quinta-feira, 1 de março de 2012

Pare com os truques, pastor de jovens!!


É incrível o que um jovem pode comer. Eu amo sushi, mas é isso bem diferente de comer um peixinho dourado vivo. Me sentei bem ao fundo da multidão e observava com um nojo curioso – contemplando a maravilha adolescente enquanto mantinha um olho na lata de lixo mais próxima! E um canto unificado sacudiu toda a sala: “Mar-cos! Mar-cos!”. E então foi, goela abaixo, para o delírio da jovem plateia. Ele era a inveja de cada garoto e o desgosto de cada garota. O campeão coletou seus prêmios e saiu do palco com mais uma medalha em seu pescoço.

“Então, o que nós vamos fazer na semana que vem?” pensei comigo mesmo. “Não há como superar alguém comendo um peixinho dourado”. Eu estava ajudando com a programação dos jovens na época, e nós tínhamos aumentado gradualmente o “fator de choque” para atrair mais jovens. E, para todos os efeitos, parecia funcionar. Toda semana, nós víamos novos jovens, que as vezes pareciam eles mesmos serem um pouco desse “fator de choque”.

Com o tempo, porém, começamos a ficar sem ideias e a ficar desesperados. Os jovens pareciam entediados, tínhamos que pensar em algo rápido. Não tínhamos muito dinheiro em nosso orçamento para juventude, então decidimos ser bons administradores e gastar o restante que tínhamos trazendo uma banda de rock “gospel” para a igreja (embora ninguém nunca tenha ouvido falar nesse grupo). A banda chegou, se instalou, e fez uma passagem de som digna de um estádio dentro da igreja – e começou o show com uma dança coreografada. Eu estava muito empolgado! “Os jovens vão amar isso aqui!”, pensei em voz alta.

Para o meu pânico e desapontamento, apenas oito jovens apareceram. Eles ficaram alinhados em uma fileira com os braços cruzados, ouvindo o barulho ecoando pelo ginásio vazio. Eu não aguentava mais. Eu estava cansado do ministério com jovens, e eu só tinha começado. Tinha que haver algo mais profundo, rico, e mais satisfatório do que isso. Tinha que haver algo que alimentasse melhor a juventude do que um peixinho balançando e uma banda famosa.

Podemos fazer melhor

A verdade absolutamente maravilhosa é que Deus já tinha nos fornecido meios para alimentar seu povo, e achamos que nós mesmos podemos fazer melhor. Isso inclui os “meios de graça” históricos  – especialmente a Palavra de Deus, a oração, e os sacramentos. Outras ordenanças de Cristo, como o serviço de culto centrado no evangelho e a comunhão centrada na graça, podem também ser apropriadamente incluídos nessa categoria (Atos 2.42-47).

Frequentemente, programações de jovens são moldadas por modelos de ministério baseados em entretenimento para atrair a juventude. Sucesso se tornou o nome do jogo de crescimento das igrejas. Os efeitos devastadores, contudo, não são vistos apenas nos números de jovens saindo da igreja depois dos 18 anos, mas também em uma cosmovisão espiritual e teologicamente rasa entre muitos adolescentes. A ironia é que esses mesmos adolescentes querem crescer e aprender as verdades mais duras. Eles querem saber como pensar sobre sofrimento, como orar e porque Jesus tinha que morrer.

Se tem uma coisa que um pastor de jovens conhece – mesmo depois de apenas alguns meses no ministério – é o cansaço e o sentimento de desgaste que vêm junto com a tarefa. A constante pressão dos pais, dos jovens, da liderança da igreja, do pastor sênior e até mesmo da sua própria família, pode desgastar um pastor muito rapidamente.

Some a esse estresse as contínuas expectativas para atender certos padrões numéricos. A pergunta que mais frequentemente me fazem é “Quantos?”. Isso às vezes se torna uma praga e um fardo – tentando você com orgulho (“Uau, eu atraí uma tonelada de jovens nessa noite!”) ou desespero (“Ninguém veio… e ninguém vai vir na semana que vem também”). Não é de se estranhar que um pastor de jovens, em média, não fique mais do que 18 meses no mesmo lugar!

Mas como ministros na igreja de Cristo, nossa tarefa é ser fiel ao Senhor nos meios ministeriais que Ele nos deu e enxergar Ele como quem promove o crescimento. Nós temos que plantar e regar o evangelho de Jesus Cristo – e Deus dá o crescimento (1 Coríntios 3.7). É fácil se preocupar além da conta com os números, porque isso faz com que o ministério seja “bem visto” (se muitos jovens aparecerem, é claro). Mas Deus vê além, Ele olha os corações.

Nossa Tarefa

Quando você percebe que nossa tarefa é simplesmente sermos fiéis, terá uma enorme sensação de liberdade e de alegria. Mas isso levanta a questão: O que significa ser fiel a Deus no ministério com jovens? Eu entendo que o “como” de ser fiel no ministério com jovens – e certamente em qualquer ministério – é demonstrado nos meios da transformadora graça de Deus.

Jovens precisam dos meios de graça que Deus deu a sua igreja – a comunidade local e multi-geracional de santos-pecadores – para abastecer tanto o conteúdo quando o método do ministério. Este é o modelo bíblico dado por Cristo, testemunhado pela igreja primitiva e que continua sendo, creio eu, ser a abordagem mais fiel e centrada em Cristo para o ministério com jovens hoje.

Jesus disse, “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” (João 15.5). À parte do Espirito tomando a obra consumada de Cristo e aplicando em nossas vidas, nós não podemos fazer nada que agrade ou honre a Deus. Aqui, Jesus nos chama a um chamado e foco singulares – “permaneça em mim”. Como jovens trabalhadores, nossa tarefa é guiar o jovem à videira verdadeira, onde eles vão encontrar a graça, salvação, e o Senhorio de Cristo. Os meios de graça são os instrumentos e o dons que Deus tem dado à sua Igreja para aumentar a fé, a esperança, o amor e a alegria nEle. Ministério com jovens deveria sempre direcionar o jovem a Deus, não ao homem. Deveria sempre se preocupar com dar frutos como consequência de permanecer na Videira.

Com todo meu coração, peço para que você não seja tentado ao “sucesso”, ao profissionalismo ou às efêmeras modas de nossa cultura obcecada por entretenimento. Em vez disso, siga Jesus como o tesouro mais do que suficiente que Ele é e apascente suas jovens ovelhas com os meios que Deus te deu.

Por Brian Cosby
Fonte: iPródigo

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Nota do autor do Blog: Não concordo com a denominação "pastor de jovens" ou "pastor de crianças". De acordo com o relato bíblico, há apenas o pastor da igreja e não existe um "culto jovem" e um "culto adulto". No entanto, também não defendo ser errado reunir os jovens e lhes trazer uma palavra específica, mas precisa ficar registrado que a reunião jovem também deve ser pautada pela Bíblia e seu princípio Regulador.

2 comentários:

  1. Concordo com esse texto.
    Mas acho que não somente o tal "culto dos jovens" está assim, grande maioria das igrejas tem focado em uma "teologia do entretenimento". O foco não é na palavra mas na forma. Sinceramente acho que se começamos um projeto com a mente voltada para como atrais mais, já erramos. Nosso foco deve ser trazer uma palavra sadia e enriquecedora e saber que através do amadurecimento que a Bíblia nos dá, o crescimento é o resultado.

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    1. Tiago, certamente que não é exclusividade do "culto de jovens". No entanto, convém lembrar que uma má teologia reflete numa má prática. Basta ver o exemplo da teologia arminiana e os "frutos" que ela dá. Também nos calvinistas inconsistentes isso é notável, onde as vezes a teoria está desvencilhada da prática.

      De fato o foco deve ser a palavra sadia, no entanto muitos se esquecem de que esse é o ÚNICO foco a ser trazido. Não há que se falar em bandas, apresentações ou qualquer outra invencionice humana. O princípio regulador é claro nas Escrituras.

      Um abraço.

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