segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Terceiro elemento constitutivo do culto público: Audição da Palavra de Deus - Sermão pregado dia 29.20.2011



Terceiro elemento constitutivo do culto público:
Audição da Palavra de Deus -
Sermão pregado dia 30.10.2011

Amados irmãos, dando prosseguimento aos elementos constitutivos do culto público (clique nos links e leia os anteriores: Primeiro ElementoSegundo Elemento), chegamos hoje ao terceiro elemento que constitui, que deve fazer parte do culto público, a saber, a audição da palavra de Deus. Em nossos cultos anteriores, primeiramente vimos a importância que a pregação a partir da Bíblia é essencial para a vida da igreja e que é nesse firme dever com que o pastor e ensinador deve se se esmerar. No segundo elemento - leitura da palavra de Deus - visualizamos a importância de temos a Bíblia como única fonte de ensino e repreensão para nossas vidas e a validade que a leitura pública tem sobre todos. Hoje, portanto, veremos a necessidade que o crente tem de vir "preparado" para ouvir a palavra de Deus.

Quando falamos sobre a importância de ouvir-se a palavra de Deus durante o culto público, estamos querendo dizer duas coisas: Primeiro que estamos indo a um lugar para ouvir a palavra de Deus, isto é, vamos até a igreja (local onde os crentes se reúnem frequentemente) não para ouvirmos um homem falar, mas para ouvirmos Deus comunicar-se conosco. E em segundo lugar, esperamos que de fato Deus fale aos nossos corações através do ministro do evangelho, isto é, cremos que ao ouvirmos um homem pregar, na verdade é Deus quem se comunica conosco através de seus servos.

Tenho convicção de que essas duas coisas foram distorcidas - muitíssimo infelizmente - por duas pragas que atingiram a igreja evangélica: o pentecostalismo e o neopentecostalismo. 

pentecostalismo veio de maneira sorrateira, introduzindo levemente alguns pensamentos mundanos à igreja com o intuito de "melhorar" o serviço cristão. "Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição" (2 Pe 2:1 - grifo meu). Observe que Pedro diz que tais falsos profetas e mestres introduzirão de maneira encoberta, isto é, de modo obscuro, devagar, sem que seja percebido - mas não somente isso, eles também chegam a negar que o Senhor os resgatou. Como eles negam que o Senhor os resgatou? De muitas formas, certamente, mas a principal delas é dizendo que o seu próprio "livre arbítrio" as salvou do inferno e as fez trilhar o caminho do Salvador; Jesus ajudou, mas "eu" finalizei. 

Então, se o pentecostalismo tentou vir de forma sorrateira, o neopentecostalismo escancarou as heresias e fez com que o seu estado atual fosse pior que o anterior. "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro" (2Pe 2.20). Enquanto os pentecostais ainda tentavam manter a balança levemente equilibrada, os neopentecostais vieram e simplesmente chutaram a balança de medir e fizer o que era contrário à lei do Senhor - "A balança enganosa é abominação para o Senhor; mas o peso justo é o seu prazer" (Pv 11.1). Mas como eles fazem isso? Dizendo que é o homem que deve interpretar a Bíblia da melhor maneira que lhe convém, que é o homem a medida de todas as coisas, que é o homem quem deve decidir o seu futuro, que é o homem quem "compra" a salvação, que é o homem que determina e acontece, que o homem é o soberano, que o homem é o detentor do saber... a lista não tem fim.

Meus queridos, devemos também lembrar que nem sempre a heresias é tão "visível" a ponto de a percebermos no primeiro olhar, mas são justamente essas "pequenas heresias" que acabam contaminando toda a igreja de Cristo e fazendo com que os homens de Deus desviem-se do alvo e passem a servir a Satanás.

Quando então falamos sobre ouvir a palavra de Deus, precisamos compreender que SEMPRE que lemos e ouvimos a palavra de Deus (a verdadeira palavra de Deus e não a Bíblia como forma de dizer-se o que se deseja), é o próprio Senhor que está a se comunicar com os seus filhos e com todos aqueles que ainda não conhecem a Cristo mas que O leem e/ou O ouvem. Ouvir a palavra de Deus não é uma sugestão de Jesus ou de Paulo, mas uma ordem firmemente estabelecida nas Escrituras. Ir à igreja, reunir-se com os irmãos, falar sobre as Escrituras, lê-la, ouvi-la, cantá-la, não são "sugestões" bíblicas, mas mandamentos que TODOS os crentes devem seguir. Embora muitos crentes saibam disso (na teoria), negligencias tais mandamentos em seus cultos públicos.

A ideia moderna não é mais de que o culto público serve para o crente ouvir o Senhor e louvá-lo, mas sim que o culto público é o momento em que o crente faz o seu melhor "para Jesus". Tem-se disseminado a ideia de que o culto é um momento de - quase que - uma amostra de talentos humanos. Enquanto alguns apresentam-se tocando, solando, cantando, outros demonstram por meio da retórica e do bom falar o quão eruditos e ensinados são.

Meus irmãos, o que é que há em nós para dizermos que o culto é o momento de darmos o nosso melhor "para Jesus"? Acaso nosso grande mestre necessita de alguma coisa? Falta-lhe algum louvor nos céus para que precise de adoração vinda de um coração corrompido (ainda que regenerado)? Por algum motivo o Senhor Soberano está nos céus, mas não está satisfeito em si mesmo e por isso precise de louvores humanos? É necessário que compreendamos que o culto público não serve para o crente servir ao Senhor, mas justamente o contrário, isto é, são nesses momentos que o Senhor comunica-se conosco e agracia-nos com Sua presença. Certamente que durante o culto nós o louvamos, mas isso é diferente de dizer que o culto serve para darmos o nosso máximo - como se não precisássemos viver constantemente dessa forma.

Diante disso, pergunto: Qual deve ser nossa disposição para o culto ao Senhor? Nossa disposição deve ser a mesma do salmista quando disse: "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor" (Sl 122:1). Para os judeus do Antigo Testamento, Jerusalém era a cidade que representava a estadia do Senhor em meio ao seu povo. Para eles, ir à Jerusalém e louvar ao Senhor, era uma das maiores alegrias que poderiam lhes ocorrer, pois lá "encontravam-se" com o Senhor e juntos (em comunidade) louvavam e eram fortalecidos pelo Senhor.

Não temos mais a Jerusalém terrena como nosso ponto de referência, mas temos a reunião dos santos como o momento sublime de nossa semana. O ápice de nossos dias deveria ser o domingo, o dia do Senhor, o dia em que comungamos em torno da causa de Cristo e de Seu estandarte. Ao irmos para o culto dos crentes, deveríamos de ter em mente que não estamos indo para um mero ajuntar-se de amigos, mas que lá esperaremos de maneira REVERENTE o Senhor falar conosco. Porém, infelizmente não é isso que temos visto em muitas igrejas. A igreja atual tem pervertido o sentido do culto público. Tiraram-lhe o status de santidade e reverência devida e deram-lhe uma "roupagem nova" que para nada serve, exceto entreter os homens pecadores e atrair a ira do Senhor.

"O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução" (Pv 1:7). Observe como o escritor chama aqueles que não têm o temor do Senhor: loucos! Homens sem juízo, cuja razão de existirem é tão somente para encherem e se fartarem do pão do mundo e para beberam da água que torna a dar sede. Homens que acham-se donos do próprio umbigo, que pensam que podem oferecer um fogo estranho ao Senhor, que não creem na suficiência das Escrituras para salvar e guiar o homem por esse mundo vil, que não atentam para as palavras do Senhor e por isso caminham em passos largos pela larga vereda, pensando consigo mesmos que estão a trilhar o reto caminho.

Tenho visto muitos crentes desperdiçarem o momento da palavra de Deus por muitos motivos fúteis e sem qualquer justificativa bíblica (aqui, não estou a falar sobre as vezes em que realmente estamos impossibilitados de ir ao culto público, seja por motivo de doença, necessidade urgente, ajuda ao próximo ou outra coisa qualquer). Amados, respondam para vocês mesmos: quantas vezes que vocês já vieram para a igreja com a cabeça "no mundo da lua"? Quantas vezes vocês fizeram mil e uma coisas antes de vir a igreja, exceto orar, ler e prepararem-se para esse momento? Quantas vezes vocês se "esqueceram" do horário do culto porque estavam entretidos com atividades que não eram lícitas para aquele momento? Quantas vezes que vocês deixaram de se organizar de maneira adequada e chegaram atrasados no culto por puro descaso para com a Palavra de Deus? Por algum motivo o culto público lhes é assim tão fútil e sem sentido que seus afazeres terrenos sejam de tal importância a ponto de cobrirem até mesmo esse momento dedicado ao Senhor? Quero crer que não e por isso passo a expor 3 motivos pelos quais devemos ouvir a palavra de Deus e também o porquê de precisarmos ouvir com um coração reverente - Rm 10.13-17.

1. Ouvir a palavra de Deus é a maneira que o Senhor usa para salvar o homem.

"Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (vs. 13-15a). Embora ao homem moderno possa ser agradável a ideia de que Deus salvará homens que nunca ouviram falar do evangelho, não é assim que a Bíblia retrata a salvação. A salvação bíblica vem por meio da palavra de Deus, quer seja por meio da leitura das Escrituras ou pela pregação da verdadeira palavra de Deus.

O apóstolo Paulo nos ensina que " todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo", porém ele faz algumas perguntas aos romanos a fim de ensinar-lhes sobre como é possível o homem invocar o Senhor: "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?". O que Paulo está dizendo é que a palavra do Senhor precisa chegar ao homem ímpio para que ele seja regenerado. Certamente que a natureza revela-nos a criação do Sustentador de todas as coisas, mas ela não consegue comunicar-nos a salvação. Por mais que os rios, os pássaros e toda sorte de animais reflita e beleza e magnitude da criação, esses elementos não transmitem graça a ponto de retirar o homem de seu lamaçal de pecado em que está inserido. É a partir desse ponto que Paulo ensina os romanos dizendo-lhes que é necessário que o homem conheça o Senhor para então poder arrepender-se de seus pecados e ir a Cristo - pois como seria possível alguém ir até Cristo se nem ao menos O conhece ou ouvir falar?

Aqui, a ênfase de Paulo recai sobre a importância de pregarmos a palavra de Deus a toda criatura, mas implicitamente devemos lembrar que, se é necessário que preguemos a sã doutrina, é igualmente necessário que ouçamos atentamente o evangelho que é poderoso para nos salvar, isto é, se queremos pregar corretamente a palavra de Deus para nossos parentes, amigos, colegas e desconhecidos, precisamos estar firmemente estabelecidos sobre a rocha que é Cristo, pois caso contrário pregaremos um evangelho de homens e não de Deus.

2. Ouvir a palavra de Deus torna o homem formoso.


"Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas" (v. 15b). Aqui, Paulo anima os irmãos a pregarem o evangelho e lhes dizem que grande e majestosa é essa tarefa! - "Como são belos os pés dos que anunciam boas novas!" (NVI). Paulo escreve aos romanos para que eles animem-se e preguem o evangelho, sabendo que esse dever não lhes é algo sem valor, mas que os torna belos ao olhos do Senhor, pois estão espalhando as boas novas, isto é, de que Cristo veio ao mundo para salvar pecadores. Aqui, é também necessário que tratemos como anteriormente, ou seja, de que se desejamos ser belos e formosos no serviço do reino de Deus, não podemos ser negligentes para com nossas disciplinas cristãs.

Escute bem o que vou lhes dizer: o jovem cristão não foi dotado de energia e grande vigor para aproveitar esses anos como bem lhe apraz. O jovem cristão não foi investido de grandes ideias para ganhar muito dinheiro e ficar viajando pelo mundo e conhecendo novos lugares. O jovem cristão não tem grande disposição para festas e encontros com os amigos, para ir dormir tarde no sábado e acordar "em cima da hora" do culto e praticamente dormir durante a pregação da palavra. O jovem cristão é aquele homem e aquela mulher que usa TODA a sua energia a fim de proclamar o evangelho de Cristo Jesus. O jovem cristão é aquele que aproveita sua "insônia" para ler, orar, pregar o evangelho e crescer em comunhão com Deus. O jovem cristão é aquele que sabe ser mordomo das coisas que lhe foram confiadas. O jovem cristão é aquele que planeja a sua semana a fim de poder descansar das atividades seculares e aproveitar o domingo como um momento de regozijo e restauração interior, pois teve uma semana de lutas e terá uma semana com grandes tentações que tentarão lhe persuadir o coração e fazer com que se desvie do reto caminho.

Quando Jesus disse, "porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem" (Mt 7.14), Ele não estava dizendo que a porta é estreita quando vista de longe, mas larga quando vista de perto. Não, não há aqui menção a qualquer teoria relativista ou humanista que busque acrescentar vãs filosofias do homem e que diga que na verdade o caminho é bastante largo, mas no intuito de amedrontar os homens, Jesus disse que era apertado e que por isso poucos há que encontrem a vida nele contida.. Há sim, e tão somente, a afirmação de que a porta é estreita e caminho que o crente deve seguir é um caminho apertado, isto é, ou pautamo-nos pelas Escrituras e encontramos a Vida ou estaremos no caminho largo e que leva à perdição e acharemos que estamos no caminho correto.

3. Ouvir a palavra de Deus não se traduz necessariamente em mudança de vida.

"Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (vs. 16,17). Finalizando seu argumento iniciado no versículo 12 - "Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam" - Paulo expõe aos irmãos de Roma que quando eles saíssem para pregar o evangelho, não deveriam esperar que todos se convertessem e voltassem-se para o Senhor, pois muitos os ouviriam, mas seriam cegados pelos seus pecados e rejeitariam a palavra do Mestre. Mas então, de que serviria a pregação se nem todos se convertem? Paulo responde dizendo que "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus", isto é, ainda que muitíssimos não se dobrem diante do Altíssimo, a palavra de Deus é eficaz na vida de todo homem que se arrepende de seus pecados e torna a trilhar os caminhos do Reino.

De acordo com o que temos visto, devemos também saber que isso se faz presente em nossas vidas, pois o mero frequentar o culto público não se traduz obrigatoriamente em mudança vida. "Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1 Jo 2:6). Neste ponto, vemos que João escreve dizendo que é um desdobramento natural da vida do crente o fato de ele buscar caminhar e viver conforme Cristo andou, "Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Ef 4.13). Ao olharmos para a vida dos apóstolos de Cristo, certamente que encontramos muitas falhas e desvios, contudo uma coisa nos deveria chamar a atenção: eles buscavam estar perto do Mestre. Não me recordo de algum relato em que um dos apóstolos chegou "correndo" para o culto ou que no dia seguinte mandou uma carta para Jesus dizendo que não havia estado com ele no dia anterior porque lhe havia surgido uma oportunidade de encontrar-se com seus amigos ou viajar para algum lugar paradisíaco. O que encontro são homens falhos e pecadores, mas que deixavam tudo o que tinham para trás em busca e avançavam rumo ao Reino que lhes fôra prometido. "E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62).

Que nessa manhã possamos ser renovados pelo poder de Deus. Que o Seu santo Espírito manifeste-se em nossas vidas de maneira grandiosa e nos livre de toda indiferença para com Sua palavra. Que o Senhor quebrante nossos corações e nos leve a dar mais valor à Sua palavra pregada, lida e ouvida. Que possamos mudar nossos hábitos e valores a fim de crescermos espiritualmente em santidade, "sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).

Amém.

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