"Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida" -
Sermão pregado dia 12.06.2011
Sermão pregado dia 12.06.2011
Nosso texto: "E, acabando Moisés de falar todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.45-47).
O livro de Deuteronômio encontra-se dentro do Pentateuco - o conjunto dos cinco primeiros livros da bíblia - onde podemos encontrar a mais vasta diversidade de ensinamentos e leis dadas pelo Senhor ao povo de Israel. Este livro, longe de ser antigo e caducado, deve-nos servir de diretriz e alerta sobre como devemos viver diante do Senhor. Em um mundo tão multiforme, importa-nos atentarmos para o fato de que todo "o caminho de Deus é perfeito, e a palavra do Senhor refinada; e é o escudo de todos os que nele confiam" (2Sm 22.31).
No versículo de hoje, vemos que Moisés alerta o povo de Israel para que apliquem "o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós" (v.46), não querendo que o povo pudesse a vir escusar-se e reclamar sua ignorância quanto aos preceitos divinos.
Certamente que o ofício de profeta no Antigo Testamento era por demais valiosa, contudo, essa preciosidade custava-lhe muitas vezes o amargo perceber que suas palavras pareciam ser atiradas ao vento. Constantemente vemos que os profetas alertavam o povo para que não se desviasse do caminho do Senhor, caso contrário seriam acometidos por enfermidades terríveis e sucumbiriam aos povos inimigos. Penoso era o caminho percorrido pelos profetas, que na maioria das vezes encontrava apenas alento na lei do Senhor e em devoção pela oração. Não diferente disso, foi o caminho percorrido pelo profeta Moisés.
Bem sabemos que Moisés era descendente da tribo de Levi (Êx 2.1), que havia nascido enquanto o povo de Israel era oprimido no Egito, a tal ponto do rei do Egito ordenar às parteiras para que caso viesse a nascer um menino hebreu, elas deveriam matá-lo (Êx 1.15) para que os israelitas não se multiplicassem ainda mais e viessem porventura a dominar sobre o Egito. Este mesmo Moisés achou graça diante de Deus e foi resguardado durante seus primeiros três meses de vida (Êx 2.2) - logo após isso foi colocado em um cesto entre juncos à margem do rio Nilo (Êx 2.3) e ali foi deixado para que o "destino" fizesse o que melhor lhe aprouvesse. Como o Deus de Israel - e nós hoje somos o Israel de Deus - não é um deus de sonhos, mas de decretos, já havia ele predestinado Moisés para que viesse a ser encontrado pela filha do faraó (Êx 2.7) e achasse clemência diante do rei do Egito.
Então, este mesmo Moisés tão soberanamente agraciado pelo Senhor, um dia vai até o lugar onde estavam seus irmãos hebreus "e atentou para as suas cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos, e olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia" (Êx 2.11,12). Quando o Faraó soube deste caso, "procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã" (Êx 2.15). A partir desse estopim, Moisés começa a liderar a saída do povo de Israel do Egito e a conduzir-lhes rumo à terra que lhes era prometida.
O fato é que, embora Moisés tivesse sido incumbido da tarefa de guiar o povo do Senhor até a terra prometida, ele mesmo foi impedido de desfrutar das maravilhas que aquela terra tinha para lhes oferecer, pois havia desobedecido ao Senhor - "Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha... Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara... E o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado" (Nm 20.8,11,12).
Observemos portanto, que do nosso ponto de vista, a desobediência de Moisés não foi tão crassa a ponto de Deus precisar impedir-lhe de adentrar na terra prometida - haja vista grandes tribulações passadas por Moisés, não é mesmo? Contudo, "o Senhor teu Deus é um fogo que consome, um Deus zeloso" (Dt 4.24) - tanto pelo que ele é em si mesmo como pelo que é a partir de sua revelação aos homens. Após termos esse plano de fundo, faz-se necessário irmos adentrando rumo ao versículo de hoje.
Alguns momentos antes da morte de Moisés, ele conclama ao povo dizendo-lhes: "Da idade de cento e vinte anos sou eu hoje; já não poderei mais sair e entrar; além disto o Senhor me disse: Não passarás o Jordão. O Senhor teu Deus passará adiante de ti; ele destruirá estas nações de diante de ti, para que as possuas; Josué passará adiante de ti, como o Senhor tem falado. Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará" (Dt 31.2-3,6). Vemos aqui que Moisés estava cônscio de que não poderia ultrajar os decretos de Deus para sua vida e a Ele humildemente se submetia em louvor e adoração. Também exortava ao povo para que não desanimasse nem temesse mal algum, pois "o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará" (v.6).
Após Moisés expressar tal encorajamento ao povo, ele instruiu os sacerdotes, filhos de Levi e a todos os líderes de Israel (Dt 31.9) para que "ao fim de cada sete anos... Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao SENHOR vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei" (Dt 31.10,11). O objetivo de Moisés ao dar tal instrução era para que o povo ouvisse e aprendesse "a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir" (Dt 31.13).
Dado ao pecado que estava encravado no coração do povo, levando-lhes constantemente a fazerem o que era mau diante de Deus - "Porquanto fizeram o que era mau aos meus olhos e me provocaram à ira, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até hoje" (2Rs 21.15) - o Senhor disse a Moisés: "Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e prostituir-se-á indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele" (Dt 31.16). Prosseguiu ainda o Senhor dizendo a Moisés para que escrevesse uma canção [1] e ensinasse-a aos israelitas, "para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel" (Dt 31.19). O Senhor também continua dizendo que bem sabia o que estavam "dispostos a fazer antes mesmo de levá-los para a terra que lhes prometi sob juramento" (Dt 31.21).
"E aconteceu que, acabando Moisés de escrever num livro, todas as palavras desta lei, deu ordem aos levitas, que levavam a arca da aliança do SENHOR, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do SENHOR vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti. Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o SENHOR; e quanto mais depois da minha morte?" (Dt 31.24-27). Vemos aqui que a intenção do Senhor ordenar a Moisés para que ordenasse aos levitas e líderes de Israel que lessem as palavras desta lei ao final de cada sete anos, não tinha somente a intenção de relembrar o povo das ordenanças de Deus, mas também de acusar-lhes e deixar-lhes indesculpáveis perante o Senhor. Moisés então passa a recitar as palavras desta canção do começo ao fim, na presença de toda a assembléia de Israel (Dt 32.1-43). Mais adiante, já em face do fim de sua vida, o Senhor diz a Moisés: "Sobe ao monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que darei aos filhos de Israel por possessão. E morre no monte ao qual subirás; e recolhe-te ao teu povo, como Arão teu irmão morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo. Porquanto transgredistes contra mim no meio dos filhos de Israel, às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim; pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel" (Dt 32.49-51).
Em tempo ainda, observamos na "Canção de Moisés" a importância de atentarmos para história do povo de Deus em peregrinação à terra prometida (Canaã física) e também nossa peregrinação rumo à terra prometida (Canaã celestial). Nesta canção, Moisés também alerta à nação de Israel dizendo-lhes: "Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou" (Dt 32.18). Temos aqui um profeta exortando e ensinando um povo completamente obstinado e contrário a seguir as leis e mandamentos do Senhor, e que por isso ouviu as amargas palavras: "Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar" (Dt 32.25). Tanto Moisés como o povo de Deus precisavam saber de onde tinham vindo e para onde iam, caso contrário seriam distraídos por seduções ínfimas e destituídas de valor espiritual, que certamente os levaria para a ruína e perdição.
Queridos, observemos quão dura foi a sentença para Moisés - este homem que havia guiado o povo de Deus em direção à terra prometida mesmo em meio as mais terríveis vicissitudes da vida e durante todos os grandiosos desafios que enfrentou pelo amor ao Senhor e à sua lei, permaneceu firme em seu propósito - contudo, ele foi alguém que "não se conformou com este mundo, mas foi transformado pela renovação do seu entendimento, para que experimentasse qual era a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2 - mudança do tempo verbal feita por mim). Como sabemos que tudo no Antigo Testamento aponta para Jesus, podemos ter a certeza de que melhor do que Moisés, será Cristo conduzindo sua igreja a passos firmes e inabaláveis até a terra prometida.
Então, após ter recitado a canção ao povo de Deus, ele lhes diz: "Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.46,27). Vemos aqui que Moisés não fez pouco caso da lei do Senhor e de seus mandamentos, mas instou ao povo dizendo que aquela palavra não vos era vã, antes era-vos a vossa vida!
Amados, muitos de nós certamente conhecemos pessoas que, nas palavras de Paulo, "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1.22) - resolveram mudar "a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis" (Rm 1.23). Porém Deus não deixa tais pessoas impunes, mas entrega-as "às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente" (Rm 1.24,25).
Já tivemos a oportunidade de vislumbrarmos a alegria que o salmista tinha na lei do Senhor, a ponto de dizer para si mesmo: "Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios". (Salmos 103.2 - clique aqui para ler). Não com menor intensidade, era a alegria e devoção que Moisés tinha e desejava transmitir ao povo que estava ao seu encargo. Não obstante à toda peregrinação feita até aquele momento e todas as bem-aventuranças que o povo havia testemunhado acerca do poder e fidelidade para com o seu Deus, o povo ainda não havia aprendido o que era temer ao Senhor - "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Pv 9.10) - e constantemente era rebelde para com suas leis.
Diante de tal fato, Moisés expressa ao povo dizendo-lhes que suas palavras - inspiradas pelo Senhor - não eram meras palavras de homens, mas dignas de toda aceitação, haja vista ser o próprio Deus que havia outorgado-as. Tais palavras de Moisés não consistiam em apenas exortação, mas também na promessa de que por meio destas "prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir" (Dt 32.47b).
Atentemos para o fato de que as advertências e exortações descritas por Moisés e em toda a bíblia, não são meramente para nos causar medo e aflição, mas também para instruir-nos em todo bom dever, a fim de que sejamos plenamente habilitados para toda boa obra em Cristo Jesus (2Tm 3.16,17).
Que pelas ricas misericórdias de Deus possamos ter nossos olhos abertos e perseverarmos na luta contra o pecado. Que achemos graça diante do trono celestial e perscrutemos sua vontade para nossas vidas, não em vãs filosofias ou efêmeros conhecimentos, mas sim na sua santa, una, inerrante e indissolúvel palavra.
Oração final: Perdoa-nos Deus pelas vezes que não temos atentado para tua palavra e temos negligenciado-a como se pouca coisa fosse. Concede-nos pela tua misericórdia que perseveremos firmes na fé, mesmo em face dos abismos que nos assolam ou da morte que nos venha cercar, pois não somos dignos de estarmos junto a Ti, e é por isso mesmo que nos alegramos, pois sabemos que é graças a tua misericórdia que não somos consumidos, "porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade" (Lm 3.23).
Amém.
Nota:
[1] A Bíblia de Estudo de Genebra comenta: "Deus sabia da infidelidade futura do seu povo, mas também conhecia o poder dos cânticos para adoração e memorização. Ele ordenou que Moisés escrevesse um cântico que, em dias vindouros, daria testemunho dele e de seu trabalho. Moisés havia escrito um cântico sobre o livramento da escravidão no Egito (Êx 15.1-18), e Números traz outros cânticos curtos de sua autoria. O Salmo 90 também é atribuído a Moises".
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