segunda-feira, 26 de março de 2012

Série: Homem e Mulher os criou - parte 2 - A Mulher e a Criação - Sermão pregado dia 25.03.2012


Série: Homem e Mulher os criou - parte 2
A Mulher e a Criação -
Sermão pregado dia 25.03.2012

"E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele. Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea" (Gn 2.18-20).

Após ter feito vir à vida tudo o que criara e ter dito que até aquele momento tudo era bom, vemos aqui o Senhor falando a primeira negativa: "Não é bom". Deus de fato havia criado tudo no mais sublime esquadro e beleza, no entanto sua obra ainda não estava completa, faltava alguém ou alguma coisa que fizesse companhia ao homem. Mas por que ele precisaria de uma companhia? Já não tinha os animais e a natureza? Notemos as primeiras palavras do Criador com relação a criação: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26 - grifo meu). A palavra nossa denota claramente o Senhor fazendo alusão às três pessoas da trindade. Se o homem houvesse sido criado apenas à  imagem e semelhança de Deus Pai, o pronome possessivo não estaria no plural, e sim no singular: "Farei o homem à minha imagem, conforme a minha semelhança". O pronome usado no plural, acrescido ao fato de que já vimos ser a imagem e semelhança o reto e pleno juízo das faculdades de Adão, nos ensina claramente que o homem também foi criado para viver em companhia de outrem. Assim como Deus é em si mesmo uno e ao mesmo tempo trino, também o homem veio a existir para desfrutar de relacionamentos.

Foi devido a esse fato que o Senhor então prosseguiu em Sua negativa: "Não é bom que o homem esteja só" (grifo meu). Por algum motivo que nos é insondável, o Senhor teve por bem determinar na eternidade que não seria bom que o homem estivesse só. Notemos como essa característica é importante: apesar de toda criação, todos os animais, toda beleza e pureza existentes na criação, o Senhor havia predestinado o homem a ser uma pessoa sociável. Em Sua soberania aprouve criar tudo da mais excelente qualidade, mas, no entanto, a mera beleza - fosse da natureza ou dos animais - não satisfazia o quesito de companhia. Isso é ainda muito real para o homem moderno. Isolar-se do mundo não é um sinal de sanidade mental (ao passo que a população seria "insana" por não perceber o meio em que vive), não é o adequado para o ser humano - o homem não foi feito para viver no ermo, na escuridão, afastado de tudo e todos; ele foi criado para ter e ser uma companhia.

"far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2.18). O Senhor havia instituído que o homem necessitaria de uma companhia. Até antes de nosso versículo (começando no capítulo 2), não nos é dito qual seria a companhia que Adão teria. Deus havia dito que não era bom que o homem estivesse só, então afirma que lhe fará uma auxiliadora. Continuando o relato, lemos: "Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria" (Gn 2.19). Após a promessa da ajudadora, o Senhor leva até Adão todos os animais para que ele lhes nomeie. Adão tinha diante de si uma gama vastíssima de espécies, com seus mais variados tamanhos, cores e cheiros que advinham de tais criaturas. "E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea" (Gn 2.20). O homem cumpriu o que Deus havia colocado a seu encargo: nomeou todos os animais que tinham sido trazidos à sua presença. Contudo, embora a narrativa bíblica não nos forneça os pensamentos de Adão, é bastante plausível aferirmos que enquanto estava diante de toda sorte de animais, pensasse consigo: "Qual destes será minha auxiliadora? Encontrarei alguém aqui que seja também criado à imagem e semelhança de Deus?". Ou ainda: "Vejo que tudo é muito formoso e agradável aos olhos, mas percebo que nenhuma dessas criaturas foi feita semelhantemente a mim. Seus corpos são diferentes, seus tamanhos são irregulares, alguns são tão pequenos, ao passo que outros são tão grandes...". Algum pensamento dessa natureza pode ter perpassado a mente de Adão, pois lemos que após ter nomeado todas as criaturas, "para o homem não se achava ajudadora idônea". Havia a promessa, Deus tinha decretado que não era bom para o homem estar só, porém, até o momento o homem não conseguia visualizar o cumprimento da promessa.

Então, depois do homem procurar entre todos os animais, verificar-lhes meticulosamente e a todos nomear, dize-nos a narrativa: "Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão" (Gn 2.21, 22). Aqui, gostaria de me por a pensar e conjecturar o porquê de Adão ter sido colocado para dormir, mas, como não é recomendável, nem seguro a curiosidade em demasia, precisamos ficar com o que o texto no diz; e aqui vemos que Adão dormiu, mas não um simples sono, mas "um sono pesado". Observemos com cuidado: "o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão" - o Senhor dominava sobre o homem e não precisava de sua autorização para fazê-lo. Não nos é dito que Adão resistiu ao sono ou que ficou virando-se de um lado para o outro em teimosia e arrogância por não querer se submeter a Deus e dormir; tão somente o Senhor ordena que um sono profundo se abata sobre ele, "e este adormeceu" - isso é importante para nós, pois já nos primórdios da criação o Artífice se mostra soberano sobre absolutamente todas as coisas, até mesmo sobre quando, como, onde e por quanto tempo o homem se deitará. Entretanto, nosso texto não pára por aqui. Nos é dito que houve um propósito divino em Adão cair em sono profundo: "e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão". Com mastreia em poesia cirúrgica, o puritano Matthew Henry comenta sobre esse detalhe: “A mulher foi feita da costela do lado de Adão; não da sua cabeça, para não governá-lo; nem de seus pés, para não ser pisada por ele; mas do seu lado, para ser igual a ele, debaixo de seu braço, para ser protegida, e perto do seu coração, para ser amada”.

Alguns espíritos malignos ficam a duvidar de tal narrativa, pois questionam-se como pode, cientificamente falando, que alguém venha a ser formado de uma simples costela. Para esses, embora não merecessem qualquer argumentação, haja vista tamanha ignorância que os assola, lembramo-los de que Adão foi feito a partir do pó da terra (Gn 2.7), e mais: que os grandes luminares do universo (sol e lua) foram criados após a criação das ervas e relva na terra (Gn 1.14). Alguns também argumentam que o intuito da narrativa bíblica não é de cunho científico, devendo ser feita apenas uma leitura fria dos fatos e não como se comunicassem a realidade em si mesma. Mas, à semelhança do outro grupo, estes também erram, pois não entendem que os propósitos e poderes do Senhor são maiores que qualquer "prova científica". Se o Senhor pôde suster as plantas sem o sol e criar o homem a partir do pó da terra, então, criar uma auxiliadora a partir de uma costela foi coisa demasiadamente simples para Ele. Notemos ainda algo precioso nesses versos: "e trouxe-a a Adão". Após haver adormecido e lhe ser retirado uma das costelas, Adão não corre em desespero pelo jardim à procura de sua auxiliadora. Aliás, pela ordem da narrativa, parece-nos que nem ao menos ele sabia o que se passava naquele momento, talvez houvesse despertado de seu sono e simplesmente continuado a desfrutar da criação. Como dito, Adão teve uma atitude muito diferente de certos homens e mulheres atuais: que não veem a hora de encontrar seu cônjuge, e para isso, não medem esforços para irem a retiros "espirituais" na esperança de encontrarem o seu amor, ou ainda, que se enamoram com aquele(a) que tão somente satisfaça alguns poucos [nada bíblicos] requisitos pessoais. No entanto, ao contrário do senso comum, nos é dito implicitamente no texto que Adão aguardou ("e trouxe-a a Adão") - foi o Senhor que a levou para ele.

Observemos agora a reação de Adão ao lhe ser apresentado sua auxiliadora: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada” (Gn 2.23). Este homem deve ter vibrado de alegria! Imagino Adão correndo pelo jardim, pulando, cantando, gritando, subindo em árvores e dizendo: "Agora sim! Ela chegou! A maravilhosa criatura que Deus planejou para mim veio a existir! Que homem abençoado eu sou!". Para entendermos o motivo de tal alegria, devemos recordar que anteriormente, após ter nomeado todos os animais, nos é dito que "não se achava ajudadora idônea". Todavia, nesse instante, Adão via-se completo: "Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne;". A mulher que também havia sido planejada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), veio a lume e foi levada até ele. Adão reconheceu que diferentemente dos animais que não eram "osso dos meus ossos, e carne da minha carne", a mulher tinha suas particularidades que a distinguiam dos outros seres criados. "esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada" - o Dr. Joel Beeke comenta: "Adão diz: 'Esta, afinal' (verso 23a) — i.e., 'desta vez' — agora, finalmente, Adão encontra aquela que lhe corresponde. A íntima associação é enfatizada pelos seus nomes, desde que ela é chamada 'varoa' [ishah] porque foi tirada do varão [ish]. A palavra hebraica para 'varoa' é formada pelo acréscimo da terminação feminina '— ah' à palavra 'varão'. Uma diferença paralela seria leão e leoa, ou tigre e tigreza". [1]

Precisamos agora analisar mais detidamente o que viria a significar "far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (grifo meu). Se é verdade que muitos homens tem entendido essa característica de maneira completamente equivocada, é também correto afirmar que muitas mulheres se apartaram do devido ensino bíblicos - ambos precisam compreender qual o significado dessa sentença. Uma ajudadora idônea não é como uma escrava ou como uma vassala do rei que vive limpando seus pés e lhe trazendo comida na boca - se assim fosse, o adjetivo não seria "idônea, capaz, adequada", mas algo que denotasse inferioridade e completa inutilidade para servir de ajudadora. Ao contrário do que pode parecer, a Bíblia relata-nos que "a mulher é a glória do homem" (1 Co 11.7), isto é, a beleza, o esplendor e a realeza do homem é completa com sua companheira. Paulo de modo algum está diminuindo a grandiosidade da criação feminina ou desejando expressar que o homem tem o direito de ser um déspota e tirano para com ela - "A glória da mulher é que só ela pode completar o homem; sua humildade é que ela é feita do homem". [2] O homem que se encontrava sozinho na criação e "não... achava ajudadora idônea", agora é contemplado com uma fiel ajudadora. É preciso compreender esse ponto, pois anteriormente lemos: "E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar" (Gn 2.15 - grifo meu) - a ordem era clara para o homem: lavre e cuide do jardim em que lhe coloquei. Nesse ponto, não devemos entender a palavra "homem" como sendo gênero, do qual homem e mulher são espécies. Na língua hebraica há uma clara diferença para homem (ish) e para mulher (isha), donde depreende-se sem sombra de dúvidas que era o homem (do sexo masculino) quem deveria lavrar a terra - isso é também confirmado pelo fato da mulher ter sido criada posteriormente à essa ordenança (Gn 2.15, 19). Observamos ainda outro detalhe ligado a esse: enquanto para o homem foi dado o dever de lavrar e guardar a terra, à mulher não foi estendido tal dever; sequer foi estipulado à ela alguma tarefa com relação ao cuidado da terra e à sua manutenção - mas por quê? Encontramos a resposta no mesmo versículo que lemos: pois havia sido criada para ser sua "ajudadora idônea".

Eva foi criada a fim de ser uma ajudadora, uma auxiliadora capaz, prudente e que de fato fosse uma companheira inseparável de seu marido. O termo usado para a definir (ajudadora), aliado ao fato de Adão ter sido incumbido da tarefa de lavrar e guardar (cuidar) o jardim, denota esplendidamente sua qualidade familiar em auxiliar seu marido nas tarefas, porém, de maneira diferente da realizada pelo homem. Enquanto Adão deveria andar pelo jardim e cuidar da criação do Senhor, à mulher foi dito que lhe auxiliaria nessa tarefa. No entanto, não podemos apenas nos deter na narrativa da criação para entendermos as qualidades da mulher, pois embora a criação nos revele muitos detalhes, se somente olharmos para os versículos que estamos analisando, poderemos ter a falsa impressão de que Eva também deveria ajudar a "lavrar e guardar" a terra - o que de longe podemos afirmar que não é o intento bíblico. [3] Para o presente momento devemos nos contentar com a afirmação de que Eva deveria auxiliar de seu modo, isto é, todo auxiliador busca completar o serviço de outrem, da onde entendemos que o trabalho de Eva era essencialmente de completude, de fazer o trabalho que Adão não poderia e/ou não havia sido determinado, pois sua principal incumbência era "o lavrar e o guardar" da terra, ao passo de Eva ter qualidades diferentes de Adão.

No que vemos tratando, ainda cabe um comentário importante: ambos foram criados à imagem e semelhança de Deus e por isso não havia hierarquia com relação à santidade e justiça em seus corações. Homem e mulher tinham o reto entendimento e a razão firmemente ajustada, de modo que diante do Senhor, eram iguais em essência (eram imagem e semelhança de Deus - Gn 1.27), apesar de terem atribuições diferentes. Esse entendimento é também confirmado com a exclamação de Adão: "porquanto do homem foi tomada" - isto é, enquanto anteriormente ele observava os animais e neles não enxergava a imagem e semelhança de Deus neles contida, agora podia ver em tal mulher que ela era a melhor criação de Deus para ele, pois se fora criado à imagem do Senhor e ela dele proveio, poderia ter a certeza de que Eva compartilhava da mesma essência e ambos eram um.


Notas:
[1] BEEKE, Joel, disponível em: http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/criacao_mulher.htm - acessado dia 08.03.2012 às 13:00.
[2] BEEKE, Ibid.
[3] A mulher também tem o dever de cuidar da natureza, não poluir os rios, cuidar da terra, não matar animais sem motivo... mas a questão aqui é diferente, pois o termo "ajudadora" denota que faria outra atividade diferente de Adão.

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