segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Como ser um cristão feliz? O contentamento cristão

 

O contentamento cristão

Hoje gostaria de falar sobre a importância do contentamento na vida do cristão. 


Quero recomendar 3 livros para vocês:

1. O segredo do contentamento (William B. Barcley)        

2. A rara joia do contentamento cristão (Jeremiah Burroughs 1648)

3. A arte do divino contentamento (Thomas Watson 1653)


Quando fui convidado para trazer essa palavra, a ideia era falar sobre “começando a vida financeira”. Então, pensando sobre, me veio à memória as palavras de Paulo em Fp 4.11-13: 

Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo/mistério de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.” 

Também em Hb 13.1-5, quando nas últimas instruções, o autor diz: 

Seja constante o amor fraternal. Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns acolheram anjos. Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo no corpo. O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros. Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: "Nunca o deixarei, nunca o abandonarei

Mas o que é o contentamento cristão? Burroughs define como: 

O contentamento cristão é aquele estado doce, interior, sereno e gracioso de espírito, que livremente se submete e se delicia na disposição sábia e paternal de Deus em toda e qualquer situação” 

Mas quando começou o descontentamento do homem? Após o pecado (Gn 3).

Adão e Eva acreditaram que o que Deus lhes havia preparado, não era o suficiente. William Barcley diz: “O espírito descontente não descansa no controle soberano de Deus” 

Precisamos lembrar que desenvolver esse contentamento cristão em um coração pecaminoso e descontente é uma tarefa impossível. A partir da queda do homem, não existe mais possibilidade natural para o homem se contentar com as coisas de Deus.

Portanto, existe uma diferença entre o contentamento natural do homem e o bíblico:

No mundo,  para você estar contente, você precisa sair de uma situação ruim; já na Bíblia, lemos que podemos encontrar contentamento até mesmo em meio às circunstâncias mais difíceis. Para o mundo, somos felizes se conseguirmos o que desejamos; já a Bíblia, ensina a estar satisfeito com Deus.

O ponto chave aqui é que precisamos desenvolver o contentamento cristão em nossas vidas. Por sermos crentes, o Espírito Santo trabalha em nós. Paulo mesmo escreve: 

Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” Filipenses 2:12 (ARA).

Desenvolver o contentamento significa dizer que ele não nasce sozinho! Spurgeon pregando sobre o tema, nos lembra que as ervas daninhas e toda sorte de “mato” não precisa ser semeado no jardim – eles nascem sozinhos! Não precisamos ensinar uma criança a reclamar, pois ela já nasce reclamando!

J. C. Ryle (1816-1900) escreveu: “Dizem que há duas coisas muito raras de ser no mundo: um jovem humilde e um velho contente. Receio que essa afirmação seja verdadeira, infelizmente”.

E o descontentamento afeta todas as áreas da nossa vida. Estar descontente não gera algo abstrato ou uma “espiritual separação de Deus, mas quem ninguém consegue ver ou medir”. Pelo contrário: estar descontente em Deus, afeta diretamente nossas amizades, desempenho no trabalho, nos estudos, casamento, família, igreja, empresas, filhos... Na vida de um crente, não há nada que se fortaleça ou melhore quando estamos descontentes.

Alias, o descontentamento é a origem de muitos dos nossos pecados. Tg 1.14, 15 diz:

Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.”

A sedução do pecado é algo incrível. No capítulo 13 de Gênesis, lemos sobre a desavença entre os pastores de Abraão e Ló, por causa da grande quantidade de animais e de terra que precisavam. Então Abraão propôs que Ló escolhesse um lado da terra e ele iria para o outro. A Bíblia diz, então: 

Olhou então Ló e viu todo o vale do Jordão, todo ele bem irrigado, até Zoar; era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito. Isto se deu antes do Senhor destruir Sodoma e Gomorra. Ló escolheu todo o vale do Jordão e partiu em direção ao Leste. Assim os dois se separaram: Abrão ficou na terra de Canaã, mas Ló mudou seu acampamento para um lugar próximo a Sodoma, entre as cidades do vale”. Gênesis 13:10-12

Possivelmente Zoar ficava a uma curta distância de Sodoma e Gomorra – e isso não parece ter sido importante para Ló. Mas onde ele foi encontrado, quando os anjos vieram destruir as cidades?

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los. Prostrou-se, rosto em terra” Gênesis 19:1

Tudo indica que aos poucos, Ló foi se mudando para Sodoma. Possivelmente começou a ver as coisas boas daquela cidade e quando a história retorna com Ló, ele está morando dentro da cidade.

Ainda mais: o texto nos diz que Ló, apesar de ter sido avisado da destruição, ele não saiu rapidamente de lá.

Ao raiar do dia, os anjos insistiam com Ló, dizendo: "Depressa! Leve daqui sua mulher e suas duas filhas, ou vocês também serão mortos quando a cidade for castigada". Tendo ele hesitado, os homens o agarraram pela mão, como também a mulher e as duas filhas, e os tiraram dali à força e os deixaram fora da cidade, porque o Senhor teve misericórdia deles.” Gênesis 19:15,16

Só podemos nos fazer a pergunta: por que Ló demorou? 

A Bíblia diz que apesar de Ló viver em Sodoma, não compactuava com o que via:

Também condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, tornando-as exemplo do que acontecerá aos ímpios; mas livrou Ló, homem justo, que se afligia com o procedimento libertino dos que não tinham princípios morais (pois, vivendo entre eles, todos os dias aquele justo se atormentava em sua alma justa por causa das maldades que via e ouvia)”. 2 Pedro 2:6-8

Mas então, por que Ló demorou? Talvez apesar de se afligir e não concordar com o que via, tinha um certo prazer em morar lá. Quem sabe fosse o famoso “não concordo com tudo, por isso vou tentar aproveitar o que é bom” – e é aí que muitos problemas começam a surgir.

E é dessa mesma maneira que o descontentamento vai brotando em nossos corações. Não acordamos louvando a Deus e de repente, abandonamos o evangelho no meio da tarde. Essas coisas não costumam acontecer rapidamente, mas quando vemos... já foi. Ló não deixou Abraão e foi diretamente para Sodoma – ele apenas foi “perto” de lá.

É preciso lembrar que o contentamento cristão não significa nunca se questionar, chorar, lamentar ou mesmo orar para que Deus mude aquela situação. O contentamento tem a ver com apesar das circunstâncias que enxergamos e passamos, confiamos que Deus está no controle e sabe o que é melhor para nós – ainda que não entendamos nada naquele momento.

Sobre isso, Paulo escreveu em Rm 5.5: “E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.”

O mundo procura pelo contentamento cristão. Aborde qualquer pessoa na rua e se elas forem sinceras, tudo o que elas desejam é estar satisfeitas com a vida e com elas mesmas.

Existe, inclusive, movimentos que buscam esse contentamento, como o “Slow Movement”, “Slow Food”, “Viver a custo zero” e tantos outros. Todos eles estão buscando encontrar um sentido na vida, algo que lhes traga a alegria nas coisas simples da vida.

Surge, então a pergunta: quais os benefícios do contentamento cristão? Poderia listar vários, mas irei comentar 4 deles:

1. Um espírito contente nos permite adorar a Deus

Burroughs descreve que adoração não é apenas “fazer o que agrada a Deus”, mas, também, “agradar-se do que Deus faz”.

Por que tantas vezes temos dificuldade de adorar e reconhecer o senhorio de Deus em nossas vidas?

Porque as vezes temos tudo e estamos bem supridos – então estamos contentes com as coisas terrenas e nos esquecemos de que foi Deus quem nos deu. Ou porque estamos com dificuldades na vida (dinheiro, família, estudos...) e não conseguimos enxergar Deus nisso tudo.

Somente quando estamos confiantes n’Ele é que podemos o adorar.

2. O contentamento nos permite experimentar a paz de Deus

Paulo mesmo escreve em Fp 4.7: 

Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus”.

A passagem de Paulo em Fp 4.11-13 (início) indica algo importante: parece ter havido um tempo em que ele ainda não sabia como viver contente – ou não da maneira como estava vivendo. Talvez ele mesmo, ao longo da vida, foi aprendendo a experimentar e a saber o que de fato era essa paz com Deus.
Isso também significa que por mais apóstolo que fosse em outras aspectos, era um cristão comum nas coisas normais da vida. Sentia fome, dor, medo, angústia... mas com tudo isso, foi aprendendo a viver contente.

E frequentemente só aprendemos isso, quando perdemos algo. Não somos bons aprendizes enquanto o mar está tranquilo ou temos grandes quantias guardada em dinheiro. A maioria de nós só aprender quando perde. 

3. O contentamento é uma joia rara e preciosa

Lemos em 1Tm 6.6: “grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento”.

Falar em vida simples, vida completa, vida desprendida das coisas materiais... nada disso faz sentido para o cristão, se tudo não estiver conectado a Deus.

Ajudar na igreja, tocar na banda, pregar, orar antes das refeições... toda essa aparência de piedade, uma hora vai nos cansar, se o alicerce não for Deus. Ninguém aguenta se doar durante muito tempo, se não houver a graça divina operando.

Por isso que o contentamento é uma joia rara. Quase que dá “super poderes” e quem tem, tem tudo.

4. Viver descontente afeta o nosso testemunho cristão
Também para os filipenses, Paulo escreve:

Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida”. Filipenses 2:14-16

Como falar de Jesus para as outras pessoas, quando nós não estamos contentes com ele? É praticamente impossível.

Como agradecer e dar um beijo no pai e na mãe, quando estamos brabos com eles? Impossível. Não conseguimos dar o braço a torcer. O mesmo ocorre em nosso relacionamento com Deus.

Considerando o que já vimos, 3 coisas precisam ficar gravadas em nossa mente:

1. Deve ser uma meta na vida do cristão, o buscar o contentamento em Deus.
2. Este contentamento não irá brotar sozinho, a menos que busquemos ao Senhor.
3. Depois que você encontrar, fique firme na fé e mantenha esse contentamento sempre aceso. 

Resumindo: o contentamento surge e se forma no decorrer da caminhada cristã. 
Que Deus nos abençoe

*este texto é um esboço do sermão, pregado dia 22/11/2020 em Blumenau, na igreja MEUC.

Um comentário:

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