terça-feira, 5 de novembro de 2013

Uma palavra reformada sobre a reunião de Natal e seus enfeites


Já tivemos a oportunidade, em outro momento (clique aqui), de discursar acerca da festividade natalina e outras instituições não ordenadas pela Escrituras. Naquela ocasião, mencionamos o porquê não comemorar o natal: pois não foi instituído pelo Senhor, de maneira que devemos nos pautar por aquilo que é ordenado (Dt 12.32). Vimos, porém, que o fato de ganharmos presentes, em si, não é qualquer mal, não devendo os cristãos caírem em um fascismo ignorante.

Entretanto, ainda algumas dúvidas têm surgido e extremos têm sido cometidos por cristãos, ainda que movidos por um princípio de piedade e zelo ao Senhor. Explico.

Alguns cristãos, no afã de seguirem a pura doutrina cristã, têm caído no erro de atribuírem maldade a atividades simples, como o estar em família em determinada época, por exemplo. Citando outro caso, alguns afirmam que certos objetos são como que passíveis de maldição, isto é, não que afirmem que o mal se une ao objeto, mas que o objeto, em si, na ocasião festiva, se torna mal.

Com respeito, então, a todos estes, precisamos, para a correta progressão do reino de Deus, aparar algumas arestas e consertar alguns equívocos.

1. Estar com a família não é o mesmo que participar de sacrifício aos deuses

Recente, um irmão em Cristo me procurou com dúvidas sobre se deveria ir ao "encontro de natal" de sua família. A pergunta foi feita devido ao nobre irmão crer, num primeiro momento, que se fosse até a reunião de família, por ocasião marcada para o "natal", estaria se envolvendo em uma comunhão com o paganismo e seria partícipe de comidas sacrificadas aos ídolos.

Respondi, então, em resumo, que, em primeiro lugar, estar com a família é diferente de participar de um culto pagão. Vejamos a implicação de afirmarmos que estar em família, no dia de natal (sabendo, sempre, que a festa, não as pessoas, é o motivo não bíblico), é algo errado: existe alguma pessoa que, para toda e qualquer ocasião, pergunta qual o motivo de tal confraternização estar acontecendo? Pense no seguinte exemplo: sexta-feira, fim de tarde e alguns colegas de seu trabalho lhe convidam para beber alguma cerveja, tomar um café ou se você for do sexo feminino, comprar algumas coisas, tomar um suco... não importa - você pergunta a eles, sempre, qual a motivação interior que os leva a desejar estar reunido? Quer dizer, você pergunta se há alguma intenção de consumismo desenfreado ou o porquê e onde tal pessoa usará o que vai comprar? A resposta é clara: evidente que não. Bem, se assim é, ou seja, não há recusa para estar com alguns conhecidos, pouco importando o motivo que os leve até lá, por que seria pecaminoso estar reunido com a família? 

Em segundo lugar, sobre comer alimentos sacrificados a algum "espírito pagão", temos o exemplo do apóstolo Paulo, o qual afirmou ser plenamente lícito comer qualquer coisa que se vende no mercado, conforme lemos: "Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência. Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude. E, se algum dos infiéis vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência" (1Co 10.25-27 - grifo acrescentado). É nítida a explanação: não há nenhum alimento imundo para o crente, mesmo que seja comido junto com descrentes, "Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude". Dois capítulos antes, o apóstolo havia afirmado: "Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só" (1Co 8.4). Portando, mal algum se apega aos alimentos de "natal" ou de qualquer outra festividade. Se no açougue houver promoção de carne, somente porque é algum dia onde o restante das pessoas não a come, apenas para ilustrar, compre com graças e faça um bom churrasco! Contudo, também alerta sobre o perigo do escândalo: "Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude. Digo, porém, a consciência, não a tua, mas a do outro" (1Co 10.28-29).

O que aprendemos sobre isso? Ora, fica claro que não há qualquer mal intrínseco em se estar com a família e muito menos em se comer algo "oferecido ao espírito natalino", porque conforme clarividentemente lemos, "o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só", significando que ninguém pode oferecer coisa alguma para outra divindade, afinal, há somente um Deus. Todavia, se o crente tiver a ciência de que isto irá escandalizar outro crente, então que evite esta prática; isto é, se o crente perceber que se ele for até a reunião de família, por ocasião do natal (que, em verdade, é somente um motivo para estarem juntos) e algum crente se escandalizar em demasia, após tentar ensinar este crente, talvez seja melhor não ir.

O melhor, como acabei dizendo ao irmão, é que ele vá até a reunião em família e leve uma palavra genuinamente cristã, convocando todos ao arrependimento e falando de Cristo.

2. Objetos inanimados não se tornam malignos na época natalina

Recentemente, também, conversando com outro irmão em Cristo, o mesmo me indagou sobre os enfeites de "natal" - as tradicionais "bolinhas", pinheiros e tudo quanto o mais faz parte do natal (evidente que, para o crente, com exceção do "papai noel" - não pela figura em si, e sim, principalmente, pelas crianças que acabam acreditando que os presentes advém do "bom velhinho"). Tal irmão afirmava que o crente não deveria ver beleza alguma em tais objetos, pois eles seriam elementos do "espírito pagão". Acontece, porém, que há um grande disparate para quem pensa assim, porque levando este pensamento adiante, então outros "objetos", ainda que comestíveis, deveriam ser rechaçados, afinal, só os encontramos no "natal": bolachas pintadas, panetones, ginberbread, bolos característicos... Percebe-se, assim, que é uma completa falácia repudir uma "bolinha de natal", mas ir ao supermercado e comprar um panetone!

De mais a mais, com o mais ilustre respeito aos que podem discordar, tal pensamento de atribuir maldade aos objetos, muito se assemelha ao pentecostalismo, o qual crê em objetos amaldiçoados. Novamente, levemos este entendimento errôneo adiante e teremos que, para todas as coisas, realizar uma pesquisa sobre como surgiu aquele objeto - por exemplo, ao comprar uma determinada camiseta no tempo de "natal", o cristão deveria realizar uma busca sobre qual foi o motivo que levou a empresa a fabricar tal peça de vestuário, sob pena de estar, como a dita "bolinha de natal", usando um objeto "pagão"; ou ainda: no tempo de "páscoa", o cristão não deveria comer nenhum chocolate, pois de "tão santo que ele crer ser", não pode se contaminar (exceto depois de passado o tempo pagão). Ora, evidente, então, que tal questão não merece mais arrazoado.

Desta forma, podemos, seguramente, concluir com o deságue das santas palavras: "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus" (1Co 10.32). Se pendurar um "pisca-pisca" na janela for levar algum irmão seu a se escandalizar (mesmo buscando o ensinar na sã doutrina), melhor, então, se abster por causa desta irmão mais fraco; se o "pinheiro" for criar, em sua casa, algum espírito místico entre os seus, igualmente, o evite, a fim de trazer maior benefício cristão.

"Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova" (Rm 14.22).

4 comentários:

  1. Bom texto Filipe. Acho que muitos cristãos desperdiçam muita energia na reprovação de detalhes da festa natalina. Faço 2 ressalvas: 1) O pentecostalismo "não crê em objetos amaldiçoados", como vc. afirmou. Alguns grupos neo-pentecostais é que pregam assim; 2) Papai Noel não é um deus, nem ídolo. É um personagem (inspirado em um antigo santo), assim como Smilinguido, Branca de Neve ou Batman. Não devemos levar tão a sério o bom velhinho... Um abraço. George (gracaesaber.com)

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  2. Excelente!!! Como sempre um texto muito sóbrio... na verdade há muito misticismo e superstição na compreensão das pessoas, ao invés de se apegarem somente a palavra de Deus e pesquisarem com sobriedade.

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  3. Converse com um judeu a respeito, não um ortodoxo, com um nazareno...

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