Onde está Deus quando os desastres naturais acontecem?
por Heitor Alves
por Heitor Alves
Em tempos de desastres naturais tais como terremotos, tsunamis, enchentes e tornados, surgem debates a respeito da relação que Deus tem com esses acontecimentos. Lembro-me dos terremotos no Haiti onde a blogosfera foi tomada por vários “porquês” disso, “porquês” daquilo. E o terremoto do Chile? A mesma ladainha: “onde está Deus que não vê isso?”, “onde está Deus que não vê aquilo?”. Sem falar nos desastres naturais que ocorrem em terras brasileiras como as enchentes no Nordeste, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro. Deus é sempre questionado, gerando dúvidas com respeito a seu controle sobre a criação.
Agora a discussão ressurge com os recentes desastres de terremotos e tsunamis no Japão. Além disso, declarações do teísta aberto Ricardo Gondim abalaram a blogosfera com suas declarações antibíblicas e caóticas. Antibíblicas porque vai de encontro ao que a Bíblia fala a respeito do relacionamento de Deus com sua criação, que é uma relação íntima e que mantém controle sobre tudo. Caótica porque suas declarações pregam um conceito de um mundo desordenado, sem controle e desesperançoso a respeito de desastres naturais.
É desesperador saber que nós não temos nenhuma garantia de que o mundo não sucumba numa confusão geral dos elementos da matéria. A desordem é a única e terrível expectativa daqueles que acreditam em um Deus distante da sua criação, ou no mínimo, presente porém incapaz e impotente (ou pelo menos se nega a ser onipotente) em garantir o equilíbrio das ações da natureza.
Qual é mesmo a relação de Deus com sua criação? Existe mesmo um relacionamento ou Ele está divorciado dela? E se há um relacionamento, até que ponto vai esse relacionamento? Há algum controle? São essas as perguntas que irei tentar responder à luz da Bíblia.
A Bíblia desconhece o deus dos teólogos relacionais, cuja teologia nega a onipresença, a onipotência e a onisciência de Deus. A Bíblia fala exaustivamente na existência de um Deus presente em todos os lugares ao mesmo tempo, Poderoso sobre tudo e todos e que tem um conhecimento infinito de todas as suas criações. Deixaremos de lado, por hora, o assunto sobre a Onisciência e a Onipresença e trataremos apenas do ensinamento bíblico do controle que Deus tem sobre sua criação, mas especificamente sobre a matéria inanimada.
Deus tem o controle sobre a matéria inanimada
Respondendo à pergunta do título deste artigo, Deus está bem presente quando os desastres naturais acontecem. Ele não somente está presente, mas administra todos os eventos da matéria inanimada. A matéria, mesmo sendo inanimada (objeto sem vida, sem ânimo), existe para obedecer aos mandamentos e ordens de Deus. Isso é evidenciado já nos primeiros registros bíblicos da revelação divina:
Disse Deus: Haja luz; e houve luz. (...) Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. (...) E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez. (Gn 1.3,9,11).
O que se afirma nos primeiros capítulos de Gênesis é confirmado por toda a Bíblia. Veja a declaração do salmista: “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33.9).
Quando Deus diz que vai usar dos elementos da natureza para executar sua vontade, Ele está afirmando que tem controle sobre eles e que eles são agentes de Deus na execução da sua vontade. Veja, por exemplo, a autoridade de Deus sobre as águas:
Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá (Gn 6.17).
Se tudo o que Ele fala, se faz, então...
No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites (Gn 7.11,12).
Deus disse que derramaria água sobre a terra. Ele não apenas ameaçou, mas cumpriu o que disse mostrando que Ele tem o controle sobre a água que só cai em forma de chuva quando e onde Ele quiser.
E o que dizer do controle de Deus sobre as pragas no Egito? Bastou uma única ordem dEle para a luz se transformar em trevas, o rio em sangue, chover granizo, a ação dos gafanhotos, a morte por todo o Egito. Cada detalhe, cada ação da natureza meticulosamente calculada, agindo exatamente numa região delimitada pelo próprio Deus para que essas pragas não chegassem na região onde estava o seu povo. Sim, até mesmo o local da ação das pragas foi claramente delimitada por Deus! Tudo isso demonstra o absoluto controle de Deus sobre os elementos da natureza:
E Moisés estendeu o seu bordão para o céu; o SENHOR deu trovões e chuva de pedras, e fogo desceu sobre a terra; e fez o SENHOR cair chuva de pedras sobre a terra do Egito. De maneira que havia chuva de pedras e fogo misturado com a chuva de pedras tão grave, qual nunca houve em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação. Por toda a terra do Egito a chuva de pedras feriu tudo quanto havia no campo, tanto homens como animais; feriu também a chuva de pedras toda planta do campo e quebrou todas as árvores do campo. Somente na terra de Gósen, onde estavam os filhos de Israel, não havia chuva de pedras. (Êx 9.23-26).
Veja também a maravilhosa descrição do total controle de Deus na nona praga:
Então, disse o SENHOR a Moisés: Estende a mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se possam apalpar. Estendeu, pois, Moisés a mão para o céu, e houve trevas espessas sobre toda a terra do Egito por três dias; não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações. (Êx 10.21-23).
Temos também a descrição do controle divino sobre o fogo:
Então, fez o SENHOR chover enxofre e fogo, da parte do SENHOR, sobre Sodoma e Gomorra. (Gn 19.24).
Deus ordenou e as águas do mar Vermelho se dividiram ao meio, de modo que os israelitas o atravessaram em terra seca. De novo, Ele ordenou e as águas retrocederam, destruindo os egípcios que perseguiam os israelitas. Com uma palavra da parte dEle, a terra abriu-se e Coré e sua companhia de rebeldes foram engolidos. A fornalha de Nabucodonosor foi aquecida "sete vezes" além de sua temperatura normal, e três dos filhos de Deus foram lançados ali; mas o fogo nem sequer lhes chamuscou as roupas, apesar de ter morto os soldados que os lançaram naquele temível lugar.
O Novo Testamento também testifica do poder de Deus sobre os elementos da criação. Vemos Jesus Cristo acalmando uma tempestade dando ordens ao vento e ao mar:
E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança. (Mc 4.39).
Jesus ainda andou sobre o mar. Bastou uma palavra de Jesus e a figueira murchou e ao seu toque as enfermidades fugiam instantaneamente. Jesus demonstrou uma infinita habilidade com os elementos da natureza provando o seu absoluto controle sobre a criação inanimada.
E o que dizer dos corpos celestes? O governo divino sobre eles é igualmente soberano. Hoje sabemos que a terra gira em torno do sol, nos dando as quatro estações e determinando os dias dos anos. Sabemos também que há um movimento que faz a terra girar sobre o seu próprio eixo, nos dando as vinte e quatro horas do dia. Por que estou dizendo isso? Por que há um relato em 2 Reis de Deus retrocedendo a rotação da terra, fazendo com que a sombra no relógio de sol de Acaz retroceda dez graus para trás:
Ezequias disse a Isaías: Qual será o sinal de que o SENHOR me curará e de que, ao terceiro dia, subirei à Casa do SENHOR? Respondeu Isaías: Ser-te-á isto da parte do SENHOR como sinal de que ele cumprirá a palavra que disse: Adiantar-se-á a sombra dez graus ou os retrocederá? Então, disse Ezequias: É fácil que a sombra adiante dez graus; tal, porém, não aconteça; antes, retroceda dez graus. Então, o profeta Isaías clamou ao SENHOR; e fez retroceder dez graus a sombra lançada pelo sol declinante no relógio de Acaz. (2Rs 20.8-11).
Isaías pergunta a Ezequias se ele quer como sinal o adiantamento da sombra do sol. Ezequias responde que esse adiantamento da sombra já era um curso normal. Daí ele pede o mais difícil: que a sombra volte para trás. Que absurdo! O que Ezequias pede é que a terra gire para trás fazendo um movimento ao contrário do que ele já faz. Mas Deus como sendo Soberano sobre os astros celestes que Ele mesmo criou, fez exatamente isso. Pelo seu poder ordenou que a terra girasse no sentido contrário, provocando o retrocesso da sombra no relógio de Acaz.
Esse relato de Deus ordenando um movimento improvável da terra não é único na Bíblia. Há um outro relato onde Deus ordena a terra que simplesmente pare de girar. É isso mesmo. A terra parou de girar por uma ordem de Deus. Veja:
Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no Livro dos Justos? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. Não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, tendo o SENHOR, assim, atendido à voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel (Js 10.12-14).
Josué suplicou ajuda divina no combate contra os amorreus. Provavelmente Josué percebeu que a batalha entraria para a noite, o que dificultaria bastante nessa batalha. Poderíamos achar algo absurdo o que Josué pediu, mas para Deus que controla os astros celestes nada é impossível. O sol e a lua pararam de girar. De acordo com o conhecimento que temos hoje, foi a terra que parou de girar juntamente com a lua.
Há ainda mais um relato impressionante de Deus agindo e controlando os elementos da natureza. Trata-se do seguinte texto:
Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira; se o orvalho estiver somente nela, e seca a terra ao redor, então, conhecerei que hás de livrar Israel por meu intermédio, como disseste. E assim sucedeu, porque, ao outro dia, se levantou de madrugada e, apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Disse mais Gideão: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã; que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez naquela noite, pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho. (Jz 6.36-40).
Gideão queria uma “prova” de que Deus realmente livraria Israel dos midianitas. Gideão teve uma idéia: colocar um pedaço de lã no chão e pedir a Deus que o orvalho da noite caia somente em cima da lã e a terra fique seca. Deus, como tendo o controle da natureza, inclusive do orvalho, fez exatamente isso. Achando pouco, Gideão agora pede para que o orvalho caia por toda a terra e a lã fique seca. E vemos que Deus fez exatamente isso. Isso prova que Deus tem o total controle sobre os elementos da natureza, até mesmo controle do sereno!
Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá a neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm. (Sl 147.15-18).
As mudanças nos elementos da natureza estão sujeitas ao controle soberano de Deus. É Deus quem retém a chuva e quem a dá, quando, onde, conforme e sobre quem Lhe apraz. Até mesmo os distúrbios atmosféricos são controlados pelo dedo de Deus.
Além disso, retive de vós a chuva, três meses ainda antes da ceifa; e fiz chover sobre uma cidade e sobre a outra, não; um campo teve chuva, mas o outro, que ficou sem chuva, se secou. Andaram duas ou três cidades, indo a outra cidade para beberem água, mas não se saciaram; contudo, não vos convertestes a mim, disse o SENHOR. Feri-vos com o crestamento e a ferrugem; a multidão das vossas hortas, e das vossas vinhas, e das vossas figueiras, e das vossas oliveiras, devorou-a o gafanhoto; contudo, não vos convertestes a mim, disse o SENHOR. Enviei a peste contra vós outros à maneira do Egito; os vossos jovens, matei-os à espada, e os vossos cavalos, deixei-os levar presos, e o mau cheiro dos vossos arraiais fiz subir aos vossos narizes; contudo, não vos convertestes a mim, disse o SENHOR. (Am 4.7-10).
Diante de tudo isso que vemos nas Escrituras Sagradas, a única conclusão que extraio é: Não! Deus não está ausente da criação. Deus não está longe! Ele está perto. Mas do que isso, Ele tem o controle total e soberano sobre a sua criação, administrando as ações de cada elemento da natureza desde o orvalho até o sol.
Deus governa a matéria inanimada. A terra, o ar, o fogo, a água, o granizo, a neve, os ventos, os mares, todos cumprem a palavra do seu poder e executam a sua soberana vontade.
Todo aquele que intentar imaginar que Deus não possui ou que se absteve de possuir controle total das ações da natureza, incorrerá num seríssimo desvio doutrinário e isso tem consequências desastrosas, pois se na teologia de uma pessoa não há espaço para um controle providencial de Deus sobre tudo, sua vida sofrerá as devidas consequências que são a falta de confiança e de esperança em situações de desastres naturais como temos visto no Japão e em tantos outros lugares.
Mesmo em meio de tantas tragédias, o meu coração ainda se acalma no Senhor sabendo que Ele está no controle de tudo e que nada fugirá ao seu controle. Que o deus de Gondim e de tantos outros seja destruído por causa da insuficiência do seu poder e pela inabilidade e impotência de suas mãos, por que o meu Deus, o Deus da Bíblia, esse sim é Poderoso para manejar com suas mãos toda a Sua criação nos dando esperança e confiança de um mundo organizado e controlado.
Soli Deo Gloria
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