Há certas coisas que não precisam ser estimadas em números para se ter certeza de sua validade. Não é necessário levantar um censo para verificar se as pessoas bebem água ou se alimentam, por exemplo. Trazendo para a fé cristã, há também algo que não precisa ser questionado, pois é um fato comum a todos: algumas vezes o cristão pensa em desistir do evangelho.
O homem trabalhador, enfrentando grandes dificuldades em seu labor, lutando contra os pensamentos malignos e buscando se pautar com honestidade e justiça, em determinado momento se vê completamente frustrado, seus planos parecem não prosperar e ele pensa: "por que ainda sigo a Cristo?". A mulher, por vezes trabalhadora, noutras do lar, se esforçando contra as vicissitudes da vida, desejando ser uma mulher virtuosa à semelhança de Provérbios 31, não consegue ver grandes mudanças em sua vida, seus filhos mesmo sendo admoestados sob a Bíblia, muitas vezes se rebelam e ela pensa: "por que ainda sigo a Cristo?". O jovem, no auge de sua força física e com os hormônios a todo vapor, se esmera em permanecer santo, dar bom testemunho no trabalho, na escola e faculdade, mesmo com falta de tempo procura ler as Escrituras, todavia, diversas vezes se vê frágil diante do pecado, vacila, cai e pensa: "por que ainda sigo a Cristo?". Até mesmo o pastor, homem chamado por Deus para guiar o povo sob o cajado do evangelho, levando a palavra de Deus e se esforçando em pregar corretamente, intentando, assim como o apóstolo Paulo, não ser reprovado naquilo que ensina os demais (1Co 9.27), incontáveis vezes se vê abatido, desanimado, cai em diversos pecados (tanto quanto os demais cristãos), olha para trás e vê, talvez, uma brilhante carreira que deixou para seguir o Salvador, e então pensa: "por que ainda sigo a Cristo?".
Amado cristão, você certamente já passou por alguma situação acima. Sei que você já viveu, porque eu vivo e ainda irei pensar nesta pergunta, "por que ainda sigo a Cristo?", até o final de minha vida. Eu e você pensaremos nisto porque ainda vivemos sob os efeitos do pecado original. É verdade que fomos lavados pelo sangue do Cordeiro, mas o pecado fortemente nos ronda e assedia (1Pe 5.8). Tão grande é sua força sobre nós, que constante nos leva a imitar o pecado de Adão Eva, nos fazendo pensar: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" (Gn 3.1). Muitas vezes duvidamos da Palavra.
Diante disso, precisamos, mui brevemente, responder a indagação: por que não conseguimos abandonar o evangelho?
Em primeiro lugar, não conseguimos abandonar o evangelho porque Ele é a causa de todas as coisas. Lemos cristalinamente: "Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele" (Cl 1.16). Perceba que a Bíblia, sempre, todas as vezes, sem qualquer chance de ser diferente, invariavelmente começa de "cima para baixo", isto é, inicia com Deus em direção ao homem. Ele criou os céus, Ele criou a terra, Ele criou os animais, Ele criou os homens, Ele manda a chuva, Ele domina sobre os planetas, Ele é o dono das guerras... Daí, então, ser claro o porquê de lermos: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém" (Rm 11.36).
Os cristão não "conseguem" abandonar o evangelho, por mais mazelas que sofram, pois não se alistaram forçadamente ao Reino de Deus. Foi com grande benignidade que fomos atraídos e remidos (Sl 86.13). Porque Ele a causa de todas as coisas, então os cristãos verdadeiros não podem abandonar o evangelho, pois o Senhor é infinitamente mais forte do que suas vontades pecaminosas.
Em segundo lugar, não conseguimos abandonar o evangelho porque Ele nos amou primeiro. O apóstolo João afirma: "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro" (1Jo 4.19). Esta declaração é de suma importância, pois se nós O tivéssemos amado primeiro, então Cristo seria refém de nosso amor. Poderíamos barganhar com o Senhor e ordená-Lo a responder nossas orações, intimidando-O e o alertando sobre que, caso não nos atendesse, O deixaríamos.
Porque Deus nos amou e enviou o Unigênito (Jo 3.16), nós O amos. A causa de não conseguirmos deixar o evangelho pode ser claramente resumida neste versículo: "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4.10).
Em terceiro lugar, não conseguimos abandonar o evangelho porque Ele nos elegeu para a santidade e amor. À igreja em Éfeso foi escrito: "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor" (Ef 1.4). Deus elegeu cada cristão que haveria de permanecer até o fim. Esta preciosíssima doutrina é ecoada também no Apocalipse segundo João, quando nos é revelado que só adoraram a besta (clique aqui para ler mais) aqueles "cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo" (Ap 17.8).
A razão pela qual, mesmo sofrendo duras baixas na luta contra o pecado, o cristão permanece buscando a santidade, é porque para isso foi eleito. Jamais ele foi eleito pelos seus próprios méritos, pois Deus tem misericórdia de quem deseja (Rm 9.15) e a única expressão de nosso coração deve ser: "graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" (1Co 15.57).
Em quarto lugar, não conseguimos abandonar o evangelho porque Ele nos predestinou para louvor da Sua glória. A Escritura ensina de maneira ímpar: "E nos predestinou... Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado" (Ef 1.5-6). A Bíblia nos exorta a não contender com o Senhor (Rm 9.20). Ser eleito e predestinado por Deus, jamais deve ser fonte de orgulho. É um falso cristão ou na melhor das hipóteses, um cristão que está em erro, todo aquele que se orgulha por ter sido eleito. Se acaso o leitor assim pensa, que se recorde de Judas, que apesar de figurar entre os doze, seu pacto era com Satanás.
Os cristãos não conseguem abandonar o evangelho porque para isso foram criados. Fomos criados para louvarmos ao Senhor e, portanto, não conseguimos fazer nada diferente disso! Todas as vezes em que o pecado nos assedia e lamentavelmente a ele nos juntamos, posteriormente, sempre, o Espírito Santo de Deus nos recorda: "Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" (Rm 10.9). Devemos engrandecer ao Senhor, porque nos predestinou e nos criou para Seu louvor. Que imensa e maravilha boa nova!
Em quinto lugar, não conseguimos abandonar o evangelho porque Ele é nosso irmão mais velho. Cristo Jesus é descrito como nosso genuíno irmão: "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8.29; Mc 3.32-34). Se assim é, então necessariamente somos membros da família de Deus! Se Cristo é um irmão mais velho, Deus é também nosso pai!
Querido crente, descanse em Cristo. Não, não esmoreça. As tentações virão, mas lembre-se de que se você verdadeiramente está em Cristo, perseguirá as boas obras para o qual foi criado (Ef 2.10).
Atentemos, porém, sempre ao santo aviso, quando Paulo escrevia à igreja na Galácia e lhes admoestava de que haviam sido libertos das amarras do pecado e agora eram livres dele em Cristo Jesus: "Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne" (Gl 5.13).
Que Deus nos abençoe.
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