Efésios 2.7 - As Abundantes Riquezas da Sua Graça
Exposição em Efésios -
Exposição em Efésios -
Sermão pregado dia 30.09.2012
"Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus" (Ef 2.7).
Nas Escrituras, nada é desconexo e, portanto, tudo possui um propósito específico. Aqui, também, o apóstolo se propõe a ensinar os cristãos de Éfeso sobre qual havia de ser o benefício de toda essa demonstração da graça de Deus em suas vidas, de modo que pudessem compreender que não eram meros espectadores da graça, mas sim partícipes, pontos luminosos e referenciais com relação ao poder, graça e misericórdia com que o Senhor alcança os perdidos neste mundo.
Notemos que após o apóstolo ter escrito sobre a ressurreição e a grandiosa importância dela para a vida cristã, a ponto de que se Cristo não tivesse ressurgido verdadeiramente, "é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé" (1Co 15.14), ele demonstra o motivo pelo qual estas coisas aconteceram: para que durante todo o sempre, as abundantes riquezas da Sua graça, que são vindas de Sua benignidade, fossem mostradas e colocadas sob o firme fundamento que é Cristo.
Esta sentença de Paulo, "Para mostrar", é uma explicação dos três versículos precedentes; isto é, depois do apóstolo ter dito que "Deus, que é riquíssimo em misericórdia" (Ef 2.4), "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas" (Ef 2.5), "E nos ressuscitou juntamente com ele" (Ef 2.6), explica o motivo destas coisas terem acontecido, a saber, "Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus". Isto nos ensina, num primeiro momento, que tudo ocorre conforme o bom conselho de Sua vontade, como vimos exaustivamente no capítulo primeiro. Muitíssimo importante e intrigante se torna analisar esta questão, ainda mais quando nos deparamos com, por exemplo, o versículo 12 do presente capítulo, onde lemos que durante muito tempo os gentios (não judeus) eram "estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo", evidenciando, portanto, que grande e insondável plano da salvação o Senhor tem para com os Seus, de modo que o homem mortal tão somente pode exclamar com o salmista: "Muitas são, SENHOR meu Deus, as maravilhas que tens operado para conosco, e os teus pensamentos não se podem contar diante de ti; se eu os quisera anunciar, e deles falar, são mais do que se podem contar" (Sl 40.5).
Isto nos leva a três reflexões iniciais:
Em primeiro lugar, a salvação dos gentios, mais especificamente dos cristãos de Éfeso, era um sinal da graça abundante de Cristo sobre as nações que durante muitos milhares de anos viveram "não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Por algum motivo que não nos foi revelado, teve o Senhor por bem que somente os escolhidos do povo de Israel fossem salvos e pudessem conhecer as verdades do Salvador. O fato dos crentes de Éfeso terem sido alcançados pelo evangelho, longe de ser mero avanço da Palavra de Deus, era o cumprimento de uma magnífica promessa feita há muito tempo ao patriarca Abraão: "E multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e darei à tua descendência todas estas terras; e por meio dela serão benditas todas as nações da terra" (Gn 26.4 - grifo meu). Esta bendita promessa, embora parecesse tardar em cumprir (2Pe 3.9), agora se fazia presente na vida daqueles homens e mulheres em Éfeso, demonstrando que para o Senhor, "nada é impossível" (Lc 1.37).
Em segundo lugar, a conversão dos gentios, era uma prova cabal de que a salvação não é por obras, mas pela graça! O que fez o povo de Éfeso para ser salvo, sendo que noutro tempo andaram "segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Ef 2.2)? Qual foi a parcela de contribuição que os homens desta cidade tiveram na salvação de suas vidas? Onde estava o suposto livre arbítrio da população de Éfeso? Não existia! Nada! Zero! A cidade de Éfeso não fez coisa alguma para ser salva! Ninguém levantou as mãos aos céus! Ninguém clamou ao Senhor! Ninguém chorou amargamente os seus pecados! Ninguém procurou a Deus! Ninguém suplicou perdão! Ninguém ansiou pelo Messias! Ninguém esteve desejoso do Salvador! Nada! Foram salvos pela graça, não por "obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.9)!
Em terceiro lugar, os cristãos de Éfeso foram alcançados por Cristo Jesus, "o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio" (Ef 2.14). Não fosse Cristo ter-se despojado de Sua glória junto ao Pai (Jo 17.5) e ter-se feito semelhante aos homens (Fp 2.7), exceto no pecado (Hb 4.15), não teriam os gentios qualquer esperança de salvação - por isso Paulo diz: "Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo" (Ef 2.12). Não foi por causa de Abraão que estes homens foram salvos, nem por Moisés, Davi, Salomão, algum profeta, Paulo, Pedro, João ou outro apóstolo, mas sim por "Cristo Jesus".
Refutemos, brevemente, duas heresias que são levantadas sobre o tratar do apóstolo:
1. Que a morte de Cristo mostrou, apenas, o caminho da salvação. Isto é mais do que uma heresia, é uma falácia. Dizemos isto porque a morte de Cristo, não mostrou - como que apenas indicando o caminho da salvação, deixando ao encargo dos homens o entrar nele - unicamente o caminho, mas sim que levou os homens até Cristo. "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer" (Jo 5.21). Não devemos crer que a morte de Cristo "demonstra "nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça" e deixa sob a vontade humana o desejar segui-Lo, afinal, "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13). Não podemos acreditar na mentira da mera influência moral da morte de Cristo, pois se isto fosse verdade, os homens não poderiam estar "mortos em ofensas e pecados" (Ef 2.1), e sim, deveriam estar vivos, somente "aguardando o sinal" para irem até Cristo.
O próprio Cristo testifica contra essa mentira, quando diz acerca de Seus eleitos: "Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um" (Jo 10.29-30).
2. Que a benignidade e o amor de Cristo, por fim, triunfarão sobre Sua justiça. Embora seja muitíssimo verdadeiro que Deus possa salvar qualquer homem, até mesmo em suas últimas horas de vida (Mt 20; Lc 23.43), nem sempre Ele concede esta benignidade a todos os homens. Quando Abraão foi ordenado a deixar sua parentela (Gn 12.1), posteriormente foi para a terra de Canaã (Gn 12.5), todavia, lá não era o lugar onde ainda iria se fixar: "E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (Gn 15.16 - grifo meu). Com esta declaração o Senhor revela que, embora tenha dado o povo dos amorreus nas mãos dos israelitas (Gn 15.21), ainda não era tempo do Senhor dos Exércitos expulsar e matar aquele povo que habitava na terra prometida, "porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia". Noutras palavras, ainda não deveriam ser expulsos, porque seu tempo não havia chego - mas este tempo, em quatro gerações, chegaria; e, então, o fim seria certo.
Noutra ocasião, por meio do profeta Isaías, diz o Eterno: "Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar" (Is 55.6-7). Observemos duas estupendas verdades: o povo deve buscar ao Senhor, mas há um tempo para encontrá-lo. Por esta razão é que o escritor de Hebreus diz: "Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado" (Hb 3.13). A palavra do Senhor não ensina que sejamos exortados no final de nossa vida, perto do leito de morte, pois então o Senhor se compadecerá, mas sim "todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje" (grifo meu). Ainda que as misericórdias do Senhor não tenham fim e sejam a causa de não sermos consumidos (Lm 3.22), nenhum homem deve crer que após a morte haverá clemência, pois somos informados, com grande cristalinidade escriturística, que após a morte, não há salvação para os morrem afastados de Cristo: "Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá" (Lc 16.25-26 - grifo meu). Nem mesmo devemos pensar levianamente que durante toda a vida encontraremos ao Senhor (como que pensando que o arrependimento pode ficar para "mais tarde"), pois assim como aconteceu a Esaú, por ter nascido sob a ira de Deus e não pôde ser salvo, acontece também a muitos: "E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou" (Hb 12.16-17).
Oh! Amados irmãos! Regozijemo-nos com estas verdades! Uma morte e ressurreição de Cristo que anuncia "as abundantes riquezas da sua graça"! "Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele" (Rm 6.9)! Se estamos em Cristo, então somos participantes de Sua glória e juntamente com Ele ressuscitaremos! Sua grande obra trouxe vida àquele povo de Éfeso que andava em trevas! Sua grande vida levou a graça até homens gentios e mortos em seus delitos e pecados! Sua grande e perfeita ressurreição retirou o poder da morte e trouxe vida!
Nenhum cristão deveria ficar apático ao ler e escutar estas boas novas, pois que fizemos para sermos salvos? Nada, meus irmãos! Ao contrário, assim diz o Senhor: "Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam" (Is 64.6). Como já vimos, por meio do profeta, Deus não somente diz que nossas obras são horríveis, mas também que não servem para nada. Na verdade, tamanha é a inutilidade de nossas obras, que são comparadas a um absorvente sujo e já usado pelas mulheres israelitas: "Esta, pois, será a sua imundícia, por causa do seu fluxo; se a sua carne vasa o seu fluxo ou se a sua carne estanca o seu fluxo, esta é a sua imundícia" (Lv 15.3).
Isto nos ensina o porquê, da obra de Cristo em meio aos gentios, ter de "mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus", pois uma vez que chegou o tempo dos gentios desfrutarem e serem salvos por Cristo Jesus, homens e mulheres de todo o mundo podem e devem ouvir a mensagem do evangelho, afinal, a benignidade do Salvador já não se acampa somente nas terras judaicas, e sim, espalhou-se por todo o mundo - "Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, todos os moradores do mundo, Tanto baixos como altos, tanto ricos como pobres" (Sl 49.1-2).
Assim sendo, três aplicações piedosas são retiradas deste precioso versículo:
1. A obra do Senhor será até o fim dos tempos - "Para mostrar nos séculos vindouros".
Ainda que por alguns milênios, tenha o Senhor se agradado de fazer o bem somente à casa de Israel, nestes dias aprouve à Sua majestade e soberania, levantar para Si outros povos - ou, no dizer do Mestre: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor" (Jo 10.16).
Nosso Senhor foi enfático ao dizer: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt 24.35; Mc 13.31; Lc 21.33). A mesma glória que refulgiu nos arraiais de Éfeso, ainda hoje brilha nos céus e alcança todos os Seus eleitos em muitíssimos lugares, "pois tenho muito povo nesta cidade" (At 18.10). A graça e misericórdia do Senhor são estendidas para todo o sempre, de modo que o salmista pôde dizer: "Bendito seja o SENHOR Deus de Israel, de eternidade a eternidade. E todo o povo disse: Amém! E louvou ao SENHOR" (1Cr 16.36).
2. A obra do Senhor é completa e repleta de riquezas - "as abundantes riquezas da sua graça".
Assim como os crentes de Éfeso foram chamados pelo Senhor, segundo o bem querer de Sua vontade (Ef 1.5, 7, 9, 11, 13, 19, 23), também as riquezas que a eles foram demonstradas, serão vivas e eficazes "até a consumação dos séculos" (Mt 28.20). Sua graça não cessou, não perdeu a força, não se deixou levar pelo curso deste mundo, nem se enfraqueceu devido ao pecado, porque "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5.20).
Cristo prometeu que todos que n'Ele estão, obterão sustento vindo de Suas mãos, "Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida" (Jo 6.55). Não somente isso, mas também ordenou que os cristãos não devem ficar demasiadamente ansiosos com o dia de amanhã, mas sim devem confiar no Senhor e em Seu eterno poder: "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mt 6.31-34 - grifo meu). Quando buscamos primeiro o reino de Deus e n'Ele buscamos nos fartar, poderemos bradar com Paulo: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes" (1Tm 6.8).
3. Cristo será eternamente benigno para com Seus filhos - "pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus".
As Escrituras sempre foram evidentes em afirmar: "Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda" (Sl 91.10). Aqui, se revela com maravilhosa graciosidade que sob à tenda do Israel de Deus (que hoje compreende todos os judeus devotos ao Senhor e os gentios convertidos), heresia nenhuma chegará, nem aves enviadas pelo maligno conseguirão retirar o holocausto oferecido pelos filhos do Senhor (Gn 15.11), porque para todo o sempre Cristo será vivo e com digníssima benignidade para conosco, de modo que nenhum se perderá e todos os Seus filhos chegarão ao pleno conhecimento da Verdade (1Tm 2.4).
Roguemos ao Senhor que nos anime durante nossa estadia por este mundo vil e capacite-nos, por Seu excelso poder, a mantermos firmes nossos corações em Seu senhorio, de modo que perpetuemos "nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus".
Nas Escrituras, nada é desconexo e, portanto, tudo possui um propósito específico. Aqui, também, o apóstolo se propõe a ensinar os cristãos de Éfeso sobre qual havia de ser o benefício de toda essa demonstração da graça de Deus em suas vidas, de modo que pudessem compreender que não eram meros espectadores da graça, mas sim partícipes, pontos luminosos e referenciais com relação ao poder, graça e misericórdia com que o Senhor alcança os perdidos neste mundo.
Notemos que após o apóstolo ter escrito sobre a ressurreição e a grandiosa importância dela para a vida cristã, a ponto de que se Cristo não tivesse ressurgido verdadeiramente, "é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé" (1Co 15.14), ele demonstra o motivo pelo qual estas coisas aconteceram: para que durante todo o sempre, as abundantes riquezas da Sua graça, que são vindas de Sua benignidade, fossem mostradas e colocadas sob o firme fundamento que é Cristo.
Esta sentença de Paulo, "Para mostrar", é uma explicação dos três versículos precedentes; isto é, depois do apóstolo ter dito que "Deus, que é riquíssimo em misericórdia" (Ef 2.4), "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas" (Ef 2.5), "E nos ressuscitou juntamente com ele" (Ef 2.6), explica o motivo destas coisas terem acontecido, a saber, "Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus". Isto nos ensina, num primeiro momento, que tudo ocorre conforme o bom conselho de Sua vontade, como vimos exaustivamente no capítulo primeiro. Muitíssimo importante e intrigante se torna analisar esta questão, ainda mais quando nos deparamos com, por exemplo, o versículo 12 do presente capítulo, onde lemos que durante muito tempo os gentios (não judeus) eram "estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo", evidenciando, portanto, que grande e insondável plano da salvação o Senhor tem para com os Seus, de modo que o homem mortal tão somente pode exclamar com o salmista: "Muitas são, SENHOR meu Deus, as maravilhas que tens operado para conosco, e os teus pensamentos não se podem contar diante de ti; se eu os quisera anunciar, e deles falar, são mais do que se podem contar" (Sl 40.5).
Isto nos leva a três reflexões iniciais:
Em primeiro lugar, a salvação dos gentios, mais especificamente dos cristãos de Éfeso, era um sinal da graça abundante de Cristo sobre as nações que durante muitos milhares de anos viveram "não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Por algum motivo que não nos foi revelado, teve o Senhor por bem que somente os escolhidos do povo de Israel fossem salvos e pudessem conhecer as verdades do Salvador. O fato dos crentes de Éfeso terem sido alcançados pelo evangelho, longe de ser mero avanço da Palavra de Deus, era o cumprimento de uma magnífica promessa feita há muito tempo ao patriarca Abraão: "E multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e darei à tua descendência todas estas terras; e por meio dela serão benditas todas as nações da terra" (Gn 26.4 - grifo meu). Esta bendita promessa, embora parecesse tardar em cumprir (2Pe 3.9), agora se fazia presente na vida daqueles homens e mulheres em Éfeso, demonstrando que para o Senhor, "nada é impossível" (Lc 1.37).
Em segundo lugar, a conversão dos gentios, era uma prova cabal de que a salvação não é por obras, mas pela graça! O que fez o povo de Éfeso para ser salvo, sendo que noutro tempo andaram "segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Ef 2.2)? Qual foi a parcela de contribuição que os homens desta cidade tiveram na salvação de suas vidas? Onde estava o suposto livre arbítrio da população de Éfeso? Não existia! Nada! Zero! A cidade de Éfeso não fez coisa alguma para ser salva! Ninguém levantou as mãos aos céus! Ninguém clamou ao Senhor! Ninguém chorou amargamente os seus pecados! Ninguém procurou a Deus! Ninguém suplicou perdão! Ninguém ansiou pelo Messias! Ninguém esteve desejoso do Salvador! Nada! Foram salvos pela graça, não por "obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.9)!
Em terceiro lugar, os cristãos de Éfeso foram alcançados por Cristo Jesus, "o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio" (Ef 2.14). Não fosse Cristo ter-se despojado de Sua glória junto ao Pai (Jo 17.5) e ter-se feito semelhante aos homens (Fp 2.7), exceto no pecado (Hb 4.15), não teriam os gentios qualquer esperança de salvação - por isso Paulo diz: "Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo" (Ef 2.12). Não foi por causa de Abraão que estes homens foram salvos, nem por Moisés, Davi, Salomão, algum profeta, Paulo, Pedro, João ou outro apóstolo, mas sim por "Cristo Jesus".
Refutemos, brevemente, duas heresias que são levantadas sobre o tratar do apóstolo:
1. Que a morte de Cristo mostrou, apenas, o caminho da salvação. Isto é mais do que uma heresia, é uma falácia. Dizemos isto porque a morte de Cristo, não mostrou - como que apenas indicando o caminho da salvação, deixando ao encargo dos homens o entrar nele - unicamente o caminho, mas sim que levou os homens até Cristo. "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer" (Jo 5.21). Não devemos crer que a morte de Cristo "demonstra "nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça" e deixa sob a vontade humana o desejar segui-Lo, afinal, "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13). Não podemos acreditar na mentira da mera influência moral da morte de Cristo, pois se isto fosse verdade, os homens não poderiam estar "mortos em ofensas e pecados" (Ef 2.1), e sim, deveriam estar vivos, somente "aguardando o sinal" para irem até Cristo.
O próprio Cristo testifica contra essa mentira, quando diz acerca de Seus eleitos: "Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um" (Jo 10.29-30).
2. Que a benignidade e o amor de Cristo, por fim, triunfarão sobre Sua justiça. Embora seja muitíssimo verdadeiro que Deus possa salvar qualquer homem, até mesmo em suas últimas horas de vida (Mt 20; Lc 23.43), nem sempre Ele concede esta benignidade a todos os homens. Quando Abraão foi ordenado a deixar sua parentela (Gn 12.1), posteriormente foi para a terra de Canaã (Gn 12.5), todavia, lá não era o lugar onde ainda iria se fixar: "E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (Gn 15.16 - grifo meu). Com esta declaração o Senhor revela que, embora tenha dado o povo dos amorreus nas mãos dos israelitas (Gn 15.21), ainda não era tempo do Senhor dos Exércitos expulsar e matar aquele povo que habitava na terra prometida, "porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia". Noutras palavras, ainda não deveriam ser expulsos, porque seu tempo não havia chego - mas este tempo, em quatro gerações, chegaria; e, então, o fim seria certo.
Noutra ocasião, por meio do profeta Isaías, diz o Eterno: "Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar" (Is 55.6-7). Observemos duas estupendas verdades: o povo deve buscar ao Senhor, mas há um tempo para encontrá-lo. Por esta razão é que o escritor de Hebreus diz: "Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado" (Hb 3.13). A palavra do Senhor não ensina que sejamos exortados no final de nossa vida, perto do leito de morte, pois então o Senhor se compadecerá, mas sim "todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje" (grifo meu). Ainda que as misericórdias do Senhor não tenham fim e sejam a causa de não sermos consumidos (Lm 3.22), nenhum homem deve crer que após a morte haverá clemência, pois somos informados, com grande cristalinidade escriturística, que após a morte, não há salvação para os morrem afastados de Cristo: "Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá" (Lc 16.25-26 - grifo meu). Nem mesmo devemos pensar levianamente que durante toda a vida encontraremos ao Senhor (como que pensando que o arrependimento pode ficar para "mais tarde"), pois assim como aconteceu a Esaú, por ter nascido sob a ira de Deus e não pôde ser salvo, acontece também a muitos: "E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou" (Hb 12.16-17).
Oh! Amados irmãos! Regozijemo-nos com estas verdades! Uma morte e ressurreição de Cristo que anuncia "as abundantes riquezas da sua graça"! "Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele" (Rm 6.9)! Se estamos em Cristo, então somos participantes de Sua glória e juntamente com Ele ressuscitaremos! Sua grande obra trouxe vida àquele povo de Éfeso que andava em trevas! Sua grande vida levou a graça até homens gentios e mortos em seus delitos e pecados! Sua grande e perfeita ressurreição retirou o poder da morte e trouxe vida!
Nenhum cristão deveria ficar apático ao ler e escutar estas boas novas, pois que fizemos para sermos salvos? Nada, meus irmãos! Ao contrário, assim diz o Senhor: "Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam" (Is 64.6). Como já vimos, por meio do profeta, Deus não somente diz que nossas obras são horríveis, mas também que não servem para nada. Na verdade, tamanha é a inutilidade de nossas obras, que são comparadas a um absorvente sujo e já usado pelas mulheres israelitas: "Esta, pois, será a sua imundícia, por causa do seu fluxo; se a sua carne vasa o seu fluxo ou se a sua carne estanca o seu fluxo, esta é a sua imundícia" (Lv 15.3).
Isto nos ensina o porquê, da obra de Cristo em meio aos gentios, ter de "mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus", pois uma vez que chegou o tempo dos gentios desfrutarem e serem salvos por Cristo Jesus, homens e mulheres de todo o mundo podem e devem ouvir a mensagem do evangelho, afinal, a benignidade do Salvador já não se acampa somente nas terras judaicas, e sim, espalhou-se por todo o mundo - "Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, todos os moradores do mundo, Tanto baixos como altos, tanto ricos como pobres" (Sl 49.1-2).
Assim sendo, três aplicações piedosas são retiradas deste precioso versículo:
1. A obra do Senhor será até o fim dos tempos - "Para mostrar nos séculos vindouros".
Ainda que por alguns milênios, tenha o Senhor se agradado de fazer o bem somente à casa de Israel, nestes dias aprouve à Sua majestade e soberania, levantar para Si outros povos - ou, no dizer do Mestre: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor" (Jo 10.16).
Nosso Senhor foi enfático ao dizer: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt 24.35; Mc 13.31; Lc 21.33). A mesma glória que refulgiu nos arraiais de Éfeso, ainda hoje brilha nos céus e alcança todos os Seus eleitos em muitíssimos lugares, "pois tenho muito povo nesta cidade" (At 18.10). A graça e misericórdia do Senhor são estendidas para todo o sempre, de modo que o salmista pôde dizer: "Bendito seja o SENHOR Deus de Israel, de eternidade a eternidade. E todo o povo disse: Amém! E louvou ao SENHOR" (1Cr 16.36).
2. A obra do Senhor é completa e repleta de riquezas - "as abundantes riquezas da sua graça".
Assim como os crentes de Éfeso foram chamados pelo Senhor, segundo o bem querer de Sua vontade (Ef 1.5, 7, 9, 11, 13, 19, 23), também as riquezas que a eles foram demonstradas, serão vivas e eficazes "até a consumação dos séculos" (Mt 28.20). Sua graça não cessou, não perdeu a força, não se deixou levar pelo curso deste mundo, nem se enfraqueceu devido ao pecado, porque "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5.20).
Cristo prometeu que todos que n'Ele estão, obterão sustento vindo de Suas mãos, "Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida" (Jo 6.55). Não somente isso, mas também ordenou que os cristãos não devem ficar demasiadamente ansiosos com o dia de amanhã, mas sim devem confiar no Senhor e em Seu eterno poder: "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mt 6.31-34 - grifo meu). Quando buscamos primeiro o reino de Deus e n'Ele buscamos nos fartar, poderemos bradar com Paulo: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes" (1Tm 6.8).
3. Cristo será eternamente benigno para com Seus filhos - "pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus".
As Escrituras sempre foram evidentes em afirmar: "Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda" (Sl 91.10). Aqui, se revela com maravilhosa graciosidade que sob à tenda do Israel de Deus (que hoje compreende todos os judeus devotos ao Senhor e os gentios convertidos), heresia nenhuma chegará, nem aves enviadas pelo maligno conseguirão retirar o holocausto oferecido pelos filhos do Senhor (Gn 15.11), porque para todo o sempre Cristo será vivo e com digníssima benignidade para conosco, de modo que nenhum se perderá e todos os Seus filhos chegarão ao pleno conhecimento da Verdade (1Tm 2.4).
Roguemos ao Senhor que nos anime durante nossa estadia por este mundo vil e capacite-nos, por Seu excelso poder, a mantermos firmes nossos corações em Seu senhorio, de modo que perpetuemos "nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus".
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