terça-feira, 6 de setembro de 2011

Arão, o povo e a desobediência - Sermão pregado dia 04.09.2011

Arão, o povo e a desobediência -
Sermão pregado dia 04.09.2011

Nosso texto: "Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu. E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito. E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao SENHOR. E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se a folgar" (Êx 32:1-6).

Amados irmãos, dando continuidade às pregações acerca do Antigo Testamento, hoje veremos sobre o papel do servo de Deus a frente da Sua igreja e o papel da congregação diante de Sua majestade.

Nosso texto está situado no final de sete capítulos ininterruptos (25-31) donde Deus fala a Moisés acerca da Sua lei e de como ela deveria ser posta em prática. Moisés havia ficado quarenta dias e quarenta noites (24:18) diante do Senhor no monte para receber todo aquele conjunto de leis que regulariam a forma e o jeito como seriam dispostas as peças e rituais referentes ao tabernáculo. Era por demais importante que Moisés atentasse para todas aquelas leis, pois ele sabia que "o SENHOR teu Deus é um fogo que consome, um Deus zeloso" (Dt 4:24).

Nosso texto inicia dizendo: "Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu" (v.1).

Aquele mesmo Israel que havia presenciado tão grandes milagres (livramento das pragas do Egito, liberdade da opressão do faraó, ter tido a bondade dos egípcios e receberem o que precisavam para a sua saída, a travessia do mar vermelho...), agora põe em dúvida a veracidade das palavras do Senhor. Aquele povo que havia ficado ao pé do monte enquanto o Senhor se manifestava diante deles (Dt 4:11), agora questiona-se se Moisés está de fato vivo e voltará para os guiar. 

Mas não somente isso. O texto também nos revela o caráter pernicioso e contrário a Deus que Arão demonstrou naquele momento. O sacerdote que havia sido designado por Deus para ser o porta voz de Moisés no Egito (Êx 7:2), agora corrompe-se diante da pressão do povo.

Desse versículo, tiramos duas rápidas aplicações. Em primeiro lugar (comecemos com Arão, pois era o responsável pelo povo), Arão deveria executar o trabalho que lhe fôra proposto: "E disse [Moisés] aos anciãos: Esperai-nos aqui, até que tornemos a vós; e eis que Arão e Hur ficam convosco; quem tiver algum negócio, se chegará a eles" (Êx 24:14). Arão deveria tão somente supervisionar o povo e resolver os negócios que lhe chegariam. Assim como o povo, a tarefa de Arão era a de aguardar a descida de Moisés e enquanto isso governar o povo, para que a ordem fosse mantida. Contudo, vemos que Arão se corrompe e passa a fazer não aquilo que o Senhor lhe havia dito por meio de Moisés, mas o que o povo lhe pede. O povo tornou-se o ditador de seus afazeres.

Arão deixou-se levar pela pressão do povo, resolveu deixar os caminhos do Senhor e passou a entreter o povo de Israel. Aquele sacerdote que deveria zelar pela ordem e reverência diante de Deus, agora passa a ser o "palhaço de Deus"  - aquele que faz o povo rir, comer, beber e se entregar à farra (v.6). Assim como Arão, muitos hoje em dia tem feito o povo desviar-se do caminho e entregarem-se à festas "gospeis" e toda sorte de atividades "para Jesus". Tal qual a desculpa usada por Arão diante de Moisés - "Então respondeu Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que este povo é inclinado ao mal; E eles me disseram: Faze-nos um deus que vá adiante de nós; porque não sabemos o que sucedeu a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito. Então eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o; e deram-mo, e lancei-o no fogo, e saiu este bezerro" (vs.22-24) - muitos ainda insistem em dizer que fazem o que estão fazendo porque a sua geração é "diferente", porque o "evangelho precisa ser relevante para a sociedade", pois "os tempos mudaram" e "os homens e mulheres não aguentam mais aquele culto tão centrado na Bíblia, precisam de algo mais". Certo estou de que tal feito imerece prosperar e está sob a ira de Deus. Difícil tempo o nosso onde a escassez de homens fieis à palavra do Senhor e que entendem qual é o seu chamado é latente.

Em segundo lugar, vemos que aquele Israel era extremamente rápido para reclamar e duvidar das promessas do Senhor. Vemos que apenas três dias depois de cruzarem o mar vermelho, já estavam reclamando e dizendo: "Que beberemos?" (Êx 15:24) - e daí em diante não pararam mais. O povo de Israel usou da desculpa de que não sabiam o que havia acontecido a Moisés para dar razão as suas próprias paixões e concupiscências. Em vez do povo permanecer em santidade como havia prescrito o Senhor (Êx 19:10-13), logo que puderam rogaram a Arão para que fizesse deuses a eles, pois - ao que tudo indica - precisavam de alguém para adorar - já que o representante de Deus na terra (Moisés) havia "sumido".

É-nos também interessante notar que o pecado não foi somente de Arão ou do povo, mas de ambos! Isso significa dizer que não somente o "pregador" herege será culpado por proclamar falsas verdades acerca do evangelho, mas que também a congregação é responsabilizada por não inclinar-se para a Bíblia e buscar nela a sua fonte de revelação e reta justiça.

Nosso texto então continua: "E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito" (vs.2-4).

O ouro é muitas vezes descrito como um material de adorno, de enfeite e que transmite alto senso de riqueza e beleza (Pv 8:10,19; 11:22; 16:16; 20:15; 25:11...). Muito provavelmente o povo ainda não havia recebido a ordenança do segundo mandamento ("Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem...") - pois Moisés ainda não havia descido do monte - no entanto, o Senhor não havia ordenado coisa alguma ao povo onde eles pudessem se apoiar em sua vontade para fazer tal bezerro. O Senhor não havia dito para que o povo cria-se tal bezerro de fundição com o seu ouro, portanto eles não tinham qualquer prerrogativa divina para fazerem tal coisa.

Aqui, então, temos o retrato de um povo que retira seus adornos, retira suas tradições, remove aquilo que os embeleza e usa-os para forjar um deus à sua própria imagem e semelhança. Não fazia muito tempo que o povo e Moisés haviam cantado, "O SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?" (Êx 15:11) e agora já esqueceram-se e passaram a servir a um deus que é como os costumes dos gentios, "obra das mãos do artífice, feita com machado; Com prata e com ouro o enfeitam, com pregos e com martelos o firmam, para que não se mova. São como a palmeira, obra torneada, porém não podem falar; certamente são levados, porquanto não podem andar" (Jr 10:3-5). O povo deixou de adorar o Soberano e passou a servir a uma "coisa" criada pela mão vil e pecadora do homem. Ainda que fora do tempo, as palavras de Paulo encaixam-se aqui: "Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém" (Rm 1:25).

Vemos também que é impossível criar uma imagem feita à semelhança do homem e mesmo assim continuar seguindo ao Deus verdadeiro. Após Arão lhes fazer o bezerro, o povo diz para si mesmo: "Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito". Não somente haviam ido além daquilo que Deus havia dito - pois Deus não havia ordenado que fizessem nada daquilo que estavam fazendo - mas esse avanço além dos limites estabelecidos por Deus levou-os a atribuírem toda a obra milagrosa da saída do Egito a uma imagem feita à semelhança do homem. Ainda que o povo não tivesse ouvido - ao que tudo indica - explicitamente acerca dos dez mandamentos (pois Moisés ainda não havia descido), mesmo assim Deus os considerou culpados, pois transgrediram e fizeram algo que não havia sido prescrito por Ele.

Finalmente, nosso texto diz: "E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao SENHOR. E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se a folgar" (vs.5-6).

Vemos que novamente Arão institui algo que não havia sido ordenado pelo Senhor: uma nova festa. O Senhor não havia ordenado coisa alguma referente àquela festa. O trabalho de Arão não era para juntar ouro e criar um bezerro; ele não estava incumbido de fazer festa ao povo, mas tão somente "governar" de maneira temporária enquanto Moisés não retornava; contudo não é isso que fez.

Arão, sacerdote do Senhor, não portou-se como deveria, mas levou o povo a oferecer holocaustos através do bezerro, levou-os a sentar, comer e beber e se entregar à farra (NVI). Aquele bezerro visava servir de intermediário entre Deus e o povo, como se o Soberano Senhor precisasse de algum elemento humano para comunicar-se com seu povo.

Notamos ainda a abominação que se seguiu: a festa seria para o Senhor! Não obstante ter cedido a pressão do povo, não bastasse ter recolhido o ouro e feito a imagem do bezerro, agora passam a dedicar o profano ao Senhor. A Bíblia nos relata que os filhos de Arão também incorreram em erro semelhante: "E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara" (Lv 10:1).

Vejamos que Arão utilizou-se de algo não permitido por Deus - isto é, o bezerro de ouro - para dar razão a àquilo que o povo queria: um deus para ser o seu guia soberano [tanto que lhe atribuíram o êxodo do Egito (v.3)] e a oportunidade de festejar, comer, beber e entregar-se à farra enquanto Moisés estava no monte recebendo a palavra do Senhor. O povo não estava sendo reverente como havia jurado diante do Senhor (Êx 19), mas entregava-se aos seus próprios prazeres. Infelizmente, de modo muitíssimo semelhante está o arraial evangélico: cheio de bezerros em forma de homens, comidas, bebidas e verdadeiros shows "para Jesus", em vez de terem a devida reverência para com a Sua palavra.

Nosso texto nos alerta sobre a importância de entendermos que Deus sempre se relaciona com o seu povo - "E andarei no meio de vós, e eu vos serei por Deus, e vós me sereis por povo" (Lv 16:12, também em Jr 7:23, 30:22, Ez 36:28; Zc 8:8...) - e nunca com indivíduos isolados. Essa ideia de que o Espírito Santo de Deus habita em indivíduos isolados é pagã e estranha às Escrituras, pois se Ele de fato fizesse isso, por quê teríamos de nos reunir a fim de magnificarmos o Seu nome? Qual seria o proveito dos crentes serem chamados de "povo de Deus" se na verdade Ele habita separadamente nos seus? Não que o Seu Espírito não habite em indivíduos, mas essa habitação da-se por causa de que Ele habita no meio do seu povo e não o contrário. Traduzindo: é impossível tentar sustentar um cristianismo sem ter comunhão com outros irmãos, sem partilhar das dificuldades com outros crentes, sem participar dos sacramentos (batismo e ceia), sem deixar-se ser exortado e outras coisas mais. O cristianismo não é uma crença caseira, onde muito bem pode-se viver uma "fé interior" e ser salvo, mas consiste na união do crentes através do mover do Espírito Santo em meio ao Seu povo.

O texto de hoje também nos ensinou que o mesmo erro de Arão continua sendo seguido com relação às festas. Em toda a Bíblia lemos inúmeros relatos sobre as festas bíblicas, porém todas as festas permitidas eram instituídas por Deus. Assim como o povo deixou para festejar e "adorar" ao Senhor de acordo com os planos de Arão, também olharmos com tristeza para inúmeras igrejas que seguem o calendário humano para falaram acerca do Senhor: ensina-se o povo sobre os perigos da promiscuidade sexual somente no carnaval (quarenta e sete dias antes da páscoa), lê-se e prega-se sobre a morte de Cristo somente na páscoa (entre 22 de março e 25 de abril), lembra-se da importância das crianças e combate-se a idolatra à Maria somente no dia 12 de outubro, exorta-se o povo sobre que os mortos já estão de fato mortos e que por isso não precisava (e não deve-se) orar por eles somente no dia 2 de novembro, fala-se sobre o nascimento de Jesus somente nos dias do Natal (entre 24 e 25 de dezembro), ou seja, a igreja adequou-se ao mundo para lhe parecer mais "relevante". Não que seja um pecado pregar sobre essas questões durante essas datas, mas somente pregar sobre essas coisas durante esses momentos, certamente é se assemelhar ao mundo e deixar que ele dite as regras.

Ainda em tempo, vemos sobre a necessidade do povo de Deus reconhecer que vive diante de um Deus santo e soberano, cujo louvor, glória e reverência Lhe são eternamente devidos. "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6:7). Muitos tem brincado de festejar, de comer, beber, entregar-se à farra e acham que o Senhor os deixará impunes por tudo o que tem feito. Certamente que nosso Deus é rico em misericórdia e "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22).

Que Deus conceda-nos um coração firme, a fim de que busquemos a face de nosso Senhor Jesus Cristo e somente n'Ele confiemos e depositemos nossa confiança. Que mediante a ação do Espírito Santo - que atua eficazmente na vida de todo o Seu povo - possamos abandonar nossas vontades e tradições e os rendermos à revelação dada por Deus através de Sua palavra escrita. Que Deus nos agracie com um espírito paciente e longânimo durante todo o tempo em que permanecermos nessa terra, para que possamos louvá-lo em todo o tempo, não conforme nos apraz, mas conforme o bom conselho da Sua vontade.

Amém.

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