“...Essas pessoas frequentemente enganam-se a si mesmas e aos outros, passando por bons cristãos, quando na realidade ainda não estão salvos. Muitos não são descobertos até que a morte e o julgamento tragam tudo à luz. Esses auto-enganadores parecem chegar até à porta do céu certos de sua admissão, mas no fim não conseguem entrar. (Mateus 7:22). Rogo-lhes encarecidamente que apliquem aos seus corações e retenham firmemente esta reflexão que é um alerta, isto é, que multidões perecem por causa de algum pecado secreto, o qual, não esta escondido apenas dos outros, mas, devido não perscrutarem seus próprios corações, está escondido até deles mesmos. Um homem pode estar isento de poluições patentes, e, contudo, morrer por causa de algum pecado que passa desapercebido; e existem os seguintes doze pecados ocultos, pelos quais, almas descem aos milhares para os recintos da morte eterna. Precisam investigar cuidadosamente estes pecados e considerá-los como marcas negras onde quer que se encontrem, e, como reveladores de um estado não regenerado e, se amam suas vidas, notem os mesmos cuidadosamente com zelo santo para que vocês não se revelem ser as pessoas referidas....”
(1). Ignorância crassa e voluntária (Oseias 4:6). Oh, quantas almas infelizes estão sendo mortas por este pecado, embora pensem sinceramente que têm bons corações e que estão preparadas para o céu. Este pecado é o assassino que executa milhares silenciosamente, sem que nada suspeitem e sem que vejam a mão que os destrói. Não importa quais sejam as desculpas que apresentem para a ignorância, eles descobrirão que ela e um pecado que destrói a alma (Isaias 27:11; 2 Tessalonicenses 1:8; 2 Coríntios 4:3). Ah, como teria afligido nossos corações se tivéssemos visto aquele horrível espetáculo em que os pobres protestantes eram jogados num celeiro e vinha um açougueiro, com suas mãos manchadas com sangue humano, e os conduzia um por um de olhos vendados para um cepo onde os matava um após outro em grande numero, a sangue frio. Mas seus corações devem sofrer muito mais ao pensar nas centenas que a ignorância destrói em segredo e conduz de olhos vendados para o cepo. Tomem cuidado para que este não seja o seu caso. Não justifiquem a ignorância; se pouparem esse pecado, saibam que ele não os poupará; e será que alguém abrigaria um assassino em seu seio?
(2). Reservas secretas quanto à entrega a Cristo. Renunciar a tudo por Cristo, odiar pai e mãe, sim, renunciar à própria vida por Ele, "duro é este discurso". (Lucas 14:26). Alguns farão muitas coisas, mas não querem a religião que os salvará. Jamais chegam a ser totalmente devotados a Cristo nem completamente submissos a Ele. Precisam ter o doce pecado; não querem prejudicar-se a si mesmos; têm exceções secretas para a vida, para a liberdade ou para a posição social. Muitos aceitam a Cristo dessa maneira e jamais levam em conta os Seus termos de autonegação, nem avaliam o custo; e este erro fundamental estraga tudo e os arruína para sempre (Lucas 14:28-33).
(3). Formalidade na religião. Muitos descansam no lado externo da religião e no cumprimento exterior de seus deveres sagrados. E muitas vezes isto engana efetivamente os homens e certamente os invalida mais do que a impiedade, à semelhança do que aconteceu com o fariseu. Ouvem, jejuam, oram, dão esmolas, e, portanto, não admitirão que não estão em ótimas condições espirituais. Entretanto, descansando na obra feita e falhando no trabalho do coração, no poder interior e na vitalidade da religião, acabam caindo no fogo por causa de sua esperança ilusória e da persuasão confiante de que estão bem preparados e a caminho do céu. Oh, que situação terrível quando a religião de um homem só serve para endurecer seu coração e efetivamente iludir e enganar a sua própria alma!
(4). O predomínio de motivos errados nos deveres santos. Esta era a ruína dos fariseus. Oh, quantas almas infelizes são destruídas por causa disso e caem no inferno antes que descubram o seu erro! Fazem suas "boas obras" e pensam que tudo está bem, mas não percebem que estão sendo impulsionadas continuamente apenas por motivos carnais. É verdade que até mesmo no caso dos verdadeiramente santificados, às vezes objetivos carnais parecem renascer; mas são sempre matéria de seu ódio e humilhação, e jamais chegam a dominá-los, nem subjugá-los de novo. No entanto, quando a mola mestra que comumente leva o homem aos deveres religiosos é um objetivo carnal, tal como a satisfação da consciência, a obtenção da reputação de que e religioso, ser notado pelos homens, mostrar seus próprios dons e talentos, evitar a censura de que é uma pessoa profana e não religiosa, ou coisa semelhante, isso revela um coração não regenerado. Ó cristãos, se quiserem evitar o auto-engano então deem atenção não apenas às suas ações, mas também aos seus motivos.
(5). Confiança em sua justiça própria. Isso é um mal que destrói a alma. Quando os homens confiam na sua justiça própria, certamente rejeitam a de Cristo. Amados, vocês precisam ser vigilantes em tudo, pois não apenas os seus pecados podem arruiná-los, mas, também, os seus deveres. Talvez vocês jamais tenham considerado isso, mas é assim mesmo; sem dúvida alguma, um homem tanto pode perecer por causa de sua justiça aparente e de suas supostas virtudes, como por causa de pecados crassos, ou seja, quando ele confia em coisas como a sua justiça própria e as apresenta diante de Deus para satisfazer a Sua justiça, apaziguar Sua ira, buscar o Seu favor e obter o Seu perdão. Isso significa demitir Cristo do Seu ofício e produzir um salvador a partir de nossas obras e virtudes. Acautelem-se disso, cristãos professos; vocês são muito atuantes, mas isso pode estragar tudo. Quando tiverem feito o máximo e o melhor, fujam de si mesmos para Cristo; reconheçam que suas justiças próprias são como trapos imundos (Filipenses 3:9; Isaías 64:6).
(6). Uma secreta inimizade contra o rigor da religião. Muitas pessoas moralmente corretas, cumpridoras de seus deveres religiosos, tem uma amarga inimizade contra o rigor e o zelo religiosos, e odeiam a vida e o poder da religião. Não apreciam esta solicitude nem gostam que os homens sejam tão zelosos. Condenam os rigores da religião como se fossem singularidade, indiscrição, zelo exagerado, e consideram o pregador zeloso e o crente fervoroso nada mais que extremistas. Tais homens não amam a santidade como santidade (porque então amariam a perfeição da santidade), e, portanto, são corruptos em seus corações, seja qual for o bom conceito que tenham sobre si mesmos.
(7). O descanso num certo grau de religião. Quando supõem que já possuem o suficiente para serem salvos, deixam de olhar mais adiante, e assim, apresentam-se carentes da graça verdadeira, graça essa, que sempre leva os homens a aspirarem a perfeição (Filipenses 3:13; Provérbios 4:18).
(8). O predominante amor ao mundo. Esta é a real evidência de um coração não santificado. "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não esta nele". (1 Joao 2:15). Mas quão frequentemente este pecado esconde-se sob a capa da confissão pública de fé. Sim, há um tal poder de engano neste pecado que, muitas vezes, quando todos podem ver o mundanismo e a cobiça existentes na pessoa, ela própria não os pode enxergar em si mesma, e apresenta tantas desculpas e pretextos para justificar seu amor pelo mundo que fica cega e perece no seu auto-engano. Quantos e quantos cristãos professos existem, cujos corações pertencem mais ao mundo do que a Cristo; são pessoas "que só pensam nas coisas terrenas", e, portanto, inclinam-se, evidentemente, para as coisas da carne e, provavelmente, o seu fim será a perdição (Romanos 8:5; Filipenses 3:19). Contudo, fale com tais pessoas e elas lhe dirão, confiantemente, que estimam a Cristo acima de tudo, pois não podem ver suas inclinações carnais por falta de um rigoroso exame de seus próprios corações. Se, simplesmente, buscassem com diligencia, logo, descobririam que sua maior satisfação está no mundo e que seu maior cuidado e melhor esforço são empregados para se apossarem do mundo, sinais evidentes de um pecador não convertido. Que a ala religiosa do mundo possa atentar, sinceramente, para isso, a fim de que não venha a perecer em decorrência deste pecado despercebido. Os homens podem ser mantidos longe de Cristo, e isso frequentemente ocorre, tanto pelo amor desordenado aos confortos legítimos, como, pelos seus hábitos ilegítimos.
(9). O domínio da malícia e da inveja contra os que os desrespeitam e os injuriam. Oh, quantos que, tendo a aparência de religiosos, lembram as injurias e guardam os ressentimentos, pagando o mal com o mal, amando a vingança e desejando o mal aos que os injuriam. Isto vai, diretamente, contra as regras do evangelho, contra o padrão de Cristo e contra a natureza de Deus. Sem dúvida alguma, quando este mal se mantém fervendo no coração, prevalecendo habitualmente, ao invés de ser odiado, resistido e mortificado, tal pessoa encontra-se realmente em fel de amargura e em estado de morte (Mateus 18:32-35; 1 Joao 3:14-
15).
(10). Orgulho não mortificado. Quando os homens apreciam mais os louvores dos seus semelhantes do que o louvor de Deus, e colocam o coração na estima, no aplauso e na aprovação humanos, é bem certo que estão vivendo em pecado e longe da verdadeira conversão (João 12:43; Gálatas 1:10). Quando os homens não veem, nem lamentam, nem gemem sob o orgulho do próprio coração, é sinal de que estão completamente mortos no pecado. Oh, quão ocultamente esse pecado vive e reina em muitos corações; e eles não sabem, mas, desconhecem a si mesmos (Joao 9:40).
(11). Um dominante amor pelo prazer. Esta é uma marca negra. Quando os homens dão à carne a liberdade que ela deseja, e a mimam e a agradam, ao invés de negá-la e dominá-la; quando o maior prazer é gratificar seus apetites e satisfazer seus sentidos, tudo é falso, não obstante a aparência que tenham de religião. Uma vida que satisfaz à carne não pode agradar a Deus. "E os que são de Cristo, crucificaram a carne..." e têm o cuidado de subjugá-la como a um inimigo (Gálatas 5:24; 1 Coríntios 9:25-27).
(12). Segurança carnal. Trata-se de uma confiança presunçosa de que já estão em boas condições. Muitos clamam "paz e segurança", quando uma repentina destruição está vindo sobre eles. Foi essa segurança que manteve as virgens loucas adormecidas, quando deveriam estar trabalhando; que as manteve na cama, quando deveriam estar no mercado. Foi só quando o noivo chegou que perceberam que lhes faltava óleo; e enquanto foram comprá-lo, a porta se fechou. Oxalá aquelas virgens loucas nunca tivessem deixado sucessores! Haveria, no entanto, algum lugar onde eles não estejam? Onde e que eles não habitam? Os homens desejam agradar-se a si mesmos sobre bases sempre tão frágeis, esperançosos de que sua condição seja boa; portanto, não se preocupam em mudar, e, por causa disso perecem em seus pecados.
por Joseph Alleine (1634-1668)
Fonte: Igreja Puritana
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