"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" (2Co 4.7-18).
É proibido sofrer! Esse é o moto da igreja pós-moderna. Fala-se muito sobre vitória, benção, milagre, cura e prosperidade. Uma geração que aprendeu a profetizar, fazer correntes, lançar mão de métodos para alcançar e manipular a benção de Deus. Uma geração que associa a benção de Deus com prosperidade e riqueza. Uma geração que aprendeu a reivindicar, declarar, liberar e amarrar. O Deus Todo-Poderoso foi transformado num garçom cujo único trabalho é servir o homem, satisfazendo-lhes os anseios e desejos. Diante disso, o cristianismo atual propõe um evangelho sem cruz, sem sofrimento. Um cristianismo bem diferente daquele apresentado nas Escrituras.
Mas, e quando Deus decide não curar? E quando Deus decide não fazer o milagre? E quando Deus decide não prosperar? Há uma outra face do cristianismo que os pregadores da televisão não anunciaram. Aliás, a pregação do evangelho realizada em rádio e televisão não é o evangelho verdadeiro, mas uma caricatura dele. Um evangelho fácil, barato, extremamente atraente e que faz sucesso num país de economia emergente. Temos forjado uma religiosidade rasa, sem conteúdo, desprovida de profundidade. A nossa religiosidade é funda como um pirex, marcada por uma pobreza espiritual. Nas palavras de J. I. Packer, nosso cristianismo tem 15 km de extensão, mas poucos centímetros de profundidade. Conforme afirmou Dietrich Bonhoeffer, baratearam o Evangelho de Cristo que foi conquistado por um alto preço. A graça que é graça não foi barata.
A Igreja contemporânea construiu uma teologia antibíblica, uma teologia onde não há espaço para o sofrimento. Daí, temos a tendência de associar o sofrimento a duas matrizes: o sofrimento como consequência direta do pecado ou o como um ato punitivo de Deus. Por isso, é preciso reler os versículos não grifados da Bíblia. Aqueles que revelam uma faceta que não gostamos, a saber, que o cristianismo não é um passaporte para a felicidade, mas uma jornada de muitas aflições. O sofrimento não é uma possibilidade, mas uma certeza. À propósito, não podemos nos esquecer que Jesus é apresentado nas páginas da Escritura como o Servo Sofredor (Isaías 53).
Então, nós precisamos compreender algumas verdades bíblicas acerca do sofrimento:
I – O sofrimento como uma contingência humana. A Bíblia diz que “tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso...” (Ec. 9:2). Jesus disse: “No mundo tereis aflições...” (Jo 16:33). Está posto diante de nós uma realidade: o sofrimento faz parte da nossa condição como humanos. Sendo assim, não é admissível pensar que o justo será poupado do sofrimento pelo simples fato de crer em Deus. Pelo contrário, a Bíblia é categórica ao afirmar que “tudo sucede igualmente a todos”. Desta forma, o ímpio quebra a perna, o justo também quebra a perna. O ímpio bate o carro, o justo também bate o carro. O ímpio perde o emprego, o justo também fica desempregado. É um ato de extrema arrogância e petulância a oração feita por muitos cristãos quando dizem: “Deus, eu não aceito essa situação!” ou “eu reivindico as tuas bênçãos e amarro esse problema em nome de Jesus!”. Jesus nunca nos ensinou a orar desta forma. De acordo com os Pais da Igreja, não devemos orar pedindo o alívio do fardo, mas rogar por ombros mais fortes.
2 – O Sofrimento faz parte da caminhada cristã. Jesus foi claro e sincero com todos aqueles que desejaram segui-lo. Ele nos alertou quanto ao caminho estreito. Disse aos seus seguidores: “As raposas tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8:20). O apóstolo Paulo também não escondeu dos cristãos primitivos que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Tm 3:12). O salmista registrou ainda que “muitas são as aflições do justo...” (Sl 34:19). Como se pode notar, o sofrimento faz parte da caminhada cristão. Então, o crente não deve evitar o sofrimento a todo custo, mas perceber que há um propósito divino no sofrimento.
Diante do exposto, quero convidá-lo para, a partir do texto de II Coríntios 4:7-8, construirmos juntos uma teologia do sofrimento. Esse é um texto que nos leva a encarar o sofrimento não como um mal em si mesmo, mas como algo que nos traz muitos benefícios. Portanto, ao invés de evitar o sofrimento e tentar fugir de todas as formas dele, o cristão deve perceber que o sofrimento é algo bom e proveitoso. Sendo assim, vamos refletir sobre AS BENÇÃOS DO SOFRIMENTO.
1ª Benção do sofrimento: O sofrimento revela a nossa natureza.
Paulo usa a expressão “vasos de barro” para fazer uma alusão à nossa fragilidade. Temos aqui uma referência direta ao texto de Gn 2:7, que diz: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. O apóstolo nos leva a refletir sobre nossa forma fraca, mortal, humilde e simples. Desta forma, o sofrimento nos faz lembrar da nossa natureza.
O mundo busca atributos como força e poder. O homem tenta subjugar o mundo e a natureza. Vivemos na era dos super-heróis e também dos super-crentes. Homens dotados de um suposto poder espiritual, imunes a tudo. No entanto, o texto afirma: “temos porém este tesouro em vasos de barro”. C. S. Lewis afirmou que “o sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo ensurdecido”. Quando o sofrimento chega, percebemos que não somos tão fortes quanto pensávamos, não somos tão bons como achávamos.
Portanto, o sofrimento é uma benção porque revela a nossa natureza e nos mantém humildes diante de Deus. Paulo dá o seu próprio testemunho pessoal quando afirma: “E para que eu não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte” (II Co 12:7).
2ª Benção do Sofrimento: o sofrimento é uma escola.
As maiores lições da nossa vida nós aprendemos em dias de dor. A vida é a mais implacável das professoras. Na escola comum, primeiro a gente aprende a lição e depois somos submetidos à prova. Na vida acontece o inverso, primeiro passamos pela prova e só depois aprendemos a lição.
O sofrimento é a escola em que todos cristão está matriculado. O salmo 119:71 declara: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos”. Spurgeon, comentando esse versículo, declara: “Mui pouco se tem a aprender sem aflição. Para sermos bons alunos, temos de ser bons sofredores. Como dizem os latinos: a experiência ensina. Os mandamentos de Deus são melhor lidos por olhos úmidos de lágrimas”. E acrescenta: “Aqueles que mergulham no mar das aflições trazem pérolas raras para cima”.
A bíblia diz que até Jesus não foi poupado da escola do sofrimento. O autor de Hebreus registra: “Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb. 5:8). Como diz em outra versão: “Apesar de ser filho, ele aprendeu a obediência na escola do sofrimento”. Sabe o que é triste de ver? Um cristão que passa por uma provação e não aprende nada. Augustu Cury disse: “Ou o sofrimento nos constrói o nos destrói”. O que o sofrimento está fazendo com você? Está te construindo ou te destruindo? [1]
3ª Benção do Sofrimento: o sofrimento nos leva a reavaliar nossa vida
Muitos sofrimentos que experimentamos são consequências diretas de nossos erros. Escolhas erradas, decisões equivocadas e posturas inapropriadas, ou seja, grande parte de nossas dores são desdobramentos de nossas escolhas. Isso deve nos remeter uma avaliação existencialista. Sócrates dizia que “uma vida sem análise não merece ser vivida”. O sofrimento nos amadurece, nos faz crescer.
Sofrimento não é sinônimo de ausência de Deus. A dor não é um sinal que Deus te abandonou; pelo contrário. Paulo diz: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados, perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (II Co 4:8-9).
4ª Benção do Sofrimento: o sofrimento nos aproxima de Deus
Muitos cristãos levam sua vida espiritual de qualquer maneira. Não leem a Bíblia, não oram, não vão à Igreja. Vivem afastados de Deus (embora conservem em seus corações o temor do Senhor). Em dias de bonança e fartura se esquecem de Deus. Então, quando o sofrimento bate à sua porta, aquele que vivia uma vida relapsa passa a buscar o Senhor com sinceridade e intensidade. Infelizmente, muitos cristãos só andam na linha quando o peso do chicote o ameaça. Meu irmão, se a única maneira de Jesus manter você pertinho dele é através do sofrimento, então prepara o “lombo”! Quando passamos pela provação arranjamos tempo para orar, ler a Bíblia, não faltamos aos cultos e até nos consagramos através do jejum.
O sofrimento é uma benção porque nos faz parar (em meio a um ritmo frenético) e ouvir a voz de Deus. Quando a angústia nos alcança, somos conduzidos ao Altar do Senhor, em humildade, dependência e quebrantamento. Nossa relação com o Eterno se estreita e passamos a confiar menos em nós e mais nEle. A nossa fé se agiganta e nossa confiança em sua Palavra fica mais robusta.
5ª Benção do Sofrimento: O sofrimento põe os nossos olhos na eternidade.
O apóstolo nos faz perceber que o sofrimento tira os nossos olhos da terra e os põe no céu. Ele afirma: “não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (v. 18). Quando estamos em meio ao sofrimento, pensamos menos em nós e mais no Reino. Somos levados a refletir mais eternidade. Percebemos que a nossa vida aqui é transitória e quão tola é a nossa gana de ajuntar tesouros nessa Terra. É por isso que autor de Eclesiastes afirma que é melhor estar numa casa onde há um funeral a estar numa casa onde há festa (Ec 7:2).
Então, não despreze o seu sofrimento. Não tente evita-lo. Antes, utilize-o como um trilho quer irá conduzi-lo rumo ao crescimento espiritual, maturidade cristã, experiências com Deus e maior intimidade com o Senhor. Lembre-se que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28), até mesmo o sofrimento tem um fim benéfico e proveitoso. De acordo com os propósito de Deus, até o sofrimento é uma benção!
Rev. Daniel Sampaio Mota
Fonte: Pr. Daniel Sampaio
*[1] O autor deste blog discorda e não recomenda o autor Augustu Cury, pois tal homem não é bíblico. Todavia, como a citação faz parte do texto original aqui postado e não fere o dizer de Paulo, não o retirei. No mais, entretanto, é bom passar longe de tal escritor, pois mais se apoia na psicologia moderna, no que nas Escrituras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, comente este texto. Suas críticas e sugestões serão úteis para o crescimento e amadurecimendo dos assuntos aqui propostos.