sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Série Homeschooling - parte 1 (O que não é?)


 - parte 2 (O que é?)       
                       - parte 4 (A situação jurídica no Brasil)

Iniciando esta pequena série, precisamos esclarecer o que não é homeschooling.

Em primeiro lugar, homeschooling, do inglês "escola em casa" ou "ensino domiciliar", não significa que se está afirmando superioridade de ensino, em oposição à escola "tradicional" ou "escola formal". Não é porque uma criança estuda em casa, que necessariamente será mais inteligente e aproveitará melhor o conhecimento (maiores informações na parte 3 desta série). Se seu filho aprende em casa, possivelmente será melhor dirigido em seu intelecto, mas não faça disso uma regra.

Em segundo lugar,  não significa que a escola tradicional seja algo maligno. A escola é boa, útil e creio que sempre precisará existir, pois nem todos os pais dispõe de tempo e esforços suficientes para guiar seus filhos. É verdade que a tradicional possui seus erros grotescos e influências do Estado, mas não é porque a criança é ensinada no lar que a família deve falar somente mal da escola comum. Aprenda mais a valorizar o ensino doméstico do que a criticar a escola tradicional.

Em terceiro lugar, não significa que todas as coisas sairão como você imagina e que seus filhos serão reconhecidos internacionalmente. Ainda que existam exemplos de crianças notáveis, se acautele para não criar expectativas além do razoável. Ensinar em casa é o meio para um fim, a saber, uma educação mais próxima e direcionada, e não uma ponte para o sucesso. Se você deseja ensinar seus filhos, saiba que eles não precisam impressionar o mundo, muito menos você; tão somente precisam aprender os valores corretos e serem privados do mal (até onde é possível).

Em quarto lugar, não significa que tudo será mil maravilhas. Não raro, o restante da família é contra sua opção e acaba sendo a principal pedra de tropeço para uma harmonia. Muitos não irão lhe compreender e poderão chegar a lhe intimidar, dizendo que falarão com o Conselho Tutelar, por exemplo. Lembre-se de que ensino domiciliar não significa aceitação total. Esteja preparado para ter de explicar mil vezes a mesma coisa e ter calma para lidar com as situações que podem surgir.

Em quinto lugar, não significa que os pais precisam ser peritos em todas as matérias. Na verdade, ensinar em casa não é sinônimo de mera transferência de conhecimento. Você não ensina tudo para o seu filho, pois o papel dos pais é serem como que intermediadores do conhecimento ou, noutras palavras, devem facilitar o aprendizado comprando livros, indicando sites e planejando as disciplinas. Nada, porém, relacionado aos pais precisarem ser uma enciclopédia viva. Você poderá chamar amigos para ensinar no que você tem dificuldade, contratar professores, os colocar em algum curso e coisas do gênero.

Em sexto lugar, não significa que você nunca colocará seus filhos na escola tradicional ou que ela será extinta. Como tudo nesta vida, nem sempre as perspectivas se concretizam e talvez você venha a desistir deste método de ensino. Ou talvez você prefira os ensinar somente nos primeiros anos da infância, fazendo com que tenham bases mais sólidas. Não inicie, porém, pensando que seu filho estará, necessariamente, sempre dentro de casa. Aliás, não pense que ensinar em casa é sinônimo de ficar trancado (mais sobre isso na parte 2) Ademais, o propósito da ensino domiciliar nunca foi o de banir a escola tradicional, e sim abrir o leque de oportunidades para os pais ensinarem da maneira que mais lhes convém.

Em sétimo lugar, não significa que será fácil. Enganam-se os pais que imaginam ser mais tranquilo ensinar em casa do que levar à escola tradicional. Em casa você precisa de mais disciplina própria, delimitar horários (quando a criança não consegue por si) e estipular algumas metas. É mais difícil e custoso do que a escola, pois você passa a ser o Diretor dela.

Em oitavo lugar, não significa que você, só porque ensina em casa, pode ensinar qualquer coisa a seus filhos. Jamais imagine que deixar as crianças vendo televisão (e geralmente bobagem) significa ensino domiciliar. Ensinar em casa requer, sim, excluir coisas maléficas a seus filhos. Se na escola tradicional você não consegue gerir a grade curricular, em casa você tem a obrigação de fazer.

Em nono lugar, não significa que você não precisará gastar com coisa alguma. Se seu filho fosse à escola tradicional, teria de comprar materiais, uniforme, gastar com o deslocamento, lanches e afins - em casa é a mesma coisa. Você precisará comprar alguns livros, quem sabe investir em uma internet um pouco mais rápida ou algum computador/tablet (o que achar melhor), materiais para seu filho escrever, brinquedos... Enfim, você terá uma mini escola em casa.

Em décimo lugar, não significa que tudo será monótono. Se num dado período seu filho perde o interesse por certa matéria, você precisa ser criativo! Se não há dinheiro suficiente para comprar os melhores mapas e tabelas, faça você mesmo! Em verdade, ensinar em casa é um desafio constante, pois você precisa, tal qual um professor, despertar o interesse na criança, o que muitas vezes não é nada fácil!

Em décimo primeiro lugar, não significa que seus filhos deixarão de socializar. Isto é um verdadeiro mito. "A família é o primeiro grupo social em que a criança aprende a exercer sua sociabilidade. Assim como a igreja, os vizinhos, os parentes, enfim, os diferentes grupos etários do qual a sociedade é feita, compõem um vasto campo de possibilidades de socialização. Também há a participação da criança em cursos extras, esportes e parques, bem como em toda a agenda curricular escolhida pela família"¹.

Até aqui, então, onze coisas sobre o que não é o homeschooling. Na próxima parte veremos sobre o que é o ensino em casa, de maneira a trazer uma visão mais clara sobre o tema.

*agradeço a todos que leram previamente este texto e contribuíram com ele.
¹ Contribuição da Coordenadora Pedagogica, Glaucia Mizuki - entre em contato com ela.

Um comentário:

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