"E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará" (Jo 2.14-17).
O cristão atencioso, todas as vezes em que se aproxima da Escritura, busca não somente compreender o texto, mas também é impelido e iluminado pelo Espírito Santo a ir além da mera casca da letra e adentrar ao âmago da Palavra, como dizia Charles H. Spurgeon (sermão 1503). Portanto, busquemos olhar assim também para esta passagem.
Observemos, em um primeiro momento, o lugar onde ocorre a narrativa bíblica: no santo templo do Senhor. Ali se encontravam toda sorte de judeus, desde os mais devotos e sinceros de coração, até os falsos mestres e aqueles que o eram judeus apenas exteriormente. Atentemos para o fato de que mesmo diante de tão grande templo, o povo costumava se utilizar daquela magnífica construção inspirada e regulada pelo Senhor para as mais diferentes atividades, fazendo com que o antigo templo de esplendor tivesse se tornado "casa de venda". O templo, o lugar representativo e por tantos séculos usado pelos e para os meios determinados pelo Senhor, agora se encontrava entulhado de "bois, e ovelhas, e pombos". Todavia, estes animais não eram o problema, pois a Lei do Senhor prescrevia que quando não se pudesse levar o dízimo (que eram frutos da terra e animais) por a viagem ser demasiadamente longa, poderiam vendê-los e depois comprar o que ofereceriam e comeriam diante do Senhor (Dt 14.22-27). Destarte, visto que não era imprópria a venda de animais para sacrifícios, é preciso ter havido um motivo maior para que Cristo tenha se irado e combatido tão veementemente tais homens.
Este motivo, segundo parece nos fornecer as Sagradas Letras, era a transformação do templo em uma casa de comércio. Em outras palavras, o Jesus estava a combater era a utilização errônea do templo e a falta de compreensão de que aquele lugar abrigava todas as ofertas, sacrifícios e libações que eram requeridas e oferecidas ao Senhor. Assim, Jesus indignara-se santamente (Sl 4.1) - "O zelo da tua casa me devorará" - contra os usurpadores daquele santo lugar, pois havia se perdido a importância do templo para seu próprio povo que era cuidado e agraciado pelo Senhor.
Porém, olhemos com mais cuidado e percebamos que naqueles vendilhões são representados todos os que semanalmente e diariamente se achegam ao Senhor esperando tão somente lucrar materialmente e O ter como financiador de seus adultérios com o mundo e suas riquezas - daí a razão para Tiago asseverar fortemente: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?" (Tg 4:3-5). Quantos são aqueles que no serviço cristão se assentam nos bancos do cristianismo e são igualmente hipócritas e perversos como aqueles que usurpavam a casa do Senhor e a faziam uma "casa de venda"? Muito embora os professos do cristianismo atual não estejam vendendo literalmente animais nos ao redores do templo que é o Senhor, agem mui semelhantemente aos vendedores e cambiadores que foram expulsos pelo Senhor, pois assim como àqueles, estes assistem e escutam o Senhor falar através dos seus profetas (pregadores), entretanto, são tão inúteis e perniciosos ao serviço do evangelho como os vendedores e cambiadores.
É desta forma, portanto, que plenamente se justificou o azorrague (chicote) feito Salvador, pois que outra coisa poderia afugentar os perversos da casa de Deus, se nem mesmo Sua presença pareciam temer? Além disso, por vezes, pode haver melhor remédio do que virar as meses e espalhar o lucro desonesto dos vendilhões e espectadores do evangelho? Aqui, porém, se entende algo a mais: se vê cristalinamente a função e o que o azorrague representava. Quanto à função, compreendia o modo de se extirpar os malfeitores da casa do Senhor e debandá-los para longe, a fim de que não corrompessem ainda mais o verdadeiro serviço a Deus - a expulsão foi direta e sem rodeios. Quanto ao significado ou sobre o que versava o azorrague, entendemos que nele estava personificada a Lei de Deus que preza por Seu criador e não suporta o pecado diante de Sua face. Este entendimento tem sua base na seguinte declaração: "E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito" (grifo meu), que está no Salmo 69.9. Cristo era tão intimamente ligado à santidade e à Lei (pois a Lei O representava, Lc 24.44) que se utilizou do azorrague para dar causa à Justiça e promover o início da restauração na casa do Senhor através da Lei.
Há ainda outra questão a considerar que é o fato de compreendermos que somente a Lei de Deus pode expulsar o iníquo e perverso do meio da congregação espiritual de Israel. O apóstolo nos diz que "até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós" (1Co 11.19), assim como João complementa: "Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós" (1Jo 2.19). Ao entender que o azorrague era como que a Lei de Deus agindo em favor d'Ele mesmo e atingindo os homens por sua perversidade, se depreende a necessidade que todos os seres humanos tem de serem atingidos em seus lombos e mesas carnais com a justa e perfeita Lei divina, para que então se retirem de suas zonas de conforto e reconheçam que só podem habitar e professar uma fé verdadeira no Cristo salvador após reconhecerem que não são dignos de permanecerem na santa habitação do Eterno.
Que hoje, pela Sua graça e misericórdia, o Senhor ainda possa chicotear e virar as mesas de muitos corações, de modo que paulatinamente reconheçam suas misérias, se vejam inábeis diante do Soberano e Santo Deus e se prostrem humildemente diante de Seu poder.
muito bom
ResponderExcluirMuinto bem colocado esse texto, com referencias dentro da palavra, dando sentido a questões que são de certa forma despercebidas nos dias de hoje.
ResponderExcluirTrouxe a certeza de que CRISTO JESUS não confiava no coração do homem ele sabia o que havia no homem e que isso Ele não suporta.
ResponderExcluirTemos que de fato encarar que Ele tudo vê. purifiquemos o nosso templo interior
Veja João 2:23-25
Vislumbrar as minúcias da Palavra, através de uma visão cristã sincera, faz com que o nosso entendimento seja cada vez mais provocado em atingir algo mais. Muito bom!
ResponderExcluirNão há palavras simples, dentro da Bíblia, e sim entendimentos simplórios para os de corações superficiais.
Muitos usam esse texto para impedir que produtos quaisquer sejam vendidos no templo – suas igrejas -, mas não é disso que trata?
ResponderExcluirÉ disso que se trata sim!
A Palavra de Deus é bem clara quanto a isso!
Em nenhum momento,nos quatro evangelhos, diz que Jesus se revoltou por causa dos altos preços. Mas sua revolta era esta: "E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de VENDA." João 2.16
Além, de que, em outas passagens (Lucas 19.45; Marcos 11.15; Mateus 21.12) fica claro que Jesus não expulsou somente os que vendiam, mas também os que compravam.
E quanto a Deuteronômio 14.24-26: "E quando o caminho te for tão comprido que os não possa levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o Senhor teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado;
Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o Senhor teu Deus.
E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o Senhor teu Deus e alegra-te, tu e a tua casa.". Quando Moisés disse isso, ele não se referira ao templo que futuramente seria construido, mas sim a cidade de Jerusalém, a cidade santa que Deus escolheu para pôr o Seu nome. E lá na CIDADE onde o Senhor escolheu, os fiéis poderiam comprar os animais para o sacrifício, mas esses animais de forma alguma poderiam ser vendidos no templo de Deus, mas sim na cidade, aos arredores do templo.
A Casa de Deus é casa de Oração, não casa de vendas, sejam de quaisquer espécie.
"Também os levarei ao meu santo monte, e os festejarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos." Isaías 56.7
"E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, E NÃO FAÇAIS DA CASA DE MEU PAI CASA DE VENDA". João 2.16
"E, entrando no templo, começou a explusar todos os que vendiam e compravam,
Dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores."
Lucas 19.45-46
Que Deus possa abrir o nosso entendimento quanto a isso, as igrejas de hoje não tem muita diferença daquela que Jesus irouce.
Parabéns pelo trabalho, me edificou muito!!!
ResponderExcluirEste comentário é muito bom gostei
ResponderExcluirMuito boa explicação
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