Objeção #1 – As Pessoas São Diferentes dos Demônios
Algumas Pessoas têm fortes experiências religiosas e pensam nelas como uma prova da obra de Deus em seus corações. Freqüentemente tais experiências dão as pessoas uma noção da importância do mundo espiritual, e da realidade das coisas divinas. Todavia, estas também não são provas seguras da salvação. Demônios e seres humanos condenados possuem muitas experiências espirituais as quais produzem um grande efeito sobre as atitudes de seus corações. Eles vivem no mundo espiritual e vêem em primeira-mão como ele é. Seus sofrimentos os revelam o valor da salvação e de uma alma humana na forma mais poderosa imaginável. A parábola em Lucas capítulo 16 ensina isto claramente, o modo como o homem em sofrimento pede para que Lázaro seja enviado para contar aos seus irmãos que evitem este lugar de tormento. Sem dúvida as pessoas no inferno têm agora uma idéia distinta sobre a vastidão da eternidade e a brevidade da vida. Eles estão completamente convictos de que todas as coisas desta vida são totalmente sem importância quando comparadas as experiências do mundo eterno. As pessoas agora no inferno possuem um elevado senso da preciosidade do tempo, e das maravilhosas oportunidades que têm aqueles que possuem o privilégio de ouvir o Evangelho. Eles estão completamente conscientes da tolice de seus pecados, de negligenciar as oportunidades e ignorar os avisos de Deus. Quando os pecadores descobrem por experiência própria o resultado final de seus pecados, há “choro e ranger de dentes” (Mat 13:42). Assim, mesmo as mais poderosas experiências religiosas não são um sinal seguro da graça de Deus no coração.
Os demônios e as pessoas condenadas também possuem um forte senso da majestade e do poder de Deus. O poder de Deus é mais claramente apresentado através da execução da vingança divina sobre os Seus inimigos. “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os objetos de sua ira, preparados para a destruição?” (Rm 9:22). Estremecendo, os demônios aguardam sua punição final, sob o mais forte senso da majestade de Deus. Isto, eles o sentem agora, é claro, mas no futuro isto será mostrado no mais elevado grau, quando o Senhor Jesus “for revelado do céu no fogo ardente com seus anjos poderosos” (2 Tes 2:7). Naquele dia eles desejarão fugir para se esconderem da presença de Deus. “Olhe, ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele” (Ap 1:7). Então todos O verão na glória de Seu Pai. Mas, obviamente, nem todos os que o virem serão salvos.
Objeção #2 – As Pessoas Podem Ter Sentimentos Religiosos Que os Demônios Não Podem
Agora, é possível que algumas pessoas possam se opor a tudo isto, dizendo que os homens ímpios deste mundo são bastante diferentes dos demônios. Eles estão sob circunstâncias diferentes e são tipos diferentes de seres. Um objetor pode dizer: “Essas coisas que são visíveis e presentes para os demônios, são invisíveis e futuras para os homens. Além disso, as pessoas têm a desvantagem de possuírem corpos, os quais restringem a alma e as impedem de ver estas coisas espirituais em primeira-mão. Portanto, mesmo que os demônios tenham um grande conhecimento e uma experiência pessoal sobre as coisas de Deus, e não possuam graça, a conclusão não se aplica a mim”. Ou, dito de outra maneira: se as pessoas têm essas coisas nesta vida, isto pode muito bem ser um sinal claro da graça de Deus em seus corações.
Em resposta, foi acordado que o homem nesta vida jamais teve estas coisas no grau que os demônios as têm. Ninguém jamais estremeceu, com a mesma quantidade de medo, como estremecem os demônios. Nenhum homem, nesta vida, pode, sequer, ter o mesmo tipo de conhecimento que o Diabo possui. É evidente que os demônios e os homens condenados entendem a vastidão da eternidade e a importância do outro mundo mais do que qualquer pessoa viva, e assim, eles desejam a salvação e tudo mais.
Mas nós podemos ver que os homens neste mundo podem ter o mesmo tipo de experiências que os demônios e os homens condenados possuem. Eles têm a mesma atitude mental, as mesmas opiniões e emoções e os mesmos tipos de impressões em seus corações e mentes. Observe que, para o apóstolo Tiago, isto é um argumento convincente. Ele afirma que se as pessoas pensam que crer que há um só Deus é prova da graça de Deus, elas estão enganadas, pois os demônios crêem do mesmo jeito. Tiago não está se referindo ao ato de crer somente, mas às ações e emoções que também acompanham suas crenças. Estremecer é um exemplo das emoções do coração. Isto mostra que se as pessoas possuem a mesma atitude mental e respondem, de coração, da mesma maneira, isto não é um sinal seguro da graça.
A Bíblia não relaciona quantas pessoas neste mundo podem ver a gloria de Deus e não ter a graça de Deus em seus corações. Não nos é dito exatamente em qual grau Deus se revela a certas pessoas, e quantas delas responderão em seus corações. É muito tentador dizer que se uma pessoa tem certa quantidade de experiências religiosas, ou uma certa quantidade de verdade, ela deve ser salva. Talvez seja mesmo possível para algumas pessoas não salvas ter experiências maiores que alguns daqueles que possuem a graça em seus corações. Portanto, é errado olhar para a experiência ou conhecimento em termos de quantidade. Homens que possuem uma genuína obra do Espírito Santo em seus corações têm experiências e conhecimento de um tipo diferente.
Verdadeiras Experiências Espirituais Possuem uma Origem Diferente
Neste ponto, alguém poderia responder a estas reflexões dizendo: “Eu concordo com você. Eu vejo que crer em Deus, observar Sua majestade e santidade, e saber que Jesus morreu por pecadores não é prova da graça de Deus em meu coração. Eu concordo que demônios podem conhecer estas coisas também. Mas eu tenho algumas coisas que eles não têm. Eu tenho alegria, paz e amor. Demônios não podem tê-las, de modo que isto mostra que eu sou salvo”.
Sim, é verdade que você tem algumas coisas além das que um demônio pode ter, mas isso não significa que você tenha algo melhor do que um demônio poderia ter. Uma experiência pessoal de amor, alegria, etc., pode acontecer, não por haver neles qualquer causa que seja diferente da de um demônio, mas apenas por circunstâncias diferentes. As causas, ou origens, de seus sentimentos são as mesmas. É por isso que essas experiências não são melhores que as de um demônio. Para explicar melhor: Todas as coisas que foram discutidas anteriormente sobre demônios e pessoas condenadas, são levantadas por duas causas principais: o entendimento natural e o amor-próprio. Quando pensam sobre si mesmos, essas duas coisas são o que determinam seus sentimentos e respostas. O entendimento natural os mostra que Deus é santo, enquanto eles são pecaminosos. Deus é infinito, mas eles são limitados. Deus é poderoso, eles são fracos. O amor-próprio lhes dá um senso da importância da religião, do mundo eterno e um posterior desejo de salvação. Quando estas duas causas trabalham juntas, demônios e homens condenados se tornam conscientes da impressionante majestade de Deus, pelo qual eles sabem que serão julgados. Eles sabem que o julgamento de Deus será perfeito e que suas punições serão eternas. Portanto, essas duas coisas juntas ao senso que eles possuem, os conduz a angústia acerca do dia do julgamento, quando eles verão a aparente glória de Cristo e dos Seus santos.
A razão pela qual, hoje, muitas pessoas sentem alegria, paz e amor, enquanto os demônios não, podem estar mais ligada as suas circunstâncias do que a qualquer diferença em seus corações. As causas em seus corações são as mesmas. Por exemplo: o Espírito Santo está agora trabalhando no mundo, impedindo que toda a humanidade seja tão perversa quanto poderia ser (2 Tessalonicenses 2:17). Isto está em contraste com os demônios, os quais são sempre tão perversos quanto podem ser. Além disso, Deus em sua misericórdia concede dons a todas as pessoas, tais como a chuva para as lavouras (Mt 5:45), o calor do sol, etc. Não só isto, mas freqüentemente as pessoas recebem muitas coisas na vida que lhes traz felicidade, tais como relacionamentos pessoais, prazeres, música, boa saúde e assim por diante. Mais importante que tudo isto, muitas pessoas têm ouvido boas novas de esperança: Deus enviou um Salvador, Jesus Cristo, o qual morreu para salvar pecadores. Nestas circunstâncias, o entendimento natural das pessoas pode levá-las a sentirem coisas que os demônios jamais serão capazes.
Amor-próprio é uma força poderosa nos corações dos homens, forte o bastante para, mesmo sem a graça, levar as pessoas a amarem aqueles que as amam, “Mas se você ama aqueles que o amam, que mérito há nisso para você? Porque até pecadores amam aqueles que os amam” (Lucas 6:32). É um coisa natural para uma pessoa que vê Deus sendo misericordioso, e que sabe que não é tão mal quanto poderia ser, concluir, por tanto, que o amor de Deus é para ele. Se seu amor por Deus vem apenas de seus sentimentos acerca de que Ele o ama, ou porque você tem ouvido que Cristo morreu por você, ou algo similar, a fonte de seu amor a Deus é apenas amor-próprio. Isto reina nos corações dos demônios também.
Imagine a situação dos demônios. Eles sabem que não há restrições a sua maldade. Eles sabem que Deus é seu inimigo e sempre será. Embora eles estejam sem qualquer esperança, eles continuam ativos e lutando. Apenas pense: e se eles tivessem algo da esperança que as pessoas têm? E se os demônios, com seus conhecimentos sobre Deus, tivessem sua maldade restringida? Imagine se um demônio, após todo o seu pavor acerca do julgamento de Deus, repentinamente fosse levado a imaginar que Deus pudesse ser seu amigo? Que Deus pudesse perdoá-lo e levá-lo, com pecado e tudo, para o céu? Oh que alegria, que maravilha, que gratidão nós veríamos! Não seria este demônio levado a amar grandemente a Deus, pois, afinal de contas, todos amam aqueles que lhes ajudam? O que mais poderia causar sentimentos tão poderosos e sinceros? É de se admirar que tantas pessoas estejam tão enganadas assim? Especialmente porque as pessoas têm os demônios para promoverem esta ilusão. Eles têm promovido isto por muitos séculos e, infelizmente, são muito bons nisso.
por Jonathan Edwards (1703-1758)
Tradução: Nelson Ávila
por Jonathan Edwards (1703-1758)
Tradução: Nelson Ávila
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