ler.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Graça Comum não Transforma o Homem


"Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que a minha ira e o meu furor se derramarão sobre este lugar, sobre os homens e sobre os animais, e sobre as árvores do campo, e sobre os frutos da terra; e acender-se-á, e não se apagará" (Jr 7.20).

Homens em uma condição natural podem ter percepções da culpa que recai sobre eles, da ira de Deus e seu perigo da vingança divina. Tais percepções são raios de luz da verdade. Podemos ver que alguns pecadores têm uma maior percepção de sua culpa e miséria que outros, e isto é porque alguns têm mais luz, ou mais apreensão da verdade do que outros. E essa luz e percepção podem fluir do Espírito de Deus.

O Espírito dá alguma percepção aos homens do pecado, mas ainda assim a natureza é muito mais predominante nele do que a comunicação da luz espiritual e divina. Trata-se da obra  do Espírito de Deus apenas como auxiliar nos princípios naturais, e não infundindo novos princípios.

A graça comum difere da especial na medida em que influencia apenas ajudando a natureza e não por transmitir graça ou concedendo qualquer coisa acima e além da natureza. A luz que é obtida é totalmente natural, ou de nenhum tipo superior ao que a mera natureza alcança, embora mais desse tipo é obtida do que seria obtido se os homens ficasse entregues a si mesmos. Ou, em outras palavras, a graça comum só ajuda as faculdades da alma para fazer mais plenamente o que eles fazem por natureza, como a consciência natural ou razão - será por mera natureza comum fazendo um homem sensato da culpa e vai acusar e condenar quando ele fizer algo errado.

A consciência é um princípio natural para os homens, e o trabalho que ela faz, naturalmente, ou de si mesmo, é dar uma apreensão de certo e errado e sugerir à mente a relação que existe entre o certo e o errado e uma retribuição que virá. O Espírito de Deus, naquelas percepções que os homens não regenerados às vezes têm, auxilia a consciência para fazer este trabalho em um grau muito maior do que faria se eles fossem deixados entregues a si mesmos.

Trata-se assim, da obra  do Espírito de Deus apenas como auxiliar nos princípios naturais, e não infundindo novos princípios. O homem continua no mesmo estado de depravação e escuridão espiritual.

- por Jonathan Edwards (1703-1758)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

No "Dia das Mães", Diga-lhe o Quanto seu Amor é Pecaminoso


Neste mundo conturbado em que o ódio e a violência imperam, temos um referencial de amor a seguir: a figura da mãe. Esse amor é cantado, é tema de novela, de filmes e de reportagens. “Amor só de mãe”, diz o dito popular.

De fato, talvez não tenhamos um modelo melhor e maior, entre os “só-humanos”, para falar de amor. Como diria o cantor Leonardo Sullivan “mãe é palavra que Deus inventou. Um anjo que à Terra chegou, voando nas asas do amor. Mãe, palavra mais doce que o mel, talvez um pedaço do céu, que Deus transformou em mulher”. 

O cantor-poeta traduziu bem nossos sentimentos em relação à nossa mãe; ela é praticamente um “extraterrestre”, com virtudes impossíveis de serem encontradas nos “outros” seres humanos. Ela tem superpoderes e ninguém ouse mexer com suas crias.

Ela é capaz de dar sua própria vida em favor dos seus filhos? Muitas têm feito isso.

Amor incontestável. Mas, amor a quem?

No livro do Profeta Isaías, está registrado a seguinte pergunta retórica: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre?” (Isaías 49:15a). Obviamente que a resposta esperada é não.

A Bíblia também em I Reis 3:16-28 (não deixe de ler), nos dá um exemplo claro do que podemos adjetivar de “amor materno”. Esse amor transcende até às questões sociais. Ele é maior que a pobreza; é maior que a riqueza. Ele é o mesmo entre madames e prostitutas. O texto acima relata que uma prostituta abriu mão do seu próprio filho, deixando-o com sua rival, ex-mãe, para, por fim, poupar-lhe a vida, por conta do decreto Real para “dividir a criança ao meio” (v.25), visando acabar com aquela demanda. Enquanto uma queria vencer, a mãe só tinha uma preocupação: proteger a vida do seu filho. Isso era tudo o que importava. Ela não ligava para a dor que essa separação pudesse lhe trazer. Algo mais importante que sua própria vida estava em jogo. Muitas se anulam. Sim; muitas deixam de ser “mulher”, “pessoa”, “indivíduo” para que seus filhos sejam tudo.

Quanto amor! Amor incontestável. Mas, amor a quem?

O chamado “amor de mãe” é tido como puro; como a expressão mais límpida do amor. Mas, será que é mesmo? Pode de um coração corrupto brotar algo límpido e puro realmente? Não podemos esquecer que mesmo o “coração de mãe” está enegrecido pelo pecado. É corrupto. Tão depravado quanto pode ser. Todos os seus desígnios são “continuamente mau” (Gênesis 6:5). (...)

Desculpe dizer, mas o coração da sua mãe é corrupto. E sabe de uma coisa: se você que está lendo essa postagem também é mãe, não se iluda: o seu também é depravado; insistentemente corrupto. Sim, o amor que você diz ter por seu filho ou filha é contaminado pelo pecado. Não é límpido, não é puro e mais: é motivado por questões egoísticas.

Se a mãe é capaz de dar sua vida pelo filho, até mesmo de anular-se, não é, certamente, por singeleza de coração. Por amor puro. Antes, pelo contrário, é por um desejo secreto de “auto beneficiar-se” ou ainda de se “auto promover”. Mas isso está escondido no mais profundo de suas entranhas. Sim, eu sei. É lamentável dizer isso. Na verdade, quando a mãe ama o filho ou a filha, ela, na verdade, está “se amando”, pois acaba entendendo, inconscientemente, por conta do DNA do pecado, que seus filhos não passam de uma extensão dela. Vivendo o filho, ela vive. Tendo sucesso o filho, ela tem sucesso. Fracassando, é ela quem fracassa. Por ela e não pelos filhos, em última análise, é que ela luta desesperadamente para que seus filhos - sua projeção - prevaleçam. É um desejo tacanho e egoísta. Isso torna-se evidente quando a mãe lança mão e mata o hóspede do seu ventre; aborta, por entender que tem esse direito. Afinal, pensa equivocada e soberbamente: "é extensão do meu corpo, logo, posso dispor dele como bem entender". Na verdade, o mundo tem que girar ao seu redor. Por isso mesmo, quando os filhos chegam à adolescência e finalmente “cortam o cordão umbilical” e se apresentam como “outro-ser” e não mais sua extensão, as mães têm muito maior dificuldade em aceitar. Sentem-se, de certa forma, traídas, roubadas, subtraídas. Precisam, agora, aprender a “amar esse outro e novo ser” que se apresenta em sua frente; completamente outro. Essas coisas não podem ser reveladas. O mecanismo de defesa do cérebro não permite que isso venha à luz.

Mas a bíblia é terrível. Ela revela a maldade residente em nosso coração, por mais oculta que esteja. “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Isaías 64:6).

Lembra da pergunta retórica de Isaias, acima? Pois é, muitas mães têm esquecido dos seus filhos que ainda amamentam. Isso é fato. Mas, o texto quer ressaltar o amor verdadeiro e incomparável de Deus. Veja o texto:

“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti (Isaías 49:15).

O amor de Deus, sim. Esse é o único desprovido de segundas intenções. Único puro; único límpido.

Neste dia das mães diga a sua mãe o quanto seu coração é dacaído, distanciado e inimigo de Deus. Diga-lhe que sua bondade não será suficiente para salvá-la. E que, se depender dela e do seu amor, ambos perecerão terrivelmente no inferno. Depois disso, fale sobre a graça de Deus. Única alternativa de salvação que lhe resta. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Anjinhos? Não. Pecadorzinhos!


"O mais lindo bebê do mundo, que se tornou o raio-de-sol de uma família, não é, como sua mãe o chama com muito amor, um "anjinho" ou um "inocentinho", e sim um "pecadorzinho".

Infelizmente, enquanto jaz sorrindo no seu berço, a criaturinha leva em seu coração as sementes de todo tipo de iniquidade! Basta que a observemos com cuidado, conforme cresce em estatura e sua mente se desenvolve, e descobriremos nela uma incessante tendência para o que é mau, e uma grande hesitação quanto ao que é bom. Poderemos ver nela os botões e os germens do engano, do mau temperamento, do egoísmo, da voluntariedade, da obstinação, da cobiça, da inveja, do ciúme, da paixão – tudo o que, se alimentado e deixado á vontade, prolifera com dolorosa rapidez. Quem ensinou essas coisas á criança? Onde as aprendeu? Só a Bíblia pode responder a essas perguntas!

Dentre todas as coisas tolas que os pais dizem sobre seus filhos nenhuma é pior do que a declaração comum: "No fundo meu filho tem um bom coração. Ele não é o que deveria ser; apenas caiu em más companhias. As escolas são lugares ruins. Os professores negligenciam as crianças. Contudo, no fundo, ele tem um bom coração". A verdade, infelizmente, é exatamente o contrário. A primeira causa de todo o pecado jaz na corrupção natural do próprio coração da criança e não na escola."

- por J. C. Ryle (1816-1900)
Fonte: Santidade, Ed. Fiel, pág. 30.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

10 Maneiras de se Cortar a Grama para a Glória de Deus



"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31).

1. Medite na criação de Deus e em como Ele dispôs a porção seca e todas as plantas e árvores (Gn 1.9-12);

2. Medite em quantas centenas de espécies Deus sustenta em meio à grama que está sendo cortada (Gn 6.20);

3. Medite sobre a soberania de Deus em dar o crescimento a cada pequena folha (1Co 3.6);

4. Medite em como o Senhor o protege, de modo que objetos e lascas não atinjam seus olhos (Sl 17.8);

5. Medite em como você é agraciado em poder sentir a terra e poder desfrutar de sua beleza (Sl 145.5);

6. Medite no tempo em que Deus andava no jardim com Adão e Eva (Gn 3.8);

7. Medite na seriedade do pecado, o qual afligiu o homem com duras penas e trabalho forçado (Gn 3.19a);

8. Medite na brevidade da vida e que em breve você voltará ao pó e seu corpo se unirá à terra (Gn 3.19b);

9. Medite em quantos gostariam de ter forças para fazer o mesmo, mas estão enfermos ou inválidos (Jo 5.5);

10. Medite em que assim como você corta a grama para a preservar, também Deus poda os Seus, para que deem muito fruto (Jo 15.2).

terça-feira, 21 de maio de 2013

“Deixados Para Trás” Culturalmente



Acabei de assistir o videoteipe de um novo filme que será lançado no dia 2 de Fevereiro: “Deixados Para Trás”.

Baseia-se num empreendimento editorial fundamentalista surpreendentemente bem sucedido, uma série de romances conhecidos coletivamente como Deixados Para Trás. Da última vez que chequei, havia oito volumes. A série gerou vendas de aproximadamente 250 milhões de dólares em somente cinco anos. Muito dinheiro. Muita audiência. Muitas esperanças para um produtor de cinema muito pequeno.

O coautor da série é o Rev. Tim LaHaye, marido de Beverly LaHaye, que comanda a organização ativista cristã, Concerned Women of America.

Esta série se baseia no pressuposto teológico de que o capítulo 13 do Evangelho de Mateus não deve ser entendido literalmente. Esta passagem, mais do que qualquer outra no Novo Testamento, lida com o Reino de Deus na história. Ela contém diversas parábolas de Jesus, incluindo a que fala do joio e do trigo. Esta é a parábola em que os trabalhadores do campo avisam ao pai de família que um inimigo semeou joio no campo de trigo. Eles deveriam arrancar o joio?

“Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele”. (Mateus 13.29)

Os discípulos de Jesus vieram até Ele depois que a multidão havia ido embora e perguntou o que esta parábola significava.

“E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. (Mateus 13.37-43)

Jesus foi bastante claro: não haverá uma separação coletiva de pecadores e santos na história. A separação somente acontecerá no fim do tempo: ovelhas e bodes, joio e trigo, salvos e perdidos, guardadores do pacto e violadores do pacto. Até lá, a separação continua sendo confessional e institucional, não física e coletiva.

Até 1830, a Igreja cristã ensinava universalmente esta doutrina da não separação histórica. Em 1830, uma pequena seita protestante inglesa conhecida como os Irvingitas proclamou uma nova doutrina. A Igreja escapará de uma tribulação profética futura sendo removida da história. A Igreja será levada para o céu em um evento que hoje é conhecido como “o rapto”.

Duas observações preliminares são necessárias. Primeiro, a palavra “rapto” não aparece no Novo Testamento em grego ou na Bíblia King James. Segundo, em relação à doutrina da Grande Tribulação, segmentos significantes da Igreja entendem isso com se referindo ao exército imperial romano que queimou o templo e destruiu a cidade de Jerusalém em 70 AD (Veja o livro a Grande Tribulação de David Chilton).
A ideia dos Irvingitas foi imediatamente adotada por John Nelson Darby, um líder de uma pequena seita britânica conhecida como os Irmãos de Plymouth. Darby trouxe essa doutrina aos Estados Unidos. Décadas depois, na década de 1880, ela finalmente começou a se espalhar entre fundamentalistas americanos, especialmente aqueles que estavam chateados com o surgimento do que logo ficou conhecido como o Evangelho Social, que identificava o Reino de Deus com o movimento Progressista. Os defensores do Evangelho Social secularizaram o antigo Pós-Milenismo dos Puritanos e Presbiterianos americanos e concluíram que o Estado intervencionista irá progressivamente manifestar o aspecto político do Reino de Deus na história.

Fundamentalistas rejeitavam isso, mas, em seu lugar, colocaram a doutrina de Irving-Darby: o rapto Pre-Tribulacionista e Pre-Milenista. O rapto acontecerá 1007 anos antes do juízo final, sete anos antes do retorno corpóreo de Jesus para estabelecer uma burocracia cristã internacional para governar o mundo. Esta era de mil anos será conhecida como o reino milenar de Deus. Portanto, é dito que a volta de Jesus será Pre-Milenista.

O que era de novo nesta versão do Pre-Milenismo era a doutrina que Cristo irá remover a Igreja do mundo 3 anos e meio antes do período de Grande Tribulação, que durará por mais 3 anos e meio. Sete anos antes do rapto, Ele irá estabelecer Seu Reino terreno. O Pre-Milenismo tradicional, que tem uma longa história, ensinava que Cristo voltaria depois da Grande Tribulação de Sua Igreja. Não haverá qualquer período na história em que não haverá continuidade para Sua Igreja.

Então, Jesus voltará secretamente para raptar Sua Igreja ao céu. O anticristo irá estabelecer um governo internacional para governar o mundo. Três anos e meio depois do rapto, o exercito do anticristo irá cercar Jerusalém para matar (aproximadamente) 1/3 dos judeus. (Há grandes problemas de estatísticas com esta profecia: Nova York, West Los Angelos e Miami Beach).

Um grande motivo psicológico pelo qual fundamentalistas americanos apoiam o Estado de Israel é o seguinte: a doutrina do rapto Pre-Tribulacionista ensina que a futura perseguição dos santos será a perseguição de judeus, não cristãos, em Israel. Nessa época, os cristãos já terão escapado daqui.
“Deixados Para Trás” baseia-se na doutrina do rapto de Darby. Ela identifica os vilões – os bancos centrais e as Nações Unidas (é difícil contrariar essa parte!) e os mocinhos: cristãos irrelevantes que vão embora bem cedo no filme, deixando um estoque de roupas para trás. Isso faz com que não cristãos confusos fiquem sozinhos para conduzir o resto do drama do filme. Mas sem a União Soviética ou Saddam Hussein e com nações demais na União Europeia para se encaixar na interpretação fundamentalista tradicional de uma aliança com dez nações contra Israel, o roteirista teve dificuldades em apertar tanto drama.

Uma Trombeta Muda

A primeira cena do filme depois do rapto acontece em um voo transatlântico. Uma senhora pergunta a uma aeromoça se a aeromoça pode procurar seu marido. “Eu acho que ele está pelado”. Ela aponta para uma pilha de roupas no assento ao lado dela. É uma senhora já idosa. Presume-se que seu marido também seja. (Este é um filme para a família, afinal). Mas outros no avião também sumiram. Cadê eles? Sumiram! Em todos os aviões nos céus, eles sumiram. As outras pessoas no filme foram… deixadas para trás!
Ninguém sabe por que. No filme, é um grande mistério. É motivo até mesmo de segurança nacional. O filme passa os próximos trinta minutos com os personagens perambulando e se perguntando, “Para onde eles foram?”

O problema aqui, tanto para o roteirista quanto para os teólogos fundamentalistas, é a trombeta. No decorrer do filme somos informados que o Novo Testamento diz o seguinte:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”. (I Tessalonicenses 4:16-17)

Em outra epístola, Paulo escreveu: “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Coríntios 15:52). Esta trombeta tem destaque nas duas passagens. O motivo é que as duas passagens se referem ao mesmo evento: o fim da história (a verdadeira, não a de Francis Fukuyama) e o Juízo Final.
Então por que ninguém no filme ouviu a trombeta? Porque o filme é sobre o rapto secreto. É assim que os fundamentalistas chamam este evento futuro hipotético. Todos os cristãos do mundo desaparecerão num abrir e fechar de olhos, deixando para trás pilhas de ternos fora do cabide, mas ninguém que for deixado para trás ouvirá a trombeta. Eles terão dificuldades para descobrir exatamente o que aconteceu.
Eu pergunto ao roteirista e aos teólogos: Cadê o poderoso soar da trombeta? Quanto ao próximo evento escatológico cataclísmico, eu pergunto o seguinte: Louis Armstrong, cadê você agora que precisamos de ti?

Ele Não Está Vendo Vocês, Crianças

No filme, o mundo continua. Todos os cristãos sumiram, mas os aviões continuam a voar, empresas elétricas continuam a funcionar, os bancos continuam abertos e Rosie O’Donnel continua a defender que isso nunca teria acontecido se houvesse leis mais eficazes de controle das armas.

Todo o sistema social ainda funciona. A infraestrutura está intacta. (“Quando eu ouço a palavra infraestrutura, eu pego meu revolver” – Ruben Alvorado.). O mundo acabou de perder os verdadeiros – realmente verdadeiros – membros de sua maior religião e tudo continua a funcionar perfeitamente. Nenhum problema! Até mesmo as empresas de seguro de vida estão funcionando.
Suponho que a programação da TV de Domingo de manhã com pregadores e televangelistas continua a passar reprises, mas o filme deixa isso em aberto. Um dos personagens deixados para trás é um pastor fundamentalista que está muito, muito decepcionado.

Eu queria que tudo isso fosse uma piada, mas não é. Este filme representa, com fidelidade e de maneira dramática, um principio fundamental do fundamentalismo americano: a irrelevância social do Cristianismo.

Em todas as áreas, os fundamentalistas entendem que os cristãos não tem nada realmente importante para oferecer culturalmente. O mundo pode funcionar muito bem sem os cristãos. Na educação, na ciência, na tecnologia, nas diferentes profissões, no entretenimento – acima de qualquer outra coisa, entretenimento – os fundamentalistas entendem que os cristãos sejam necessariamente irrelevantes e periféricos. Isso é indicado pela visão que eles têm do intervalo de sete anos entre o rapto e a Segunda Vinda de Cristo para estabelecer seu burocrático reino terrestre. A ausência dos cristãos não será sentida porque sua presença é dificilmente sentida hoje.

A única evidência que o filme dá que a ausência dos cristãos fará uma diferença visível é no número de acidentes. Os carros ficaram descontrolados quando os motoristas receberam a Grande Convocação do céu. Mas, mesmo em relação a isso, o roteirista não colocou ninguém para dizê-lo. É algo visível por causa de uma rua cheia de carros batidos.

Não há aviões caindo. Por que não? É porque o roteirista pressupõe que cristãos não tem educação suficiente para serem pilotos? Ou será que este filme é uma propaganda sutil das Linhas Aéreas Israelenses El Al?

Sim, eu estou sendo sarcástico. Mas tenho um motivo. A doutrina do rapto Pre-Milenista, Pre-Tribulacionista tem destruído os fundamentalistas culturalmente por mais de um século. Por que os cristãos pagariam o preço necessário para se tornar influente enquanto esperam que a Igreja seja removida do mundo em um futuro próximo? Afinal, o anticristo herdará tudo. Transgressores do pacto se tornarão os herdeiros do capital dos guardadores do pacto. Por que sacrificar hoje para edificar a herança dos inimigos de Deus?

A Bíblia ensina que “O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo” (Provérbios 13:22). A doutrina do rapto ensina que a riqueza do justo é depositada para o pecador. Então, porque desperdiçar uma vida de esforço acima da média e de riscos para construir uma herança que será confiscada pelos pecadores que serão deixados para trás?
Uma mentalidade radicalmente focada no presente aflige os Protestantes fundamentalistas. Em 1970, Edward Banfield identificou que a origem primária de uma cultura de classe baixa é ser focada no presente. (Veja a edição original deste livro, The Unheavenly City). Não é a renda e sim a perspectiva de tempo que melhor identifica a classe. Fundamentalistas são, por definição, classe baixa.

Conclusão

Este artigo termina com um verso bíblico. Deveria ser aplicado em diversas circunstâncias, não somente uma.

“Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” (I Coríntios 14:8)
Culturalmente, intelectualmente e politicamente, fundamentalistas americanos foram deixados para trás. Eles se esforçaram para não deixar nada que seja culturalmente valioso. Eles são comprometidos com a irrelevância cultural, como eu explico no Capítulo 5 de meu livro, Rapture Fever. Culturalmente, eles soaram um sonido incerto. Figuradamente, eles precisam de Louis Armstrong.

- por Gary North

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O que fazer quando a Palavra não te impacta mais?



“O que você faz quando a pregação da Palavra não te impacta mais como antigamente?”

Essa é a pergunta que me foi feita recentemente por um jovem sincero que aparenta estar buscando honestamente ao Senhor.

Muitos de nós conseguem se identificar com essa questão por já terem estado nessa situação. Nos lembramos do impacto que os sermões tinham sobre nós no passado – impressões fortes, convicções intensas, ilustrações poderosas – mas agora, nos sentimos como estátuas frias e inanimadas enquanto escutamos aos mesmos pregadores pregando os mesmos sermões. O que deu errado? Isso pode variar para pessoas diferentes, mas deixe-me sugerir algumas possibilidades.

1. Cansaço

A principal causa para uma escuta improdutiva da Palavra é a fadiga e, até mesmo, a exaustão. Trabalhamos muito e por muito tempo durante a semana. Nos sentamos e nos aquietamos pela primeira vez no Domingo pela manhã e, surpresa, nossas pálpebras começam a pesar como chumbo e nossos corpos começam a escorregar no banco da igreja. Uma hora extra de sono a cada noite pode reviver nossas almas.

2. Distração 

Sábado à tarde e à noite são bons momentos para resolver pendências da semana e se preparar para a Segunda. Se não fazemos isso no sábado, estaremos fazendo pelo Domingo, mesmo que mentalmente, na igreja.

3. Indisciplina

Se nós não estamos lendo as nossas bíblias e orando de forma regular e disciplinada durante a semana, não podemos realmente esperar que estejamos espiritualmente sintonizados e sensíveis no domingo.

4. Pecado

Como pecados impenitentes formam uma barreira entre nós e Deus, precisamos nos certificar de que não há nada importante em nossas vidas bloqueando a bênção de Deus.

5. O pregador

Pode ser que o pregador esteja pregando uma série de sermões em um livro ou assunto que não se encaixa com as suas necessidades espirituais do momento. Apesar disso testar a nossa paciência, considerar o longo prazo pode mitigar nossa frustração. Não, você não precisa tanto dessas verdades/dessa série agora, mas pode guardar isso na sua mente e coração para quando precisar no futuro. Talvez nós possamos mortificar o nosso egoísmo orando: “Senhor, eu não estou absorvendo nada desse sermões mas estou grato por outros estarem e oro pela sua bênção sobre eles”.

6. Soberania

Deus pode estar testando a nossa fé ao nos deixar experimentar um período de frieza para com a Palavra. Nós andaremos pela fé até mesmo quando não há sentimentos nos ajudando no percurso? Nós escutaremos, confiaremos e obedeceremos mesmo quando não estamos sendo inspirados e movidos pela pregação?

7. Humildade

Deus também pode usar esses períodos para humilhar os nossos corações e nos mostrar quanta dureza ainda há em nós. “Estou ouvindo as mais belas verdades e isso me deixa frio como pedra. O pregador está derramando o seu coração nisso e eu nem posso ter certeza de que tenho um coração”. Essas experiências dolorosas revelam como ainda precisamos trabalhar a santificação dos nossos corações.

8. Encorajamento

O fato de estarmos incomodados com a nossa frieza espiritual é um sinal tranquilizador. Se estamos indiferentes sobre estarmos indiferentes, despreocupados com a nossa falta de preocupação, isso é, de fato, preocupante. Entretanto, o próprio fato de sentirmos e lamentarmos isso no mostra que Deus tem trabalhado em nossos corações. Podemos nos lembrar de quando olhávamos para a Palavra sem um mínimo de vida espiritual e isso não nos incomodava nem um pouco. Que isso nos incomoda agora e nos faz orar por uma transformação de coração revela um coração que já foi soberanamente transformado.

- por David Murray
Fonte: iPródigo

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Como Satanás se transforma em um anjo de luz?


Sempre me causou dificuldade responder esta pergunta. Afinal, como Satanás se transforma em anjo de luz? Acaso o maligno poderia ser, espiritualmente semelhante às divinas e perfeitas criaturas que continuamente louvam ao Senhor? Teria o espírito mau, poder para se parecer ao espírito bom? Como poderia ser isso?

Para entendermos, importa analisar o que a Bíblia nos fala anteriormente à referida menção em 2Co 11.14.

Assim escreveu o apóstolo à igreja em Corinto: "Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo" (2Co 11.2-3 - grifo meu).

Notemos que o apóstolo faz menção ao pecado original e afirma temer que, tal qual Eva foi enlaçada em erro, também alguns da igreja em Corinto assim estejam perecendo. O motivo desta segunda carta, de maneira alguma foi destruir a igreja - "Porque em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho" (2Co 2.4). A carta foi escrita com amor "e angústia do coração", "com muitas lágrimas", "para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho". O intento do apóstolo era trazer aqueles que haviam se desviado. Havia escrito para "saber se sois obedientes em tudo" (2Co 2.9).

Mas, por que escreveu tais coisas aos coríntios? Um dos motivos da carta foi devido a muitos da igreja estarem tentando desprestigiar seu ministério e pôr em dúvida a sua autoridade apostólica e a dos seus colaboradores. A fim de validar ainda mais seu ministério, Paulo afirma, noutras palavras, que não dependia do sustento da igreja em Corinto, ainda que tivesse necessidade. Tal afirmação nos leva a crer que teve o intuito de demonstrar àqueles homens o fato do apóstolo não ter qualquer obrigação em lhes falar aquilo que queriam ouvir, mas, sim, o que deveriam ouvir: "Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei" (2Co 11.8-9). Não que noutros lugares o apóstolo usasse do sustento para afagar o eco e pecado, jamais! O propósito era, somente, reforçar a questão dos coríntios não estarem contribuindo para com o apóstolo (porque ele mesmo não havia feito questão) e, assim, entendessem que o apóstolo estava lhes exortando em amor e visando a aproximação de Cristo - nada mais.

Tamanha dúvida e incredulidade perpassavam a igreja, que Paulo escreveu: "Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos" (2Co 11.5). Instou, em versículo anterior, para que a igreja atentasse ao perigo de seguir um falso Salvador: "Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis" (2Co 11.4 - grifo meu). Alguns da igreja em Corinto se punham a seguir outros mestres e um Jesus diferente daquele que Paulo havia apresentado e para isso deveriam ser alertados.

Importa notar que tamanha era a incredulidade para com Paulo, que ele ainda assevera: "Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia. Por quê? Porque não vos amo? Deus o sabe" (2Co 11.10-11).

Após estes destaques, Paulo escreve: "Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós. Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo" (2Co 11.12-13 - grifo meu). Aqui está o ponto fundamental, pois o apóstolo é enfático com respeito aos "falsos apóstolos". Estes fingiam ser apóstolos de Cristo, "transfigurando-se". Lembremos que a palavra "apóstolo" denota a ideia de fundador, edificador, aquele que era incumbido por Cristo de ir avante e levantando as primeiras igrejas. Hoje, como sabemos, não existe qualquer apóstolo no sentido especial e comissionado por Cristo como nos dias da Escritura - ainda que o ofício de apostolado, o ir e fundar igrejas, permaneça (lembre-se de que um dos requisitos para ser apóstolo era ter vivido, literalmente, junto com os apóstolos primitivos - leia Atos 1).

Prossegue, demonstrando que tal ocorrência de falsos apóstolos, não deveria ser estranha e que a igreja não deveria se espantar que existiam os tais, afinal, "não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz" (2Co 11.14). 

A pergunta, desta forma, é: como "o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz"? A resposta é cristalina no versículo seguinte: "Não é muito, pois, que os seus ministros [de Satanás] se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras" (2Co 11.15 - grifo meu). Isto é, Satanás tem os seus ministros na terra e os tais "se transfigurem em ministros da justiça". Em hipótese alguma a palavra "justiça", aqui, remete à justiça no sentido de mera equidade, mas, sim, à justiça de Deus. Paulo salienta que Satanás se infiltra até mesmo nas igrejas e sob a figura de falsos ministros!

Em sua primeira carta, João registrou algo semelhante: "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo" (1Jo 4.1 - grifo meu). Falsos profetas surgiriam no fim dos tempos (mas também existiam em abundância no Antigo Testamento). Mas quando começou o fim dos tempos? alguém pergunta "Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (1Co 10.11 - grifo meu). "O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós" (1Pe 1.20 - grifo meu). Assim, o fim dos tempos se iniciou em Cristo Jesus. Nada a que se falar sobre nós, do século XXI, estarmos vivendo os "últimos tempos", como se desde o nascimento de Cristo isto não existisse.

Comentando sobre o versículo acima de João, e tratando sobre quais são os sinais que podem distinguir um espírito santo de um maligno, Jonathan Edwards (1703-1758) comentou: "(...) o Diabo se transforma em anjo de luz. Isso porque é pensando principalmente nesses 'obreiros desonestos' que João apresenta tais evidências, como fica claro pelas palavras do texto: 'Amados, não acrediteis em qualquer espírito, mas avaliai se os espíritos vêm de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo' (v.1); ou seja: 'Há muitos que saíram pelo mundo, que são ministros do Diabo e se transformam em profetas de Deus, por meio destes o espírito do Diabo é transformado em anjo de luz. Portanto, avaliem os espíritos com estas regras que lhes darei, para que sejam capazes de discernir o espírito verdadeiro do falso, disfarçado com tanto astúcia'. Sem dúvida, os falsos profetas aludidos por João são homens do mesmo tipo dos falsos apóstolos e obreiros desonestos a respeito dos quais Paulo fala, por meio dos quais Satanás se transformou em anjo de luz. Assim, podemos estar certos de que os sinais estão especialmente adaptados para podermos distinguir entre o espírito verdadeiro e o Diabo transformado em anjo de luz, porque são propostos especialmente para tal fim. Fornecer os sinais pelos quais o verdadeiro Espírito pode ser discernido desse tipo de imitação é o claro propósito e desígnio de João". [1]

Por fim, então, se estabelece, com segura certeza, que o modo pela qual Satanás se transforma em anjo de luz, não é mediante aparições místicas ou visões angelicais para enganar o mundo. O modo é muito mais astuto, pois ele se vale de falsos ministros, os quais são "são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova" (Mt 15.14). 

Falsos ministros são o próprio Satanás.

Nota:
[1] A Verdadeira Obra do Espírito - Sinais de autenticidade, Ed. Vida Nova, págs. 60-61.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Igreja: Habitação do Espírito Santo



“O máximo da doutrina sobre o Espírito Santo, do ponto de vista prático, experimental, é que meu corpo é o templo do Espírito Santo; de modo que, o que quer que eu faça, aonde quer que eu vá, o Espírito Santo está em mim. Não conheço nada que promova tanto a santificação e a santidade como a conscientização desse fato. Bastaria que compreendêssemos, sempre, que em tudo quanto realizamos com nosso corpo, o Espírito Santo está envolvido! Lembrem-se também de que Paulo ensina isso no contexto de uma advertência contra a fornicação. Ele escreve: “Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós…?” (1Co 6.19). Eis a razão por que a fornicação deve ser inconcebível num cristão. Deus está em nós, através do Espírito Santo (…).”

- por  Dr. Martin Lloyd-Jones (1899-1981)
-Extraído do livro “Grandes Doutrinas Bíblicas: Deus o Espírito Santo”

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pensar está se tornando algo obsoleto



Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas que os leitores me enviam, muitos deles são bastante interessantes e intelectualmente instigantes, tanto no sentido positivo quanto no sentido negativo.

Por exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu havia me baseado para citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em um artigo recente. É sempre bom checar os fatos - especialmente se você checar os fatos de ambos os lados da questão. 

Em contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu havia dito nesse artigo.  Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas pelo simples fato de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em sua mente, invalidaria automaticamente tudo o que eu havia escrito.

Ele se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista médica - alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua publicação.  Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a oportunidade de responder às suas provocações, de um modo que nos engajássemos em um debate.  Porém, ele próprio deixou claro desde o início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim apenas de me acusar e me denunciar. 
Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.

É sempre surpreendente - e apavorante - constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada.  Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada - para não dizer idiotizante - certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo.  A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica.  A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje - desde escolas a universidades - estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças.  No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.
Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias.  Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle - escolas, faculdades e universidades - são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários - e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios -, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula.  Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade.  Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante.  Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico.  As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares.  Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas.  O pensamento coletivista - que hoje é predominante no meio universitário - rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional.  Se professores universitários - teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual - agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia.  Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil.  O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado - ou melhor, doutrinado - nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você.


- por Thomas Sowell

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...