terça-feira, 2 de agosto de 2011

"...até que passasse este povo que adquiriste" - Sermão pregado dia 31.07.2011


"...até que passasse este povo que adquiriste" -
Sermão pregado dia 31.07.2011

Nosso texto: "Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste" (Êx 15.16).

Certamente que boa parte dos irmãos conhece a referida história a que esse versículo nos remete. O presente versículo encontra-se no cântico de Moisés e do povo de Israel após atravessarem o mar Vermelho e serem livres da perseguição do povo egípcio.

Vocês se lembram que primeiro Abraão habitou na terra prometida - Canaã (Gn 12.5) - mas que depois foi habitar em Neguebe (Gn 13.1) e posteriormente foi para Hebrom (Gn 13.18). Depois de algumas gerações, José - filho de Jacó - foi vendido por seus irmãos aos mercadores ismaelitas (Gn 37.28) e que acabou sendo novamente vendido à Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda (Gn 37.36). Então, José achou graça diante de Deus e o faraó o colocou como administrador de seus bens (Gn 39.2-4). Mais tarde, os irmãos de José foram até o Egito para comprarem trigo, pois conforme havia dito José ao faraó, haveria sete anos de boa colheita e sete anos de escassez (Gn 41. 1-36), o que levou Jacó a enviar os irmãos de José ao Egito para comprarem comida. Após isso, José convida seus irmão e seu pai para irem morar com ele (Gn 46) e a partir daí o povo de Israel se estabelece no Egito até ser tão numeroso a ponto de encherem aquela terra (Êx 1.7) - eram escravizados, pois o faraó temia que pudessem se rebelar e tentar conquistar aquela terra para si. Então, o Senhor, em sua providência, levanta Moisés e Arão para irem à frente na tarefa de libertarem o povo. Feito isso, o faraó deixa-os ir, mas depois resolve persegui-los até vir a perecer com seus no meio do mar vermelho (Êx 12.31,32; 14.5-7,23-28;). Por fim, Moisés e os israelitas cantam um cântico de adoração e gratidão ao Senhor por tudo que Ele lhes havia feito (Êx 15.1-18).

Esse cântico de Moisés representava para eles não meramente apenas mais um cântico, mas uma verdadeira expressão de louvor, pois Deus havia-os tirado do Egito após viverem lá por quatrocentos e trinta anos (Êx 12.40). Os israelitas vibravam de alegria pelos feitos do Senhor, a ponto de dizerem: "O SENHOR é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei" (Êx 15.2) - demonstrando que estavam conscientes do que Deus tinha operado em seu meio.

Mas não somente isso, o povo de Israel - juntamente com Moisés - zombava com os lábios daquele povo que jactou-se de sua vitória - "O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; fartar-se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os destruirá" (v.9) e cantava na certeza de que até o mais poderoso e avançado exército era como nada diante dos feitos do Altíssimo - "Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu; afundaram-se como chumbo em veementes águas" (v.10).

Moisés e o povo também reconheceram que havia sido o Senhor que os tinha libertado - "Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade" (v.13), pois estavam mais do que cientes de que a mão provedora e sustentadora do Senhor havia-os concedido a vitória diante do faraó, mesmo sem usarem qualquer espada ou astúcia militar, apenas pela boa vontade de Deus em livrá-los da mão opressora.

Em meio a tal cântico surge-nos uma sentença que leva-nos a refletir sobre a peregrinação desse povo até o outro lado do mar Vermelho: "Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste" (Êx 15.16).

A palavra de Deus nos diz que quando os israelitas viram que os egípcios estavam perseguindo-os, disseram: "Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito?" (Êx 14.11). Nos é dito também o anjo do Senhor mudou o seu lugar e também a nuvem que ia à frente deles mudou-se de lugar, de sorte que se puseram atrás do povo, ou seja, entre os egípcios e os israelitas (Êx 14.19,20). Então, naquela noite o Senhor fez soprar um forte vento que fez com que as águas se separassem e permitissem a travessia do povo em terra firme (Êx 14.21). Os egípcios conseguiram avançar até o meio do mar, mas a partir daí Deus os pôs em confusão, de modo que não puderam mais avançar (Êx 14.23-25).

Diante de uma miríade de coisas que poderíamos comentar nessa manhã, gostaria de enfatizar o paralelo entre o êxodo do Egito, a providência divina e a perseverança dos santos - doutrinas basilares do cristianismo. Sei que a história do povo de Israel apenas está começando - e infelizmente piorará - mas certamente esse início tem algo a nos dizer quanto à providência divina para com os Seus em meio a esse mundo.

Amados irmãos, como é maravilhoso observarmos como nosso Deus se põe a providenciar de maneira maravilhosa a salvação para o seu povo. Como nos é agradável olhar para os feitos do Soberano e render-Lhe honra e glória por tudo que Ele tem feito desde os tempos mais primórdios da Sua criação. Ao lermos e percebermos o contexto de tal passagem fica-nos impossível não nos renderemos diante da soberania absoluta de nosso Deus todo poderoso.

Olhemos atentamente para esse povo israelita: miseráveis e oprimidos pelos egípcios; tão numerosos quanto eles a ponto de encherem o país, contudo, ainda escravos; um povo que tinha recebido as promessas de que seriam tão numerosos como as estrelas do céus e os grãos de areia e que por meio deles todos os povos da terra seriam abençoados (Gn 12.2,3); porém, nada disso fazia sentido naquele estágio de sua vida.

Era um povo sem perspectiva alguma de vitória. Não conseguiam entender como que o Senhor poderia livrá-lo de tão grande opressão! Quando então vem Moises e anuncia ao faraó que ele deveria deixar-lhes prestar culto a Deus, isso na verdade piora o serviço dos israelitas a ponto de daquele dia em dia não terem mais a palha fornecida para os seus tijolos, sendo necessário que eles mesmos fossem atrás da palha e fizessem a mesma quantidade de quando recebiam! Então, nada mais lhes restava no Egito a não ser juntarem palha e fazer tijolos (Êx 5.6-9).

Aparentemente a promessa de Deus havia fracasso. Se antes a situação era ruim, agora havia-se tornado pior.

Aqueles homens estavam arruinados, oprimidos por meio de trabalhos forçados. Suas esposas corriam o risco de não lhes darem mais filhos homens - o que era algo horrível para qualquer israelita, pois quem perpetuaria seu nome sobre a terra? - porque o faraó havia baixado um decreto ordenando que a vida dos meninos recém-nascidos deveria ser extirpada (Êx 1.22).

Porém, de repente, a aparência do milagre começa a se tornar real e eles percebem que já não são mais escravos no Egito, mas sim caminham em direção até a terra prometida.

Mas então, suas consciências são assaltadas pelo medo e pavor ao verem o inimigo - sim, aquele inimigo que havia-os feito escravos sob o seu poder - aproximando-se deles, numa velocidade maior do que eles poderiam suportar. O povo israelita sabia que aquele inimigo que os perseguia não era fraco; era um exército preparado para a guerra.

A bíblia nos diz que faraó perseguiu o povo de Israel com todos os seus carros de guerra (Êx 14.7), inclusive com os seiscentos melhores carros que dispunha, cada um com um oficial no comando (Êx 14.7). Certamente que se esse povo viesse a alcançar os israelitas, a matança seria grande - embora o povo de Israel tivesse saído do Egito e estivesse pronto para lutar (Êx 13.18).

O povo de Israel então encontra-se diante de um terrível dilema: qual o propósito de Deus havê-los tirado do Egito? "Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito?" (Êx 14.11), reclamaram os israelitas a Moisés. Aquele povo parecia inconsolável perante o exército poderoso que se aproximava deles. Os israelitas sabiam do poderio militar dos egípcios, e por isso mesmo os temiam.

Como esse contexto nos parece familiar, meus queridos.

Assim como aquele povo israelita estava oprimido sobre as garras do faraó e seus capatazes, assim também estávamos quando pertencíamos ao reino das trevas. Tal qual aquele povo era subjugado e não podia desvencilhar-se da escravidão, assim também nós estávamos mortos e presos em nossos delitos e pecados. Da mesma forma como o povo de Israel estava sob a ira de faraó, também nós estávamos sob a ira do Deus santo. Assim como os israelitas não conseguiriam nadar ou correr para outro lugar diante do exército que se aproximava, nós também não conseguíamos fazer coisa alguma que pudesse nos livrar do corpo dessa morte. Assim como era necessário que um milagre acontecesse na história daquele povo israelita para que pudesse ser salvo das mãos do faraó, assim também nós já necessitamos desse milagre.

Uma das doutrinas que é frequentemente negligenciada pela igreja que se diz ser de Cristo é a doutrina da providência do Senhor.

Essa doutrina ensina-nos que por Deus ser Soberano sobre tudo e todos, ele necessariamente irá providenciar os meios necessários para que os seus planos sejam executados e não falhem de maneira alguma. Não foi isso que ele fez com Noé, providenciando a arca para sua sobrevivência? Não foi isso que fez com Abraão e Isaque, quando proveu o cordeiro para o sacrifício? Não foi isso que fez com Jacó e sua família, e José, quando levou-os para o Egito a fim de que não morressem de fome? Não foi assim que fez com tantos outros? Por que então alguns pensam que seria diferente conosco?

A soberania e a providência de Deus dever-nos-ia encher da mais completa alegria que pode-se achar nesse mundo. Deveríamos cantar noite e dia as maravilhas que o Senhor tem feito em nossos corações. A majestade e glória do Senhor no monte deveriam nos causa medo, tremor, temor, mas também um excelso júbilo de regozijo por aquilo que Ele é em si mesmo.

Aquele povo israelita não tinha nada para abrir o mar Vermelho. Não lhes restava alguma grande tecnologia no qual podiam ser agarrar. Apenas e tão somente o Senhor poderia livrá-los de tão grande tragédia - e graças lhes rendemos nessa manhã, pois de fato livrou-os e ainda livra-nos de todo o mal. Por isso mesmo que Moisés e os israelitas cantaram alegremente ao Senhor, dizendo: "Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste" (Êx 15.16).

Assim como o povo de Israel reconheceu que não foi pelas suas próprias forças que eles foram libertos da opressão, mas pelo braço de Deus (figurativamente falando), também nós devemos reconhecer e sermos gratos pelo braço de Deus que nos tem conduzido, pois "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22).

Também, de igual modo, devemos render louvores e vivermos nossa vida de maneira digna da vocação que nos foi proposta (Ef 4.1), pois assim como Deus não salvou os egípcios, também não salvará os que não pertencem ao seu povo. Nossa caminhada cristã não deve se basear naquilo que vemos, mas pela fé crer que assim como aquele povo foi liberto do Egito e TODO ele atravessou o mar Vermelho - sem sequer um se perder! - de maneira idêntica acontecerá a todos que hoje são parte do Seu reino.

Que possamos nessa manhã erguer nossos olhos e vislumbrarmos a grandeza e sublime honra que nos assiste nesse dia, a saber, sermos parte do povo de Deus. Que Ele nos conceda um coração realmente - não apenas da boca para fora - grato e jubiloso, pois "Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?" (Êx 15.11).

Amém.

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