segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A importância da amizade para a teologia



Neste mundo, duas coisas são essenciais: uma vida saudável e a amizade… – Agostinho

Como nós desenvolvemos nossa teologia como cristãos que levam a sério o chamado de “crescer na graça e conhecimento de nosso salvador, Jesus Cristo”?

Em algumas ocasiões, tive o prazer de ouvir outros falando sobre o que lhes motiva quanto a isso. Provavelmente, todos nós temos alguns hábitos que têm sido particularmente úteis para nosso desenvolvimento teológico no decorrer de nossas vidas. Eu acredito que uma maneira de crescer no conhecimento de Deus é por meio da amizade.

Um dos melhores dons que Deus me deu são amigos que são mais espertos e mais teologicamente perspicazes que eu. Quando conversamos, eu posso ouvir como eles argumentam, raciocinam, pensam, etc. Interações pessoais nos dão algo que livros ou discurso online não podem oferecer.

Ao discutir ou debater um ponto teológico, um amigo pode oferecer uma contrapartida e você precisa, então, aprender a pensar por si só. Sem poder sair para ler um livro, você precisa ser capaz de justificar ou modificar sua opinião. Isso é “teologia em ação”. Afinal, nós devemos testar-nos no debate teológico quando não temos um livro ou o Google para nos resgatar. E, felizmente, seus amigos normalmente não citam longos parágrafos na sua cara – “Como Calvino diz…”. Tem coisa pior em uma discussão online que alguém colar uma citação gigante para provar seu argumento? Suponho que sim, mas ainda assim…

Além disso, com um amigo, vocês podem começar aparentemente discordando do outro, mas, após uma longa discussão (e – aham – distinções teológicas apresentadas!), vocês acabam percebendo que não estão tão distantes. Na verdade, você aprende que, às vezes, há diferentes formas de expressar a mesma verdade.

Ter a voz e os olhos de alguém diante de si é muito melhor que pixels numa tela. E mais: o bom de ter um amigo com quem discutir teologia é a liberdade de realmente botar tudo pra fora (i.e., argumentar) sem se preocupar se a amizade acabará se vocês terminarem discordando no fim. Alguns dos meus argumentos teológicos mais vigorosos foram apresentados aos meus melhores amigos. Eu adoro insultá-los, sabendo que 99% é afeição e 1% acidez.

Também devemos lembrar que amizade nos torna mais clementes em relação às diferenças teológicas daqueles que não conhecemos, mas discordamos teologicamente. Alguns caçadores de heresia provavelmente precisam sair mais e desenvolver amizades com pessoas de outras tradições teológicas. Há perigos, claro, mas eu creio que a amizade nos ajuda a ser lentos para criticar, especialmente nas conversas online.

Eu me pergunto se alguns cristãos têm quase todas as suas interações teológicas apenas com amigos via Facebook e Twitter, ao invés de face-a-face. Que tristeza se isso for tudo. Afinal, quando eu estou debatendo teologia com um amigo, eu preferiria ter a opção de oferecer mais de 140 caracteres e também de chamar-lhe de algo ruim, porém com um sorriso no rosto enquanto faço isso. Soltar um emoticon sorridente é simplesmente inapropriado ao debater teologia online, mas sorrir quando você chama seu amigo de “louco” parece natural e correto.

À luz disso, permita-me oferecer uma defesa da educação teológica formal em um seminário, e não online. Certo, às vezes, seminaristas são os parceiros de conversa mais irritantes. Eles têm muito mais zelo e arrogância que conhecimento – uma combinação perigosa. Mas as amizades desenvolvidos no seminário podem ter real valor teológico a longo prazo, e também a curto prazo, se houver a disposição de ouvir em vez de falar o tempo todo.

Busque amizades com aqueles que são mais inteligentes e piedosos que você, e você terá uma grande vantagem sobre os outros em seu desenvolvimento teológico. Quase toda vez que vou à reunião do Supremo Concílio da minha denominação – um ótimo lugar para amizade, discussão teológica e pastores esquisitos desfilando suas gravatas-borboletas – eu peço a Deus por uma nova amizade.

- por Mark Jones
Fonte: Reforma21

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