Um certo vídeo (clique aqui) tem gerado toda sorte de problemas com relação a determinada doutrina cristã, a saber, a doutrina da retribuição pelo mal cometido. Como se pode verificar no mesmo, uma mãe, encontrando o assassino de seu filho [1], possivelmente após o inquérito policial ou após alguma audiência judicial, diz que ele está perdoado. Ela afirma de modo a expressar algo bíblico, isto é, o amor que deve ser concedido, afinal, primeiro fomos perdoados pelo Senhor.
Todavia, este vídeo tem sido disseminado a fim de propagar a errônea de que o perdão de pecados exime o malfeitor da pagar por sua culpa. Noutras palavras, muitos crentes o tem divulgado para mostrar que o amor não faz necessário haver punição pelo crime - o que é uma completa inverdade.
Assim, ainda que mui brevemente, iremos analisar o que a Escritura nos diz sobre o perdão e punibilidade pela transgressão.
Assim, ainda que mui brevemente, iremos analisar o que a Escritura nos diz sobre o perdão e punibilidade pela transgressão.
1. O perdão de pecados
A Bíblia assim afirma: "Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete" (Mt 18.21-22).
Observamos que há um mandamento muito específico: perdoar. É preciso notar, porém, que o texto fala mais especificamente sobre perdoar "meu irmão", isto é, outro crente que nos fez mal. E qual o motivo para o cristão perdoar seus irmãos que lhe maltrataram? A resposta vem em seguida dos referidos versículos, quando o Senhor profere a parábola do servo que possuía muitas dívidas para com o seu senhor, mas que as teve totalmente quitadas e, assim, deveria ter a mesma atitude para com o próximo.
Outro texto, agora falando sobre cristãos e incrédulos, assim afirma: "Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.27-28). Se percebe, então, que há uma diferença entre o perdão concedido ao irmão em Cristo e o amor que devemos ter para com os nossos inimigos. Não é possível "conceder" o perdão aos inimigos na mesma medida que para com o cristão, tendo em vista que, neste sentido da palavra, os inimigos não são cristãos e por isso não estão sob a bênção de Deus e sob Sua guarda, de modo que o que devemos para com eles é demonstrar o amor do Senhor em lhes expor a necessidade de arrependimento e conclamando para que sejam guiados até Cristo.
Trocando em miúdos, devemos perdoar os irmãos em Cristo e demonstrar o amor que Deus teve para conosco na relação com os incrédulos, lhes mostrando a verdade e conclamando ao arrependimento. Embora a expressão "perdoar um incrédulo" denote que o cristão não está mais levando em consideração o que foi lhe feito, teologicamente não é uma expressão adequada, ainda que não seja totalmente reprovável a utilizar.
Desta forma, aprendemos que, de modo geral, temos de demonstrar amor para com o próximo, tal qual a mulher do vídeo aparentou fazer.
2. A punição pelo pecado
A Escritura nos fornece claro entendimento sobre o que é pecado: "Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei" (1Jo 3.4). Não resta qualquer dúvida: pecado é tudo o que transgride a Lei, isto é, todas as ordenanças e mandamentos do Senhor.
Como se pode verificar no vídeo elencado, houve um assassinato, uma clara violação ao sexto mandamento: "Não matarás" (Êx 20.13). E qual é a penalidade bíblica para quem comete este pecado [2]? A resposta é clara: "Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes. Mas se houver morte, então darás vida por vida, Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe" (Êx 21.22-25).
Ao contrário do que muitos pensam, esta lei do Senhor quanto à pena de morte para quem retira a vida de outrem sem motivo, não foi abolida [3]. Inúmeros são os casos bíblicos para a pena de morte, incluindo o estupro, por exemplo (Dt 22.26). Com relação às cidades refúgio, como é de cediço conhecimento, elas serviam tão somente para os crimes cometidos com culpa, isto é, sem dolo (ausência de intenção), de modo que se alguém premeditasse o mal contra o próximo e lá se escondesse, seria retirado e morto: "Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, Então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra" (Dt 19.11-12). [4]
Por que o assassino (o tema aqui tratado) é punido com a morte? Porque chegou ao grau máximo da perversidade, pois tirou a vida de alguém feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27). O fato de alguém ser punido com morte, não invalida entretanto, o perdão conferido e até mesmo a vida eterna, como se verá abaixo.
3. O perdão não exclui o a punição
O próprio salmista afirma como que o Senhor, embora perdoe, muitas vezes vinga os feitos dos homens: "Tu os escutaste, Senhor nosso Deus: tu foste um Deus que lhes perdoaste, ainda que tomaste vingança dos seus feitos" (Sl 99.8 - grifado agora).
Um outro texto muito evidente, que demonstra como a punição não exclui o perdão, ou seja, que a pessoa deve ser punida, mesmo sendo perdoada, é o do ladrão da cruz, onde aquele homem, após cometer grande pecado e transgressão social, foi salvo por Cristo, ainda que o Senhor não o tenha retirado da cruz.
Portanto, após esta apertada síntese, podemos concluir que no caso do vídeo comentado, bem fez a mulher em demonstrar amor ao próximo, mas isso não significa que aquele homem deva ser absolvido do seu crime e tendo o direito a continuar a viver, pois se estivéssemos em um país com leis cristãs, ele teria de ser executado - o que não invalidaria possível salvação no intercurso entre a sentença e a execução da mesma.
Esta doutrina é muito forte para você? Tenha a certeza de que também a é para mim. Roguemos, então, juntos ao Senhor, a fim de termos intrepidez de fazer como os apóstolos: "Mais importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29).
p.s.: não se esqueça de ler as notas abaixo.
Ao contrário do que muitos pensam, esta lei do Senhor quanto à pena de morte para quem retira a vida de outrem sem motivo, não foi abolida [3]. Inúmeros são os casos bíblicos para a pena de morte, incluindo o estupro, por exemplo (Dt 22.26). Com relação às cidades refúgio, como é de cediço conhecimento, elas serviam tão somente para os crimes cometidos com culpa, isto é, sem dolo (ausência de intenção), de modo que se alguém premeditasse o mal contra o próximo e lá se escondesse, seria retirado e morto: "Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, Então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra" (Dt 19.11-12). [4]
Por que o assassino (o tema aqui tratado) é punido com a morte? Porque chegou ao grau máximo da perversidade, pois tirou a vida de alguém feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27). O fato de alguém ser punido com morte, não invalida entretanto, o perdão conferido e até mesmo a vida eterna, como se verá abaixo.
3. O perdão não exclui o a punição
O próprio salmista afirma como que o Senhor, embora perdoe, muitas vezes vinga os feitos dos homens: "Tu os escutaste, Senhor nosso Deus: tu foste um Deus que lhes perdoaste, ainda que tomaste vingança dos seus feitos" (Sl 99.8 - grifado agora).
Um outro texto muito evidente, que demonstra como a punição não exclui o perdão, ou seja, que a pessoa deve ser punida, mesmo sendo perdoada, é o do ladrão da cruz, onde aquele homem, após cometer grande pecado e transgressão social, foi salvo por Cristo, ainda que o Senhor não o tenha retirado da cruz.
Portanto, após esta apertada síntese, podemos concluir que no caso do vídeo comentado, bem fez a mulher em demonstrar amor ao próximo, mas isso não significa que aquele homem deva ser absolvido do seu crime e tendo o direito a continuar a viver, pois se estivéssemos em um país com leis cristãs, ele teria de ser executado - o que não invalidaria possível salvação no intercurso entre a sentença e a execução da mesma.
Esta doutrina é muito forte para você? Tenha a certeza de que também a é para mim. Roguemos, então, juntos ao Senhor, a fim de termos intrepidez de fazer como os apóstolos: "Mais importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29).
p.s.: não se esqueça de ler as notas abaixo.
Notas:
[1] Como trabalhador na área do Direito, sei que não é apropriado fazer juízo de valor sem conhecer o caso, por isso, parto do pressuposto de que o elemento em tela é o verdadeiro assassino, mas considero a possibilidade de não ser, afinal, não conheço as minúcias do processo.
[2] O versículo, no original, é melhor traduzido como "Não assassinarás", isto é, "não tirarás a vida sem motivo".
[3] Leia este texto: Por que a mulher adúltera não morreu?
[4] Sobre este assunto, tratando acerca do "vingador de sangue", é melhor explanado em meu livro: Armas, Defesa Pessoal e a Bíblia. Querendo, você pode o adquirir neste site.
[5] Alguns textos eu recomendo para você que possui dúvidas neste assunto:
- Podemos Legislar a Moralidade?
- A Lei Civil do Antigo Testamento: Você é dispensacionalista nisso?
- Quando matar não é nem crime nem pecado
Se você lê em inglês, adquira estes dois livros: "The Death Penalty on Trial", de Ron Gleason e "Punishment by Death", de George B. Cheever.
[3] Leia este texto: Por que a mulher adúltera não morreu?
[4] Sobre este assunto, tratando acerca do "vingador de sangue", é melhor explanado em meu livro: Armas, Defesa Pessoal e a Bíblia. Querendo, você pode o adquirir neste site.
[5] Alguns textos eu recomendo para você que possui dúvidas neste assunto:
- Podemos Legislar a Moralidade?
- A Lei Civil do Antigo Testamento: Você é dispensacionalista nisso?
- Quando matar não é nem crime nem pecado
Se você lê em inglês, adquira estes dois livros: "The Death Penalty on Trial", de Ron Gleason e "Punishment by Death", de George B. Cheever.
Mesmo sendo estreito, como disse o autor, o texto é relevante. Embora os irmãos que divulgaram o vídeo não estivessem fazendo apologia contra a pena de morte, mas sim enfatizando o ato de agir com misericórdia em relação aos que nos fazem o mal, o comentário de Filipe Machado nos alerta acerca do cuidado que devemos ter com aquilo de divulgamos. Faz-nos ver que o assassino teve sim ser punido, mesmo que tenha sido perdoado.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, muito bem elaborado e esclarecedor em muitos pontos.
ResponderExcluirPermita-me discordar em um aspecto. Quem está em Cristo não está debaixo da lei(1tm1:5, 1tm1:8-9, Rm5:9,Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Romanos 10:4).
Os que não estão em Cristo, esses sim estão debaixo da lei(Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
Mateus 5:17)
Nesse caso, se nosso país fosse regido por leis cristãs, durante o julgamento se ele mostrasse frutos dignos de arrependimento(mt3:8) ele deveria ser absolvido(não sei se o termo é esse).
Agora, dito e discordado, tenho uma dúvida(é realmente uma dúvida pessoal); Ela teria obrigação de perdoá-lo sem o mesmo ter pedido perdão? Sei que ela pode e o fez, mas teria obrigação?
Bom a Mulher adúltera foi pega no ato de adultério... Pecado também punível de morte segundo a lei de Moises ( não lei de Deus)... Mas mesmo assim o Senhor Jesus a absouvel ( ato de libertar alguém de uma acusação) dizendo ele: — aquele que nunca errou atire a primeira pedra... Nota se que ele não disse ( aquele que nunca adulterou!) Mas aquele que nunca errou. Segundo ele do seguinte veredito: — mulher onde estão os seus condenadores??? Nem eu te condeno... Exclamou o Senhor... Todos da tem que saber que pecar é errar o alvo, alvo esse não outro se não o próprio Cristo. Posso aqui lembrar de outros pecados puníveis de morte que o próprio Senhor Deus, não puniu de morte ex o adultério de Davi com betseba e o assassinato de Urias. Isso iria apimentar um pouco mais a discussão. Mas não obrigado vou deixar por conta dos universitários... Mas também não quero negar aqui a lei da semeadura, e sim dizer que não impera mais a lei de talião, olho por olho dente por dente etcetera e tal...
ResponderExcluirEu entendo que pecados "menores" podem ser,além de perdoados, extintos de punibilidade. Um caso bem claro é o da prostituta que seria morta por apedrejamento mas Cristo a perdoou e a livrou do castigo. "Vá e nao peques mais".
ResponderExcluirMas e na visão bíblica o perdão exclui a punição? Obrigado.
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