segunda-feira, 16 de abril de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 4 - Homem e Mulher no Jardim, A Questão dos Filhos (Uma Bênção) - Sermão pregado dia 15.04.2012



Série: Homem e Mulher os criou - parte 4 - 
Homem e Mulher no Jardim, A Questão dos Filhos (Uma Bênção) -
Sermão pregado dia 15.04.2012

"E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra" (Gn 1:27-28 - grifo meu).

Após termos analisado algumas questões referentes à criação do homem, da mulher e de seu matrimônio, agora importa-nos notar uma das finalidades dessa união, ou seja, uma vez que o homem deveria deixar pai e mãe e se unir a sua mulher, qual seria o fruto desse novo relacionamento íntimo? A Bíblia nos responde: os filhos.

Em Ezequiel 33.1-9 temos o relato acerca da importância do atalaia (vigia) em meio ao povo de Israel. O Senhor proclama ao Seu profeta de que se o atalaia avistar o inimigo se aproximando e tocar a trombeta para avisar a Israel, então, caso alguém do povo venha a perecer, o sangue não será requerido do atalaia, pois tocou a trombeta e avisou-os do perigo iminente (vs. 3-5). Contudo, se o atalaia ver que a espada se aproxima do povo, mas não tocar a trombeta e alguém perecer, então será réu diante de Deus, pois por não ter avisado o povo é que tal desgraça aconteceu (v. 6). Esse ensinamento nos é por demais importante, pois assim como Ezequiel foi posto por atalaia sobre o povo de Israel (v. 7), também os pastores e mestres são vigias e proclamadores da verdade ao povo de Deus. Assim como foi dito ao profeta (vs. 8-9), o Senhor também requererá o sangue daqueles que velam pelas almas que lhe foram confiadas, de modo que todo aquele que conhece a Verdade, mas não a proclama, será tido por culpado diante do Altíssimo.

É por essa (e outras) razões que ao analisarmos e proclamarmos a questão dos filhos, não devemos nos escusar da obediência, pois se foi do agrado do Senhor nos legar tal registro bíblico, então dever-nos-ia ser grandioso privilégio entender que, apesar do mundo conspirar contra o Senhor e contra o Seu Ungido (Sl 2), "bem-aventurados todos aqueles que nele confiam" (Sl 2.12).

Comecemos a analisar esse ensinamento à luz do Salmo 127.

"Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono. Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, mas falarão com os seus inimigos à porta" (Sl 127.1-5).

1. "Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela."

A preciosa palavra de Deus inicia dando-nos uma negativa acerca da vida cristã - "não edificar a casa" -, e para isso utiliza-se de uma linguagem figurada para transmitir-nos a mensagem do Senhor. A revelação de Deus (a Bíblia) começa falando-nos que se o Senhor não for o "mestre de obras" em nossas vidas, em vão será o nosso trabalho (de servos), pois é sempre primordial que o artífice seja excelentemente dotado de bom saber e juízo adequado para executar aquilo que lhe é por soberania. Tal qual nessa figura de construção usada pelo salmista, Deus também intenta transmitir-nos a deveras importância que é reconhecermos a necessidade de clamarmos ao Senhor e não desejarmos tirar-Lhe a guarda edificatória de nossa casa, como se por nós mesmos pudéssemos decidir qual a melhor maneira de a sustentarmos.

Notemos também que o salmista reclama para si (sob inspiração divina) o direito de dizer que se o Senhor "não edificar a casa". O escritor não nos diz que os servos trabalharão em vão se o Senhor nãos lhes for o arquiteto, mestre de pintura ou encanador; pelo contrário, afirma que o Senhor deve ser aquele que cuida da edificação de nossas vidas, de nossas casas e de nossas cidades (ampliando a abrangência), de modo que ainda que cogitemos e planejemos um número sem fim de possibilidades e desejos para nossa vida, se não tivermos o Senhor como edificador, isto é, o sustentador e firme embasador de nossas vidas, de modo algum poderemos crescer à estatura de Seu Filho (Ef 4.13) e nos portarmos no edifício de Deus (2 Co 5.1).

O Senhor ainda proclama por meio do salmista que não basta haver o Senhor edificado a casa de maneira correta, é necessário também que ele guarde a cidade, pois se assim não fizer, "em vão vigia a sentinela". Todo atalaia do Senhor é chamado a vigiar e tocar a trombeta quando vê o mau se aproximando e visualiza uma futura (ou já presente!) situação de perigo para si e para seu povo. O Senhor precisa ser constantemente nosso chefe da guarda da cidade (onde atuamos como seus servos), pois assim como a Adão foi dito que lhe era honroso obedecer ao Senhor e por isso deveria esmerar-se em lavrar e guardar a terra (Gn 2.15), assim também o Senhor ensina-nos que Ele próprio, quando for constituído por edificador de nossas vidas, haverá necessariamente também de ser o guardador de nossas vidas e relacionamento, de modo que a cidade (o coração) será resguardada do perigo e a sentinela executará bem seu trabalho, pois já não depende de si mesmo para a defesa de seu povo, mas conta com a provisão do Senhor e Seu favor para com os Seus.

2. "Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono".

Após proclamar que ao Senhor é somente devida a glória, poder e capacidade de edificar a vida do crente, o salmista nos apresenta uma razão muito importante para que não nos desviemos do ensinamento proferido, a saber, que se desejarmos desconstituir o Senhor como mestre de nossas vidas e intentarmos achar o melhor caminho aos nossos próprios olhos, certamente tudo nos será inútil. Vemos também o eco desse ensinamento nas palavras do profeta Isaías: "Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!" (Is 5.21). O salmista desejava ensinar seu povo que apesar de toda labuta incansável, do sair de madrugada para ir trabalhar e voltar já tarde da noite para casa, tudo seria-lhes inútil caso não se prostrassem diante do Eterno e a Ele rendessem toda soberania por ser o único habilitado para edificar Sua própria casa.

Assim como a Adão foi dito que, "No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás" (Gn 3.19), também o Senhor proclama que, embora os homens se esforcem para viver uma vida digna aos olhos de outrem (e, quem sabe, de Deus), levantando-se cedo para sustentar a família e voltando tarde - o que indica o muito trabalho que devem executar pelo bem dos seus -, e ainda que comam o pão de dores, isto é, que com muita dificuldade conseguem adquirir o sustento necessário e por vezes não veem nada mais do que dores, tristezas e cansaço ao seu redor, tudo isso lhes será como que "estender-se a rede ante os olhos de qualquer ave" (Pv 1.17), ou seja, tentar captura uma ave, mas sem ser sensato e prudente no escolher e na maneira de se executar a manobra captural.

3. "Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão".

Aqui, o salmista inicia o desdobramento do que vem a ser uma vida edificada pelo Senhor, isto é, o que é uma vida cujo Deus é o Senhor e o que acontece com a sentinela que vigia bem a sua cidade e nela esmera-se sem cessar: os filhos.

Poderíamos inverter as palavras do salmista (colocando-as no positivo) para entendermos o que ele inicia no presente versículo: "Se o SENHOR edificar a casa, não em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR guardar a cidade, não em vão vigia a sentinela. Não vos será inútil levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão do Senhor, pois assim dá ele aos seus amados o sono. [Então] Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão". Para os piedosos no Senhor, o deixar edificar-se pelo Artífice, o guardar da cidade, o vigiar noite e dia, o muito trabalho trabalhar e o comer do pão do Senhor (ainda que com dificuldade, conforme Gn 3.19), resultam muitas vezes na bênção advinda de Deus por meio de " filhos são herança do SENHOR".

Atentemos cuidadosamente para o fato de que, uma vez que filhos só são possíveis mediante a união de homem e mulher - o que nitidamente revela-nos que o salmista também está falando da família em Cristo -, compreende-se melhor e claramente a explicação do salmista ao dizer que o fruto dessa união entre macho e fêmea, isto é, o galardão, a recompensa por seu ajuntamento, é "o fruto do ventre". Para o Senhor, o fruto do ajuntamento entre homem e mulher não é a riqueza material, o status social ou tão somente o deleite mútuo, mas sim o(s) filho(s) dado pelo Senhor. Esse ensinamento certamente nos faz lembrar das palavras de Jesus que nos dizem: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam" (Mt 6.19, 20). Ora, assim como nos é prometido um galardão nos céus, também o Senhor preconiza (adianta) que já na terra haveremos de receber parte de nossa recompensa e aqui mesmo iniciaremos um pequeno desfrutar das bênçãos celestiais - e uma das dessas formas é os filhos dados por Ele.

Lembremos também da condição (emocional) miserável em que se encontrava o patriarca Abrão antes de ter seu amado filho Isaque: "Então disse Abrão: Senhor DEUS, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer?" (Gn 15.2). Para um homem hebreu, o não deixar filhos era-lhe algo vergonhoso, pois como haveria de perpetuar seu nome e de seus antepassados por sobre a terra? A quem relegaria todas as suas posses? Quem continuaria sua peregrinação por sobre a terra e faria seu nome conhecido entre as nações? É nessa triste situação que Abrão encontrava-se, pois o Senhor não havia dado-lhe filhos; contudo, que aqui jamais nos esqueçamos de que esse filho prometido é fruto da promessa de Deus e que também visava o cuidado de Abrão e Sarai (posteriormente tiveram seus nomes mudados para Abraão e Sara): "Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão" (Gn 15.1). É, então, nesse viés que o Senhor decreta a bênção sobre a vida de Abrão e lhe diz: "E eis que veio a palavra do SENHOR a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro. Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência" (Gn 15.4-5).

De grande desesperança e desonra que abatia-lhe o coração, Abrão passa agora a ver no Senhor uma esperança! Sim, mesmo contra toda "lógica humana" e até contrariando a "lei da natureza", o Senhor felicita-o dizendo que não morrerá só, e sim que "irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado" (Gn 15.15). Mas como um homem idoso poderia morrer em paz e em boa velhice ser sepultado? Vemos, portanto, mais uma bênção do Senhor sendo dada a esse grandioso patriarca, a saber, que além do seu filho ser-lhe uma recompensa, também o ajudaria nos afazeres da casa e o sustentaria e sua velhice, de modo que uma vez trabalhado arduamente na terra e na devoção ao Senhor, poderia passar os últimos tempos de sua vida sendo cuidado e assistido por aquele que lhe veio como galardão.

4. "Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade".

O salmista prossegue afirmando que, uma vez os filhos sendo um galardão vindo do Senhor, também são como "flechas na mão de um homem poderoso". Todo bom arqueiro que se preze estuda a arte do combate a média e longa distância na luta homem a homem, de modo que sem dúvida alguma não demora-se em esmera-se em fabricar e/ou comprar a melhor flecha que conseguir, tudo visando o bom desempenho e a devida segurança para o dia da batalha. Entretanto, nos é igualmente mister a visualização de que com a palavra "flechas", o escritor está a passar a mensagem sub-entendida de que se há flechas, há um arco e alguém para utilizá-los. De proveito algum teriam as flechas sem o arco; inútil também se seria se ambos não fossem utilizados por alguém dotado de seu manuseio. É, portanto, nessa seara que o Senhor deseja ensinar-nos a verdade bíblica sobre os filhos, ou seja, de que de modo algum eles são um estorvo e pedra de tropeçar, mas sim que são poderosas "armas" nas mãos de um homem poderoso. Essa declaração suscita-nos uma pergunta: quem é o homem poderoso? A própria Escritura revela-nos que esse homem poderoso é o Senhor dos Exércitos: "Quem é este Rei da Glória? O SENHOR forte e poderoso, o SENHOR poderoso na guerra" (Sl 24.8). Em outras palavras, o que o salmista está proclamando é que homens e mulheres, isto é, os filhos, são flechas em Suas mãos. Ele, o Senhor, completamente capaz de utilizar-se do arco, lança suas criaturas e os faz derrotar o inimigo; não pela força da flecha, mas pela destreza do mestre e conhecedor das táticas militares.

Visualizamos também que, embora seja certo que os filhos são flechas nas mãos do Altíssimo, são também bênção protetoras e animadoras para seus pais. Ao descrever que "assim são os filhos da mocidade", o Senhor ensina-nos que esse precioso galardão é também o modo pelo qual o Senhor sustenta sua família. Especialmente em regiões agrárias (mas não somente), os filhos são vistos como uma mão de obra para ajudar no provimento e administração das terras. Porém, aqui parece-nos que a intenção primordial do salmista não é dar ênfase no sustento, mas na vitória, porque - diz ele - os filhos são como flechas, e não como carros de boi. A vitória é dada aos pais por meio dos filhos, pois quem poderia ser mais habilitado a triunfar sobre as dificuldades da família durante a velhice do que os filhos gerados pelo Senhor durante sua mocidade? Qual dos homens, em lugar da flecha pontiaguda, escolheria o escudo antigo de couro (ou outra coisa) como instrumento de guerra para si, cuja finalidade é somente de cobertura e defesa e pouco poderio tem em arrebatar o inimigo de diante de si?

5. "Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, mas falarão com os seus inimigos à porta".

Em vias de finalização de sua exaltação à criação do Artífice, o salmista declara o quão feliz é o homem que tem sua aljava (lugar onde guardam-se as flechas - geralmente nas costas ou na cintura do arqueiro) cheia. Aqui, continuando sua explanação anterior, o escritor fala-nos da beleza que é ter um depósito cheio, de modo que no momento da batalha, o homem sempre terá ao que recorrer, pois o suprimento necessário estará constantemente junto de seu corpo. Também ensina-nos o Mestre Supremo acerca da importância de ter-se filhos, pois uma vez que Sua Igreja vai-se enchendo de crentes no Senhor e as flechas "começam a crescer", o "homem poderoso" não as abandonará em porão qualquer, mas sim as levará consigo para que possa torná-las em "louvor da sua glória" (Ef 1.6).

Os filhos de Deus que não se privam de encher suas aljavas com as flechas galardoárias do Senhor, têm para si a profunda e maravilhosa promessa de que "não serão confundidos", a saber, não serão abatidos pela guerra e nem dela fugirão; não serão como o exército inexperiente e que nada sabe sobre a arte de militar; não serão como os midianitas despreparados e que a tornaram "a espada de um contra o outro" (Jz 7.22); não serão como as viúvas sem filhos e que não podem-se consolar junto à sua posterioridade... mas serão vencedores, pois sendo o Senhor com eles, "não serão confundidos".

Por fim, o salmista finaliza com o brado de vitória, mostrando que longe de ser qualquer obstáculo ou atravanco para o avanço da vida a dois, os filhos vêm como que por de flores a adornar o jardim do matrimônio e os fazer certeiros da bênção divina, pois "falarão com os seus inimigos à porta", ou seja, vencerão a batalha no lugar de combate, de modo que glorificarão ao Senhor no dia da Sua visitação (1 Pe 2.12) e a Ele renderão graças por tudo que tem feito - filhos que preenchem a vida e alegram o coração.

Se a esposa vem do Senhor e é uma das maiores bênçãos que o homem pode ter nessa terra, então, sem sombra de dúvidas, essa união não é o fim em si mesmo, mas tem sua continuidade na bênção dos filhos da herança concedidos pelo Senhor.

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