Homem e Mulher após a Queda - O Uso do Véu
Sermão pregado dia 02.09.2012
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Este é o último artigo que vamos tratar nesta série sobre o homem e a mulher. Somos gratos ao Senhor por todo bem que nos tem feito até aqui e nos ensinado em Sua sã doutrina. Vejamos, portanto, a questão do uso do véu pelas mulheres.
Muito se tem dito sobre esse assunto no meio evangélico, todavia, muito também se tem distorcido com relação a esta tão importante doutrina que é o uso do véu esboçado principalmente em 1Coríntios 11.1-16. Logo de início deixemos registrado que a palavra "véu" é uma palavra que os tradutores entenderam por bem colocar em nossas versões bíblicas, porém, a palavra original não é "véu", e sim "cobertura/manto". A própria versão do rei Tiago (King James) traz a palavra "cobertura". Por mais bem intencionados que possam ter sido os tradutores, a palavra "véu" trouxe mais confusão do que ajuda - bom seria se tivessem traduzido por "cobertura". Assim, toda a vez que lermos ou falarmos em "véu", que se recorde que não estamos nos referindo a um pedaço de pano ou tecido específico, mas de algo que cobre a cabeça. Quer dizer, não é necessariamente um véu (tipo chiffon ou de renda), mas algo sobre a cabeça - seja o véu em si ou um chapéu, gorro ou coisa semelhante. Apesar de para alguns isto parecer não tão relevante, na verdade é de muita importância, pois caso contrário teria de se usar literalmente e apenas o véu, sendo o chapéu, gorro ou outra cobertura, fora do padrão bíblico.
Penso que o motivo para muitos rejeitarem instantaneamente esta questão seja o fato de realizarem analogias com outros grupos que possuem a mesma prática, mas que não estão em conformidade com a sã Palavra de Deus. Explico: muitas pessoas rejeitam o batismo infantil porque o romanismo assim também procede; muitos não aceitam o cântico a cappella (sem instrumentos) porque eventualmente alguns monges e outros grupos possuem esta mesma prática; do mesmo modo, então, muitos ignoram o uso do véu, porque, por exemplo, atualmente algumas outras igrejas não tão centradas na Palavra de Deus praticam o uso do véu pelas mulheres.
Penso que o motivo para muitos rejeitarem instantaneamente esta questão seja o fato de realizarem analogias com outros grupos que possuem a mesma prática, mas que não estão em conformidade com a sã Palavra de Deus. Explico: muitas pessoas rejeitam o batismo infantil porque o romanismo assim também procede; muitos não aceitam o cântico a cappella (sem instrumentos) porque eventualmente alguns monges e outros grupos possuem esta mesma prática; do mesmo modo, então, muitos ignoram o uso do véu, porque, por exemplo, atualmente algumas outras igrejas não tão centradas na Palavra de Deus praticam o uso do véu pelas mulheres.
Entretanto, no que muitos acabam por tropeçar é em justamente rejeitar uma verdade somente porque ela também é vista em meio à mentira. Noutras palavras e citando um exemplo verídico, é o mesmo raciocínio que as pessoas se utilizam quando ouvem que alguém possui uma arma de fogo - elas logo pensam: "Aquela pessoa é um bandido para ter que andar armado?" Ora, esta "analogia" não faz qualquer sentido, pois o que tem a ver um civil (pessoa comum) portar legalmente uma arma e o ladrão que a possui ilegalmente? Acaso é a arma que torna alguém um infrator da lei? Desta maneira, ao realizarem este tipo de comparação estapafúrdia, muitos sequer buscam compreender e até mesmo se fecham para o ensino, além de se privarem do estudo deste tema sob o pretexto de que "porque naquela e naquela 'igreja' eles fazem isso, então só pode ser errada esta prática". Em suma, como se costuma dizer em nossa língua, "desejaram jogar fora a água suja da banheira, mas acabaram jogando o bebê junto". Os que assim procedem, na verdade até mesmo falham ao desconhecerem que grandes homens (admirados por estes mesmos, muitas vezes) do Senhor - das mais diversas "denominações" - defenderam o uso do véu pelas irmãs em Cristo. Entre tais homens figuram João Calvino (1509-1564), João Knox (1514-1572), João Bunyan (1628-1688, autor de "O Peregrino"), Charles Haddon Spurgeon (1832-1892) e ainda outros que serão citados neste estudo.
Precisamos também deixar estabelecido que assim como o cântico exclusivo de Salmos, uma modéstia mais restrita no vestir, o batismo de crianças e outros salutares ensinamentos bíblicos, o uso do véu não torna alguém mais ou menos cristão, assim como não significa que aqueles que entendem diferente sejam impedidos de se assentar em nosso meio, ouvir a Palavra de Deus ou sejam reputados como hereges - absolutamente não! Somos contra qualquer tentativa de alguém (e tão somente) advogar a ideia de que é detentor da plena e real verdade, como se apenas esta pequena "casta" fosse eleita pelo Senhor e todo o restante das igrejas e do mundo certamente perecerá. Embora isto seja bastante evidente, é preciso enfatizar, pois se alguém fosse salvo por obras, então já não seria pela graça de Deus. Todavia, aqueles que não concordam com esta prática, devem nos demonstrar biblicamente os porquês de assim fazerem - caso contrário, serão meros esperneadores sem razão.
Por último, convém também lembrar que muitos afirmam que o uso do véu estava ligado a um simbolismo na época de Paulo e que naqueles dias possuía algum significado, ao passo que para nós já não transmite coisa alguma neste sentido (tão somente o ensinamento da autoridade do homem sobre a mulher - segundo alegam). Pontuamos, então, que a Bíblia está repleta de simbolismos dentre os quais todos os cristãos são usuários e praticantes. Olhemos para a igreja de Deus: ela é invisível, mas representa que estamos congregados sob o templo que é Cristo (Mt 12.6); as orações dos cristãos são audíveis, mas são como o incenso que subia até o Senhor no Antigo Testamento (Ap 5.8); não possuímos mais sacrifícios de animais, mas nossas vidas são agora o sacrifício (Hb 13.15); a páscoa que era comemorada pelo israelitas deu lugar à santa ceia (Lc 22.19) - assim como tantos outros fatos que poderíamos citar. O que precisamos compreender, então, é que a vida cristã é recheada de simbolismos e eles não podem ser simplesmente alterados conforme o "gosto" e desejo de cada cultura, porque se assim for, acaso não poderíamos advogar que o pão e vinho da ceia poderiam ser trocados por banana e água de coco em alguma região do mundo onde o pão e vinho não transmitissem a ideia de corpo e sangue? Ora, se alguém afirmasse tal coisa, certo estou de que ainda não possui a devida renovação da mente e pensa conforme o curso deste mundo (Rm 12.2), crendo piamente que é o evangelho quem deve se adequar à cultura, e não o contrário.
Quando buscamos compreender um assunto bíblico, seja ele de qual natureza for, temos de ter em mente os seguintes pressupostos: Em primeiro lugar, que o Senhor é soberano sobre toda a terra e sobre toda e qualquer cultura. Isto implica em dizer que uma doutrina não deve ser aceita ou rejeitada baseado naquilo que temos por bem e que se encaixe em nosso ou noutro padrão de gosto pessoal e social. Em segundo lugar, o fato de Deus e Sua Palavra serem soberanos sobre nossas vidas, não elimina os motivos e as circunstâncias em que os livros bíblicos foram escritos. Quer dizer, não estamos defendendo que se deva ignorar a situação cultural e eclesiástica de Corinto - proceder assim seria ser um mau intérprete das Escrituras. Em terceiro lugar, embora as circunstâncias do local sejam importantes, elas não significam que o fato ordenado e regulado por Deus em si não seja necessário para as demais igrejas de Deus. Para demonstrar como isto é verdadeiro, lembremos, por exemplo, que Mateus escreveu seu evangelho visando os judeus e gentios convertidos; Marcos também enfatizou algumas particularidades da vida de Jesus para determinado grupo; Lucas direcionou seu evangelho para Teófilo; Paulo escreveu para diversas igrejas; Pedro escreveu aos "aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" (1Pe 1.1)....
O que desejamos afirmar, portanto, é que o fato de tais cartas terem sido escritas sob determinadas circunstâncias e para determinado povo ou pessoa, não exauri a importância de continuarem a ser Palavra de Deus valida para nós! Se fôssemos excluir a prática da doutrina por causa da cultura em que foi escrita, teríamos que excluir as instruções de Paulo com relação à ceia e ao "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice" (1Co 11.28), pois esta admoestação e instrução está - por ironia para aqueles que rejeitam o uso do véu por causa da cultura - justamente logo abaixo dos versículos sobre o véu.
Também frisamos que ainda que já tenhamos visto e pontuado sobre este fato na modéstia cristã, precisamos relembrar que todos os sessenta e seis livros da Bíblia foram escritos sob outras culturas e geografias, momentos políticos diversos e as mais variadas coisas que sequer possuímos hoje. Se formos levar a questão cultural ao extremo e nos pautarmos por ela, sequer teremos uma Palavra de Deus válida para nós, pois salvo se o Senhor nos enviasse uma nova Bíblia para o século vinte e um, deveríamos "renunciar" ao cristianismo, afinal, ele foi escrito em momentos que não são os nossos.
Para iniciar nosso entendimento, é preciso notar para quem Paulo dirigiu esta carta: "Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes, À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (1Co 1.1-3 - grifo meu). Sejamos bons leitores e percebamos que a carta foi não somente "À igreja de Deus que está em Corinto", mas também às demais igrejas de Deus "em todo o lugar". Ao final de sua explanação sobre o uso do véu, Paulo reforça este dito: "Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus" (1Co 11.16 - grifo meu). Paulo não falou em "igreja" (singular), e sim "igrejas" (plural), demonstrando que ele estava a falar de uma prática que era comum em todas as igrejas de Deus plantadas pelos apóstolos - isto é bastante evidente devido à harmonia da Igreja de Cristo e a impossibilidade do Senhor ter ordenado que cada região ou cultura tivesse um culto diferente e tipos diversos de práticas; o próprio Cristo mesmo disse: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19); vê-se, então, que nada se fala sobre adequar e manejar o culto conforme apraz a cada lugar ou ocasião. [1]
Tendo estes pressupostos como base e certos para nosso estudo, avancemos rumo ao texto proposto.
1. "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo" (1Co 11.1).
No intuito de facilitar a localização e auxiliar na leitura e estudo da Palavra de Deus, algumas versões bíblicas e seus respectivos editores resolveram colocar as palavras de Jesus em vermelho (geralmente) ou em destaque. Acontece que isto (dentre outras coisas, é evidente) levou muitos a considerarem as palavras de Cristo mais importantes ou com maior peso do que as dos apóstolos e demais escritores bíblicos. Não que estejamos defendendo que Cristo seja igual aos demais homens, mas lembremos que "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16-17) - atentemos, pois, para que toda a Bíblia foi legada a nós como sendo palavra advinda do próprio Deus.
Desde modo, quando lemos que os crentes de Corinto deveriam ser imitadores de Paulo, isto em nada diminui ou relativiza o poder da Escritura, afinal, se toda ela é vinda do próprio Deus, obedecer as palavras de Paulo, Pedro, João ou Jesus, no fim resulta no mesmo ato: obedecer a palavra de Deus. Deste modo é que Paulo inicia o seu argumento ao invocar para si e expor aos cristãos de Corinto que ao obedecerem os preceitos ensinados por ele estariam diretamente obedecendo ao Senhor Jesus Cristo, pois o próprio apóstolo havia recebido tais instruções e era seguidor de Cristo.
2. "E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei" (1Co 11.2).
Ao lermos as duas cartas de Paulo aos coríntios, por vezes somos levados a pensar que aqueles homens nem mesmo eram crentes, pois até mesmo no tempo em que tinham a ceia alguns se embriagavam e outros comiam além da conta, fazendo que pouca comida sobrasse aos demais e todo ato solene fosse perturbado (1Co 11.20-22). Mas, ao contrário do que podemos eventualmente pensar, Corinto havia sido o lugar onde o Senhor teve por bem levar o evangelho da salvação e de fato havia uma igreja estabelecida naquele local. O próprio apóstolo denomina aqueles homens e mulheres de "irmãos", apesar de possuírem muitas falhas e estarem regendo a igreja local com acentuada falta de prudência e ordem vinda do Senhor - e é justamente sobre isto que Paulo escreve, para ensinar aqueles irmãos sobre a maneira correta de procederem acerca dos mais variados assuntos eclesiológicos.
Algumas pessoas têm inquirido e levantado objeções quanto ao uso do véu porque no Novo Testamento há apenas este conjunto de versículos que fale sobre o que estamos nos propondo a analisar. Porém, nota-se abundante falta de maturidade teológica e interpretativa nos que assim procedem, pois quem há de advogar a ideia de que todas as cartas e escritos bíblicos deveriam conter as mesmas instruções? Aliás, se assim fosse, não bastaria termos apenas uma carta? Ora, Paulo escreveu sobre este fato para a igreja de Corinto porque lá estava havendo este problema! Do mesmo modo como escreveu à igreja da Galácia por outros motivos, à Tessalônica por outros e em todas as suas demais cartas! Por que haveria razão para se tratar de um assunto em determinada igreja, sendo que lá não era preciso porque já era aceita? Evidencia-se, nestes termos, como infelizmente muitos estão distantes da compreensão de que a Escritura é una e indivisível, ainda que seja uma junção de várias cartas e escritores humanos que tenham registrado - ao final, porém "tudo vem de Deus" (1Co 11.12).
3. "Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo" (1Co 11.3).
O modo como Paulo inicia esta frase é importante para nós, pois enquanto no versículo anterior ele havia louvado os irmãos (isto é, estado alegre e jubiloso pelo o que o Senhor operara no meio deles), agora faz uma ressalva, uma pausa, um adendo a fim de explicar aos irmãos algo que eles haviam se esquecido (ou eventualmente ainda não haviam sido ensinados) ou estavam negligenciando voluntariamente. O que Paulo pontua neste versículo irá nos guiar por todo o estudo restante.
Após fazer a ressalva ("Mas"), ele diz: "Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo". Três fundamentos são postos nesta passagem:
1. Cristo é a cabeça de todo homem. Relembrando o que vimos nos estudos passados, isto significa que mesmo o homem tendo o domínio sobre a criação e o dever de reger o lar (com amor e gratidão), ele está primeiramente submetido a Cristo.
2. O homem é a cabeça da mulher. Paulo não expõe qualquer novidade teológica neste ponto, e sim afirma o que já é categórico da vida cristã: o homem é o governador (amoroso, paciente, cuidadoso, fiel...) do lar. Observemos, porém, que aqui não nos é dito sobre o respeito somente entre casados, como se as mulheres devessem honra (assim como os homens devem - já tratamos deste assunto) somente aos pais, irmãos e tios da família, mas sim é delimitado que o princípio da submissão abarca toda a relação de homem e mulher. [2]
3. Deus é a cabeça de Cristo. Dos três fundamentos que temos, este é o de maior impacto e que precisa ser posto em lugar de destaque em nosso conhecimento. Cristo, que é Deus, humildemente foi "semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo" (Hb 2.17), "Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível" (Hb 7.16) e "esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.7; Jo 17.5). De toda a submissão (do homem para Cristo e da mulher para o homem), a de Cristo ao Pai é certamente a mais sublime e gloriosa. Por meio desta declaração a santa Escritura nos ensina que todo ato de submissão humana não é coisa alguma em comparação ao que Cristo fez por Seus filhos.
Para fins pedagógicos, se visualiza desta forma o dito de Paulo:
4. "Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça" (1Co 11.4).
As Escrituras tratam de duas questões neste ponto: orar e profetizar (que é pregar) e realizar estes atos com a cabeça coberta. Notemos que a ênfase não está no orar ou pregar (pois tais funções já pertencem aos homens), nas no fazer isto "tendo a cabeça coberta". A consequência desta atitude é que o homem "desonra a sua própria cabeça".
A dúvida que surge neste ponto é sobre o que significa desonrar a própria cabeça. A resposta para esta indagação está no versículo anterior: "Cristo é a cabeça de todo o homem". O que a Bíblia está ensinando é que se o homem ora ou prega com a cabeça coberta, ele "desonra a sua própria cabeça" - desonra a si mesmo. [3] Então, quando o homem desonra sua cabeça, ele acaba por desonrar a Cristo que é sua cabeça (seu dono, regente, supremo e soberano). Se o homem ora ou prega tendo algo em sua cabeça, ele acaba por desonrar a Cristo, pois Cristo passaria a ser a cabeça de alguém sem honra, de um ser não louvável, não submisso, alguém que sob sua cabeça recai vergonha.
5. "Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada" (1Co 11.5).
A fim de que a mulher não pensasse que deveria se portar igualmente ao homem, Paulo diz que se ela orar e profetizar (novamente, sinônimo de pregar) "com a cabeça descoberta", ela traz "desonra a sua própria cabeça", assemelhando-se a uma mulher com a cabeça "rapada". A palavra em grego para "descoberta" é "Akatakaluptos" (ajkatakavluptoß) e significa "não coberta, não velada, sem cobertura". [4]
Temos o primeiro indício, nesta passagem, de que se a mulher ora ou profetiza com a cabeça descoberta (sem a devida cobertura - véu, chapéu, gorro...), isso lhe é algo vergonhoso, desonroso. Isto é tão verdade que Paulo diz que se a mulher se assenta na igreja sem a cobertura, é como se estivesse com o cabelo raspado. No versículo 15 se visualizará melhor este dito, mas o apóstolo já indica que para a mulher, o estar sem a cobertura é a mesma coisa que negligenciar a sua glória que é o seu cabelo! Quer dizer, se a mulher se porta no culto sem a cobertura, ela está voluntariamente dizendo a Deus que o seu cabelo também nada vale de coisa alguma e sequer lhe é uma glória, pois estar sem a coberta é o mesmo que estar sem cabelo que é uma glória. Noutras palavras, se a mulher assim procede, ela negligencia a glória que Deus lhe deu, porque estar sem a cobertura é o mesmo que rapar o cabelo que é sua glória.
Há, aqui, um problema: como Paulo pôde dizer que a mulher poderia orar e pregar sendo que em 1Timóteo 2.12 ele expressamente proíbe esta prática e ordena que as mulheres fiquem "em silêncio"?
Para compreender e destrinchar esta dificuldade, lembremos do glorioso princípio de que a Escritura não pode conter contradição; quer dizer, uma vez que a Igreja invisível (todos os verdadeiros crentes de todos os lugares) de Deus é somente uma e se rege pela mesma Palavra, a Bíblia não poderia ordenar que em determinado lugar as mulheres pregassem e em outro que ficassem caladas - até mesmo logo depois 1Coríntios 14.34 Paulo proíbe as mulheres de falarem na igreja. Assim, deve haver alguma forma de conciliarmos estas duas aparentes contradições.
A maneira mais plausível e que não viola a harmonia bíblica é afirmar que ainda que a mulher não esteja no púlpito e/ou em frente à congregação, ela "participa" (assim como todos os presentes no local) da oração do ministro e quando o servo do Senhor prega a Palavra de Deus ela vai recebendo a mensagem e pregando para si mesma (como todos fazem), confirmando os ensinamentos e rogando ao Senhor para que lhe fale ao coração. Outro viés de entendimento também pode ser delineado a partir de que Paulo não está colocando ênfase na autorização para a mulher orar e pregar em público, mas sim proibindo-as de retirar a cobertura enquanto estiverem no culto público na presença de Deus e dos homens. Enquanto os homens demonstram sua liberdade com a cabeça descoberta, as mulheres demonstram sua submissão cobrindo-se adequadamente. [5]
Ainda uma terceira forma de se entender seria com relação à mulher orar e pregar apenas para mulheres, pois estas coisas juntamente com o expor do evangelho para outras pessoas do mesmo sexo (sem a presença de homens - refiro-me a algum estudo bíblico ou reunião de mulheres) é permitido pelas Escrituras. [6] Contudo, pelo contexto da passagem esta interpretação fica mais difícil de ser sustentada - por isso nos parece ser mais verdadeira a primeira cumulada com a segunda.
6. "Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu" (1Co 11.6).
Quase toda discussão sobre o uso do véu se inicia no versículo anterior e se desdobra na presente sentença. Primeiro, porque alguns titubeiam ante ao real significado; segundo, porque alguns apelam para um suposto contexto cultural que levara Paulo a escrever sobre isso; terceiro, porque baseado no versículo 15 entendem que o véu na verdade é o próprio cabelo. Todavia, infelizmente esta tradução "que ponha o véu" não é benéfica e não facilita o entendimento. Basta abrirmos algum Novo Testamento grego que veremos que a tradução melhor é "que esteja coberta". A palavra usada é "Katakalupto" (katakaluvptw) e significa justamente "estar coberto, manto/véu coberta de si mesmo". [7]
Olhemos atentamente algumas nuances do presente escrito e deixemos para o entender mais profundamente conforme avançamos na exposição.
Paulo inicia sua frase dizendo "Portanto", isto é, como se dissesse: "ou seja, irmãos, de acordo com o que lhes escrevi até agora". O versículo anterior fala que se a mulher ora ou profetiza com a cabeça descoberta, é como se estivesse rapada. Aqui se verifica, então, o primeiro sinal de que cabelo e véu são coisas distintas, pois uma vez que o apóstolo contrasta "não se cobre com véu, tosquie-se" com "que ponha o véu" (melhor sendo: "que esteja coberta"), não haveria razão (tanto lógica como gramatical e teológica) para supostamente falar da mesma matéria e as opor entre si. Dizendo de outra forma, Paulo não poderia escrever: "Se a mulher ora com a cabeça descoberta, é como se estivesse rapada - por isso deve se cobrir com o cabelo". Este entendimento é confirmado pelo próprio contraste traçado por Paulo no presente versículo, afinal, claramente ele utiliza o chamado "argumento de absurdo", isto é, dizer algo que é impensável e certamente reprovável. Também a própria palavra "Katakalupto" não é a mesma de cabelo, mas sim de algo que cobre, uma cobertura, manto/véu.
Outro ponto de notável importância é que "que ponha o véu" não pode ser substituído por "ponha o cabelo", pois o cabelo não é algo que se coloca e retira - já o véu (a cobertura) possui esta característica.
Notemos que Paulo diz que caso uma mulher não deseje usar o véu, em tese seria a mesma coisa que cortar o seu cabelo (tosquiar é cortar) curto ou estar com a cabeça rapada. Assim, presumindo (o óbvio) que para a mulher ter cabelo curto lhe é vergonhoso - "coisa indecente" -, então deveria usar "o véu" (colocar a cobertura "extra" que é o véu, chapéu...). A Palavra nos deixa clarividente que uma coisa é o cabelo (donde ele retira a menção à tosquiar-se e rapar-se) e outra é o véu (ora, não há como tosquiar um pano como se faz com o cabelo!). A própria palavra traduzida para nós como véu, como vimos logo acima é "Katakalupto" (katakaluvptw) e significa "estar coberto, manto/véu coberta de si mesmo". Deste modo, Paulo está falando de que a mulher deve usar sua cobertura natural (que é o cabelo), pois para ela o andar de cabelo curto lhe é "coisa indecente".
O motivo de Paulo mencionar que para a mulher o ter cabelo curto lhe é vergonhoso, vem do versículo 15 que diz: "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso" (1Co 11.15). Observemos que Paulo não está supondo que algumas mulheres gostem de cabelo curto e outras não, pois o motivo do cabelo crescido (veremos mais adiante sobre isto) para a mulher é que ele lhe é justamente honroso. Que mulher, então, gostaria de não ter a devida honra dada por Deus? Portanto, se a mulher não usa o véu, ela também rejeita a honra que o Senhor lhe deu.
7. "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem" (1Co 11.7).
Devemos ter sempre em mente que Paulo trata de duas coisas: a glória e a cobertura que cobre a glória.
O apóstolo passa a complementar o que havia registrado no versículo 4. O motivo pelo qual o homem não deve cobrir a sua cabeça enquanto ora ou profetiza é porque ele "é a imagem e glória de Deus". Quando um homem cobre sua cabeça durante a oração ou pregação (note que Paulo não se dirige apenas ao ministro, mas a todos os homens), ele está desrespeitando o Senhor, porque ele (o homem) "é a imagem e glória de Deus". [8]
É importante frisar que Paulo não transparece em suas palavras algum estado de preocupação para com aqueles que eventualmente não concordariam com este simbolismo e seu respectivo ensinamento. A Palavra do Senhor é enfática ao afirmar que o homem não deve se cobrir durante a oração e a pregação porque é a imagem e glória de Deus. Absolutamente nenhum "conforto" ou argumento é oferecido aos que talvez não concordem com este ponto. A razão para Paulo afirmar tal fato encontra-se registrado no próprio ato da criação: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26).
Todavia, o apóstolo vai além e diz que o homem também possui uma glória, uma honra, algo/alguém que lhe seja especial (quer dizer, ele não está somente em posição de submissão): "mas a mulher é a glória do homem". Assim, enquanto o homem é a glória de Deus, a mulher é a glória do homem.
Robert L. Dabney (1820-1898) comenta: "Assim, aquele que se levanta em público como o arauto e representante do Rei dos Céus deve permanecer com a cabeça descoberta; a honra do Soberano por quem ele fala exige isto. Mas nenhuma mulher pode se apresentar em público com a cabeça descoberta sem pecar contra a natureza e contra seu sexo. Portanto nenhuma mulher pode ser um arauto público de Cristo." [9]
8. "Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem" (1Co 11.8).
O motivo para a mulher ser glória do homem é baseado na criação, conforme registramos. Paulo jamais argumentou com base na cultura (caso contrário, como já vimos, poder-se-ia ignorar as recomendações sobre a ceia, por exemplo). Paulo não era o ministro da cultura em Corinto para buscar promover algo que já era supostamente praticado (ou não) por mulheres daquela época. Embora para muitos este argumento de Paulo seja "fraco" ou demasiadamente "simples", que se recorde de que estamos diante da Palavra do Altíssimo e, portanto, se foi este o motivo que Deus teve por bem nos revelar, tão somente assim deve ser.
9. "Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem" (1Co 11.9).
Já temos visto nos estudos passados que a mulher de maneira alguma é menosprezada ou tratada com menos esmero que o homem. O que ocorre é que a sociedade constituída de pecadores, paulatinamente vai semeando a discórdia nos corações e busca desenfreadamente perverter o papel de cada sexo criado por Deus. O fato de Paulo argumentar que o homem não foi criado por causa da mulher, mas sim ela por causa dele, não é algo "machista" ou tendencioso, pois basta que volvamos nossas Bíblias novamente para o relato da criação que perceberemos cristalinamente o que o próprio Senhor havia dito: "E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2.18).
Deste modo, os versículos 8 e 9 explicam o porquê do homem não dever orar ou profetizar com a cabeça coberta (escrito no versísculo 7): "Porque o homem não provém da mulher" e "Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem".
O reformador João Knox (1514-1572) comenta: "Primeiro, eu digo que a mulher em sua maior perfeição foi feita para servir e obedecer ao homem, não para governar e comandar sobre ele. Como São Paulo explica nestas palavras: 'O homem não é da mulher, mas a mulher do homem. E o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem e, portanto, a mulher deve ter sobre a sua cabeça um sinal de poderio' (isto é, deve cobrir a cabeça em sinal de submissão)... Crisóstomo, explicando estas palavras do apóstolo, 'O cabeça da mulher é o homem', compara Deus em seu reinado universal a um rei sentado em sua majestade real, a quem todos os seus súditos, ordenados a render-lhe homenagem e obediência, comparecem perante, tendo cada um tal emblema e medalha de dignidade e honra conforme receberam do rei; o que desprezar este emblema e medalha, com isto desonra ao rei. 'Assim sendo', diz ele, 'devem o homem e a mulher comparecerem diante de Deus, levando as insígnias que representam aquilo que receberam do rei. O homem recebeu uma certa glória e dignidade acima da mulher; e, portanto, deve comparecer ante Sua mais alta Majestade portanto o sinal da sua honra, sem cobertura sobre sua cabeça, testemunhando que na Terra não há cabeça sobre o homem … Mas a mulher deve estar coberta, para testemunhar que na Terra ela tem um cabeça, que é o homem'." [10]
10. "Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos" (1Co 11.10).
Quando nos deparamos com assertivas desta natureza, é mister que não avancemos ou façamos inferências e "deduções" assaz especulativas. Assim, convém que sejamos prudentes e reconheçamos que esta afirmação de Paulo é de difícil compreensão. Todavia, algo que é certo nesta declaração é: a mulher deve ter sobre sua cabeça um sinal de poderio, pois quem governa-a (no bom e dócil sentido da expressão) é o homem.
Podemos aventar algumas possibilidades quanto a "por causa dos anjos":
Francis Turretin (1623-1687) comenta: "O que se diz em 1 Coríntios 11.10 ('deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade') deveras mostra que os anjos estão sempre presentes nas assembléias sacras e são testemunhas da piedade ou da impiedade, da humildade ou da arrogância dos homens presentes (que por isso a mulher deve reverenciar)". [11] Outro ponto é que Paulo escreve é que, aparentemente, os homens irão julgar os anjos: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1Co 6.3). Podemos também pontuar que os seres celestiais se cobrem na presença do Senhor: "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam" (Is 6.1-2).
O reformador João Calvino (1509-1564) diz: "São Paulo então continua com o assunto que ele antes iniciou: o qual é, que a mulher deve ter a decência de não vir a reunião pública da Igreja com a cabeça descoberta; e que o homem também deve estar decentemente vestido, de forma que não haja uma bestial confusão. Para confirmar isto, contudo, ele adiciona uma razão a mais. 'Não ensina a natureza que se uma mulher não cobre a cabeça, isto é uma vergonha para ela?', ele diz. Alguém poderia certamente dizer que uma mulher está louca, se ela rapasse o cabelo para vir. Quando ele diz 'seu cabelo é uma cobertura', ele não intenta que enquanto uma mulher tiver cabelo, isto é o suficiente para ela. Antes ele ensina que o nosso Senhor está dando uma orientação que ele deseja que seja observada e mantida. Se uma mulher tem cabelo cumprido, isto deve ser entendido como se dizendo para ela, 'Cubra a sua cabeça, use um chapéu, use um capuz; não se exponha desta forma! O seu cabelo, mesmo quando você está sem chapéu ou capuz, é algo que te cobre. Veja, seria inadequado não ter cabelo algum; seria mesmo contra a natureza. De forma semelhante, estar sem o capuz é inadequado na assembléia.' É desta forma que esta passagem de São Paulo deve ser entendida." [12]
João Bunyan (1628-1688), o autor de "O Peregrino", comenta: "Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça (isto é, uma cobertura) sinal de poderio, por causa dos anjos." (1 Cor 11:10)... 'Parece-me, santas e queridas irmãs, que vocês devem se contentar em usar este poder ou sinal...' [13]
Vejamos o que diz Charles Haddon Spurgeon (1832-1892) diz sobre o assunto: "Você acha que eu e você temos considerado suficientemente que estamos sempre sendo olhados pelos anjos, e que eles desejam aprender de nós a sabedoria de Deus? A razão pela qual nossas irmãs aparecem na casa de Deus com suas cabeças cobertas é 'por causa dos anjos'. O apóstolo diz que uma mulher deve ter uma cobertura sobre a cabeça por causa dos anjos, uma vez que os anjos estão presentes na assembléia e eles marcam cada ato de indecência, e, portanto tudo é para ser conduzido com decência e ordem na presença dos espíritos angélicos". [14]
Todavia, mesmo diante da dificuldade, algo é muito explícito e notório nas palavras do apóstolo: as mulheres devem se cobrir "por causa dos anjos". O escrever de Paulo, como querem alguns, não é "por causa da cultura", "por causa de Corinto" ou ainda "por causa das prostitutas que rapam suas cabeças". É inegável o padrão que Paulo estabelece, pois uma vez que anjos são criaturas atemporais (não restritos a algum tempo ou agindo de acordo com a cultura), o argumento "cultural" é esplendidamente refutado pelo próprio apóstolo.
Greg Price comenta: "Deve ser evidente a todos que o argumento de Paulo acerca da observância dos anjos no culto cristão não é um argumento a partir da cultura. Anjos não são criaturas culturais nem estão limitados a culturas particulares onde ministram ao povo de Deus ou testemunham/participam da adoração do povo de Deus. Se as mulheres são obrigadas a terem este sinal de submissão aos homens em suas cabeças durante o culto, por causa dos anjos, então essa obrigação é de caráter universal e obrigatório em todas as igrejas de Jesus Cristo até a volta de Cristo." [15]
Portanto, ainda que não entendamos exatamente como os anjos se portam durante o culto e como eles assistem/participam, o que nos é evidente é o fato de Paulo argumentar não em favor ou por causa da cultura, mas sim em virtude de criaturas celestiais e que são fora do tempo e da cultura.
11. "Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor" (1Co 11.11).
Nos versículos 8 e 9 o apóstolo argumentou acerca de que o homem não deveria cobrir a cabeça porque na criação o homem havia sido feito por primeiro e a causa da criação da mulher havia sido o próprio homem, pois Deus teve por bem que o homem não estivesse só (Gn 2.18). Neste prisma é que Paulo continua o seu dito, porém, faz uma nova ressalva e afirma que o homem depende da mulher, ela depende dele e, portanto, ambos dependem do Senhor.
12. "Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus" (1Co 11.12).
A fim de responder a futuros argumentos e já deixando pontuado para que homem algum não se insurgisse contra a mulher e pensasse ser mais especial do que ela ou que intentasse a subjugar somente porque havia sido criado primeiramente, Paulo declara que, embora "a mulher provém do homem", no ciclo natural da vida quem gera o homem é a própria mulher - "também o homem provém da mulher". Homem algum pode se orgulhar diante das mulheres, pois se não fossem estas honráveis e preciosas pessoas criadas por Deus, nenhum de nós existiria, pois somente a elas foi dada a graciosidade de dar à luz e continuidade à toda posterioridade.
Deste modo, confirmando que entre o homem e a mulher há paridade diante do Senhor, complementa o apóstolo: "mas tudo vem de Deus". Quer dizer, por um lado há diferença entre homem e mulher e tal fato deve ser representado pelo uso do véu; por outro lado, diante do Senhor, em questão de salvação, santidade, amor de Deus, pecaminosidade, depravação... são exatamente iguais. Em resumo (pois não é o propósito deste estudo se alongar demasiadamente), podemos dizer que Paulo advoga uma diferença e uma igualdade: diferença quanto à criação e autoridade; igualdade quanto à situação do ser humano diante de Deus.
13. "Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?" (1Co 11.13).
Muitos leem esta passagem como se Paulo dissesse: "Bem, irmãos de Corinto, o que vocês pensam sobre isso? O que vocês entendem? De acordo com suas convicções, seria prudente a mulher orar descoberta? Digam-me, amados, o que vosso coração diz?" Por que Paulo não poderia ter isto me mente? Quer dizer, a pergunta que temos de fazer é: por que Paulo não poderia estar cogitando uma resposta dos crentes de Corinto?
A resposta é que Paulo não fez a pergunta esperando uma resposta dos irmãos da igreja, mas sim realizou uma pergunta retórica, isto é, aquela que não tem por finalidade ser respondida. De onde retiramos isto? Ora, basta lermos o versículo 5 novamente: "Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada". Paulo não poderia iniciar dizendo para os crentes serem imitadores dele assim como ele era de Cristo (v.1), afirmar no versículo 5 que quando a mulher vai até a igreja sem a cabeça coberta traz desonra sobre si (vide o contexto em que os irmãos estavam tendo dificuldades com o culto - os próximo versículos mesmo falam sobre a ceia, que por consequência é realizada no culto), e depois, então, como querem alguns, colocar em dúvida a sua própria palavra! Se assim fosse, era como se Paulo tivesse dito: "Bem, irmãos, lhes apresentei a verdade recebida de Cristo, mas são vocês mesmos quem devem decidir a questão - acham que é correto o que expus?" O apóstolo é Paulo e a autoridade é Paulo, não os irmãos da igreja de Corinto! O mestre era Paulo, não a congregação!
14. "Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?" (1Co 11.14).
Atentemos para o fato de que Paulo faz duas perguntas sequenciais e que visam reforçar o que ele já dissera até agora. Como dissemos anteriormente, não faz qualquer sentido o apóstolo afirmar e ensinar uma verdade, para depois questioná-la. Quando o apóstolo faz a pergunta acerca do cabelo crescido ao homem, esta "mesma natureza" não é somente sinônimo de cultura ou natureza criada por Deus, mas sim do que ele havia dito até o momento, ou seja, é como se perguntasse: "segundo o que lhes disse sobre a mulher usar o véu e não cortar o cabelo (tosquiar, rapar), não lhes é claro que, se o homem possui cabelo comprido, isso lhe é desonroso?"
Algo que todo cristão precisa entender é que a cultura e as pessoas nela inseridas não são a fonte do direito divino. A fonte, a matriz, a nascente, o padrão, o norte, a direção, é sempre vinda da palavra de Deus. Assim como em sociedade buscamos nos pautar (ao menos nas bases e coisas certas) pelo que os códigos e as leis nos prescrevem, de igual maneira devemos fazer com relação à Bíblia. Aqui, não estamos levantando a bandeira de sempre interpretar e aplicar as Escrituras de forma literal, mas sim de compreendermos que a cultura da época não pode fazer com que uma passagem perca todo ou quase todo seu significado para nós!
15. "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu" 1Co 11.15).
Se boa parte da celeuma inicia-se nos versículos 5 e 6, é aqui que ela ganha força e as discussões ficam mais acentuadas. Alguns leem este versículo e dizem que de fato o cabelo foi dado em lugar do véu - portanto, não se deve ou não se precisa mais usá-lo. Outros, contudo, analisam esta sentença à luz de todos os catorze versículos precedentes e concluem que são duas coisas distintas. O problema desta primeira interpretação é que, embora tenhamos em nossa língua a palavra "véu" (que, novamente, significa "cobertura") em ambos os versículos (6 e 15), aqui Paulo não usa a mesma palavra que no versículo 6. A palavra usada neste ponto é "Peribolaion" (peribovlaion) e significa "uma cobertura lançada à volta [de alguém], um invólucro". [16] Portanto, ainda que "Katakalupto" e "Peribolaion" signifiquem algo que "cobre, uma cobertura" Paulo não pode estar falando de duas coisas idênticas.
A pergunta, então, é: poderia haver uma única e fiel interpretação? Com o intuito de resolvermos esta questão, dividamos as duas afirmações que Paulo faz.
1. "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso". O primeiro fato a ser analisado é que esta declaração é a resposta do porquê o homem não deve ter cabelo crescido, pois foi somente à mulher que ele foi concedido como uma honra. Mas, por que apenas a mulher recebeu tal honra? Ora, nos é por demais simples a resposta: "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem" (1Co 11.7 - grifo meu). O motivo para o homem não ter cabelo crescido é o fato de que sua glória é a mulher, enquanto a dela é o cabelo.
Temos, então, o seguinte quadro:
2. "porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu". O segundo quesito a se analisar é o concernente à questão: poderia o apóstolo defender o uso do véu e depois simplesmente ab-rogar o mesmo e dizer que o cabelo é um substituto real e eficaz?
A disparidade em dizer que o cabelo é o próprio véu, é que em primeiro lugar, mesmo aqueles que assim pensam, não defendem muitas vezes o cabelo crescido pelas mulheres (notemos: Paulo fala em cabelo crescido e não em cabelo longo até a cintura ou até X ou Y lugar - se conclui, portanto, que o cabelo da mulher deve ser distintamente maior que o do homem). Em segundo lugar, se o cabelo foi dado em lugar do véu (cobertura exterior), teremos sérias complicações com relação ao que Paulo ensinou até agora, pois:
- Paulo afirma que Deus é a cabeça de Cristo;
- Que Cristo é a cabeça do homem;
- Que o homem é a cabeça da mulher;
- Que o homem é a glória de Deus;
- Que a mulher é a glória do homem;
- Que o cabelo é a honra/glória da mulher;
- Que o homem não deve se cobrir por ser imagem e glória de Deus;
- Que a mulher deve se cobrir porque ela é a glória do homem.
Tendo delimitado estas bases, é simplesmente irracional e contra o padrão estabelecido por Paulo que o cabelo seja a honra/glória (conforme explicado na nota de rodapé [17]) da mulher e ao mesmo tempo seja aquilo que cobre a glória! Ora, ou o cabelo é a glória da mulher, ou é o que cobre a glória do homem - não pode ser ao mesmo tempo positivo e negativo! Se fôssemos demonstrar qual é o resultado de cada cobertura em cada sexo, teríamos o seguinte:
Se o homem e a mulher se cobrem com o véu: Ninguém fica em evidência/destaque no culto, porque o homem que é a glória de Deus está coberto - logo, Deus não está em proeminência, pois Seu servo está coberto. Com relação à mulher, visto que está coberta e é glória do homem, o homem também não aparece e ela também não, pois somente com o uso do cabelo a mulher estaria cobrindo-se diante do homem, mas sua glória (que é o cabelo) estaria em evidência - então, esta é a razão pela qual ela deve ter tanto o cabelo crescido como o véu (isto é muito importante de se entender!)
Se o homem se cobre e a mulher não: Deus fica "coberto", porque o homem é a Sua glória e ele está coberto. Como a mulher não está coberta com o véu (apenas com o cabelo), quem fica em evidência é ela mesma, pois seu cabelo (sua glória) está descoberta.
Se homem e mulher não se cobrem: Deus fica em evidência, porque o homem que é Sua glória está descoberto e, então, Deus "aparece". Como a mulher está descoberta (sem o véu) e o cabelo é sua glória, então ela também está em evidência.
Se o homem não se cobre e a mulher se cobre: Por o homem ser a glória de Deus, quando ele está descoberto, então Deus fica em evidência. A mulher tendo sua cabeça coberta com o cabelo (que é sua cobertura natural) e o véu por cima do cabelo, então tanto o homem quanto a mulher não aparecem, pois o cabelo da mulher cobre a glória do homem (que é a mulher) e o véu cobre a glória da mulher que é o cabelo.
Em uma tabela para melhor visualização, se traduz no seguinte:
16. "Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus" (1Co 11.16).
Para encerrar o assunto, Paulo adverte os cristãos sobre que esta prática era realizada não por uma, mas sim pelas "igrejas de Deus". Muitos têm argumentado que o apóstolo está se referindo ao uso do cabelo como véu, isto é, de que Paulo jamais tivesse ordenado o uso do véu e de que se alguém desejasse ser contencioso em relação a usar o véu (noutras palavras, se alguém deseja criar intriga e impor o uso do dele), estaria indo contra o costume das igrejas de Deus.
Tal arguição, entretanto, não merece prosperar, pois uma vez que Paulo dedica longos 15 versículos falando justamente da autoridade, das glórias e do véu, em hipótese alguma ele poderia chegar ao final e simplesmente abolir tudo o que construiu! Seria tão absurdo quando se ele dissesse: "Amados, tenho vos ensinado que véu/cobertura é importante e as mulheres devem usar, mas finalizo meu ensino dizendo que não se deve; aliás, se alguém quiser obrigar, saiba que está fazendo errado, pois não temos este costume de usar o véu". Penso que tal aberração não deva sequer ser alvo de demais refutações, tamanha a discrepância entre o texto e o final proposto por tais pessoas.
David Dickson, um puritano escocês (1583-1663) escreveu: "Se alguém não foi movido por estes argumentos, mas contende, o Apóstolo se opõe as suas contenciosas apologias, o costume recebido e estabelecido pelos Judeus e pelo resto das Igrejas: Outras Igrejas não têm tal costume, de que uma mulher deve ser apresentar nas assembléias públicas com suas cabeças descobertas e o homem com sua cabeça coberta. Portanto seu costume não concordando com a decência, quer de acordo com o uso natural, quer de acordo com as igrejas, é totalmente inadequado." [18]
João Cotton (1585-1652) disse: "Como a adoração pública de Deus deve ser ordenada e administrada na igreja? Todos os membros da igreja estando reunidos como um só homem (i) aos olhos de Deus (ii) devem se ajuntar em santos deveres em uma só harmonia (iii) os homens com suas cabeças descobertas e as mulheres com as cabeças cobertas." [19]
O gigante puritano Matthew Henry (1662-1714) comenta: "Era um costume comum nas igrejas as mulheres aparecerem nas assembleias públicas usando véu; e é manifestadamente decente que elas devem fazê-lo. Devem ser muito contenciosos aqueles que brigariam por causa disto ou que colocam este assunto de lado." [20]
Charles Hodge (1797-1878): "Para a mulher em Corinto, portanto, descartar o véu era renunciar sua reivindicação por modéstia e se recusar a reconhecer sua subordinação a seu marido. Essa é a suposição desse significado do uso do véu que o apóstolo usa em todo o seu argumento no presente parágrafo... Como sendo uma ordem divinamente estabelecida, ambos, homem e mulher devem estar de acordo com isso; o homem tendo sua cabeça descoberta e a mulher tendo o véu." [21]
Deste modo, por fim, se resume no seguinte o que vimos: 1. O homem não deve cobrir a cabeça porque é a glória de Deus e Ele precisa estar em proeminência no culto; 2. A mulher deve estar no culto público com as duas coberturas que o Senhor concedeu: o cabelo que lhe foi dado em lugar de véu e, portanto, é para ela uma cobertura natural (o cabelo, então, cobre a mulher); e igualmente deve usar a cobertura externa, pois ela deve cobrir o cabelo, que por vez é a glória da mulher.
Assim, se vê a utilidade e beleza que traduz o véu: cobrir o homem e mulher, e revelar somente a Deus, o único e digno de toda honra, glória e louvor!
Finalizamos, portanto, nosso estudo sobre as atribuições, características, direitos e deveres dos homens e das mulheres. Que possa o Senhor nos fortalecer a cada dia em Sua Palavra e nos levar a ansiar e trabalhar em prol de Seu reino!
"Esforça-te, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o SENHOR o que bem parecer aos seus olhos" (2Sm 10.12; 1Cr 19.13).
Notas:
[1] Certamente que cada igreja possui suas peculiaridades como tipo de assento, forma do púlpito, horário do culto, quantos salmos serão cantados e outras coisas mais. Nos referimos aqui é sobre práticas ordenadas pelas Escrituras, e não as chamadas "questões indiferentes".
[2] Para mais detalhes, veja os estudos anteriores.
[3] Não pode se referir primeiramente (note: primeiramente) a desonrar a Cristo, porque no versículo seguinte Paulo fala acerca da mulher e de ela ter o seu cabelo rapado.
[4] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/akatakaluptos.html
[5] Este é o pensamento de Calvino em seu comentário sobre a passagem.
[6] Já vimos com mais detalhes este assunto nos estudos anteriores.
[7] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/katakalupto.html
[8] Lembremos de que esta ordem de Paulo sobre o homem estar sem cobertura era até mesmo praticado (embora não com o mesmo sentido) antigamente quando os homens retiravam seus chapéus antes das orações, ou ainda, nos dias atuais, enquanto ocorre alguma solenidade - hino à bandeira, por exemplo - os homens retiram seus chapéus, bonés e afins enquanto o hino é tocado e cantado.
[9] DABNEY, Robert L. Discussions Evangelical and Theological, vol. 2, pp. 98.
[10] KNOX, João - Fonte: http://calvinismoexperimental.blogspot.com/2011/06/mulheres-cubram-suas-cabecas-john-knox.html#comment-form
[11] TURRETINI, François, Compêndio de Teologia Apologética, Volume 1, Ed. Cultura Cristã, pág. 702.
[12] CALVINO, João - Fonte: http://calvinismoexperimental.blogspot.com/2011/06/mulheres-cubram-suas-cabecas-joao.html#comment-form
[13] BUNYAN, João - Fonte: http://www.the-highway.com/headcovering_Silversides.html
[14] SPURGEON, Charles Haddon, sobre Efésios 3:10, Metropolitan Tarbenacle Pulpit, vol. 8, p. 263.
[15] PRICE, Greg, citado em "Glory and Coverings" de Phillip G. Kayser, pág. 22 - tradução livre. Retirado de: http://www.biblicalblueprints.org/wp-content/uploads/2011/01/GloryAndCoverings.pdf
[16] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/peribolaion.html
[17] Embora em nossas Bíblias tenhamos traduzido que o cabelo "lhe é honroso", no grego original a mesma palavra para honroso é usada em "glória", para dizer que o homem é a "glória de Deus". A palavra é "doxa". Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/doxa.html
[18] DICKSON, David - Commentary on 1 Corinthians 11.16.
[19] COTTON, João - Fonte: http://www.the-highway.com/headcovering_Silversides.html
[20] HENRY, Matthew, Comentário em 1Coríntios.
[21] HODGE, Charles - Fonte: http://godrules.net/library/hodge/34hodge_a12.htm
Quando buscamos compreender um assunto bíblico, seja ele de qual natureza for, temos de ter em mente os seguintes pressupostos: Em primeiro lugar, que o Senhor é soberano sobre toda a terra e sobre toda e qualquer cultura. Isto implica em dizer que uma doutrina não deve ser aceita ou rejeitada baseado naquilo que temos por bem e que se encaixe em nosso ou noutro padrão de gosto pessoal e social. Em segundo lugar, o fato de Deus e Sua Palavra serem soberanos sobre nossas vidas, não elimina os motivos e as circunstâncias em que os livros bíblicos foram escritos. Quer dizer, não estamos defendendo que se deva ignorar a situação cultural e eclesiástica de Corinto - proceder assim seria ser um mau intérprete das Escrituras. Em terceiro lugar, embora as circunstâncias do local sejam importantes, elas não significam que o fato ordenado e regulado por Deus em si não seja necessário para as demais igrejas de Deus. Para demonstrar como isto é verdadeiro, lembremos, por exemplo, que Mateus escreveu seu evangelho visando os judeus e gentios convertidos; Marcos também enfatizou algumas particularidades da vida de Jesus para determinado grupo; Lucas direcionou seu evangelho para Teófilo; Paulo escreveu para diversas igrejas; Pedro escreveu aos "aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" (1Pe 1.1)....
O que desejamos afirmar, portanto, é que o fato de tais cartas terem sido escritas sob determinadas circunstâncias e para determinado povo ou pessoa, não exauri a importância de continuarem a ser Palavra de Deus valida para nós! Se fôssemos excluir a prática da doutrina por causa da cultura em que foi escrita, teríamos que excluir as instruções de Paulo com relação à ceia e ao "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice" (1Co 11.28), pois esta admoestação e instrução está - por ironia para aqueles que rejeitam o uso do véu por causa da cultura - justamente logo abaixo dos versículos sobre o véu.
Também frisamos que ainda que já tenhamos visto e pontuado sobre este fato na modéstia cristã, precisamos relembrar que todos os sessenta e seis livros da Bíblia foram escritos sob outras culturas e geografias, momentos políticos diversos e as mais variadas coisas que sequer possuímos hoje. Se formos levar a questão cultural ao extremo e nos pautarmos por ela, sequer teremos uma Palavra de Deus válida para nós, pois salvo se o Senhor nos enviasse uma nova Bíblia para o século vinte e um, deveríamos "renunciar" ao cristianismo, afinal, ele foi escrito em momentos que não são os nossos.
Para iniciar nosso entendimento, é preciso notar para quem Paulo dirigiu esta carta: "Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes, À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (1Co 1.1-3 - grifo meu). Sejamos bons leitores e percebamos que a carta foi não somente "À igreja de Deus que está em Corinto", mas também às demais igrejas de Deus "em todo o lugar". Ao final de sua explanação sobre o uso do véu, Paulo reforça este dito: "Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus" (1Co 11.16 - grifo meu). Paulo não falou em "igreja" (singular), e sim "igrejas" (plural), demonstrando que ele estava a falar de uma prática que era comum em todas as igrejas de Deus plantadas pelos apóstolos - isto é bastante evidente devido à harmonia da Igreja de Cristo e a impossibilidade do Senhor ter ordenado que cada região ou cultura tivesse um culto diferente e tipos diversos de práticas; o próprio Cristo mesmo disse: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19); vê-se, então, que nada se fala sobre adequar e manejar o culto conforme apraz a cada lugar ou ocasião. [1]
Tendo estes pressupostos como base e certos para nosso estudo, avancemos rumo ao texto proposto.
1. "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo" (1Co 11.1).
No intuito de facilitar a localização e auxiliar na leitura e estudo da Palavra de Deus, algumas versões bíblicas e seus respectivos editores resolveram colocar as palavras de Jesus em vermelho (geralmente) ou em destaque. Acontece que isto (dentre outras coisas, é evidente) levou muitos a considerarem as palavras de Cristo mais importantes ou com maior peso do que as dos apóstolos e demais escritores bíblicos. Não que estejamos defendendo que Cristo seja igual aos demais homens, mas lembremos que "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2Tm 3.16-17) - atentemos, pois, para que toda a Bíblia foi legada a nós como sendo palavra advinda do próprio Deus.
Desde modo, quando lemos que os crentes de Corinto deveriam ser imitadores de Paulo, isto em nada diminui ou relativiza o poder da Escritura, afinal, se toda ela é vinda do próprio Deus, obedecer as palavras de Paulo, Pedro, João ou Jesus, no fim resulta no mesmo ato: obedecer a palavra de Deus. Deste modo é que Paulo inicia o seu argumento ao invocar para si e expor aos cristãos de Corinto que ao obedecerem os preceitos ensinados por ele estariam diretamente obedecendo ao Senhor Jesus Cristo, pois o próprio apóstolo havia recebido tais instruções e era seguidor de Cristo.
2. "E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei" (1Co 11.2).
Ao lermos as duas cartas de Paulo aos coríntios, por vezes somos levados a pensar que aqueles homens nem mesmo eram crentes, pois até mesmo no tempo em que tinham a ceia alguns se embriagavam e outros comiam além da conta, fazendo que pouca comida sobrasse aos demais e todo ato solene fosse perturbado (1Co 11.20-22). Mas, ao contrário do que podemos eventualmente pensar, Corinto havia sido o lugar onde o Senhor teve por bem levar o evangelho da salvação e de fato havia uma igreja estabelecida naquele local. O próprio apóstolo denomina aqueles homens e mulheres de "irmãos", apesar de possuírem muitas falhas e estarem regendo a igreja local com acentuada falta de prudência e ordem vinda do Senhor - e é justamente sobre isto que Paulo escreve, para ensinar aqueles irmãos sobre a maneira correta de procederem acerca dos mais variados assuntos eclesiológicos.
Algumas pessoas têm inquirido e levantado objeções quanto ao uso do véu porque no Novo Testamento há apenas este conjunto de versículos que fale sobre o que estamos nos propondo a analisar. Porém, nota-se abundante falta de maturidade teológica e interpretativa nos que assim procedem, pois quem há de advogar a ideia de que todas as cartas e escritos bíblicos deveriam conter as mesmas instruções? Aliás, se assim fosse, não bastaria termos apenas uma carta? Ora, Paulo escreveu sobre este fato para a igreja de Corinto porque lá estava havendo este problema! Do mesmo modo como escreveu à igreja da Galácia por outros motivos, à Tessalônica por outros e em todas as suas demais cartas! Por que haveria razão para se tratar de um assunto em determinada igreja, sendo que lá não era preciso porque já era aceita? Evidencia-se, nestes termos, como infelizmente muitos estão distantes da compreensão de que a Escritura é una e indivisível, ainda que seja uma junção de várias cartas e escritores humanos que tenham registrado - ao final, porém "tudo vem de Deus" (1Co 11.12).
3. "Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo" (1Co 11.3).
O modo como Paulo inicia esta frase é importante para nós, pois enquanto no versículo anterior ele havia louvado os irmãos (isto é, estado alegre e jubiloso pelo o que o Senhor operara no meio deles), agora faz uma ressalva, uma pausa, um adendo a fim de explicar aos irmãos algo que eles haviam se esquecido (ou eventualmente ainda não haviam sido ensinados) ou estavam negligenciando voluntariamente. O que Paulo pontua neste versículo irá nos guiar por todo o estudo restante.
Após fazer a ressalva ("Mas"), ele diz: "Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo". Três fundamentos são postos nesta passagem:
1. Cristo é a cabeça de todo homem. Relembrando o que vimos nos estudos passados, isto significa que mesmo o homem tendo o domínio sobre a criação e o dever de reger o lar (com amor e gratidão), ele está primeiramente submetido a Cristo.
2. O homem é a cabeça da mulher. Paulo não expõe qualquer novidade teológica neste ponto, e sim afirma o que já é categórico da vida cristã: o homem é o governador (amoroso, paciente, cuidadoso, fiel...) do lar. Observemos, porém, que aqui não nos é dito sobre o respeito somente entre casados, como se as mulheres devessem honra (assim como os homens devem - já tratamos deste assunto) somente aos pais, irmãos e tios da família, mas sim é delimitado que o princípio da submissão abarca toda a relação de homem e mulher. [2]
3. Deus é a cabeça de Cristo. Dos três fundamentos que temos, este é o de maior impacto e que precisa ser posto em lugar de destaque em nosso conhecimento. Cristo, que é Deus, humildemente foi "semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo" (Hb 2.17), "Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível" (Hb 7.16) e "esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.7; Jo 17.5). De toda a submissão (do homem para Cristo e da mulher para o homem), a de Cristo ao Pai é certamente a mais sublime e gloriosa. Por meio desta declaração a santa Escritura nos ensina que todo ato de submissão humana não é coisa alguma em comparação ao que Cristo fez por Seus filhos.
Para fins pedagógicos, se visualiza desta forma o dito de Paulo:
As Escrituras tratam de duas questões neste ponto: orar e profetizar (que é pregar) e realizar estes atos com a cabeça coberta. Notemos que a ênfase não está no orar ou pregar (pois tais funções já pertencem aos homens), nas no fazer isto "tendo a cabeça coberta". A consequência desta atitude é que o homem "desonra a sua própria cabeça".
A dúvida que surge neste ponto é sobre o que significa desonrar a própria cabeça. A resposta para esta indagação está no versículo anterior: "Cristo é a cabeça de todo o homem". O que a Bíblia está ensinando é que se o homem ora ou prega com a cabeça coberta, ele "desonra a sua própria cabeça" - desonra a si mesmo. [3] Então, quando o homem desonra sua cabeça, ele acaba por desonrar a Cristo que é sua cabeça (seu dono, regente, supremo e soberano). Se o homem ora ou prega tendo algo em sua cabeça, ele acaba por desonrar a Cristo, pois Cristo passaria a ser a cabeça de alguém sem honra, de um ser não louvável, não submisso, alguém que sob sua cabeça recai vergonha.
5. "Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada" (1Co 11.5).
A fim de que a mulher não pensasse que deveria se portar igualmente ao homem, Paulo diz que se ela orar e profetizar (novamente, sinônimo de pregar) "com a cabeça descoberta", ela traz "desonra a sua própria cabeça", assemelhando-se a uma mulher com a cabeça "rapada". A palavra em grego para "descoberta" é "Akatakaluptos" (ajkatakavluptoß) e significa "não coberta, não velada, sem cobertura". [4]
Temos o primeiro indício, nesta passagem, de que se a mulher ora ou profetiza com a cabeça descoberta (sem a devida cobertura - véu, chapéu, gorro...), isso lhe é algo vergonhoso, desonroso. Isto é tão verdade que Paulo diz que se a mulher se assenta na igreja sem a cobertura, é como se estivesse com o cabelo raspado. No versículo 15 se visualizará melhor este dito, mas o apóstolo já indica que para a mulher, o estar sem a cobertura é a mesma coisa que negligenciar a sua glória que é o seu cabelo! Quer dizer, se a mulher se porta no culto sem a cobertura, ela está voluntariamente dizendo a Deus que o seu cabelo também nada vale de coisa alguma e sequer lhe é uma glória, pois estar sem a coberta é o mesmo que estar sem cabelo que é uma glória. Noutras palavras, se a mulher assim procede, ela negligencia a glória que Deus lhe deu, porque estar sem a cobertura é o mesmo que rapar o cabelo que é sua glória.
Há, aqui, um problema: como Paulo pôde dizer que a mulher poderia orar e pregar sendo que em 1Timóteo 2.12 ele expressamente proíbe esta prática e ordena que as mulheres fiquem "em silêncio"?
Para compreender e destrinchar esta dificuldade, lembremos do glorioso princípio de que a Escritura não pode conter contradição; quer dizer, uma vez que a Igreja invisível (todos os verdadeiros crentes de todos os lugares) de Deus é somente uma e se rege pela mesma Palavra, a Bíblia não poderia ordenar que em determinado lugar as mulheres pregassem e em outro que ficassem caladas - até mesmo logo depois 1Coríntios 14.34 Paulo proíbe as mulheres de falarem na igreja. Assim, deve haver alguma forma de conciliarmos estas duas aparentes contradições.
A maneira mais plausível e que não viola a harmonia bíblica é afirmar que ainda que a mulher não esteja no púlpito e/ou em frente à congregação, ela "participa" (assim como todos os presentes no local) da oração do ministro e quando o servo do Senhor prega a Palavra de Deus ela vai recebendo a mensagem e pregando para si mesma (como todos fazem), confirmando os ensinamentos e rogando ao Senhor para que lhe fale ao coração. Outro viés de entendimento também pode ser delineado a partir de que Paulo não está colocando ênfase na autorização para a mulher orar e pregar em público, mas sim proibindo-as de retirar a cobertura enquanto estiverem no culto público na presença de Deus e dos homens. Enquanto os homens demonstram sua liberdade com a cabeça descoberta, as mulheres demonstram sua submissão cobrindo-se adequadamente. [5]
Ainda uma terceira forma de se entender seria com relação à mulher orar e pregar apenas para mulheres, pois estas coisas juntamente com o expor do evangelho para outras pessoas do mesmo sexo (sem a presença de homens - refiro-me a algum estudo bíblico ou reunião de mulheres) é permitido pelas Escrituras. [6] Contudo, pelo contexto da passagem esta interpretação fica mais difícil de ser sustentada - por isso nos parece ser mais verdadeira a primeira cumulada com a segunda.
6. "Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu" (1Co 11.6).
Quase toda discussão sobre o uso do véu se inicia no versículo anterior e se desdobra na presente sentença. Primeiro, porque alguns titubeiam ante ao real significado; segundo, porque alguns apelam para um suposto contexto cultural que levara Paulo a escrever sobre isso; terceiro, porque baseado no versículo 15 entendem que o véu na verdade é o próprio cabelo. Todavia, infelizmente esta tradução "que ponha o véu" não é benéfica e não facilita o entendimento. Basta abrirmos algum Novo Testamento grego que veremos que a tradução melhor é "que esteja coberta". A palavra usada é "Katakalupto" (katakaluvptw) e significa justamente "estar coberto, manto/véu coberta de si mesmo". [7]
Olhemos atentamente algumas nuances do presente escrito e deixemos para o entender mais profundamente conforme avançamos na exposição.
Paulo inicia sua frase dizendo "Portanto", isto é, como se dissesse: "ou seja, irmãos, de acordo com o que lhes escrevi até agora". O versículo anterior fala que se a mulher ora ou profetiza com a cabeça descoberta, é como se estivesse rapada. Aqui se verifica, então, o primeiro sinal de que cabelo e véu são coisas distintas, pois uma vez que o apóstolo contrasta "não se cobre com véu, tosquie-se" com "que ponha o véu" (melhor sendo: "que esteja coberta"), não haveria razão (tanto lógica como gramatical e teológica) para supostamente falar da mesma matéria e as opor entre si. Dizendo de outra forma, Paulo não poderia escrever: "Se a mulher ora com a cabeça descoberta, é como se estivesse rapada - por isso deve se cobrir com o cabelo". Este entendimento é confirmado pelo próprio contraste traçado por Paulo no presente versículo, afinal, claramente ele utiliza o chamado "argumento de absurdo", isto é, dizer algo que é impensável e certamente reprovável. Também a própria palavra "Katakalupto" não é a mesma de cabelo, mas sim de algo que cobre, uma cobertura, manto/véu.
Outro ponto de notável importância é que "que ponha o véu" não pode ser substituído por "ponha o cabelo", pois o cabelo não é algo que se coloca e retira - já o véu (a cobertura) possui esta característica.
Notemos que Paulo diz que caso uma mulher não deseje usar o véu, em tese seria a mesma coisa que cortar o seu cabelo (tosquiar é cortar) curto ou estar com a cabeça rapada. Assim, presumindo (o óbvio) que para a mulher ter cabelo curto lhe é vergonhoso - "coisa indecente" -, então deveria usar "o véu" (colocar a cobertura "extra" que é o véu, chapéu...). A Palavra nos deixa clarividente que uma coisa é o cabelo (donde ele retira a menção à tosquiar-se e rapar-se) e outra é o véu (ora, não há como tosquiar um pano como se faz com o cabelo!). A própria palavra traduzida para nós como véu, como vimos logo acima é "Katakalupto" (katakaluvptw) e significa "estar coberto, manto/véu coberta de si mesmo". Deste modo, Paulo está falando de que a mulher deve usar sua cobertura natural (que é o cabelo), pois para ela o andar de cabelo curto lhe é "coisa indecente".
O motivo de Paulo mencionar que para a mulher o ter cabelo curto lhe é vergonhoso, vem do versículo 15 que diz: "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso" (1Co 11.15). Observemos que Paulo não está supondo que algumas mulheres gostem de cabelo curto e outras não, pois o motivo do cabelo crescido (veremos mais adiante sobre isto) para a mulher é que ele lhe é justamente honroso. Que mulher, então, gostaria de não ter a devida honra dada por Deus? Portanto, se a mulher não usa o véu, ela também rejeita a honra que o Senhor lhe deu.
7. "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem" (1Co 11.7).
Devemos ter sempre em mente que Paulo trata de duas coisas: a glória e a cobertura que cobre a glória.
O apóstolo passa a complementar o que havia registrado no versículo 4. O motivo pelo qual o homem não deve cobrir a sua cabeça enquanto ora ou profetiza é porque ele "é a imagem e glória de Deus". Quando um homem cobre sua cabeça durante a oração ou pregação (note que Paulo não se dirige apenas ao ministro, mas a todos os homens), ele está desrespeitando o Senhor, porque ele (o homem) "é a imagem e glória de Deus". [8]
É importante frisar que Paulo não transparece em suas palavras algum estado de preocupação para com aqueles que eventualmente não concordariam com este simbolismo e seu respectivo ensinamento. A Palavra do Senhor é enfática ao afirmar que o homem não deve se cobrir durante a oração e a pregação porque é a imagem e glória de Deus. Absolutamente nenhum "conforto" ou argumento é oferecido aos que talvez não concordem com este ponto. A razão para Paulo afirmar tal fato encontra-se registrado no próprio ato da criação: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26).
Todavia, o apóstolo vai além e diz que o homem também possui uma glória, uma honra, algo/alguém que lhe seja especial (quer dizer, ele não está somente em posição de submissão): "mas a mulher é a glória do homem". Assim, enquanto o homem é a glória de Deus, a mulher é a glória do homem.
Robert L. Dabney (1820-1898) comenta: "Assim, aquele que se levanta em público como o arauto e representante do Rei dos Céus deve permanecer com a cabeça descoberta; a honra do Soberano por quem ele fala exige isto. Mas nenhuma mulher pode se apresentar em público com a cabeça descoberta sem pecar contra a natureza e contra seu sexo. Portanto nenhuma mulher pode ser um arauto público de Cristo." [9]
8. "Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem" (1Co 11.8).
O motivo para a mulher ser glória do homem é baseado na criação, conforme registramos. Paulo jamais argumentou com base na cultura (caso contrário, como já vimos, poder-se-ia ignorar as recomendações sobre a ceia, por exemplo). Paulo não era o ministro da cultura em Corinto para buscar promover algo que já era supostamente praticado (ou não) por mulheres daquela época. Embora para muitos este argumento de Paulo seja "fraco" ou demasiadamente "simples", que se recorde de que estamos diante da Palavra do Altíssimo e, portanto, se foi este o motivo que Deus teve por bem nos revelar, tão somente assim deve ser.
9. "Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem" (1Co 11.9).
Já temos visto nos estudos passados que a mulher de maneira alguma é menosprezada ou tratada com menos esmero que o homem. O que ocorre é que a sociedade constituída de pecadores, paulatinamente vai semeando a discórdia nos corações e busca desenfreadamente perverter o papel de cada sexo criado por Deus. O fato de Paulo argumentar que o homem não foi criado por causa da mulher, mas sim ela por causa dele, não é algo "machista" ou tendencioso, pois basta que volvamos nossas Bíblias novamente para o relato da criação que perceberemos cristalinamente o que o próprio Senhor havia dito: "E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2.18).
Deste modo, os versículos 8 e 9 explicam o porquê do homem não dever orar ou profetizar com a cabeça coberta (escrito no versísculo 7): "Porque o homem não provém da mulher" e "Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem".
O reformador João Knox (1514-1572) comenta: "Primeiro, eu digo que a mulher em sua maior perfeição foi feita para servir e obedecer ao homem, não para governar e comandar sobre ele. Como São Paulo explica nestas palavras: 'O homem não é da mulher, mas a mulher do homem. E o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem e, portanto, a mulher deve ter sobre a sua cabeça um sinal de poderio' (isto é, deve cobrir a cabeça em sinal de submissão)... Crisóstomo, explicando estas palavras do apóstolo, 'O cabeça da mulher é o homem', compara Deus em seu reinado universal a um rei sentado em sua majestade real, a quem todos os seus súditos, ordenados a render-lhe homenagem e obediência, comparecem perante, tendo cada um tal emblema e medalha de dignidade e honra conforme receberam do rei; o que desprezar este emblema e medalha, com isto desonra ao rei. 'Assim sendo', diz ele, 'devem o homem e a mulher comparecerem diante de Deus, levando as insígnias que representam aquilo que receberam do rei. O homem recebeu uma certa glória e dignidade acima da mulher; e, portanto, deve comparecer ante Sua mais alta Majestade portanto o sinal da sua honra, sem cobertura sobre sua cabeça, testemunhando que na Terra não há cabeça sobre o homem … Mas a mulher deve estar coberta, para testemunhar que na Terra ela tem um cabeça, que é o homem'." [10]
10. "Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos" (1Co 11.10).
Quando nos deparamos com assertivas desta natureza, é mister que não avancemos ou façamos inferências e "deduções" assaz especulativas. Assim, convém que sejamos prudentes e reconheçamos que esta afirmação de Paulo é de difícil compreensão. Todavia, algo que é certo nesta declaração é: a mulher deve ter sobre sua cabeça um sinal de poderio, pois quem governa-a (no bom e dócil sentido da expressão) é o homem.
Podemos aventar algumas possibilidades quanto a "por causa dos anjos":
Francis Turretin (1623-1687) comenta: "O que se diz em 1 Coríntios 11.10 ('deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade') deveras mostra que os anjos estão sempre presentes nas assembléias sacras e são testemunhas da piedade ou da impiedade, da humildade ou da arrogância dos homens presentes (que por isso a mulher deve reverenciar)". [11] Outro ponto é que Paulo escreve é que, aparentemente, os homens irão julgar os anjos: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1Co 6.3). Podemos também pontuar que os seres celestiais se cobrem na presença do Senhor: "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam" (Is 6.1-2).
O reformador João Calvino (1509-1564) diz: "São Paulo então continua com o assunto que ele antes iniciou: o qual é, que a mulher deve ter a decência de não vir a reunião pública da Igreja com a cabeça descoberta; e que o homem também deve estar decentemente vestido, de forma que não haja uma bestial confusão. Para confirmar isto, contudo, ele adiciona uma razão a mais. 'Não ensina a natureza que se uma mulher não cobre a cabeça, isto é uma vergonha para ela?', ele diz. Alguém poderia certamente dizer que uma mulher está louca, se ela rapasse o cabelo para vir. Quando ele diz 'seu cabelo é uma cobertura', ele não intenta que enquanto uma mulher tiver cabelo, isto é o suficiente para ela. Antes ele ensina que o nosso Senhor está dando uma orientação que ele deseja que seja observada e mantida. Se uma mulher tem cabelo cumprido, isto deve ser entendido como se dizendo para ela, 'Cubra a sua cabeça, use um chapéu, use um capuz; não se exponha desta forma! O seu cabelo, mesmo quando você está sem chapéu ou capuz, é algo que te cobre. Veja, seria inadequado não ter cabelo algum; seria mesmo contra a natureza. De forma semelhante, estar sem o capuz é inadequado na assembléia.' É desta forma que esta passagem de São Paulo deve ser entendida." [12]
João Bunyan (1628-1688), o autor de "O Peregrino", comenta: "Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça (isto é, uma cobertura) sinal de poderio, por causa dos anjos." (1 Cor 11:10)... 'Parece-me, santas e queridas irmãs, que vocês devem se contentar em usar este poder ou sinal...' [13]
Vejamos o que diz Charles Haddon Spurgeon (1832-1892) diz sobre o assunto: "Você acha que eu e você temos considerado suficientemente que estamos sempre sendo olhados pelos anjos, e que eles desejam aprender de nós a sabedoria de Deus? A razão pela qual nossas irmãs aparecem na casa de Deus com suas cabeças cobertas é 'por causa dos anjos'. O apóstolo diz que uma mulher deve ter uma cobertura sobre a cabeça por causa dos anjos, uma vez que os anjos estão presentes na assembléia e eles marcam cada ato de indecência, e, portanto tudo é para ser conduzido com decência e ordem na presença dos espíritos angélicos". [14]
Todavia, mesmo diante da dificuldade, algo é muito explícito e notório nas palavras do apóstolo: as mulheres devem se cobrir "por causa dos anjos". O escrever de Paulo, como querem alguns, não é "por causa da cultura", "por causa de Corinto" ou ainda "por causa das prostitutas que rapam suas cabeças". É inegável o padrão que Paulo estabelece, pois uma vez que anjos são criaturas atemporais (não restritos a algum tempo ou agindo de acordo com a cultura), o argumento "cultural" é esplendidamente refutado pelo próprio apóstolo.
Greg Price comenta: "Deve ser evidente a todos que o argumento de Paulo acerca da observância dos anjos no culto cristão não é um argumento a partir da cultura. Anjos não são criaturas culturais nem estão limitados a culturas particulares onde ministram ao povo de Deus ou testemunham/participam da adoração do povo de Deus. Se as mulheres são obrigadas a terem este sinal de submissão aos homens em suas cabeças durante o culto, por causa dos anjos, então essa obrigação é de caráter universal e obrigatório em todas as igrejas de Jesus Cristo até a volta de Cristo." [15]
Portanto, ainda que não entendamos exatamente como os anjos se portam durante o culto e como eles assistem/participam, o que nos é evidente é o fato de Paulo argumentar não em favor ou por causa da cultura, mas sim em virtude de criaturas celestiais e que são fora do tempo e da cultura.
11. "Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor" (1Co 11.11).
Nos versículos 8 e 9 o apóstolo argumentou acerca de que o homem não deveria cobrir a cabeça porque na criação o homem havia sido feito por primeiro e a causa da criação da mulher havia sido o próprio homem, pois Deus teve por bem que o homem não estivesse só (Gn 2.18). Neste prisma é que Paulo continua o seu dito, porém, faz uma nova ressalva e afirma que o homem depende da mulher, ela depende dele e, portanto, ambos dependem do Senhor.
12. "Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus" (1Co 11.12).
A fim de responder a futuros argumentos e já deixando pontuado para que homem algum não se insurgisse contra a mulher e pensasse ser mais especial do que ela ou que intentasse a subjugar somente porque havia sido criado primeiramente, Paulo declara que, embora "a mulher provém do homem", no ciclo natural da vida quem gera o homem é a própria mulher - "também o homem provém da mulher". Homem algum pode se orgulhar diante das mulheres, pois se não fossem estas honráveis e preciosas pessoas criadas por Deus, nenhum de nós existiria, pois somente a elas foi dada a graciosidade de dar à luz e continuidade à toda posterioridade.
Deste modo, confirmando que entre o homem e a mulher há paridade diante do Senhor, complementa o apóstolo: "mas tudo vem de Deus". Quer dizer, por um lado há diferença entre homem e mulher e tal fato deve ser representado pelo uso do véu; por outro lado, diante do Senhor, em questão de salvação, santidade, amor de Deus, pecaminosidade, depravação... são exatamente iguais. Em resumo (pois não é o propósito deste estudo se alongar demasiadamente), podemos dizer que Paulo advoga uma diferença e uma igualdade: diferença quanto à criação e autoridade; igualdade quanto à situação do ser humano diante de Deus.
13. "Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?" (1Co 11.13).
Muitos leem esta passagem como se Paulo dissesse: "Bem, irmãos de Corinto, o que vocês pensam sobre isso? O que vocês entendem? De acordo com suas convicções, seria prudente a mulher orar descoberta? Digam-me, amados, o que vosso coração diz?" Por que Paulo não poderia ter isto me mente? Quer dizer, a pergunta que temos de fazer é: por que Paulo não poderia estar cogitando uma resposta dos crentes de Corinto?
A resposta é que Paulo não fez a pergunta esperando uma resposta dos irmãos da igreja, mas sim realizou uma pergunta retórica, isto é, aquela que não tem por finalidade ser respondida. De onde retiramos isto? Ora, basta lermos o versículo 5 novamente: "Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada". Paulo não poderia iniciar dizendo para os crentes serem imitadores dele assim como ele era de Cristo (v.1), afirmar no versículo 5 que quando a mulher vai até a igreja sem a cabeça coberta traz desonra sobre si (vide o contexto em que os irmãos estavam tendo dificuldades com o culto - os próximo versículos mesmo falam sobre a ceia, que por consequência é realizada no culto), e depois, então, como querem alguns, colocar em dúvida a sua própria palavra! Se assim fosse, era como se Paulo tivesse dito: "Bem, irmãos, lhes apresentei a verdade recebida de Cristo, mas são vocês mesmos quem devem decidir a questão - acham que é correto o que expus?" O apóstolo é Paulo e a autoridade é Paulo, não os irmãos da igreja de Corinto! O mestre era Paulo, não a congregação!
14. "Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?" (1Co 11.14).
Atentemos para o fato de que Paulo faz duas perguntas sequenciais e que visam reforçar o que ele já dissera até agora. Como dissemos anteriormente, não faz qualquer sentido o apóstolo afirmar e ensinar uma verdade, para depois questioná-la. Quando o apóstolo faz a pergunta acerca do cabelo crescido ao homem, esta "mesma natureza" não é somente sinônimo de cultura ou natureza criada por Deus, mas sim do que ele havia dito até o momento, ou seja, é como se perguntasse: "segundo o que lhes disse sobre a mulher usar o véu e não cortar o cabelo (tosquiar, rapar), não lhes é claro que, se o homem possui cabelo comprido, isso lhe é desonroso?"
Algo que todo cristão precisa entender é que a cultura e as pessoas nela inseridas não são a fonte do direito divino. A fonte, a matriz, a nascente, o padrão, o norte, a direção, é sempre vinda da palavra de Deus. Assim como em sociedade buscamos nos pautar (ao menos nas bases e coisas certas) pelo que os códigos e as leis nos prescrevem, de igual maneira devemos fazer com relação à Bíblia. Aqui, não estamos levantando a bandeira de sempre interpretar e aplicar as Escrituras de forma literal, mas sim de compreendermos que a cultura da época não pode fazer com que uma passagem perca todo ou quase todo seu significado para nós!
15. "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu" 1Co 11.15).
Se boa parte da celeuma inicia-se nos versículos 5 e 6, é aqui que ela ganha força e as discussões ficam mais acentuadas. Alguns leem este versículo e dizem que de fato o cabelo foi dado em lugar do véu - portanto, não se deve ou não se precisa mais usá-lo. Outros, contudo, analisam esta sentença à luz de todos os catorze versículos precedentes e concluem que são duas coisas distintas. O problema desta primeira interpretação é que, embora tenhamos em nossa língua a palavra "véu" (que, novamente, significa "cobertura") em ambos os versículos (6 e 15), aqui Paulo não usa a mesma palavra que no versículo 6. A palavra usada neste ponto é "Peribolaion" (peribovlaion) e significa "uma cobertura lançada à volta [de alguém], um invólucro". [16] Portanto, ainda que "Katakalupto" e "Peribolaion" signifiquem algo que "cobre, uma cobertura" Paulo não pode estar falando de duas coisas idênticas.
A pergunta, então, é: poderia haver uma única e fiel interpretação? Com o intuito de resolvermos esta questão, dividamos as duas afirmações que Paulo faz.
1. "Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso". O primeiro fato a ser analisado é que esta declaração é a resposta do porquê o homem não deve ter cabelo crescido, pois foi somente à mulher que ele foi concedido como uma honra. Mas, por que apenas a mulher recebeu tal honra? Ora, nos é por demais simples a resposta: "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem" (1Co 11.7 - grifo meu). O motivo para o homem não ter cabelo crescido é o fato de que sua glória é a mulher, enquanto a dela é o cabelo.
Temos, então, o seguinte quadro:
2. "porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu". O segundo quesito a se analisar é o concernente à questão: poderia o apóstolo defender o uso do véu e depois simplesmente ab-rogar o mesmo e dizer que o cabelo é um substituto real e eficaz?
A disparidade em dizer que o cabelo é o próprio véu, é que em primeiro lugar, mesmo aqueles que assim pensam, não defendem muitas vezes o cabelo crescido pelas mulheres (notemos: Paulo fala em cabelo crescido e não em cabelo longo até a cintura ou até X ou Y lugar - se conclui, portanto, que o cabelo da mulher deve ser distintamente maior que o do homem). Em segundo lugar, se o cabelo foi dado em lugar do véu (cobertura exterior), teremos sérias complicações com relação ao que Paulo ensinou até agora, pois:
- Paulo afirma que Deus é a cabeça de Cristo;
- Que Cristo é a cabeça do homem;
- Que o homem é a cabeça da mulher;
- Que o homem é a glória de Deus;
- Que a mulher é a glória do homem;
- Que o cabelo é a honra/glória da mulher;
- Que o homem não deve se cobrir por ser imagem e glória de Deus;
- Que a mulher deve se cobrir porque ela é a glória do homem.
Tendo delimitado estas bases, é simplesmente irracional e contra o padrão estabelecido por Paulo que o cabelo seja a honra/glória (conforme explicado na nota de rodapé [17]) da mulher e ao mesmo tempo seja aquilo que cobre a glória! Ora, ou o cabelo é a glória da mulher, ou é o que cobre a glória do homem - não pode ser ao mesmo tempo positivo e negativo! Se fôssemos demonstrar qual é o resultado de cada cobertura em cada sexo, teríamos o seguinte:
Se o homem e a mulher se cobrem com o véu: Ninguém fica em evidência/destaque no culto, porque o homem que é a glória de Deus está coberto - logo, Deus não está em proeminência, pois Seu servo está coberto. Com relação à mulher, visto que está coberta e é glória do homem, o homem também não aparece e ela também não, pois somente com o uso do cabelo a mulher estaria cobrindo-se diante do homem, mas sua glória (que é o cabelo) estaria em evidência - então, esta é a razão pela qual ela deve ter tanto o cabelo crescido como o véu (isto é muito importante de se entender!)
Se o homem se cobre e a mulher não: Deus fica "coberto", porque o homem é a Sua glória e ele está coberto. Como a mulher não está coberta com o véu (apenas com o cabelo), quem fica em evidência é ela mesma, pois seu cabelo (sua glória) está descoberta.
Se homem e mulher não se cobrem: Deus fica em evidência, porque o homem que é Sua glória está descoberto e, então, Deus "aparece". Como a mulher está descoberta (sem o véu) e o cabelo é sua glória, então ela também está em evidência.
Se o homem não se cobre e a mulher se cobre: Por o homem ser a glória de Deus, quando ele está descoberto, então Deus fica em evidência. A mulher tendo sua cabeça coberta com o cabelo (que é sua cobertura natural) e o véu por cima do cabelo, então tanto o homem quanto a mulher não aparecem, pois o cabelo da mulher cobre a glória do homem (que é a mulher) e o véu cobre a glória da mulher que é o cabelo.
Em uma tabela para melhor visualização, se traduz no seguinte:
Para encerrar o assunto, Paulo adverte os cristãos sobre que esta prática era realizada não por uma, mas sim pelas "igrejas de Deus". Muitos têm argumentado que o apóstolo está se referindo ao uso do cabelo como véu, isto é, de que Paulo jamais tivesse ordenado o uso do véu e de que se alguém desejasse ser contencioso em relação a usar o véu (noutras palavras, se alguém deseja criar intriga e impor o uso do dele), estaria indo contra o costume das igrejas de Deus.
Tal arguição, entretanto, não merece prosperar, pois uma vez que Paulo dedica longos 15 versículos falando justamente da autoridade, das glórias e do véu, em hipótese alguma ele poderia chegar ao final e simplesmente abolir tudo o que construiu! Seria tão absurdo quando se ele dissesse: "Amados, tenho vos ensinado que véu/cobertura é importante e as mulheres devem usar, mas finalizo meu ensino dizendo que não se deve; aliás, se alguém quiser obrigar, saiba que está fazendo errado, pois não temos este costume de usar o véu". Penso que tal aberração não deva sequer ser alvo de demais refutações, tamanha a discrepância entre o texto e o final proposto por tais pessoas.
David Dickson, um puritano escocês (1583-1663) escreveu: "Se alguém não foi movido por estes argumentos, mas contende, o Apóstolo se opõe as suas contenciosas apologias, o costume recebido e estabelecido pelos Judeus e pelo resto das Igrejas: Outras Igrejas não têm tal costume, de que uma mulher deve ser apresentar nas assembléias públicas com suas cabeças descobertas e o homem com sua cabeça coberta. Portanto seu costume não concordando com a decência, quer de acordo com o uso natural, quer de acordo com as igrejas, é totalmente inadequado." [18]
João Cotton (1585-1652) disse: "Como a adoração pública de Deus deve ser ordenada e administrada na igreja? Todos os membros da igreja estando reunidos como um só homem (i) aos olhos de Deus (ii) devem se ajuntar em santos deveres em uma só harmonia (iii) os homens com suas cabeças descobertas e as mulheres com as cabeças cobertas." [19]
O gigante puritano Matthew Henry (1662-1714) comenta: "Era um costume comum nas igrejas as mulheres aparecerem nas assembleias públicas usando véu; e é manifestadamente decente que elas devem fazê-lo. Devem ser muito contenciosos aqueles que brigariam por causa disto ou que colocam este assunto de lado." [20]
Charles Hodge (1797-1878): "Para a mulher em Corinto, portanto, descartar o véu era renunciar sua reivindicação por modéstia e se recusar a reconhecer sua subordinação a seu marido. Essa é a suposição desse significado do uso do véu que o apóstolo usa em todo o seu argumento no presente parágrafo... Como sendo uma ordem divinamente estabelecida, ambos, homem e mulher devem estar de acordo com isso; o homem tendo sua cabeça descoberta e a mulher tendo o véu." [21]
Deste modo, por fim, se resume no seguinte o que vimos: 1. O homem não deve cobrir a cabeça porque é a glória de Deus e Ele precisa estar em proeminência no culto; 2. A mulher deve estar no culto público com as duas coberturas que o Senhor concedeu: o cabelo que lhe foi dado em lugar de véu e, portanto, é para ela uma cobertura natural (o cabelo, então, cobre a mulher); e igualmente deve usar a cobertura externa, pois ela deve cobrir o cabelo, que por vez é a glória da mulher.
Assim, se vê a utilidade e beleza que traduz o véu: cobrir o homem e mulher, e revelar somente a Deus, o único e digno de toda honra, glória e louvor!
Finalizamos, portanto, nosso estudo sobre as atribuições, características, direitos e deveres dos homens e das mulheres. Que possa o Senhor nos fortalecer a cada dia em Sua Palavra e nos levar a ansiar e trabalhar em prol de Seu reino!
"Esforça-te, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o SENHOR o que bem parecer aos seus olhos" (2Sm 10.12; 1Cr 19.13).
Notas:
[1] Certamente que cada igreja possui suas peculiaridades como tipo de assento, forma do púlpito, horário do culto, quantos salmos serão cantados e outras coisas mais. Nos referimos aqui é sobre práticas ordenadas pelas Escrituras, e não as chamadas "questões indiferentes".
[2] Para mais detalhes, veja os estudos anteriores.
[3] Não pode se referir primeiramente (note: primeiramente) a desonrar a Cristo, porque no versículo seguinte Paulo fala acerca da mulher e de ela ter o seu cabelo rapado.
[4] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/akatakaluptos.html
[5] Este é o pensamento de Calvino em seu comentário sobre a passagem.
[6] Já vimos com mais detalhes este assunto nos estudos anteriores.
[7] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/katakalupto.html
[8] Lembremos de que esta ordem de Paulo sobre o homem estar sem cobertura era até mesmo praticado (embora não com o mesmo sentido) antigamente quando os homens retiravam seus chapéus antes das orações, ou ainda, nos dias atuais, enquanto ocorre alguma solenidade - hino à bandeira, por exemplo - os homens retiram seus chapéus, bonés e afins enquanto o hino é tocado e cantado.
[9] DABNEY, Robert L. Discussions Evangelical and Theological, vol. 2, pp. 98.
[10] KNOX, João - Fonte: http://calvinismoexperimental.blogspot.com/2011/06/mulheres-cubram-suas-cabecas-john-knox.html#comment-form
[11] TURRETINI, François, Compêndio de Teologia Apologética, Volume 1, Ed. Cultura Cristã, pág. 702.
[12] CALVINO, João - Fonte: http://calvinismoexperimental.blogspot.com/2011/06/mulheres-cubram-suas-cabecas-joao.html#comment-form
[13] BUNYAN, João - Fonte: http://www.the-highway.com/headcovering_Silversides.html
[14] SPURGEON, Charles Haddon, sobre Efésios 3:10, Metropolitan Tarbenacle Pulpit, vol. 8, p. 263.
[15] PRICE, Greg, citado em "Glory and Coverings" de Phillip G. Kayser, pág. 22 - tradução livre. Retirado de: http://www.biblicalblueprints.org/wp-content/uploads/2011/01/GloryAndCoverings.pdf
[16] Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/peribolaion.html
[17] Embora em nossas Bíblias tenhamos traduzido que o cabelo "lhe é honroso", no grego original a mesma palavra para honroso é usada em "glória", para dizer que o homem é a "glória de Deus". A palavra é "doxa". Fonte: http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/doxa.html
[18] DICKSON, David - Commentary on 1 Corinthians 11.16.
[19] COTTON, João - Fonte: http://www.the-highway.com/headcovering_Silversides.html
[20] HENRY, Matthew, Comentário em 1Coríntios.
[21] HODGE, Charles - Fonte: http://godrules.net/library/hodge/34hodge_a12.htm
Muito bom sua exposição querido amigo, cada vez mais "perturbado" com essa herança reformada que fora esquecida e banida nas assembleias solenes, dos ditos reformados de hoje. Encontrei essa citação do Charles Spurgeon que resumi muito bem toda essa questão:
ResponderExcluirHoje a moda é citar Spurgeon, mas com triste certeza afirmo que muitos que aqui "curtem" e "compartilham" seus ditos, não suportariam ir a mais de 2 de cultos onde ele pregava. Basta dizer que em seus cultos não haviam nstrumentos musicais - ou seja, se realizava o canto congregacional -,a pregação era mais longa do que as de hoje e as mulheres deveriam usar o véu/chapéu descrito em 1Co 11.Portanto, lembre-se que por detrás das doutrinas de Spurgeon estão ligados demais entendimentos do Evangelho.Não o cite (ou ainda outro) pensando que pode eliminar certas práticas que lhe são desgostosas (Fonte: http://sollox.blogspot.com.br/2012/08/spurgeon-e-hinoslouvores-e-salmossalmo.html).
Mulheres não casadas, devem usar o "véu"?
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