segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quem Pode nos Justificar?

Texto por
Filipe Luiz C. Machado
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Lembro-me claramente dos momentos do Ensino Fundamental e Médio em que quando não se podia comparecer a escola por algum motivo de força maior, logicamente não se ia até ela. Mas não era apenas isso, ganhava-se uma "falta" no boletim da professora por não ter ido. Por mais que pudéssemos retrucar, argumentar e nos espernear no dia seguinte, nada que falássemos ou prometêssemos tiraria aquele "F" do boletim. Nenhum bilhete na agenda escrito por nós mesmos poderia nos livrar da falta, tampouco faria diferença alguma se recorrêssemos ao diretor e expuséssemos a real situação. Porém, nem tudo estava perdido! Havia um caminho para se justificar essa falta e ele não estava baseado em nós! Aliás, havia um único caminho, e era este: a justificativa assinada pela mãe ou pai e/ou responsável. Tendo a justificativa assinada por algum de nossos responsáveis, a nossa falta estava justificada! A justificativa de nosso responsável mostrava a professora que, embora tivéssemos faltado, havia uma justificativa a ser dada. O temeroso "F" não sumia do boletim, mas o asterisco revelava: "Falta justificada". Já não seriamos mais tidos como malandros ou alunos incompetentes, pois estávamos justificados.

É interessante como tal exemplo¹ (não criado por mim, ouvi-o certa vez) nos traz luz para assuntos pertinentes à vida cristã. Muitas pessoas na tentativa de se justificarem diante de Deus, fazem autocomiseração, "pagam promessa", distribuem tudo o que tem aos pobres, se refugiam em cidades isoladas onde o "pecado" não habita e vez por outra, movidas em grande ímpeto de desespero, doam tudo o que tem a uma "igreja". Ainda há outros que pensam que a justificação que Jesus imputou em nós, significa que agora somos sem pecado, criaturas capazes de viver uma vida inteira sem sequer pensar ou cometer algo pecaminoso. Tal doutrina encontra grande expoente em John Wesley e sua doutrina sinergista, onde o homem coopera com Deus em suas atividades.

Tais tentativas não são apenas de "meros mortais". Grandes homens como Lutero também já tentaram "comprar" sua justificação e se viram impotentes. Antes de descobrir a justificação por meio da fé, ele disse: "Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, estava diante de Deus como um pecador com a consciência perturbada, e não tinha confiança em que meu mérito podia apaziguá-lo. Portanto, eu não amava a um Deus justo, irado, mas o odiava e murmurava contra ele."² (grifo meu)

Mister é notarmos que quando entendemos erroneamente (tal qual Lutero em primeira instância) e não abraçamos as palavras de Paulo que dizem, "tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;" Rm 5.1, corremos grande perigo de tentarmos nos achegarmos a Deus e fazermos as pazes por nossas próprias forças. Somos capazes de nos esforçarmos ao máximo para demonstrar a Ele que somos dignos de alguma misericórdia, de que não somos tão maus assim, de que porque regularmente vamos aos cultos de domingo e lemos vez por outra a bíblia, deveríamos ser justificados por seu Filho. Porém, jamais devemos nos esquecer das palavras de Jesus: "Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer." Lc 17.10

A corrente filosófica humanista não gosta desse tipo de versículo supracitado, pois dizem eles que o homem na verdade é bom, é justo. Em outras ocasiões eles também podem objetar que talvez o homem não seja nem bom nem mau, mas pronto para desenvolver sua própria razão em meio a uma sociedade já presente antes mesmo de seu nascimento. Certo estou de que tais humanistas, embora tenham uma boa motivação para não denegrir a imagem do ser humano (que é sustentado por Deus), pecam gravemente, pois não se baseiam nas Escrituras.

Sabemos bem que é apenas a Santa Escritura que é "inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." 2Tm 3.16, 17 Nada além da bíblia deve nortear nossa fé. Se as Escrituras nos dizem que "não há um justo, nem um sequer", Rm 3.10, "desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um" Sl 14.3 e também "porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" Rm 3,23, devemos atentar para quão grande perigo é tentarmos nos auto-justificar perante Deus.

Ao comentar Rm 4.2-3, Calvino escreve: "Se Abraão foi justificado em razão de haver abraçado a munificência divina, mediante a fé, segue-se que ele não tem por que gloriar-se, visto que não traz nada propriamente seu exceto o reconhecimento de sua própria miséria que clama por misericórdia. O apóstolo está pressupondo que a justiça procedente da fé é o referencial de obras. Se houvesse alguma justiça procedente da lei ou das obras, então ela residiria no próprio homem. Todavia, este busca na fé o que não encontra em nenhum outro lugar. Por esta razão é que corretamente se intitula: justiça imputada pela fé."³

Que jamais tentemos nos justificar perante Deus, pois não há como um pecador se justificar perante o Deus Santo e imutável. Como pois ousaríamos nos defender perante o reto juiz que já sabe de antemão tudo aquilo que faremos e deixaremos de fazer? Como nos justificarmos perante o criador dos céus e da terra e que faz tudo "segundo o conselho da sua vontade" Ef 1.11? Há apenas um que pode nos justificar perante o Pai: Jesus Cristo.

Que possamos em uníssono recitar e nos apegarmos às palavras de Paulo que dizem: "E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé." Gl 3.11

Deus nos abençoe

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[¹]Importante é lembrar que tal exemplo é apenas a título de ilustração leiga, pois não reflete a totalidade e complexidade do assunto.
[²]http://www.monergismo.com/textos/justificacao/faltava_lutero_sproul.pdf
[³]http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/romanos_cap4_vs2e3_calvino.htm

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