Sermão pregado dia 08.07.2012
"Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos" (Ef 1.18).
A importância da oração para o apóstolo Paulo tinha vital importância em seu ministério. Aos crentes de Éfeso, no versículo anterior, ele mesmo escreveu dizendo que rogava constantemente ao Senhor para que lhes desse um espírito de sabedoria e entendimento das coisas do Alto, de modo que pudessem compreender a palavra do Senhor e fossem corretamente instruídos da sã doutrina legada a todos os santos. Agora, após esta primeira sentença petitória diante do Criador, o apóstolo se põe a clamar que o Senhor também confirme em seus corações a esperança que possuíam em Cristo, a fim de que pudessem ter um melhor entendimento da vida com o Salvador.
Observemos a sequência que a Santa Palavra nos revela:
Em primeiro lugar, Paulo parte da pressuposição de que o Senhor de fato lhes daria um espírito de sabedoria em revelação. Notemos como ele diz que, "Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento" - isto é, devido ao espírito de entendimento concedido graciosamente pelo Senhor, os crentes teriam os olhos do seu entendimento (uma linguagem antropomórfica) iluminados e já não seriam mais desconhecedores da eterna revelação de Deus. Em segundo lugar, uma vez iluminados, a igreja de Éfeso seria cônscia de seus deveres para com o Senhor - "para que saibais". Em terceiro lugar, uma vez tendo deixado da ignorância quanto ao mistério do Senhor (v. 9) e abandonado os rudimentos deste mundo, passariam a conhecer "qual seja a esperança da sua vocação". E, em quarto lugar, o apóstolo clama ao Senhor para que não somente soubessem das coisas no presente tempo, mas sim que anelassem e firmemente fossem estimulados a algo superior - "quais as riquezas da glória da sua herança nos santos".
Assim, se tem um pequeno vislumbre de como a oração pelos irmãos deve ser tratada. Não devemos somente orar por questões terrenas como curas e livramentos de males físicos, mas igualmente precisamos recordar da grandiosa importância de rogar para que o Senhor fortaleça a todos os irmãos e irmãs sobre a necessidade de olharem para trás e recordarem do sacrifício de Cristo e também olharem para frente e colocarem as suas esperanças não no presente momento, e sim nas coisas futuras que todos os santos haverão de herdar - "Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta" (Hb 12.1).
O autor de Hebreus é enfático ao dizer que precisamos deixar " todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia". À semelhança do cego Bartimeu que após ter sido curado lançou para fora de si sua capa (Mc 10.46-52), os cristãos também precisam deixar tudo aquilo que neste mundo lhes impede de correr e "segui[r] a Jesus pelo caminho" (v. 52). Não há melhor crente neste mundo do que aquele que deixa tudo para seguir o mestre e salvador de suas vidas. Bartimeu pôde ouvir as melhores palavras um homem poderia receber: "Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama" (v. 49). Sim! Jesus mandou chamar um cego, um pobre homem destituído da glória de Deus, imundo em seus pecados, mas que haveria de ser salvo pela graça!
Isto nos leva a quatro aplicações do presente versículo que estamos a analisar.
1. O cristão tem o seu entendimento iluminado - "Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento".
A palavra do Senhor não consiste em uma coletânea de boas sugestões e meros princípios norteadores de práticas cotidianas. As Sagradas Escrituras são o guia, a linha mestra, o norte e o campo magnético de todo o cristão neste mundo. Sendo isto de fato verdade, então é mister que compreendamos que uma vez tendo recebido "o espírito de sabedoria e de revelação" (Ef 1.17), desdobra-se com alta clarividência que o entendimento, anteriormente obscurecido pelo pecado e cego para a revelação Eterna, agora passa a ser iluminado.
O homem em Cristo em Jesus já não vive mais envolto em trevas, pois passou da escuridão para luz - "O povo, que estava assentado em trevas, Viu uma grande luz; E, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou" (Mt 4.16). O espírito de sabedoria revela e abre os olhos do entendimento. Não é possível crermos que o coração do homem, sem qualquer influência divina, possa abrir os seus próprios olhos e passar a enxergar a beleza da santidade e salvação no Senhor. O crente verdadeiramente transformado pelo Senhor é alguém que transborda de alegria, pois tal qual as escamas caíram dos olhos do apóstolo Paulo e ele passou a ver (At 9.17-18), assim também se depreende a transformação que o Senhor efetua em todos os eu filhos. Todavia, ao homem não regenerado resta somente chorar a sua miséria, lamentar por suas feridas expostas e ir definhando rumo à sepultura eterna.
Que possamos, aqui, refletir em nossos corações se de fato temos recebido o entendimento; se temos nos desembaraçado de todo vil pecado que nos assedia; se as escamas têm caído de nossos olhos e podemos enxergar "as riquezas da glória da sua herança nos santos". Um cristão convicto de seu pecado não é alguém morno e indiferente para o evangelho, mas sim um homem que valentemente combate o bom combate, acaba a carreira que lhe foi proposta e guarda a fé em seu íntimo (2Tm 4.7).
2. O cristão passa a enxergar o reino de Deus - "para que saibais".
O cristão é alguém repleto de conhecimento de Deus. Todavia, embora muitas vezes não saiba expressar exatamente aquilo que pensa e nem defender todas as doutrinas estabelecidas na Bíblia, sabe dizer como fez o cego curado em Siloé - "uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo" (Jo 9.25). Esta é a atitude de um verdadeiro cristão: ele reconhece sua miséria anterior e passa desfrutar de uma nova vida em Cristo Jesus. Ainda que o cego de Siloé não fosse um mestre da lei ou algum outro erudito da época, ele sabia delinear a diferença entre sua vida passada e a que levava agora com a cura advinda do Senhor. É necessário que os cristãos compreendam que precisam saber trazer uma linha divisória entre o "antes" e "depois" da conversão.
Aqui, que cada um responda em seu coração se de fato conhece a respeito do Senhor. Que possa se lembrar das palavras divinas que dizem: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co 5.17). Sob nenhuma hipótese podemos acreditar que alguém pode estar em Cristo e continuar a viver na prática deliberada do pecado - "Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6.6). Embora o cristão ainda lute ferozmente - no poder do Espírito Santo - contra o pecado e frequentemente leve duros golpes nesta batalha, uma coisa lhe é patente e visível em sua vida: ele não serve mais ao pecado, pois é servo de Cristo. Observemos como os próprios apóstolos afirmavam isto em suas cartas:
- "Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo" (Tg 1.1);
- "Judas, servo de Jesus Cristo" (Jd 1.1);
- "Paulo, servo de Jesus Cristo" (Rm 1.1);
- "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo" (2Pe 1.1).
Assim como eles, os cristãos também precisam compreender que após terem descoberto o mistério da vontade de Deus (Ef. 1.9) e terem seus olhos do entendimento iluminados, já não podem mais viver como outrora; precisam diligentemente passar a vislumbrar novas concepções, ideias, filosofias e ensinamentos. O apóstolo não ora para que "talvez vós saibais" - pelo contrário, é cirúrgico em dizer "para que saibais", como que instruindo os irmãos de Éfeso sobre que se isso não acontecesse na vida de alguns, seria bastante provável que ainda não tivessem reconhecido o senhorio de Cristo e nunca houvesse sido verdadeiramente transformados pelo Poder.
3. O cristão vive com uma esperança superior a que o mundo oferece - "qual seja a esperança da sua vocação".
Uma vez tendo o entendimento alinhado com a revelação da vontade de Deus e sendo conhecedor das bênçãos eternas e celestiais em Cristo (Ef 1.3), o cristão passa a ter descortinado diante de si uma nova e viva esperança neste mundo. Assim como centurião romano, embora fosse homem com certa autoridade militar, achou graça diante do Senhor que curou seu filho (Mt 8.5-10), também os fieis em Cristo precisam compreender que mais vale a esperança da salvação do que as ovações e poderes recebidos de homens vis e pecadores.
Também é importante notar como que não devemos viver neste mundo, isto é, precisamos levar cativo as palavras de Hebreus que nos dizem: "Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura" (Hb 13.13-14). O cristão não deposita seu tesouro e esperança neste mundo, pois é alertado de que, "Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração" (Mt 6.21). A vida cristã precisa ser radicalmente oposta ao que o mundo vive:
- "Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo" (Jo 17.14);
- "E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2).
- "Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fp 3.20).
Uma vez que o cristão compreende a sua esperança, ele trabalha arduamente em sua vocação. Chega a ser uma extrema insensatez afirmar que se é um cristão e viver para ajuntar "tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mt 6.19). É tão estúpido proceder desta forma como um homem que após receber a maior recompensa deste mundo, vai, recebe o prêmio e queima-o por completo. O modo de viver do cristão deve ser de desapego as coisas materiais (embora elas sejam também uma bênção de Deus). A atitude do cristão deve ser de ajuntar "tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam" (Mt 6.20).
O cristão igualmente compreende sua vocação: "Vós sois o sal da terra" (Mt 5.13) e "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5.14). Embora seja verdadeiro que o sal e a luz tenham propriedades (também), respectivamente, de dar gosto e revelar as coisas ocultas, também é fato de que ambos os elementos são muitas vezes desgostosos para as pessoas. Jogue sal por cima de uma ferida exposta e você entenderá o que Jesus está dizendo; acenda um grande holofote de luz enquanto alguém está dormindo e você entenderá o modo com o mundo lhe tratará. A vocação do cristão precisa ser absurdamente diferente daquele que o mundo vive. Enquanto os ímpios maquinam o mau e vivem para ser próprios prazeres, o crente precisa encher os pulmões com o ar do Senhor e firmemente bradar: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2.20).
4. O cristão compreende que possui mais riquezas que todos os homens da terra - "quais as riquezas da glória da sua herança nos santos".
Costuma-se dizer que o dinheiro não compra a felicidade - e isto é bastante verdadeiro. Entretanto, há uma riqueza que não somente nos fornece felicidade, mas também imortalidade: as riquezas da glória de Cristo.
As riquezas que o Senhor tem preparado para todos os Seus filhos é demasiadamente bela, incalculavelmente grande e abismalmente mais profunda do tudo o que o homem possui na terra. "Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a" (Mt 13.45-46). Observe que a parábola de Jesus nos fala sobre um homem que negociava pérolas, isto é, ele já possuía algumas e frequentemente as vendia, trocava e adquiria novas. Mas um dia este homem encontrou "uma pérola de grande valor". Assim como este homem ao encontrar tal preciosidade "foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a" (moradia, meio de transporte, barcos, tendas), igualmente o cristão precisa compreender que nos céus há uma riqueza muito mais elevada do que tudo o que ele julga possuir nesta vida.
Isto nos estimula, por fim, a ansiarmos e frequentemente nos recordarmos de que um dia haveremos de ter todo o choro e lágrima enxugados de nossas faces. Porém, só cessarão as lágrimas daqueles que viveram neste mundo com um coração contrito e que semearam com súplicas e rogos da bênção divina, afinal, que lágrimas haveriam de ser enxugadas daqueles que nunca labutaram e sofreram pela causa de Cristo? Tais homens ouvirão: "Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7.23).
Que o Senhor nos estimule a pensarmos em coisas mais elevadas, em termos as posses deste mundo como sendo completamente passageiras e destituídas de qualquer relevância eterna para nossas almas. Pela graça do Senhor, que Ele nos leve a um maior conhecimento de Sua palavra e Sua revelação, de modo que possamos ressoar em uníssono as palavras do apóstolo: "E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo" (Fp 3.8).
Amém.
Texto edificante!
ResponderExcluirA exposição da Palavra foi maravilhosa!
Que Deus continue abençoando o estimado Pastor.