domingo, 17 de outubro de 2010

Existem levitas hoje?

Texto por
Giancarlo Marx
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Como alguns ja sabem, eu sou músico, e atuo com música na igreja há alguns anos. Pra terem uma idéia, aos 7 anos mais ou menos (quando comecei a "violar o tocão") no meio do culto pedia pro meu pai abrir espaço pra eu sentar no palco e tocar uma das duas canções que eu conhecia: "Meu Barco é Pequeno", ou então "Quando Estou com o Povo de Deus", verdadeiros clássicos do cancioneiro cristão (rs).
Vinte e dois anos se passaram desde o garotinho com duas músicas no repertório, nesse tempo eu vi e ouvi muita coisa. Desde a superproduzida galera do Salt, passando pelos "corinhos" singelos e desafinados da Romilda. O som adolescente do Rebanhão, o rock rebelde do Brother Simion. Até chegarem os importados Maranata! e Hosana! (pra quem não conhece, eram dois selos americanos rivais, o avós do Hillsong e do LifeHouse).

Talvez uma das mudanças mais destrutivas que vi nesse período tenha sido a transformação do serviço de música em "Ministério Levítico". Há até o absurdo de um projeto para um programa estilo "Ídolos" que se chamaria "Levitas". Felizmente o projeto não saiu do papel (ainda).

Primeiramente o que é um levita? Trata-se de uma famíla, uma das 12 tribos de Israel, que era destinada a TODO serviço no tabernáculo, e mais tarde no templo. Eles eram músicos. Mas também eram porteiros, faxinheiros, sacerdotes.

Acender o menorá, trocar os pães da preposição, a água da bacia, isso era função do levita. Também eram carregadores. Somente eles eram autorizados a carregar a arca da aliança e as partes do tabernáculo, que eles mesmos montavam e desmontavam sempre que a nuvem ou a coluna de fogo estacionassem em algum ponto do deserto.

Então a música era apenas uma dentre tantas funções dos levitas. Curiosamente o livro de "Levítico" não tem nenhuma canção.

Nesse ponto alguns chegam a pensar: "Então todo mundo que trabalha na igreja deveria ser chamado de levita"... Ao que caberia a resposta: "Se essa igreja não fosse cristã, pode até ser".

Isso porque Jesus, o fundador da SUA igreja, não era levita. Ele era da tribo de Judá, certo? Logo aqueles que foram gerados nele não são gerados pela linhagem de Levi. Isso dá um nó na cabeça.

No capítulo 7 do livro de Hebreus há uma excelente explanação sobre o tema. Sobre Jesus, Paulo afirma que ele é "sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque".

"De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?"

Então Jesus e nenhum de seus seguidores são feitos levitas. (nem mesmo os músicos... rs)

O que nos leva a outro ponto ainda mais delicado. Vejo muita gente falando em "Ministério de Música" ou o pior ainda "Ministério de Louvor e Adoração". Oras, se é de fato um ministério de Louvor e Adoração, podemos definir o que é Louvor e Adoração?

Tecnicamente falando, ja ouvi o Gerson Ortega definir (em linhas gerais) Louvor como exaltação, e adoração como Gratidão. Gostei demais. Mas parece que ele esqueceu de botar a música na parada. Sim, pois os "ministérios de louvor e adoração" que conheço são todos de músicos.

Num outro artigo meu publicado aqui cheguei a definir adoração em espírito e em verdade. Se você der uma olhadinha la vai perceber que essas coisas não são do tipo que podemos confiar que outros façam pela gente. Louvar e adorar não são "ministérios", mas sim atitude daqueles que conhecem o amor de Deus.

Também não gosto de chamar as músicas cristãs de "louvores". Afinal, a canção pode se tornar louvor de acordo com o coração de quem canta. Ou pode se tornar vergonha para Deus, se for entoada em glória própria. Logo uma música também não é louvor, tanto quanto um prato não é comida e um copo não é bebida. A música é apenas um dos possíveis recipientes do louvor, que pode ser expresso das mais diversas formas. Até mesmo lavando os pés do mestre com suas lágrimas e os enxugando com seus cabelos. Quem diria que uma higienização tão peculiar poderia ser uma manifestação de louvor?

Se para você (assim como para mim) parece que ao chamarmos os músicos cristãos apenas de "músicos", e as músicas cristãs apenas de "músicas" estaremos rebaixando-as de categoria, então aparentemente estamos no caminho certo.

"Porqanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado." Lucas 14:11

Fonte: Genizah

13 comentários:

  1. Paz!!
    Maravilha de texto,louvar e adorar não são profissão nem ministério, são atitudes de amor a Deus, e,não estão limitadas a música ,tão pouco a "levitas"...
    O amor é uma das mais belas formas de adorar, quem ama a Deus..ama ao próximo...isso é adorar a Deus sem dúvida alguma.
    Pena termos que ler e concordar com essa verdade,mas ela tem que ser dita e ensinada...tem muita gente perdida na estrada da vida...
    Adorar em espírito e em verdade.
    Louvar com música que exalte o nome do Senhor e não para sua própria glória.
    O palco é para os ídolos...o humilhar-se é para os cristãos!!
    Graça e paz!!

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  2. Concordo com o texto mano! Sempre achei muito fora do lugar a palavra levita para os ministérios de música na igreja.
    As pessoas quando falam de louvor e adoração tem mil definições, mas não procuram simplesmente o que as palavras significam no original hebraico e grego...
    - Louvor:
    - Hebraico - Exaltação
    - Grego - Elogio
    - Adoração:
    - Ambos - Prostra-se diante de...

    É muito mais um estilo de vida do que apenas música.

    Levita então, totalmente fora...
    Legal o texto!

    Abração brother!

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  3. Muito bom esse texto Felipe! Esses dias eu estava mesmo comentando com o Rafael que seria interessante termos uma pregação direcionada a "louvor"! Obrigada por repassar este texto!

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  4. SEMPRE TIVE ESSE PENSAMENTO...MAS NUNCA PAREI PARA REFLETIR PROFUNDAMENTE SOBRE O ASSUNTO...EXCELENTE ABORDAGEM BÍBLICA...
    QUE CAIAM OS MITOS E JARGÕES DO MUNDO GOSPEL!!!!!

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  5. Perfeito! Na verdade, a confusão surge quando se unem o desejo de glória pessoal e a irresistível vontade de alguns em serem "especiais". A Bíblia - sempre ela - esclarece. O problema é que essa turma não gosta de Bíblia. Parabéns!

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  6. Menino que artigo esse hein! Meu God! Falou tudo que eu falo pro povo o dia todo!

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  7. Então não é necessário dar a 10 parte do que tiramos do nosso trabalho, afinal, essa quantia era destinada a tribo de Levi.

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    1. Olá, Dawidh.

      Lhe recomendo este pequeno estudo sobre os dízimos e ofertas: http://2timoteo316.blogspot.com.br/2012/11/afinal-devemos-ou-nao-dar-o-dizimo.html

      Obrigado pela visita!

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  8. Amigo não somos Levitas no sentido original do termo, na questão das praticas, ou por ser da tribo de Levi, somos Levitas na questão dos principios que envolvia os Levitas, na dedicação e preparação, na santidade pra servir na casa de Deus, por isso, Deus preservou a história dos Levitas para que tivéssemos um referencial de seriedade e estrutura no trabalho realizado a Ele e o ministério levítico, por sua vez, serve de referencial de extrema relevância que deve ser observado, estudado e imitado na prática da excelência, e é claro, que como o veu do templo se rasgou, todos podem vim ate Deus e servi na sua casa, não precisa ser da tribo de Levi pra isso, alias nem Jesus era...

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  9. Gostei. Sou adventista do sétimo e aprendi alguma coisa hoje..

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  10. Não precisamos ser levitas para fazermos a obra de Deus aqui na terra...podemos simplesmente seguir o exemplo de Cristo que nunca disse que devemos ser como levitas...muito pelo contrário...devemos agir como cristãos...pastores que recebem o dízimo estão usurpando um direito que não lhes pertence...

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