Exposição em Efésios -
Sermão pregado dia 15.04.2012
"Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça" (Ef 1.7).
Paulo nos tem ensinado acerca de que tudo o que ocorre sobre o Universo - e isso inclui a vida dos crentes - acontece para "louvor e glória da sua graça" (v.6), de modo que homem algum pode intentar desvendar os mistérios dessa obra divina, devendo, então, somente render glórias ao Senhor e a Ele somente cantar louvores (Sl 47.6), pois é o único digno de ser adorado e reverenciado, uma vez que é o grande Artífice e sustentador de todas as coisas que sub-existem por causa de Sua grande soberania e excelso poder sublime acima de todo céu e toda terra, levando cada um dos homens à máxima glorificação do Seu Nome e render-Lhe gratidão eterna.
Após Paulo ter escrito aos irmãos de Éfeso acerca da grandiosa obra da graça que Ele havia operado no meio deles, agora o apóstolo dize-lhe algo de salutar importância, a saber, que os crentes no Senhor foram salvos pelo sangue de Cristo Jesus - "Em quem temos a redenção pelo seu sangue".
O escritor de Hebreus revela-nos alguns pontos importantes para entendermos essa afirmação de Paulo.
- "Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo" (Hb 7.27);
- "De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes" (Hb 9.23);
- "Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam" (Hb 10.1);
- "E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados" (Hb 10.11).
Nos é mister atentar para o grandioso ensino que o autor da carta aos Hebreus afirma: os sacrifícios do Antigo Testamento não eram o fim em si mesmo, pois apontavam para um sacrifício superior, imaculado e que de uma vez por todas removeria o pecado de Seus filhos. Entretanto, antes de partirmos para a análise do texto em voga, importa-nos observar outro ponto: o que o pecado fez entre nós e Deus.
"Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça... Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade" (Is 59.2, 4).
O profeta é enfático: O Senhor "ouve" (atende) somente o clamor de Seus filhos, pois uma vez que as iniquidades dos homens separam-os de Deus, Ele só abençoará e trará graça e misericórdia àqueles cuja vida foram lavadas pelo Sangue de Cristo, de modo que é impossível para o descrente achegar-se a Deus, e, até mesmo, conseguir o Seu favor. O profeta Isaías não é manso em suas em suas palavras, não tergiversa (se exime do dever) em falar a santa e coerente palavra do Senhor, como que desejando agradar ao povo de Israel e não lhes parecer por demais incisivo e autoritário. O arauto do Senhor é claro: "os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça". Não há a menor razão para acreditarmos que todas as "orações "do mundo inteiro chegam ao Senhor como incenso suave (Ap 8.3-4) e que Ele se agrade de tudo que lhe é pedido em Seu nome. O próprio Tiago escreve-nos dizendo que "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tg 4.3). A causa de Deus não "ouvir" e atender o clamor desse mundo vil que constantemente "suplica" ao "Senhor" por mais justiça, retidão, a fim de possam viver num "mundo melhor", é devido ao fato de que eles não se convertem de seus maus caminhos, não se desviam da iniquidade, nem se apartam da injustiça, fazendo assim com que o Senhor, em vez de ouvir-lhe as súplicas, os castigue ainda mais, pois uma vez que não renderam graças a Ele e nem chamaram Sua misericórdia, ao contrário, desejaram usar-Lhe como que na figura de um "senhor mágico", então "do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça" (Rm 1.18), levando cada qual a sucumbir pelo peso de Seu pecado e reconhecendo que, diante do Senhor, impureza alguma pode habitar, de modo que todos, de uma forma ou outra, reconhecem ser o Senhor justo e íntegro em tudo o que faz, até mesmo quando executa Sua ira e aos homens condena (Sl 7.11).
Olhemos, agora, algumas nuances do versículo que nos foi proposto.
1. "Em quem temos a redenção pelo seu sangue" (grifo meu). Paulo oferece-nos a causa da redenção dos filhos de Deus: Seu Filho Jesus. Notemos que não é sem motivo que nos foi legado o ensinamento de que "nele" (Ef 1.4) temos a redenção, pois conforme vimos acima, o auto de Hebreus explica-nos a causa dos sacrifícios do Antigo Testamento, isto é, que constantemente apontavam para o Senhor Jesus Cristo, consumador e vivificador de nossa fé. No entanto, o apóstolo Paulo não quis que os crentes compreendessem de modo errôneo acerca de quem seriam os beneficiados pela morte vicária (substitutiva), por isso fez questão de escrever: "temos". Ora, quem seriam os integrantes do verbo ter, se não os filhos de Deus? Aqui, de modo sublime e belo, o apóstolo revela-nos a quem foi estendia a morte de Cristo: aos Seus filhos que foram lavados pelo Seu sangue.
Essa declaração apostólica (e inspirada!) remete-nos a, quem sabe, um examinar de nossas convicções, pois quantos foram os anos nos quais - talvez - pensávamos que a morte de Cristo havia sido por toda a humanidade, fazendo com que todos os seres humanos tivessem sido cobertos pelo sangue do Cordeiro e que deles dependeria o aceitar ou não o Seu favor? Paulo de modo algum deseja transmitir que o sangue de Cristo tenha sido derramado sobre toda a terra, pois afirmar tal coisa seria diminuir a eficácia do sacrifício de Cristo, afinal, como coadunaríamos a salvação pelo sangue de Cristo, e, ao mesmo tempo, afirmaríamos que pessoas que [supostamente] foram alcançadas pelo sangue, por fim pereceriam? "E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Ap 12.10-11).
Até mesmo o texto de Apocalipse (escrito pelo apóstolo João) corrobora com esse entendimento, pois também é claro ao dizer-nos que "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro". Ou seja, se a vitória é conquistada por meio do sangue do Cordeiro, como também pode ser possível que ao mesmo tempo, o mesmo sangue não seja capaz de salvar todos os - supostamente - lavados? É preciso, então, que nos desvencilhemos de malignas doutrinas que enfraquecem o sacrífico de Cristo e que O legam a subjetividade do coração humano, como se dependesse do homem operar "tanto o querer como o efetuar" (Fp 2.13).
2. "a remissão das ofensas". Depois de haver proclamado aos amados crentes de Éfeso a importância de reconhecerem que em Cristo eles têm a redenção (perdão) de seus pecados e que tão somente os filhos de Deus é que são agraciados com essa maravilhosa obra, passa então a reforçar esse ensino ao dizer quase a mesma coisa, mas de forma diversa, isto é, que uma vez tendo sido alcançados pelo Seu precioso sangue, isso também implica em dizer que tiveram suas ofensas perdoadas, já não se achando mais como inimigos da cruz, mas amigos de Cristo, conforme lemos: "Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer" (Jo 15.15 - grifo meu).
Outro apóstolo também contribui para esse entendimento ao dizer-nos sobre a preciosidade do sangue de Cristo, como que sendo desejoso de transmitir a magnitude salvífica e redentora que é encontrada no sangue do Cordeiro: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1 Pe 1.18-19). Observemos que as coisas mais preciosas da terra, tal qual o ouro e a prata, quando comparadas ao precioso sangue de Cristo, são chamadas de "coisas corruptíveis", que podem perder seu valor, que a tudo não podem comprar e não trazem segurança alguma para a alma enferma e necessitada da graça do Senhor.
Quando olhamos para o sacrifício de Cristo pelos Seus filhos, e ao afirmar que estamos n'Ele e em contínuo seguimos crescendo em conhecimento e graça de Sua parte, dever-nos-ia aumentar continuamente o amor que temos por Sua palavra e pelas infinitas misericórdias que tem vindo sobre nossos corações, pois quantas são as vezes que deliberadamente ultrajamos os preceitos do Senhor, Lhe cuspimos na face com nossos pecados; mediante nossas atitudes desconformes com a sã doutrina O negamos muito mais que três vezes durante um só dia; num momento rendemos-Lhe louvores, mas no seguinte nos deixamos levar pelos vão desejos da carne... Quantas, quantas são as vezes que isso nos acontecem?! Frequentemente oscilamos entre a justiça e a iniquidade; tal qual Lutero deixou registrado, o pecado é crescente em nós assim como a barba o é em um homem - absolutamente todos os dias de nossas vidas o pecado está desejando tragar-nos e levar-nos de volta para o seu domínio; o maligno não se dá por vencido e diariamente bate-nos porta (Gn 4.7) e deseja nos persuadir assim como o fez com Adão e Eva ao dizer-lhes: "Certamente não morrereis" (Gn 3.4).
3. "segundo as riquezas da sua graça". É então nesse prisma que o apóstolo - como que - exclama: "segundo as riquezas da sua graça"! Uma vez tendo sido resgatados pelo Seu sangue e tendo sido perdoados de nossas ofensas, tudo isso só poderia se dar mediante a graça abundante segundo Jesus Cristo, pois "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5.20).
Creio não ser demais lembrar-nos que o Antigo Testamento também prescreve-nos que já naquele tempo o povo do Senhor era salvo pelo sangue de Cristo. Ao olharmos para a última praga desferida contra o povo egípcio notamos claramente qual seria o sinal que faria com o que povo do Senhor fosse salvo e seus primogênitos lhe fossem poupados: "E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito" (Êx 12.13). Assim como hoje os cristãos são salvos pelo sangue Cristo, os judeus convertidos ao Senhor também eram salvos pelo mesmo Cristo! A diferença que havia entre aquele sangue e o que nos salva, é tão somente de perspectiva temporal, isto é, os judeus eram salvos pelo sangue de Cristo que haveria de ser vertido por cada um de Seus eleitos e que naquele tempo foi representado pelo sangue do cordeiro nas casas (e todos os sacrifícios posteriores que foram instituídos por Deus), no entanto, para nós, hoje o sangue de Cristo já foi derramado na cruz, de modo que enquanto os judeus eram salvos por aquele que haveria de vir, nós o somos por Aquele que já veio.
Precisamos a cada dia buscar mais discernimento da parte do Senhor, pois não são poucas as vezes em que nos vemos sendo atacados por toda sorte de ensinamentos contrários a Lei pura e justa do Senhor e que desejam minar-nos a fé, tudo a fim de que nos desviemos do caminho que lhe foi proposto. O apóstolo escreve aos efésios justamente com o intuito de assegurar-lhe as riquezas da graça que estão presente em Cristo Jesus, mas não somente em Cristo, mas também por causa d'Ele, pois qual dos homens haveria de se achegar ao Eterno mediante vãs filosofias e tentando oferecer algum ouro, prata ou pedras preciosas, sendo que diante de Sua eterna magnitude e sapiência tudo isso lhe é como restolho?
Que o Senhor seja misericordioso conosco e a cada dia faça-nos mais cônscios do Seu sangue precioso, de modo que assim como Adão e Eva foram vestidos de pele de animal, prefigurando o filho de Deus que seria morto e cobrir-nos-ia da vergonha do pecado, nós também expressemos em palavras e ações a cobertura do Senhor que está sobre nós, tudo a fim de magnificar a redenção do Senhor e fazer Seu nome conhecido sobre a terra.
A paz do senhor, muito bom esse ensino.parabens
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