terça-feira, 3 de abril de 2012

Efésios 1.5 (parte 2) - Um Deus Auto-Suficiente - Exposição em Efésios - Sermão pregado dia 01.04.2012



Efésios 1.5 (parte 2) - Um Deus Auto-Suficiente
Exposição em Efésios - 
Sermão pregado dia 01.04.2012

"E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.5).

Em nossa caminhada recém iniciada pelo livro de Efésios, já temos notado uma série de feitos gloriosos e ensinamentos preciosos que o Senhor legou àqueles Seus filhos na cidade de Éfeso, assim também como sempre pontuamos a importância da vida do apóstolo Paulo àqueles queridos e amados irmãos que tanto necessitavam serem ensinados pelo Altíssimo. Tendo em vista que analisamos anteriormente o modo comum pela qual o Artífice arquitetou todos os feitos que aconteceriam no Universo, agora importa-nos verificar o motivo d'Ele ter realizado o que realizou e também alguns porquês concernentes à questão em voga, isto é, o porquê do Senhor ter criado tudo a partir de Si mesmo, com quê finalidade fez tudo para Si mesmo e também por quais razões realizou tudo conforme Lhe agradou. No entanto, antes de respondermos essas perguntas, precisamos analisar uma questão preciosa: "E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo".

Guarde bem esse conselho: Jesus Cristo está em toda a Escritura. Se hoje temos uma revelação completa, isto é, a Bíblia, então temos uma boa razão para crer que nela se manifesta todo intento de Deus ao homem e toda Sua majestade. No entanto, não é incomum encontrarmos pessoas que ao lerem as Sagradas Escrituras, não conseguem perceber o reinado do Senhor Jesus Cristo por detrás das narrativas. É acertadamente que precisamos observar as regras básicas de interpretação bíblica para que não caiamos numa total alegoria e nada seja o que realmente é - como, por exemplo, afirmar que as pedras que Davi tomou para lançar contra Davi eram os atributos de Deus. No entanto, ainda que os relatos tenham sempre boa dose de literalismo bíblico, precisamos sempre buscar encontrar as prefigurações sobre Jesus Cristo, ou seja, ao analisarmos a vida de Noé, Moisés, Davi, Salomão e outros grandes homens, precisamos não somente nos deter no homem Noé ou Moisés, mas também buscar captar de que forma Jesus Cristo é expresso e está infundido em suas histórias. Sendo, então, que Jesus Cristo permeia toda a Escritura - conforme Ele mesmo afirmou: "E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos" (Lc 24.44) -, é mister atentarmos para o fato de que tudo diz nas Escrituras dizem respeito a Deus (como Ser único) e à forma como Ele manifesta Sua graça, ira e justiça diante dos homens.

Ao afirmarmos que Jesus Cristo está - de forma direta ou indireta - relatado em todas as narrativas bíblicas, fazemos coro às palavras já mencionadas do apóstolo Paulo: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas" (Rm 11.36). Esse é um ensinamento salutar para todos os fieis em Cristo, pois uma vez que desde o primeiro capítulo de Gênesis até o último de Apocalipse, compreende a revelação do Eterno e nela se manifesta Seu filho Jesus, desdobra-se o magnífico entendimento de que não há outra razão para lermos as Escrituras se não for para aprendermos sobre quem é Deus e o que Ele é em si mesmo. Deixem-me tentar esmiuçar essa explicação:

O primeiro versículo bíblico começa-nos revelando que Jesus Cristo já estava atuando na criação: "No princípio criou Deus os céus e a terra" (Gn 1.1). Jesus Cristo, o filho do Pai, estava concomitantemente na criação do universo, de forma que ao criar tudo o que veio a lume, já havia por decretar que um dia se esvaziaria "a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.7), isto é, que um dia haveria de deixar a glória e comunhão íntima que tinha com o Pai e suportaria todos os pecados de todos os Seus filhos. Mais adiante, vemos uma clara confirmação de que Cristo Jesus também estava na criação: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26 - grifo meu). A palavra nossa denota claramente o Senhor fazendo alusão às três pessoas da trindade. Se apenas o Pai, o Filho ou o Espírito Santo estivesse a criar todas as coisas, o pronome possessivo não estaria no plural, e sim no singular: "Farei o homem à minha imagem, conforme a minha semelhança". Por isso o pronome usado no plural nos ensina claramente que as três pessoas da Trindade estavam envolvidas na criação, de tal modo que tudo foi criado conforme o intento de Deus, e não conforme o "desejo" de apenas um deles - como se nesse tempo Jesus Cristo nem sequer estivesse nos planos divinos ou que o Espírito Santo fosse habitar nos crentes somente no dia de Pentecostes.

Tendo, então, dito sobre Cristo estar presente em toda a Bíblia e também ela nos ensinar que Cristo Jesus sempre existiu com o Pai e o Espírito Santo, agora é preciso retornar para as palavras de Paulo e buscar entender o porquê dele dizer que fomos predestinados "para filhos de adoção por Jesus Cristo".

Sendo verdade tudo que dizem as Escrituras, então é correto afirmar que não há salvação para o homem fora de Cristo Jesus - "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12). Tendo também por certo que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil a fim de que o homem seja plenamente capaz de encontrar em Cristo e n'Ele ser habilitado para toda boa obra (2 Tm 3.16,17), é necessário atentar para o porquê de termos a esperança da salvação somente em Cristo Jesus. Ou seja, se temos a Bíblia como nossa única regra de fé e conduta, precisamos compreender como fomos adotamos em Jesus Cristo. [1]

Em primeiro lugarem Cristo Jesus é expressa a misericórdia de Deus. Apesar de anteriormente já termos visualizado um pouco sobre esse quesito, nos é importante atentar também para que a misericórdia do Senhor é a causa de não sermos consumidos - "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22). A misericórdia do Senhor é o ponto fundante de não sermos consumidos imediatamente pela ira e justiça divina. Deus é justo em todo o Seu proceder e nada pode lhe torcer ou desvirtuar a balança justiceira que encontra-se em Suas mãos, pois uma vez que Ele endurece a quem quer e executa Sua misericórdia sobre quem Lhe apraz (Rm 9.18), nada resta a nós a não ser elevar nossos corações ao Senhor e agradecermos por toda rica e graciosa misericórdia que tem nos concedido. Aprouve ao Senhor demonstrar Sua misericórdia em Seu único filho, ao fazê-lo maldito num madeiro (Gl 3.13) e sobre Ele imputar todos os pecados de Seus filhos. Em segundo lugarem Cristo Jesus temos a reconciliação de nossas iniquidades. Paulo trata mais especificamente desse assunto no segundo capítulo de nosso livro, no entanto, aqui - e logo adiante - já lança a base de nossa salvação, isto é, que ela veio por meio do Messias que nos livrou de toda maldição do pecado e tornou a "a congregar em Cristo todas as coisas" (Ef 1.10). Cristo é "a propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 2.2), quer dizer, sendo o filho de Deus aquele quem nos livra da ira de Deus e perdoa os nossos pecados, é somente Ele quem pode nos livrar das cadeias infernais e nos ter para Si, apesar de todo lamaçal de iniquidades que outrora nos cobria (Ef 2.1). Em terceiro lugarem Cristo Jesus reside toda fonte de esperança ao homem pecador. De modos diversos (e abundantes!) a Bíblia relata-nos esse ensino: "Cinco de vós perseguirão a um cento deles, e cem de vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós" (Lv 26.8); "bem-aventurados todos aqueles que nele confiam" (Sl 2.12); "Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti" (Sl 91.7); "Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o SENHOR que se compadece de ti" (Is 54.10). É somente em Cristo que temos a esperança de salvação, pois haja vista que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23), devemos colocar nossa esperança exclusivamente na obra de nosso Salvador, porque somente Ele foi o cordeiro sem mácula e que foi capaz de cumprir toda a Lei estipulada desde a eternidade, o que dever-nos-ia levar à compreensão de que toda vez que intentamos "conseguir a salvação" por nossas própria forças, quebramos o primeiro mandamento (Êx 20.3) do Senhor e, assim, desprezamos a obra de Cristo - nossa única esperança.

Amados irmãos, tendo, portanto, uma vez considerado que aqueles que estão Cristo não serão abalados, avancemos rumo à segunda parte e aprendamos das Escrituras o porquê de Cristo ter vindo ao mundo e salvo os pecadores: "Não obstante, ele os salvou por amor do seu nome, para fazer conhecido o seu poder" (Sl 106.8 - grifo meu).

Essas palavras do salmista nos são por demais benéficas, e a fim de aumentar nosso conhecimento sobre o Senhor, vejamos concorrentemente o dito do profeta: "Por amor do meu nome retardarei a minha ira, e por amor do meu louvor me refrearei para contigo, para que te não venha a cortar. Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem" (Is 48.9-11 - grifo meu). É mui maravilhoso notar como apenas nessas duas citações já encontramos oito vezes a declaração das Escrituras de que tudo ocorre porque o Senhor deseja que assim se faça. Não há nada que ocorra ou deixe de se realizar, que assim não se faça de acordo com a vontade soberana do Eterno. O conhecido Salmo 139 nos revela reiteradas vezes o entendimento que o salmista tinha acerca da obra poderosa e perscrutadora que o Senhor tinha sobre sua vida. Ele nos diz: "Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também" (Sl 139.8). Ou seja, o salmista proclama um argumento de absurdo para expor uma causa maior e mais sublime, a saber, o entendimento de que o Senhor está em todos os lugares e a todos desnuda diante de Seu poder.

Muitos homens perversos têm tentado perverter a palavra do Senhor e afirmam que a soberania de Deus não pode ser plena, pois se assim fosse (pensam eles), os seres humanos seriam mero robôs - mas visto que tal questão já foi esplendidamente explicada por muitos santos desse mundo, não convém novamente nos deter nesse pormenor. Sendo Deus onipotente sobre todos os acontecimentos da vida, compreendemos três coisas importantes para nosso entendimento sobre o porquê de sermos adotados em Jesus Cristo e para Ele mesmo.

1. A Soberania de Deus não o torna orgulhoso. Infelizmente tem havido não poucos erros doutrinários no que compete às doutrinas da criação, providência e salvação do homem, de modo que muitos, quando se deparam com as constantes declarações escriturísticas de que o Senhor faz tudo conforme quer, por Ele mesmo e com finalidades Suas, acabam por não entender e se tornam crentes de que o Senhor é uma espécime de "deus orgulhoso", pois "pensa" que tudo gira em ao Seu redor. Entretanto, não há nada mais inverídico que tal afirmação, pois é a própria palavra de Deus que uma miríade de vezes proclama Seu grande amor pelos Seus filhos amados e redimidos por Seu sangue.

É lamentável a observância de certos entendimentos contrários à palavra do Senhor, donde surgem toda sorte de blasfêmias (ainda que "indiretas") contra o poder do Altíssimo e sobre Seu suposto auto-orgulho. Porém, se mesmo com todas as narrativas bíblicas explícitas que afirmam ser Deus o detentor de todo o poder, saber e justiça, alguns ainda intentem contra a soberania de Deus, pensando fraudulosamente que o Senhor nada mais é do que um ser narcisista, sobre isso não contenderemos, pois uma vez que todo ensinamento bíblico faz parte de uma sistema maior de doutrina, não podemos apenas nos deter sobre os porquês do Senhor afirmar ser dono de absolutamente todas as coisas, e sim precisamos avançar em direção a maximização dos desdobramentos possíveis que esse rico ensinamento nos traz. Nesse sentido, as palavras sábias de Salomão precisam ser verdadeiras em nossas vidas: "Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras" (Ec 5.2).


2. Em Jesus Cristo está o perdão de nossos pecados. A residência do perdão dos pecados em Jesus Cristo é salutar para nossa compreensão, pois é devido a esse entendimento que compreendemos que só poderíamos ser adotados por alguém capaz de curar nossas enfermidades e doenças crônicas. Todo aquele que é adotado pelo Senhor, passa então a viver uma vida completamente perdoada pelo sangue do Cordeiro, pois assim como Adão e Eva foram vestidos de pele de animal, prefigurando um dia a morte do Cordeiro que cobriria todo nosso ser, também todos os Seus filhos são cuidados de modo mister, tudo a fim de que "Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca" (Jo 6.39).

Sendo também nossa adoção predestinada com finalidade de sermos um com Cristo - assim como o homem é um com sua mulher, e Deus, um com Sua Igreja -, naturalmente se funda a mui importante graça que reside no filho do Artífice (e que também é o próprio!) que tanto nos assiste a ponto de lavar-nos e purificar-nos de toda vileza e malignidade provenientes do pecado, tudo para que o Seu nome seja glorificado, pois uma vez que Seus filhos antes eram impuros e legados à ira de Deus, agora o Senhor os toma para Si e os faz conhecer a Sua boa e agradável vontade, da onde depreende-se que vai muito além de nosso entendimento todo o bem que reside no perdoar dos pecados, por que qual dos homens insurgiria contra Jesus Cristo e desejaria limitar Sua eficácia em Seus benditos? Por essa razão é que afirmamos que além de uma determinação para adoção, fomos também predestinados para o melhor abrigador e salvador de nossas almas, a saber, Jesus Cristo.

Não há sequer um filho do Senhor que não possa olhar para a cruz e nela visualizar o quão terrível é sua situação diante do Eterno, de modo que ao contemplá-la, nem ao menos se sente digno de aspirá-la e desejá-la para si, pois o mero cogitar da morte já lhe traz assombro e perigo à sua alma. Que dizer então da obra de Cristo por nós, que além da dor suportar, sofreu a ira do Pai em nosso lugar?

3. Tudo converge em Cristo, porque Ele nos faz bem. "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mt 23.37; Lc 13.34). Notemos as santas palavras de Cristo e atentemos, ainda que por um momento, ao que somos comparados: a animais que necessitam de abrigo, caso contrário, morrerão sem proteção. Assim como o animal é desprovido de qualquer poderio em si mesmo para aguentar os primeiros dias e meses de vida, caso não seja suportado por seus feitores, de igual forma somos nós diante de Deus, pois embora sejamos à imagem e semelhança de Deus (coisa que os animais não - vide o relato de Gênesis), tal qual nossos primeiros pais viram-se desnudos e não souberam cobrir-se adequadamente, também é precioso que notemos nossa grande vileza diante d'Ele, de modo que esse entendimento nos leve ao maior suspirar pela graça divina e favor paternal.

É, por fim, nessa seara que vivemos diante do Senhor, pois sendo cônscios de que Ele trata-nos com Sua magnífica bondade, não dever-nos-ia espantar o fato de que se somos informados da grande obra de Cristo por seus Filhos e que n'Ele está toda fonte para realizar tudo que lhe aprouver, é porque é devido ao Seu sempiterno amor que somos levados até Ele. O profeta Jeremias legou-nos tal exemplo: "Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí" (Jr 31.3).

Portanto, sobre todas as coisas compete somente ao Senhor o legislar e determinar, tudo "segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.5), pois "em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12). Que assim como tais palavras foram vivas aos crentes de Éfeso, Cristo Jesus também possa firmar em nossos corações o sentimento de adoção que n'Ele temos, tudo para que a cada novo amanhecer reconheçamos as bênçãos do Senhor, a Ele rendamos nossos louvores e façamos conhecido o Seu poder entre as nações, visando sempre a glória do Eterno, nossa humilde submissão e agradecimento pelas dádivas recebidas "por Jesus Cristo".

Notas:
[1] Nesse ponto, cabe apenas uma explicação geral da doutrina. No entanto, em Ef. 2.16, veremos mais detidamente como nós, gentios em Cristo Jesus, fomos adotados por Ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comente este texto. Suas críticas e sugestões serão úteis para o crescimento e amadurecimendo dos assuntos aqui propostos.

O culto online e a tentação do Diabo

Você conhece o plano de fundo deste texto olhando no retrovisor da história recente: pandemia, COVID-19... todos em casa e você se dá conta ...