Muitos intérpretes têm estado perplexos com o fato de Paulo poder dizer que confirmava a Lei, especialmente considerando as muitas passagens em suas epístolas que parecem revogá-la. Uma sugestão é que Paulo não queria dizer nada mais que, agora, a Lei é confirmada no sentido de que a verdade à qual testemunhava se sucedeu (v.21 [Rm 3]). No entanto, esta interpretação é claramente insuficiente. Outra sugestão, baseada na visão de que essas palavras referem-se à Lei cerimonial, encontra seu significado no fato de que as cerimônias e tipos foram cumpridos em Cristo. Essa, novamente, não é totalmente adequada, porque quando o apóstolo fala sobre a Lei nessa passagem, ele certamente inclui a Lei moral.
A Lei é confirmada pelo Evangelho de três formas. Em primeiro lugar, com relação às suas penalidades: esse aspecto foi confirmado em Cristo, que satisfez a justiça de Deus. Em segundo lugar, com relação aos seus requerimentos de perfeita obediência: isso também foi cumprido em Cristo. Em terceiro lugar, e o que parece ser o propósito principal de Paulo nessa passagem, a Lei é confirmada pelo Evangelho porque o crente obtém graça, em alguma medida, para cumprir a Lei. O crente, assim, ainda mantém a Lei em sua parte preceptiva, e pela fé em Cristo é auxiliado a uma vida de obediência a ela. A verdade que emerge de um entendimento correto das palavras de Paulo nessa passagem é, então, que a doutrina da graça, quando vista em seu grau mais elevado e completo, não destrói a Lei, mas, antes, a confirma.
[...] A transformação causada pela graça de Deus não é uma mudança na Lei, mas uma transformação nos pecadores com respeito à Lei.
Uma das tentativas de excluir a Lei de Deus da vida do crente é baseada na declaração ilógica de que a Lei, como tal, é anulada mas sua substância permanece obrigatória. Mas, como uma obrigação pode estar presente sem a presença também daquilo que essencialmente é lei? A Lei implica obrigação e vice-versa. Visto que a continuidade da substância da Lei carrega a obrigação, então, quando um crente não caminha de acordo com sua obrigação, ele peca. Não concordar com a obrigação é o mesmo que não concordar com a Lei. Novamente, dizer que a substância da Lei obriga, porém não como lei, é uma contradição em termos; porque o que é a lei se não algo estabelecido por comando e vontade de um superior? Se isso for forçado a uma aplicação particular, pode-se perguntar se o amor por Deus, que é a substância da Lei, também não é a vontade de Deus. Pode parecer ilógico declarar que o amor a Deus deveria obrigar os crentes meramente porque a essência, em si mesmo, é boa, mas que não deveria, de forma alguma, obrigá-los porque Deus deseja que eles o amem. Além disso, as visões que condenam a Lei de Deus devem, necessariamente, negar não apenas a natureza obrigatória da Lei, mas até mesmo a vontade de Deus em requerer que os crentes o amem, visto que a lei nada é além da vontade daquele que a faz.
Por Ernest Kevan
Fonte: A Lei Moral, Ed. Os Puritanos - págs. 86-89.
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