Sermão pregado dia 19.08.2012
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(antes da pregação há uma leitura de Mateus 24 e alguns comentários)
"Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Ef 2.2).
O apóstolo Paulo, neste ponto, continua a dar razões e a fundamentar a obra salvífica do Senhor na vida de todos os Seus eleitos. Até aqui creio que a exposição das Escrituras já tenha iluminado a muitos e os tenha feito entender que somente os chamados pelo Senhor é que possuem a bênção de serem chamados filhos de Deus e dignos de usufruírem da comunhão com Deus - não por suas obras, mas pela adoção em Cristo Jesus (Ef 1.5). O apóstolo incisivamente admoesta e anima os crentes de Éfeso para que não se esqueçam da obra do Senhor, pois assim como é comum ao coração pecador, frequentemente o homem quando recebe maravilhas e dádivas de Deus se orgulha no coração e crê que foi abençoado por algum ato heróico ou digno de ser apreciado pelo Altíssimo. O propósito de Deus ao guiar Paulo na escrita da presente sentença parece ser de reforçar a escravidão do homem natural ao "curso deste mundo", de modo que todo cristão compreenda que nada, senão a graça de Deus é quem pode retirar o homem de seu lamaçal de pecados e o fazer cônscio dos mistérios (Ef 1.9) e do conhecimento do Alto (Ef 1.17).
1. "Em que noutro tempo andastes". O apóstolo segue sua descrição fazendo um comparativo, explicando e apontando que em algum lugar, nalgum momento e em determinadas circunstâncias os crentes de Éfeso não haviam trilhado o mesmo caminho que agora seguiam. Observemos como somos informados de uma mudança de atitude - da velha para a nova vida (Rm 12.2). Homens e mulheres por natureza andam apenas sobre o espaçoso caminho "que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela" (Mt 7.13). O caminho do homem natural é contrário à Palavra de Deus, pois Ele mesmo testifica e compara a vida eterna (e Ele mesmo!) como sendo uma porta estreita - "porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem" (Mt 7.14).
É necessário que compreendamos esta transição do antigo caminhar para a nova vida em Cristo Jesus; precisamos reconhecer que já andamos em outros tempos distantes do Senhor. Não é compreensível que alguma pessoa olhe para seu passado e não veja faltas em seu caminho e abundância de pecados, pois "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5.20). Muitos são os homens que apesar de se dizerem cristãos, quando falam de seus anos pretéritos demonstram pouco ou quase nenhum remorso pelo que fizeram - falam como se desde a sua pequenez tivessem sido "boas pessoas" e moralmente corretas diante da sociedade. O problema surge, então, que tais pessoas não veem esta transposição das trevas para a luz; para eles, parece que houve uma diferença da luminária a gás para a lâmpada elétrica - isto é, antes já eram bons e agora se dizem melhores ainda.
O cristão verdadeiro é aquele que antes de sua conversão apenas enxergava e vivia para um único fim: pecar e desagradar a Deus. Nosso Senhor foi inflexível quando afirmou que "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro" (Mt 6.24). Enquanto o coração do ser humano não é regenerado pelo poder transformador do Senhor, ele somente se inclina para as coisas más - "não há quem faça o bem, não há sequer um" (Sl 14.3; Rm 3.12). A vida afastada do Senhor, talvez, nem mesmo poderia ser chamado de vida, pois tais indivíduos estão como mortos vivos, são como corpos em decomposição e que pensam possuir plena saúde. Sendo verdade que o Senhor concedeu nova vida a todos os Seus filhos (Ef 2.1), então é igualmente verdadeiro que todos que não foram agraciados pelo Senhor ainda dormem em trevas profundas - "Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" (Mt 6.23).
Não devemos imaginar que a condição do homem natural seja melhor do que a de um cadáver pútrido e cujos vermes já não podem se alimentar pois toda a carne se foi. O homem natural é inimigo de Deus - "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4). A condição do homem não regenerado - aquele cujos pés ainda andam pelo caminho no qual foi nascido em iniquidade - é de total contrariedade ao Senhor. Observemos que Paulo nos diz que "noutro tempo andastes", quer dizer, de fato houve um tempo em que um caminho diferente foi trilhado. Não é fruto de mentes teológicas o fato de se afirmar que o homem nasce envolto no pecado; não foram grandes homens que afirmaram ser o homem pecador - foi o próprio Senhor e de maneira mais do que abundante em Sua Palavra.
2. "segundo o curso deste mundo". Agora o apóstolo nos dá um indicativo do que o homem natural faz: ele segue os ditames deste mundo corrompido e que jaz no maligno (1Jo 5.19). Notemos dois pontos de grande relevância e importância espiritual para nós:
Em primeiro lugar, o Senhor nos informa que andávamos "segundo", isto é, de acordo, sob as diretrizes de alguém ou alguma coisa. Atentemos para este fato e entendamos que nunca alguém andou de forma autônoma, livre e desprovida de qualquer influência - ou se está sobre o domínio gracioso de Deus ou se é escravo do pecado. Em segundo lugar, o que o homem natural segue é "o curso deste mundo". Assim como quando um grupo de amigos se põem a descer alguma corredeira ou escalar alguma rocha e precisam se limitar ao que a natureza lhes oferece, também o homem comum segue apenas os rios contrários às Escrituras sagradas e continuamente busca chegar ao topo mais alto que puder de seu ego e satisfação própria - tudo para que se orgulhe de si mesmo e tenha algum contentamento passageiro em sua vida.
Amados irmãos, o curso deste mundo é extremamente perverso. O Egito não era um lugar agradável aos filhos do Senhor; o deserto lhes era por demais dificultoso e as batalhas eram árduas e traziam enormes angústias; todavia, haveriam de entrar em uma "terra que mana leite e mel" (Dt 26.9), e mais: "E eu vos dei a terra em que não trabalhastes, e cidades que não edificastes, e habitais nelas e comeis das vinhas e dos olivais que não plantastes" (Js 24.13). A terra prometida como prefiguração da cidade celestial era recheada de toda sorte de belezas e fonte daquilo que o homem necessitava para sua sobrevivência. Os israelitas sequer teriam de edificar cidades ou plantar vinhas, pois tudo já lhes estaria pronto. Este é, portanto, o motivo pelo qual também o Senhor disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (Jo 14.2-3). Tal quais aqueles benditos israelitas escolhidos pelo Senhor entraram em uma terra que não mereciam por suas obras e habitaram em lugares agradáveis (Sl 16), assim também nós aguardamos o dia em que todos os filhos do Criador serão levados para Seu seio e juntos rejubilarão eternamente.
Mas, ainda que toda esta beleza se vislumbre aos cristãos, é preciso não deixar escapar à mente de que este mundo somente pode nos levar a um lugar: o inferno. "Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova" (Mt 15.14). Os fariseus, cegos ao testemunho da graça de Deus (que é operante desde os dias após a queda de Adão e Eva) criam que suas obras os levariam aos braços do Pai e todos os acréscimos que haviam feito à Lei de Deus nada mais eram do que bons desdobramentos do entendimento acerca da Verdade. Aqueles homens, no entanto, não foram sequer uma vez louvados pelo Senhor; na verdade, lhes foi dado um péssimo adjetivo: "condutores cegos". Como que ainda para lhes aumentar a vergonha e ignomínia, Cristo lhes diz que "se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova". Este fato nos ensina que não somente o pregador contrário à Palavra de Deus está em inimizade contra Ele, mas que igualmente todos que o seguem, caso não sejam convertidos e tenham seus olhos abertos (Ef 1.18), juntos "cairão na cova".
3. "segundo o príncipe das potestades do ar". É preciso destacar que de modo algum o apóstolo está exaltando Satanás em posição de destaque. Na verdade, parece ser o intento do apóstolo o firmar na mente dos cristãos que o Inimigo não somente anda "De rodear a terra, e passear por ela" (Jó 1.7), mas que também está acima e é superior ao homem natural. Sim, as hostes infernais são absurdamente maiores e com poder muitíssimo mais elevado do que qualquer outro vil pecador. Entretanto, o intento de Paulo também não é assustar os cristãos, mas sim os admoestar para que não brinquem com as obras das trevas, não pensem que o pecado seja algo de pequena relevância e que, portanto, podem viver e transformar a graça do Filho em uma graça barata e desprovida de sacrifício eficaz.
Importante é atentar para que enquanto a Igreja do Senhor tem Cristo por "cabeça" (Ef 1.22) e possui a "sobreexcelente grandeza do seu poder" (Ef 1.19), os ímpios possuem o "príncipe" infernal como governante de seus corações e "curso deste mundo" como guia para a perdição. O caminho dos não regenerados é somente recheado de tristezas, amarguras, cóleras e devassidão constante. Até mesmo o aparentemente mais puro e educado civil de nossos dias, se tivesse seu coração perscrutado e desnudo diante de todos, se verificaria claramente que ele é um inimigo do Senhor, um membro das hostes bestiais e um soldado alistado para o batalhão de frente contra o Altíssimo - e assim como ocorreu com Urias que foi colocado onde "havia homens valentes" (2Sm 11.16) para logo perecer, também acontecerá a todo aquele que estiver contra o Altíssimo.
Não é também sem motivo que Paulo escreve que tais pessoas são dominadas pelo "príncipe". O intento do Senhor ao registrar isto parece ser o de promover a imagem de um povo escravizado em face de alguém supremamente poderoso. Assim como os egípcios escarneciam e forçavam dolosamente o povo israelita a realizar a cota diária de tijolos de barro, de igual maneira Satanás aflige todos os seus súditos e que vivem para o seu louvor. Sim, os ímpios não vivem com o sincero desejo de magnificar ao Senhor, "Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua" (Sl 5.9). O desejo dos ímpios, em seu íntimo, é sempre promover a maldade e impiedade por sobre a terra, pois como filhos rebeldes que são, muito se parecem com os filhos de Arão que estando longe do Senhor com seus corações resolveram brincar com coisas sagradas - "Porém Nadabe e Abiú morreram quando trouxeram fogo estranho perante o SENHOR" (Nm 26.61).
Não é também sem motivo que Paulo escreve que tais pessoas são dominadas pelo "príncipe". O intento do Senhor ao registrar isto parece ser o de promover a imagem de um povo escravizado em face de alguém supremamente poderoso. Assim como os egípcios escarneciam e forçavam dolosamente o povo israelita a realizar a cota diária de tijolos de barro, de igual maneira Satanás aflige todos os seus súditos e que vivem para o seu louvor. Sim, os ímpios não vivem com o sincero desejo de magnificar ao Senhor, "Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua" (Sl 5.9). O desejo dos ímpios, em seu íntimo, é sempre promover a maldade e impiedade por sobre a terra, pois como filhos rebeldes que são, muito se parecem com os filhos de Arão que estando longe do Senhor com seus corações resolveram brincar com coisas sagradas - "Porém Nadabe e Abiú morreram quando trouxeram fogo estranho perante o SENHOR" (Nm 26.61).
O motivo pelo qual aqueles dois irmãos morreram não foi devido a ser boas pessoas, mas sim porque "ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara" (Lv 10.1 - grifo meu). Infelizmente muitas são as pessoas que se assemelham àqueles dois rebeldes e que mesmo vivendo muito perto da graça de Deus e de Seu poder, intentam contra o Senhor e gritam: "Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas" (Sl 2.3). O homem natural, escravo do pecado e servo de suas concupiscências somente possui um desejo: realizar atos contrários ao Senhor. Observemos que embora Nadabe e Abiú estivessem incumbidos de realizar a manutenção do fogo do altar (Lv 1.7), realizaram algo que o Eterno não lhes ordenara fazer. Assim como eles, Ananias e Safira também pereceram ao ofertar ao Senhor com o coração distante (At 5), pois criam ser mais importante reter um parte do valor do que se entregarem totalmente ao Salvador.
4. "do espírito que agora opera nos filhos da desobediência". Estas são palavras que nos deveriam levar a um grande temor e espanto diante do Senhor. O fato de o Deus soberano declarar que um poder maior opera nos filhos rebeldes deveria nos levar a um magnífico, prudente e santo louvor diário em nossos corações - pois em que somos diferentes dos não regenerados? Acaso não nascemos também em iniquidade, não crescemos sob as rédeas deste mundo vil, não seguimos durante certo tempo o curso natural das forças malignas, não tentamos desesperadamente nos livrar do Senhor e fugir para longe de Sua presença? Se isto é verdade, por que ainda muitas vezes temos prazer na desgraça do ímpio? Por que olhamos para os milhões e bilhões de afligidos por esta terra e pensamos que ao menos fizemos alguma coisa para não merecermos tal condenação?
É preciso que reconheçamos que se Cristo não for nosso libertador, ainda que ouçamos semanalmente ou diariamente a Sua palavra sendo pregada e a tivermos na cabeceira de nossas camas, o lado de nossa mente e coração, se não Lhe aprouver nos salvar, estaremos perdidos: "E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados" (Mc 4.11-12) - triste realidade aqueles homens viviam e muitos ainda vivem. Mesmo percebendo as transformações nas vidas das pessoas e ouvindo a palavra de Deus, na verdade os ímpios veem somente grande ofuscação e ouvem apenas alguns ruídos, pois são "amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela" (2Tm 3.2-5).
Novamente com grande temor olhemos para a afirmação que o Senhor faz, isto é, de que não é necessário ser um grande e vil estuprador ou molestador de crianças para ser condenado ao inferno; não é preciso ser um terrorista ou homem bomba - tão somente basta que sejam "amantes de si mesmos". Nada mais é necessário para condenar um homem. Na verdade, pouquíssima coisa é imprescindível para que sejam considerados inimigos de Deus - tão somente precisam gostar de si mesmos. Aqui, porém, o Senhor não está se contradizendo e afirmando que não devemos cuidar de nós mesmos, mas sim que se alguém ama sua vidas mais do que ao Salvador, então na verdade se regozija mais em fazer sua vontade do que a de Deus. "Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á" (Mt 10.39; Mc 8.35; Lc 17.33; Jo 12.25).
Tais homens não podem dizer como o salmista, "Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração" (Sl 40.8), mas sim somente ressoar em uníssono como o povo obstinado que se recusava a dobrar-se diante do Todo Poderoso: "Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele" (Jr 6.16).
Vemos, então, como as Escrituras são abundantes em proclamar que "Do SENHOR vem a salvação" (Jn 2.9). Muitos homens pervertidos e imersos em completa iniquidade, pela misericórdia do Senhor não são castigados com Sua ira e encontram boa pastagem em Seus verdes campos. Assim como a cidade de Nínive necessitava da proclamação do evangelho e do firme regenerar do Espírito de Deus, assim também nós necessitamos pregar a Palavra a todas "as nações" (Mt 28.19). Mas é mister recordarmos de que todas as nações significam desde já o nosso próximo, aquele que habita em nossas cidades e convive ao nosso lado. Sob hipótese alguma devemos esperar o chamado do Senhor para pregar a Sua palavra a toda criatura, pois Ele já nos ordenou mediante o firme regenerar em nossos corações que uma vez arraigados em Sua graça, necessário se faz proclamar esta grande e sublime verdade.
Que seja o Senhor gracioso para com os perdidos neste dia, nos leve ao encontro destes que estão mortos, que seguem a via deste mundo corrompido e nos dê, portanto, um espírito humilde e excelsamente agradecido pela obra que começou em nossas vidas e na de todos os Seus filhos que se reúnem neste Dia do Senhor, pois "aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1.6).
Deus abençoe esse conteúdo edificou minha vida
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