sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Caráter Puritano


Por causa da propensão ao mal presente na natureza humana, os puritanos estavam bem cientes do engodamento do pecado. John Owen enxergou três estágios no engano do pecado.

(1) - Primeiro, a perspectiva se perde na vileza do pecado e na maravilha da graça de Deus. A tendência do pecado é sempre diminuir a seriedade do pecado. A verdade bíblica perde sua empunhadura na imaginação e é reduzida a simples conteúdo cognitivo. À medida que as sensibilidades espirituais são entorpecidas, o cristão perde aquele "prazer santo" que já foi motivo primeiro em sua vida.

(2) - Em segundo lugar, quando as inclinações não estão firmemente direcionadas às coisas de Deus, a atração do pecado faz sua aparição na imaginação. À medida que o pecado é contemplado sem o correspondente senso de desgosto, ele capta a imaginação e a torna positivamente desejável. A imaginação "rola" o prazer do pecado, "tal qual o rolar da comida, feito pela língua, para agradar o paladar".

(3) - Em terceiro lugar, a vontade anui au que parece ser bom à mente e cria racionalizações pra justificar o pecado que está sendo contemplado. As emoções são alteradas e inflamadas pelas representações vívidas do prazer do pecado, enquanto as convicções da consciência são aliciadas. Se essa "corrente de engano" não for quebrada, ela conduzirá a atitudes e ações pecaminosas. "Mas tarde, após o pecado residente ter criado um padrão de hábito, o ciclo pode ocorrer tão rapidamente que não haverá mais quaisquer consciência dos "estágios", do "conferenciar e do seduzir". Em lugar disso, o comportamento acontecerá rapidamente e com pouca advertência". Nesse sentido, Thomas Brooks adverte contra o engano do pecado quando ele aparece por intermédio das cores da virtude. Em sua descrição acerca do efeito produzido pelo desmascarar do pecado, a eloqüência de Brooks condiz com a importância do evento e capta a o intensidade que é a marca registrada do puritanismo:

"Ah, almas! Quando te deitares sobre o leito de morte, e compareceres diante do tribunal, o pecado será desmascarado, suas veste serão retiradas, aí ele terá a aparência de mais vil, imundo, e terrível que o próprio inferno; dessa forma, aquilo que outrora aparentava ser doce agora parecerá tremendamente amargo, e aquilo que aparentava ser mais prazeroso parecerá tão desprezível, tão assustador à alma. Ah! a vergonha, a dor, o fel, o amargor, o horror, o inferno que a realidade do pecado, quando despido, despertará nas pobres almas! O pecado certamente se demonstrará mau e amargo para a alma, quando suas veste forem arrancadas... até temos pecado, Satanás é um parasita: quando pecamos, ele se torna um tirano"

Brooks também adverte que dar preferência a um pecado menor impele o diabo a nos tentar a cometermos um pecado maior. "O pecado possui natureza usurpadora; ele rasteja, deslizando pelos degraus da alma, passo a passo". Com isso, Owen concordou, apresentando o pecado como uma força existente dentro do coração humano:

"Primeiro ele cobiça, mexendo e movimentando invenções imoderadas na mente; deseja, por meio dos apetites e dos interesses, propondo-os à vontade. Mas não pára por aí, pois não pode parar; ele insta, pressiona e persegue seus propósitos com determinação, força e vigor, luta, contende e guerreia para obter seu fim e propósito"

Dessa forma grande parte do aconselhamento puritano concentrava-se no problema do pecado por causa da sua extensão penetrante, seu caráter enganador e sua natureza pervertida. Reconhecendo o engano residente em cada coração, os conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas menos queriam ouvir era o que elas mais precisavam ouvir. Por conseguinte, a solução que os pastores puritanos ofereceram aos dilemas criados pelo domínio do pecado foi o princípio da mortificação.

Mortificação significa matar as obras do corpo (Rm 8.13). Mortificar significa tirar toda a força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa agir por conta própria ou se impor na vida do crente. Isto inclui não apenas o fruto do pecado nos padrões de conduta exterior, mas também a raiz do pecado nas motivações e desejos interiores.

Em seu desenvolvimento do conceito de mortificação, Owen explica primeiro o que o conceito não é, antes de descrever o que ele é. Mortificação não significa eliminar o pecado a tal ponto nesta vida que esse deixa de se constituir problema. Embora, esse seja o alvo da santificação, ele não pode ser alcançado na vida presente por causa da presença do pecado que em nós habita (Rm 7.14-25). Em segundo lugar, mortificação não significa alcançar um grau de civilidade ou conformidade à moralidade exterior, pois tal "pode parecer para o próprio homem e para os outros que são bastante mortificados, quando, quem sabe, seus corações sejam um fosso permanente de todo tipo de abominações" Em terceiro lugar, a mortificação não significa substituir um pecado por outro, pois todo pecado é digno de morte. Por fim, vitórias ocasionais sobre o pecado não constituem mortificação do princípio do pecado.

O delinear de Owen daquilo que está presente na mortificação foi muito bem resumido por Fergson:

"Ao contrário, a mortificação envolve o enfraquecimento habitual do pecado, e o constante lutar contra ele, com certa medida de sucesso. A batalha precisa ser perpétua, pois cada manifestação do pecado contém as sementes do domínio ímpio do pecado, e inclina-se sempre para o mesmo fim. Existe uma crucificação universal necessária da carne por meio da qual o peado é enfraquecido"

O segredo do caráter puritano pode ser encontrado na atitude para com a vida cristã na constante batalha espiritual contra o pecado. Isso difere bastante da quantidade de seminários a respeito de batalha espiritual que estão sendo oferecidos hoje, em que o cristão aprendem a lutar contra forças demoníacas ao seu redor. Os puritanos não lutavam contra demônios, mas contra si mesmos, por conseguinte adquiriam certa maestria sobre si mesmos, produzindo piedade e vida.

Autor: não informado 
Fonte: MayFlower

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