terça-feira, 9 de agosto de 2011

A diferença entre certeza e presunção



A diferença entre certeza e presunção -
por Thomas Watson (1620-1686)

O que é certeza?

Não é nenhuma voz audível ou falada, ou ainda trazida para nós com o auxílio de um anjo ou uma revelação. A certeza consiste de um silogismo prático no qual a Palavra de Deus tem o papel principal, a consciência tem um pequeno papel e o Espírito de Deus tem a conclusão. A Palavra de Deus diz que quem teme e ama a Deus é amado de Deus. Essa é a proposição principal, então a consciência faz o papel secundário, "mas eu temo e amo a Deus", então, o Espírito faz a conclusão: "Portanto és amado de Deus". Isso é o que o apóstolo chama de testificação: "o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16).

Ter certeza exclui as dúvidas?


Quem tem a alma santificada tem aquilo que não deixa o coração afundar, que é possuir atração pelo Espírito a tal ponto de não trocá-lo pelos prêmios mais caros do mundo. Por outro lado, sua certeza, embora infalível, não é perfeita. Haverá algumas vezes trepidação, mas aquele que é santificado estará seguro em meio aos perigos e às dúvidas, assim como um barco está seguro no ancoradouro, ainda que seja balançado pelo vento. Se um cristão não tivesse dúvidas, não haveria nenhuma descrença nele. Se não tivesse dúvidas, não haveria diferença entre a graça militante e a graça triunfante. Não teve Davi, às vezes, seus altos e baixos? Como o marinheiro que, às vezes, grita: "eu vejo uma estrela" e, depois, grita novamente que não vê mais a estrela. Às vezes ouvimos de Davi: "Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos" (SI 26.3). Em outras horas ele está perdido: "Que é feito, Senhor, das tuas benignidades de outrora" (SI 89.49). Pode acontecer de haver um eclipse na certeza do cristão a fim de torná-lo desejoso pelo céu onde não haverá a mínima dúvida, onde a bandeira do amor de Deus sempre estará à mostra para a alma, onde a luz da face de Deus não terá nuvens e o Sol nunca se porá. No céu, os santos terão segurança ininterrupta e sempre estarão com o Senhor.

A diferença entre certeza e presunção


Quais as diferenças entre certeza verdadeira e presunção?


i. Elas se diferem no método ou na maneira de se aplicá-las.

A segurança divina flui da humilhação pelo pecado. E não estou falando da medida da humilhação, mas da verdade. Em Palermo há plantações de cana que têm um suco adocicado. Uma alma humilhada pelo pecado é a cana moída de onde sai essa doce certeza. O Espírito de Deus é um espírito de prisão antes de ser um espírito de adoção, mas a presunção surge sem qualquer humilhação do Espírito. "Como é isso que a pudeste achar tão depressa, meu filho?" (Gn 27.20). O arado é o primeiro processo, depois a semente é lançada, o coração deve ser preparado pela humilhação e pelo arrependimento antes que Deus semeie a certeza.

ii. A certeza nos torna atentos ao que pode aumentá-la ou diminuí-la.

A certeza verdadeira nos coloca atentos ao que pode fortalecê-la mais ou escurecê-la. Torna-nos temerosos em relação ao fruto proibido, sabendo que não podemos deixar nossa alma cair no pecado, pois podemos pecar contra nossa certeza. Mas, aquele que tem presunção não teme manchar suas vestimentas, essa pessoa é ousada no pecado: "Não é fato que agora mesmo tu me invocas, dizendo: Pai meu, tu és o amigo da minha mocidade? Conservarás para sempre a tua ira? Ou a reterás até ao fim? Sim, assim me falas, mas cometes maldade a mais não poder" (Jr 3.4,5). Balaão disse: "Meu Deus", mas era um adivinho. Quem perambula pela noite provavelmente não tem dinheiro algum, não tem o que perder. Balaão não temia as obras das trevas, pois não tinha a jóia da certeza. Não tinha o que perder.


iii. A verdadeira segurança é construída sobre as Escrituras.

A Palavra diz: "O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre" (Is 32.17). A segurança do cristão é construída sobre essa Palavra. Deus semeou a retidão em sua alma e essa semente produziu certeza, mas a presunção é algo espúrio, ela não tem as Escrituras em que se garantir, é como um testamento sem um selo e sem testemunhas, que é nulo e inválido perante a lei. A presunção deseja tanto o testemunho da Palavra quanto o selo do Espírito.


iv. A segurança resultante da santificação mantém o coração sempre humilde.


"Senhor", diz a alma, "o que eu sou que, dentre tantos, os raios dourados do teu amor foram brilhar justamente sobre mim?" Paulo tinha a certeza. Ele era orgulhoso dessa jóia? "Não" dizia ele, "a mim, o menor de todos os santos" (Ef 3.8). Quanto mais amor um cristão recebe de Deus, mais ele vê a si mesmo como um devedor da graça e o sentimento de sua dívida mantém o seu coração humilde, mas a presunção é fruto do orgulho. Quem sempre despreza os outros pensa que é melhor que eles: "O Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano" (Lc 18.11). As penas voam, mas o ouro desce. Quem tem a certeza de ouro desce em humildade.

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